Nova geração de drogas inclui a maconha sintética, capaz de alterar mecanismos no cérebro que freiam impulso
Efe
No estabelecimento, os jovens vendiam legalmente envelopes com incenso de ervas (maconha sintética) que, junto à "sais de banho", são uma nova geração de drogas que aparentemente tiveram influência nos chamados casos de "canibalismo" de Miami.
"Eu não sabia que isto existia, é algo que ninguém sabia o que era. Os policiais averiguaram o local, se deram conta de que se tratava de maconha sintética e os detetives começaram a pesquisar na internet sobre esta droga. Isso aconteceu há dois ou três meses", disse à Agência Efe o prefeito de Sweetwater, Manuel Maroño.
Sweetwater, em Miami-Dade, foi a primeira cidade deste condado a aprovar, em maio, uma lei que proíbe a venda da maconha sintética, conhecida como "Spice", "K-2", "Genio", "Fogo de Iucatã", "Krypto do rei", "O senhor boa gente", "Magia vermelha" e "super skunk".
Miami-Dade e a cidade de Sunrise também adotaram posturas similares.
"Estou extremamente preocupado, isto é novo. Esta droga é ainda mais perigosa do que a maconha original, e o tal 'sais de banho' também é mais forte que a cocaína. A longo prazo, não sabemos quais serão os efeitos", disse um servidor público.
No caso do "canibal de Miami" Rudy Eugene, que devorou 75% do rosto do morador de rua Ronald Poppo na ponte da estrada MacArthur, que liga Miami Beach ao centro da cidade, as autoridades investigam se Eugene agiu sob os efeitos da "sais de banho", que é vendida como "Cloud 9" e "Ivory Wave".
O psicoterapeuta Alfredo Hernández explicou à Agência Efe que esta droga é "como um tipo de cocaína superpoderosa produzida em laboratórios" que altera no cérebro os mecanismos que ajudam o ser humano a frear os impulsos.
"A relação de controle e impulso que dispara estes mecanismos se perde porque esta droga altera o lóbulo frontal, que ajuda a medir as consequências; a amígdala dentro do cérebro, que leva ao impulso; e o hipocampo, que ajuda a não agir sob todos os impulsos", apontou.
A "Cloud 9" e a maconha sintética produzem psicoses, delírios, alucinações auditivas e táteis.
"Isto é muito comum com estas drogas. Tive vários pacientes que pensam que são Deus ou acham que têm poderes sobrenaturais", disse Hernández, administrador do centro de saúde mental Improving Lives de Miami.
Ele preveniu que a "sais de banho" é "uma combinação muito perigosa, porque é uma droga que dá muita energia, altera a consciência e elimina a possível regulação das consequências dos atos".
"Isso, unido a pessoas que possam ter uma predisposição de psicopatologia mais severa, como no caso da população de moradores de rua que têm histórico de bipolaridade, esquizofrenia e outros problemas mentais, é uma combinação mortal", acrescentou.
Hernández alertou que possivelmente o sul da Flórida "verá outros casos similares" como o de Eugene, porque estas substâncias são fáceis de conseguir, baratas e representam "uma nova geração de droga".
Maroño advertiu que os jovens se sentem atraídos por estas substâncias porque podem comprá-las legalmente e pelo fato de não serem detectadas no organismo quando são submetidos a exames de drogas.
"Temos que nos preocupar muito com estas drogas sintéticas e assegurar que não sejam mais vendidas, e que as companhias produtoras não continuem inventando outras substâncias", disse.
As autoridades confirmaram que no caso do mendigo Brandon de León, ele tinha consumido "Cloud 9".
O homem, após ser detido no último sábado por conduta desordenada, ameaçou dois policiais e tentou mordê-los.
"Brandon grunhia, abria e fechava a boca e rangia os dentes como se fosse um animal", indicaram agentes no relatório policial ao qual a Efe teve acesso.
Eugene, de 31 anos, também ameaçou o policial que tentou prendê-lo quando arrancou o nariz, os olhos e parte da testa de Poppo com seus dentes. Um agente teve que atirar várias vezes e "o canibal" morreu.
Yovonka Bryant, namorada de Eugene, assegurou recentemente que é "muito provável" que uma droga que lhe tenha sido "ministrada sem seu consentimento" o tenha levado a cometer o ataque.
"Ele nunca ingeriu álcool, nem usou drogas perto de mim. O vi apenas uma vez fumando um cigarro de maconha. Rudy e eu nunca falamos sobre canibalismo", disse.
Ela e sua advogada, Gloria Allred, salientaram a importância de o público estar muito informado sobre o risco do uso de certas "drogas que podem levar que os seres humanos a cometerem canibalismo".
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