“As pessoas são muito difíceis”, sentencia o síndico profissional Renato Daniel Tichauer. Para ele, a origem da maioria dos problemas de convivência em prédios e condomínios é complexa e difícil de mudar da noite para o dia. Bom senso e bons modos ainda são a receita básica para evitar dores de cabeça que podem até virar onerosos processos judiciais.
Antes de pensar em mudar para seu novo apartamento, consulte as regras do condomínio | Foto: Divulgação
Antes de pensar em mudar para seu novo apartamento, consulte as regras do condomínio | Foto: Divulgação
As principais reclamações de moradores de apartamentos
Barulho, desrespeito com funcionários, estacionamento impróprio na garagem, animais de estimação mal-educados, convivência com crianças e adolescentes na área de lazer são as principais reclamações da maioria dos moradores.
“As pessoas não entendem que morar em condomínio é dividir a propriedade”, lembra Roseli Schwartz, autora de “Revolucionando o Condomínio”, da editora Saraiva. “Respeito pelo o outro é fundamental”, reforça.

Para que serve um síndico?
Tichauer, que trabalha há dez anos como síndico – cargo que ainda não é reconhecido como profissão – hoje cuida de cinco condomínios das mais diversas classes. “Os problemas se repetem”, constata o economista, de 56 anos, que “sabe um pouco de cada coisa”, tem muito jogo de cintura, “sempre” cumpre as regras, já recebeu ameaça de morte de um morador e teve de intervir em uma tentativa de suicídio. Sua estratégia para administrar conflitos: conversar primeiro, notificar depois e multar apenas em último caso.
“O síndico é um facilitador social. Tem que ser uma pessoa com perfil conciliatório”, afirma o advogado Alexandre Macedo Marques, diretor de ensino da Assosíndicos (Associação dos Síndicos de Condomínios Residenciais e Comerciais de São Paulo).

Sem estatuto e regras claras não é possível viver em paz
Antes mesmo de uma reclamação chegar ao síndico, no entanto, o ideal é que os envolvidos tentem conversar e, nessa hora, as normas do prédio são o melhor guia para evitar brigas.
“Um condomínio bem administrado tem um estatuto detalhado que deve ser conhecido e obedecido por todos”, ensina a consultora de etiqueta Ligia Marques, autora de “Etiqueta e Marketing Pessoal”, “Etiqueta 3.0” entre outros.

O apartamento de cima está com vazamento e tem goteira no seu?
O cachorro do 302 late muito à noite?
O lixo da vizinha ficou no corredor do andar?
Essas situações têm como ser gerenciadas com a ajuda do estatuto do prédio e de doses generosas de diálogo. Às vezes, a goteira é só um entupimento sem maiores consequências, o animal de estimação pode estar sem exercício físico e/ou precisando de um pouco mais de atenção e a vizinha é moradora nova e não sabia onde colocar o lixo.
Procure sempre estar presente nas reuniões de condomínio | Foto: Divulgação
Procure sempre estar presente nas reuniões de condomínio | Foto: Divulgação
Política de boa vizinhança
“Não é à toa que política de boa vizinhança tem esse nome. Para viver bem em um prédio é fundamental que existam políticas claras e regras bem definidas. Ao mesmo tempo, essa convivência é um tremendo exercício de flexibilização”, avisa a especialista em etiqueta Cláudia Matarazzo, autora de “Etiqueta sem frescuras”, da editora Planeta.
Deveria ser simples, não é? Para algumas pessoas, no entanto, não é. Roseli conta o caso de uma moradora que foi parar na Justiça por causa de uma goteira. O pinga-pinga constante, decorrente de um problema no apartamento de cima, começou a deixá-la perturbada, a ponto de ter que tomar medicamento para dormir. O problema era trivial, a troca da junta do ralo do banheiro já resolveria o transtorno, mas a moradora do apartamento com vazamento recusava-se a permitir a entrada no local. Depois de comprovar judicialmente os custos que teve com tratamentos psiquiátricos, pediu indenização por danos morais e ganhou a causa. “Uma coisa que era simples de resolver virou uma problema enorme totalmente sem necessidade”, diz Roseli.

Confira os 20 conselhos básicos para viver em paz num apartamento:
Para começo de conversa, cumprimente sempre seus vizinhos. Seja simpático e gentil. Isso não custa nada e vai garantir sua boa imagem perante todos;

Antes de comprar ou alugar um imóvel, conheça as regras que regem o condomínio. Lembre-se que ainda que você não concorde com algumas delas, terá que obedecê-las porque elas foram decididas pela maioria;

Frequente as reuniões de condomínio por mais chatas que possam parecer, pois é lá que os assuntos de interesse de todos são discutidos e votados. Quem não comparece fica sem condição de discutir depois;

Evite comentar fatos da vida alheia com qualquer pessoa. Fofocas geram discussões e brigas;

Respeite os empregados do condomínio e o trabalho que eles fazem. Jamais solicite trabalhos particulares em horário de serviço no condomínio;

Barulho só até às dez da noite e depois das oito da manhã. Nesse intervalo, respeite o silêncio;

Se fizer uma festa em seu apartamento e houver barulho, comunique o síndico e os vizinhos com antecedência e lembre-se de compensar a paciência dos vizinhos de alguma forma, como presenteando-os com docinhos ou flores, por exemplo;

Evite andar de salto dentro do apartamento, sobretudo se o isolamento acústico do prédio não for lá essas coisas;

Trafegue com animais e compras somente pelo elevador de serviço. Animais, sempre que possível, devem permanecer no colo, você nunca sabe quem tem pavor de bichos. Caso perceba que a pessoa que entrou no elevador tem medo, segure ainda mais firme seu animal e procure tranquilizar o vizinho;
Se, ao contrário, for você que está entrando no elevador com o cachorro e já tiver algum morador, é gentil perguntar antes se a pessoa se incomoda com a presença do animal;

Jardins, playground e áreas comuns não são quintal de cachorro. Passeios com animais devem ser feitos na rua e, é claro, saquinho na mão para recolher as fezes do bichinho;

Não caia na armadilha de entrar em discussões com vizinhos. Diante de qualquer provocação mantenha-se calmo e comunique o fato ao síndico, que deverá tomar providencias;

Jamais, em hipótese alguma, chame a empregada da vizinha para trabalhar na sua casa;

Faça uma lista com os nomes das pessoas para deixar na portaria quando for usar o salão de festas. Deixe o local como o encontrou após a festa: vazio e com as coisas no lugar. A limpeza fica por sua conta;

Atente para que a decoração do seu hall de entrada não incomode o vizinho (se for um hall comum). Idealmente, é sempre melhor tentar fazer alguma coisa em conjunto. Convidar para um cafezinho e sondar as preferências do outro costuma funcionar;

Sempre devolva o carrinho de compras do prédio ao local em que fica disponível a outros condôminos;

Não circule em trajes de banho pelo prédio. Use canga ou equivalente;
Não segure a porta do elevador enquanto conversa;

Quando dois carros se encontram, o que está entrando na garagem tem a preferência;

Estacione dentro de sua faixa na garagem e não use a vaga como depósito.


As informações são de Julia Baptista, do IG