Recursos como próteses para substituir neurônios, máquinas que constroem DNA, coração e até um outro cérebro permitirão que a próxima geração viva pelo menos até os 150 anos - e as sucessoras, ainda muito mais
Monique Oliveira
O ano será 2045. Ele marcará o início de
uma era em que a medicina poderá oferecer à humanidade a possibilidade
de viver por um tempo jamais visto na história. Órgãos que não estejam
funcionando poderão ser trocados por outros, melhores, criados
especialmente para nós. Partes do coração, do pulmão e até o cérebro
poderão ser substituídos. Minúsculos circuitos de computador serão
implantados no corpo para controlar reações químicas que ocorrem no
interior das células. Estaremos a poucos passos da imortalidade.
Esta é a previsão de um grupo muito especial de cientistas conhecidos por ocupar a vanguarda de pesquisas que permeiam temas como a ciência da computação, a biologia e a biotecnologia. Entre eles, estão George Church, professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o gerontologista e biomédico especializado em antienvelhecimento Aubrey de Grey e o engenheiro Raymond Kurzweil, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que profetizou o surgimento da internet. Eles são os líderes de uma espécie de nova filosofia, batizada de Singularidade.
Esta é a previsão de um grupo muito especial de cientistas conhecidos por ocupar a vanguarda de pesquisas que permeiam temas como a ciência da computação, a biologia e a biotecnologia. Entre eles, estão George Church, professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o gerontologista e biomédico especializado em antienvelhecimento Aubrey de Grey e o engenheiro Raymond Kurzweil, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que profetizou o surgimento da internet. Eles são os líderes de uma espécie de nova filosofia, batizada de Singularidade.
Na astronomia, singularidade nomeia um
lugar no espaço onde um corpo não envelhece. Na medicina, os arautos da
imortalidade afirmam que ela nada mais é do que uma consequência real de
uma revolução em curso que já faz disparar em velocidade sem
precedentes a expectativa de vida humana. “Considerando a rapidez das
inovações, uma pessoa nascida em 2050 terá 95% de chance de viver mil
anos”, disse à ISTOÉ o inglês Aubrey de Grey.
Neste momento, o grupo está envolvido no crescimento da Universidade da Singularidade, já instalada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, o mesmo que dá sede às principais empresas de inovação na área de informática. É na universidade, por exemplo, que trabalha o professor venezuelano José Luís Cordeiro. “Bactérias unicelulares que viviam há milhões de anos não envelheciam”, disse à ISTOÉ. “Nossas células germinativas também não envelhecem. Óvulos e espermatozoides vivem indefinidamente quando congelados”, afirma, apontando um dos fatores que levam a ele e a seus companheiros a acreditar no maior prolongamento da vida humana. No Brasil, os pesquisadores acompanham com olhos atentos os movimentos dos colegas internacionais. “A singularidade pode até não ter esse nome, mas o seu advento é certo”, acredita Marcos Formiga, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília.
Neste momento, o grupo está envolvido no crescimento da Universidade da Singularidade, já instalada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, o mesmo que dá sede às principais empresas de inovação na área de informática. É na universidade, por exemplo, que trabalha o professor venezuelano José Luís Cordeiro. “Bactérias unicelulares que viviam há milhões de anos não envelheciam”, disse à ISTOÉ. “Nossas células germinativas também não envelhecem. Óvulos e espermatozoides vivem indefinidamente quando congelados”, afirma, apontando um dos fatores que levam a ele e a seus companheiros a acreditar no maior prolongamento da vida humana. No Brasil, os pesquisadores acompanham com olhos atentos os movimentos dos colegas internacionais. “A singularidade pode até não ter esse nome, mas o seu advento é certo”, acredita Marcos Formiga, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília.
Um dos campos nos quais os avanços foram mais notáveis é o das células-tronco, estruturas versáteis capazes de gerar diferentes tecidos do organismo. Há exemplos bem-sucedidos pelo mundo afora. Na área da cardiologia, diversos experimentos têm demonstrado seu poder para regenerar partes do músculo cardíaco. Em um deles, feito na Universidade de Louisville (EUA) com 16 portadores de insuficiência cardíaca, todos tiveram parte do tecido do coração regenerado com células-tronco retiradas do próprio órgão. Em metade deles, o tecido continuava se regenerando um ano após a injeção das estruturas. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadores as utilizaram para restaurar a função motora em pessoas vítimas de acidente vascular cerebral. Dos 20 pacientes tratados, a maioria recuperou parte dos movimentos. “Acredita-se que as células-tronco impeçam o avanço da lesão e até regenere o neurônio”, diz a neurobiologista Rosália Mendes Otero, que comanda o estudo.
Um dos fatores mais importantes associados ao tempo de vida de um homem é sua genética. Seu DNA aponta qual será sua vida média e também pode trazer alterações que o predispõe a doenças. Por isso, boa parte dos esforços está concentrada em inventar recursos que interfiram no material genético de cada um. Um dos mais fantásticos é uma máquina que lê e muda a estrutura do DNA. O cientista George Church, de Harvard, por exemplo, criou um DNA artificial com um aparelho feito por ele, chamado Mage. O equipamento fabrica cerca de quatro milhões de genomas por dia. Com o invento, Church diz que é possível mudar a formados genética e os órgãos e tecidos que são constituídos a partir dela, promovendo a cura de enfermidades. “O DNA pode criar qualquer coisa biológica” disse à ISTOÉ.
Invenções como essa podem fazer com que a terapia gênica, cujo objetivo é corrigir defeitos genéticos, dê um salto e se firme como boa opção para estender a vida. Hoje, existem experimentos interessantes nessa área. Pesquisadores conseguiram, entre outras façanhas, mudar o gene de pacientes com hemofilia do tipo B, distúrbio genético caracterizado por sangramentos prolongados. O feito, realizado pela Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, em parceria com a Universidade de Filadélfia, foi alcançado inserindo o gene certo – responsável por determinar a fabricação de fator coagulante do sangue – dentro das células de seis pacientes. Quatro não tiveram mais sangramento espontâneo. “Por causa do sucesso, em 2013 teremos mais brasileiros participando do estudo”, diz Margareth Castro Ozelo, coordenadora do trabalho.
PESQUISAS
George Church, acima, criou uma máquina que
fabrica material genético. Aubrey de Grey (acima) dirige uma
fundação que busca recursos para estender a vida humana
Mas, para que análises de predisposição genética possam ser feitas em larga escala e mapeiem mais doenças, cientistas alertam para a necessidade de se recolher o maior número de informações genéticas possível de uma população, a exemplo da Islândia, que mapeou o genoma de quase todos os seus habitantes. “No Brasil, ainda estamos começando esse processo”, diz Marcos Barcelos Pinho, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Progenética, laboratório especializado em diagnósticos moleculares, em São Paulo.
No mundo, a construção de bancos de dados de genoma é uma realidade mais próxima. “O importante neste momento é garimpar, associar genomas a diferentes perfis para que seja possível correlacioná-los”, afirmou à ISTOÉ Thomas Perls, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. O pesquisador acabou de completar o estudo de dois supercentenários e descobriu que o segredo da longevidade desses idosos não era a ausência de genes ligados a doenças, mas outros, capazes de neutralizá-los. “Eles até ficavam doentes, mas se recuperavam”, explica Perls.
PRESENTE E FUTURO
O francês Lemaitre “rejuvenesceu” células. Ao fundo, uma simulação mostra
como seria sua imagem mais jovem, apontando os possíveis efeitos de seu estudo
Evitar os possíveis danos que os alimentos podem causar ao DNA também é um ponto de apoio da ciência que busca a imortalidade. Segundo o principal representante da Singularidade, o engenheiro Raymond Kurzweil, uma dieta de restrição calórica, com apenas os nutrientes necessários para a vida, pode nos levar a viver muito mais. A hipótese é que uma dieta restritiva pode ativar “os genes da sobrevivência”, que ajudariam o organismo a utilizar a energia de maneira mais eficiente, além de estabilizar o DNA, que ficaria menos mutante. “Seguir um regime pobre em calorias e rico em vitaminas realmente prolonga a vida humana”, explica Lucyanna Kalluf, nutricionista e farmacêutica, criadora do Instituto de Nutrição Personalizada, em São Paulo. De fato, um estudo de restrição calórica feito no MIT mostrou que a estratégia foi capaz de elevar a expectativa de vida das cobaias em 30%.
COMIDA
O cientista Kurzweil propõe dieta de baixa caloria para viver mais
Na França, cientistas da Universidade de Montpellier orquestraram resultado igualmente ousado: transformaram uma célula de um homem de 74 anos em célula-tronco embrionária. Ou seja, a deixaram em um estado no qual tornou-se novamente capaz de se transformar em qualquer tecido do corpo. Foi a primeira vez que se conseguiu “rejuvenescer” uma célula. No campo das drogas, há também boas promessas. Em uma pesquisa da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, a rapamicina – usada para evitar a rejeição de órgãos após transplantes – possibilitou a cobaias viver 30% a mais do que o seu potencial genético permitiria. O próximo passo é testá-la com essa finalidade em humanos.
Tudo isso dá ainda mais fôlego a quem acredita que um dia o homem será imortal. “A ideia de viver para sempre pressupõe que nossas moléculas se renovem e, mesmo assim, continuemos com a sensação de sermos a mesma pessoa”, disse à ISTOÉ o pesquisador George Church. “E posso afirmar que somos capazes de mudar essas moléculas e continuarmos sendo quem somos.”
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