O medo de ter Alzheimer a levou a se matricular em um curso de estímulo à memória e à atenção que começa nesta semana no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista.
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Com duração de cinco meses, o programa de aulas semanais do Oswaldo Cruz tem competições de sudoku e dicas de como melhorar o sono e guardar mais informações de textos lidos. O curso custa, ao todo, R$ 1.800.
"Estimulamos a pessoa a usar a memória e fazer o cérebro funcionar sem apoio, como ir ao supermercado sem lista", diz Gislaine Gil, neuropsicóloga do hospital.
Yara convenceu a amiga Silvia Schweizer, 51, e mais cinco pessoas a se inscrever. "Queremos estar com o cérebro sadio para acompanhar o físico", conta Schweizer.
A rede de franquias Supera, que oferece um curso de "ginástica cerebral", tem 69 unidades em 17 Estados.
A escola oferece treinos de cálculo com o ábaco e exercícios de lógica e concentração para pessoas de cinco a 90 anos, segundo Antonio Carlos Guarini Perpétuo, idealizador da metodologia.
A mensalidade custa, em média, R$ 189. "A sociedade sabe dos benefícios dos exercícios. O que poucos sabem é que há escolas para isso."
Marisa Caduro/Folhapress | ||
A relações-públicas Yara Mahfuz (de branco) e a amiga Silvia Schweizer, que fazem um curso de memória |
Segundo a neuropsicóloga do Oswaldo Cruz, o programa ensina estratégias para cada tipo de memória. A que mais falha, afirma, é a prospectiva, que envolve lembrar de fazer algo no futuro.
"Nesse caso, é mais eficaz lembrar durante uma atividade o que você estava fazendo e o que deverá fazer depois."
Já as palavras cruzadas trabalham com a memória relacionada ao conhecimento que você tem sobre o mundo.
De acordo com o neurologista Arthur Oscar Schelp, da Unesp, é importante estimular a atividade cerebral com exercícios sobre sequência temporal --especialmente para quem tem Alzheimer.
Isso consiste em, por exemplo, estimular o idoso a lembrar a ordem dos fatos.
"Muitas vezes o paciente idoso se lembra com clareza de fatos do passado, mas não consegue recordar as atividades do dia anterior", diz.
Schelp afirma que não há estudos que demonstrem que palavras cruzadas e atividades do tipo melhoram a memória. "Mas sabe-se que é importante manter a mente ativa. O cérebro é como um braço. Se você não usa, atrofia".
Ivan Okamoto, neurologista do hospital Albert Einstein e coordenador do Instituto da Memória da Unifesp, conta que é importante fazer atividades que deem prazer, ler, continuar trabalhando de alguma forma e manter os laços sociais e afetivos.
O que comprovadamente funciona, segundo os especialistas, é fazer exercícios físicos regularmente e manter uma dieta balanceada.
De acordo com Okamoto, não se sabe se os exercícios são benéficos porque melhoram o sistema cardiovascular (e evitam microinfartos em pequenos vasos no cérebro, que prejudicam a oxigenação na região) ou porque liberam substâncias que impedem a degeneração neuronal.
Mas o fato é que o envelhecimento da população é terreno fértil para o aparecimento de "curas milagrosas".
"É melhor fazer academia ou curso de idiomas do que programas sem eficácia comprovada", afirma Okamoto.
Ele ressalta que o esquecimento afeta a todos, mas pode precisar de ajuda médica quando interfere no dia a dia.
MARIANA VERSOLATO
SABINE RIGHETTI
Folla
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