No G 20, Dilma exige o fim do ‘almoço grátis’ aos ricos
Membros do G 20 reunidos em Los Cabos
A reunião do G 20 (os 19 países mais ricos mais a União Europeia) acabou ontem (19) no México, em Los Cabos. Mas a principal decisão que o mundo inteiro espera ficou para o próximo dia 28, quando se reúnem os países europeus e podem decidir tomar medidas efetivas para tirar a Europa da pasmaceira, em vez de seguirem políticas de aplicação pura e simples de austeridade, como quer a chanceler alemã Angela Merkel e o seu governo.
A reunião serviu para evidenciar as enormes mudanças por que passou o mundo nos últimos 10 anos. Ao lembrarmos este período, não podemos deixar de olhá-lo como resultado de uma certa ironia da história. Há pouco mais de 10 anos era o Brasil quem batia à porta do Fundo para conseguir nada menos que US$ 40 bi para financiar a dívida pública. Hoje somos credores do FMI, não mais devedores. E durante os 21 anos de ditadura militar, então, nem se fala. Perdeu-se a conta das quantas vezes o Brasil assinou cartas de intenção com o Fundo e contraiu empréstimos. Que vinham sempre acompanhados de exigência duríssimas contra o país e contra o povo que foram absorvidas pelos governos anteriores.
Mas, se nesta nova conjuntura que o mundo vive hoje, o Brasil junto com os outros países que compõe os BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul) decidem reforçar o caixa do FMI, devem exigir de forma muito clara e firme a necessidade de que este passe por uma boa reforma. Que abandone de vez a prática de salvar bancos e arruinar governos e povos. Por mais que o discurso às vezes seja diferente disso, a prática ainda é a mesma. E, dar dinheiro para isso, é um contrassenso total com a política que o Brasil pratica e defende desde 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu seu primeiro mandato.
Doha e o almoço grátis dos ricos
A presidenta Dilma Rousseff falou duro com seus colegas de G 20, principalmente os países ricos, sobre o 'almoço grátis' que estes estão tendo às custas justamente dos menos ricos: surfar no protecionismo sem, no entanto, permitir que os países em desenvolvimento e/ou emergentes adotem suas próprias defesas. "Não dá para ficar prorrogando esse cheque em branco", diz a presidente, até porque "todo o mundo sabe quais são os desequilíbrios".
Clóvis Rossi, que cobriu a reunião para a Folha, explica: “os 11 anos de negociação da Rodada Doha identificaram perfeitamente os problemas: Estados Unidos e União Europeia negaram-se a reduzir ou eliminar a proteção a seus produtores agrícolas, ao passo que exigiam dos países em desenvolvimento que abrissem seus mercados de bens industriais, de serviços e de compras governamentais (concorrências públicas)”.
Um passo a passo de como isso se deu
1) Na primeira cúpula do G20, em 2008, estabeleceu-se o compromisso chamado "standstill", ou seja, os países do grupo não deveriam erguer barreiras comerciais - ao contrário, deveriam eliminar as que a crise os levasse a adotar.
2) Não foi isso o que aconteceu na vida real, mas o "standstill" foi sendo renovado de cúpula em cúpula, até que, em 2010, fixou-se 2013 como o ano em que ele seria extinto.
3) Mas nas negociações para a cúpula de 2012, ontem encerrada, países desenvolvidos lançaram a proposta de prorrogar o compromisso até 2015, o que foi terminantemente vetado por Dilma (...). O veto levou a uma decisão salomônica: a prorrogação será até o fim de 2014, o que explica o "timing" definido pela presidente.
A fala de Dilma Rousseff
Falando em coletiva à imprensa após o encerramento da reunião, a presidenta disse que a crise financeira internacional “não pode servir de biombo” para que os países se recusem a discutir as desigualdades no comércio global. “Estamos propondo que a partir de 2014 se reabra a discussão da Rodada de Doha e se dê prazo para fechar, para que não haja prorrogamentos muito grandes de interesses de países que são privilegiados por subsídios agrícolas e por práticas de competição indevidas no momento atual”, disse. E é o que ficou acertado.
Agora o Brasil e os demais países que estão sendo prejudicados pelos subsídios e barreiras dos EUA, Europa e demais países ricos, têm que cobrar com firmeza que se dê um fim a esta ‘festa’ com dinheiro alheio.
Dilma Rousseff disse ainda que o “clima” na reunião do G20 mostrou solidariedade aos países da zona do euro, que enfrentam o agravamento da crise financeira, e que há consenso sobre a necessidades de associar políticas de austeridade com medidas de apoio aos investimentos. Mas ela reconheceu que é preciso que os líderes do grupo (da União Europeia) encontrem respostas para a crise, que já compromete o ritmo de crescimento da economia global.
“Não podemos ter a atitude de ficar dando lições aos países da zona do euro. O que esperamos é que sejam tomadas medidas no tempo certo. É fundamental que se dê uma perspectiva o mais rápido possível”, disse ela. Do México, a presidenta voou direto para o Rio de Janeiro, onde abriria a Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente, com a presença das delegações oficiais, hoje.
(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Membros do G 20 reunidos em Los Cabos
A reunião do G 20 (os 19 países mais ricos mais a União Europeia) acabou ontem (19) no México, em Los Cabos. Mas a principal decisão que o mundo inteiro espera ficou para o próximo dia 28, quando se reúnem os países europeus e podem decidir tomar medidas efetivas para tirar a Europa da pasmaceira, em vez de seguirem políticas de aplicação pura e simples de austeridade, como quer a chanceler alemã Angela Merkel e o seu governo.
A reunião serviu para evidenciar as enormes mudanças por que passou o mundo nos últimos 10 anos. Ao lembrarmos este período, não podemos deixar de olhá-lo como resultado de uma certa ironia da história. Há pouco mais de 10 anos era o Brasil quem batia à porta do Fundo para conseguir nada menos que US$ 40 bi para financiar a dívida pública. Hoje somos credores do FMI, não mais devedores. E durante os 21 anos de ditadura militar, então, nem se fala. Perdeu-se a conta das quantas vezes o Brasil assinou cartas de intenção com o Fundo e contraiu empréstimos. Que vinham sempre acompanhados de exigência duríssimas contra o país e contra o povo que foram absorvidas pelos governos anteriores.
Mas, se nesta nova conjuntura que o mundo vive hoje, o Brasil junto com os outros países que compõe os BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul) decidem reforçar o caixa do FMI, devem exigir de forma muito clara e firme a necessidade de que este passe por uma boa reforma. Que abandone de vez a prática de salvar bancos e arruinar governos e povos. Por mais que o discurso às vezes seja diferente disso, a prática ainda é a mesma. E, dar dinheiro para isso, é um contrassenso total com a política que o Brasil pratica e defende desde 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu seu primeiro mandato.
Doha e o almoço grátis dos ricos
A presidenta Dilma Rousseff falou duro com seus colegas de G 20, principalmente os países ricos, sobre o 'almoço grátis' que estes estão tendo às custas justamente dos menos ricos: surfar no protecionismo sem, no entanto, permitir que os países em desenvolvimento e/ou emergentes adotem suas próprias defesas. "Não dá para ficar prorrogando esse cheque em branco", diz a presidente, até porque "todo o mundo sabe quais são os desequilíbrios".
Clóvis Rossi, que cobriu a reunião para a Folha, explica: “os 11 anos de negociação da Rodada Doha identificaram perfeitamente os problemas: Estados Unidos e União Europeia negaram-se a reduzir ou eliminar a proteção a seus produtores agrícolas, ao passo que exigiam dos países em desenvolvimento que abrissem seus mercados de bens industriais, de serviços e de compras governamentais (concorrências públicas)”.
Um passo a passo de como isso se deu
1) Na primeira cúpula do G20, em 2008, estabeleceu-se o compromisso chamado "standstill", ou seja, os países do grupo não deveriam erguer barreiras comerciais - ao contrário, deveriam eliminar as que a crise os levasse a adotar.
2) Não foi isso o que aconteceu na vida real, mas o "standstill" foi sendo renovado de cúpula em cúpula, até que, em 2010, fixou-se 2013 como o ano em que ele seria extinto.
3) Mas nas negociações para a cúpula de 2012, ontem encerrada, países desenvolvidos lançaram a proposta de prorrogar o compromisso até 2015, o que foi terminantemente vetado por Dilma (...). O veto levou a uma decisão salomônica: a prorrogação será até o fim de 2014, o que explica o "timing" definido pela presidente.
A fala de Dilma Rousseff
Falando em coletiva à imprensa após o encerramento da reunião, a presidenta disse que a crise financeira internacional “não pode servir de biombo” para que os países se recusem a discutir as desigualdades no comércio global. “Estamos propondo que a partir de 2014 se reabra a discussão da Rodada de Doha e se dê prazo para fechar, para que não haja prorrogamentos muito grandes de interesses de países que são privilegiados por subsídios agrícolas e por práticas de competição indevidas no momento atual”, disse. E é o que ficou acertado.
Agora o Brasil e os demais países que estão sendo prejudicados pelos subsídios e barreiras dos EUA, Europa e demais países ricos, têm que cobrar com firmeza que se dê um fim a esta ‘festa’ com dinheiro alheio.
Dilma Rousseff disse ainda que o “clima” na reunião do G20 mostrou solidariedade aos países da zona do euro, que enfrentam o agravamento da crise financeira, e que há consenso sobre a necessidades de associar políticas de austeridade com medidas de apoio aos investimentos. Mas ela reconheceu que é preciso que os líderes do grupo (da União Europeia) encontrem respostas para a crise, que já compromete o ritmo de crescimento da economia global.
“Não podemos ter a atitude de ficar dando lições aos países da zona do euro. O que esperamos é que sejam tomadas medidas no tempo certo. É fundamental que se dê uma perspectiva o mais rápido possível”, disse ela. Do México, a presidenta voou direto para o Rio de Janeiro, onde abriria a Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente, com a presença das delegações oficiais, hoje.
(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
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