Veja como repercutiu o impeachment de Lugo
Presidente do Paraguai foi afastado no fim da tarde desta sexta-feira (22).
Luís Federico Franco Gómez assumiu o cargo.
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Em discurso, Lugo afirmou que aceitava a decisão do Senado paraguaio de tirá-lo do cargo. Luís Federico Franco Gómez, eleito na chapa com Lugo em 2008, assumiu a presidência do Paraguai.
Veja a repercussão do impeachment entre autoridades
Rafael Correa, presidente do Equador"O governo do Equador não reconhecerá outro presidente do Paraguai que não seja o senhor Fernando Lugo. Já chega destas invenções na nossa América, isto não é legítimo, e não acredito que seja legal. Seguramente ignoraram os procedimentos."
Evo Morales, presidente da Bolívia
"A Bolívia não reconhecerá um governo que não surja das urnas e do mandato do povo."
Cristina Kirchner, presidente da Argentina
"Sem dúvidas, houve um golpe de Estado."
Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal
"Eu não conheço assim tão profundamente a Constituição do Paraguai, mas estou achando que foi fulminante. Isso, evidentemente, deixa todos perplexos, com a rapidez. Mas não há crítica porque temos que observar a soberania do país-irmão."
Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal"Em primeiro lugar, é um assunto interno do Paraguai. Então, deve ser posto em primeiro lugar nessa situação. Eles devem ter lá seus problemas. Mas, se verificarmos que a coisa foi tão rápida, de certa forma, gera suspeita de que o problema é mais político-partidária do que político, no sentido próprio grego do termo."
Oscar Rivas, ministro do Meio Ambiente e chefe da delegação paraguaia na Rio+20
“Os fundamentos para a destituição de um presidente deveriam ser fundamentos sérios. Ficou bem claro e demonstrado pela defesa, pelos advogados do nosso presidente que não fazia nenhum sentido o que estava acontecendo. Foi simplesmente uma destituição sumária por via parlamentar, disfarçada de um procedimento que se chama juízo político. O Paraguai não conhece um evento similar em sua história política.”
José Botafogo Gonçalves, ex-embaixador do Brasil na Argentina e vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais
“Eu acho que, sob certo ponto de vista, não se pode negar que foi uma espécie de golpe disfarçado, evidentemente que segundo os procedimentos da Câmara, do Congresso. Mas um julgamento político dessa magnitude que se resolve em 24 horas é de caráter inusitado. Achei curiosa e surpreendente a atitude de Fernando Lugo, que, embora atestando que considerava um golpe contra a democracia, resolveu ir embora tranquilamente, saindo pela porta do coração, usando uma expressão mais romântica. É a primeira vez que o Paraguai tem um golpe civilizado, sem sangue derramado. Não sei como o povo vai reagir, mas, de fato, me parece que a forma pela qual ele foi deposto é inusitada. Tecnicamente, se pode falar em golpe branco.”
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e na Inglaterra“Acho que houve um esforço muito grande para apresentar um processo de impeachment dentro da lei. Do ponto de vista formal, cumpre os requisitos todos: houve um processo de votação, o presidente aceitou, o vice assumiu, o Exército não se manifestou. Cumpriu o ritual, mas, evidentemente, da maneira como foi feita, não é uma coisa normal. Não foi feito corretamente. Deveria ter dado mais tempo para a defesa [de Fernando Lugo]. Aqui no Brasil, tivemos um processo que levou seis meses.”
O GOLPE PARAGUAIO
Laerte Braga
O golpe sumário dado pelo Parlamento do Paraguai contra o
presidente Fernando Lugo tem a marca registrada da classe dominante naquele país.
Latifundiários associados a multinacionais, uma força armada corrompida e
cooptada por interesses de grandes corporações, bancos e os donos da terra.
O Paraguai jamais se recuperou da guerra contra o Brasil, a
Argentina e o Uruguai (1864/1870). O conflito foi estimulado pela Inglaterra,
então maior potência do mundo, em defesa de seus interesses econômicos. O
Paraguai não dependia de países da Europa, tinha uma indústria têxtil competitiva
e era um dos grandes exportadores de mate, concorrendo com o império britânico.
O capital para a guerra foi dos ingleses e em meio ao
conflito é que, praticamente, se construiu as forças armadas brasileiras,
inteiramente despreparadas para um confronto de tal envergadura. Nos primeiros
anos da guerra os soldados brasileiros passavam fome e os armamentos eram mínimos,
insuficientes para o genocídio que viria mais à frente. Foi a conseqüência inicial
da avidez do governo imperial de aceitar as libras inglesas.
Os países que formaram a chamada Tríplice Aliança, numa
selvageria sem tamanho, mataram 70% da população paraguaia e até hoje a maioria
acentuada entre os que nascem naquele país é de homens.
De lá para cá o Paraguai tem sido governado por ditadores,
numa sucessão de golpes de estados e o breve período “democrático” que se
seguiu à deposição do último general, Alfredo Stroessner (morreu exilado no
Brasil, era capacho da ditadura militar brasileira), encerra-se agora com a
deposição branca de Fernando Lugo. Um ex-bispo católico, conhecido como o “bispo
dos pobres”. O mandato de Lugo terminaria no próximo ano. O vice-presidente é
do Partido Liberal, aquele jogo político de amigos e inimigos cordiais, onde os
donos se revezam no poder.
O pretexto para a deposição de Lugo foi um massacre de
trabalhadores rurais sem terra, numa região próxima à fronteira com o Brasil. Morreram
manifestantes e integrantes das forças de repressão. De lá para cá Lugo
enfrenta um inferno.
Latifundiários brasileiros, a classe dominante paraguaia –
subordinada a interesses do Brasil e de corporações internacionais – se uniram
contra Lugo e o apoio de empresas como a MONSANTO, a DOW CHEMICAL. o silêncio
formal e proposital dos EUA, todos esses ingredientes foram misturados e
transformados em golpe de estado.
Tal e qual aconteceu em Honduras contra Manoel Zelaya. A
nova “fórmula” para golpes de estado na América Latina. A farsa democrática, o
rito constitucional transformado em instrumento golpista na falta de pudor da
classe dominante. No caso do Paraguai, como no de Honduras, miquinhos amestrados
do capitalismo internacional.
A elite paraguaia jamais permitiu ao longo desses anos
todos, desde 1870, que o país se colocasse de pé novamente. Tem sido um apêndice
de interesses políticos e econômicos de corporações estrangeiras e do sub-imperialismo
brasileiro. Carregam as malas dos donos enquanto submetem os trabalhadores a um
regime desumano e cruel que não mudou e nem vai mudar enquanto não houver
resistência efetiva e nas ruas contra esse tipo de procedimento, contra essa subserviência
corrupta e golpista.
E cumplicidade de
governos vizinhos. Mesmo que por omissão, ou fingir que faz alguma coisa.
E necessária a consciência dos governos de países como o
Brasil que situações de golpe são inaceitáveis. Que a integração latino
americana é fundamental e se faz com democracia e participação popular. Não com
alianças com Paulo Maluf.
Fernando Lugo cometeu erros. O maior deles o de acreditar
que era possível governar o país com grupos da direita. As políticas de
conciliação onde a elite é implacável e medieval, as forças armadas são agentes
– em sua maioria esmagadora – de interesses estranhos aos nacionais e as forças
populares sistematicamente encurraladas pela violência e barbárie.
Ou se percebe que o golpe contra Lugo é um golpe contra toda
a América Latina, ou breve situações semelhantes em outros países. Por trás de
tudo isso, em maior ou menor escala, mas de forma direta os EUA e o que
significam no mundo de hoje.
No que o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad chama de colonizadores.
No ano 2000 o economista César Benjamin, numa palestra na cidade mineira de
Juiz de Fora espantou os ouvintes ao dizer que “o século XIX foi o dos grandes impérios
colonizadores, o século XX o do fim do colonialismo, o século XXI vai assistir a
um novo ciclo de colonização de países periféricos às grandes potências”.
A previsão está se confirmando.
O secretário geral da UNASUL, Ali Rodriguez disse em
entrevista a vários jornalistas que “o Paraguai pode estar em meio a golpe de
Estado devido à rapidez do julgamento político do presidente do país, Fernando
Lugo” e mostrou-se preocupado com um possível “processo de violência. Tudo
indica que uma decisão já foi tomada e que pela rapidez com a qual os eventos
estão acontecendo, poderíamos estar perante um golpe de Estado”.
Basta que países como o Brasil e a Argentina, por exemplo,
asfixiem econômica e politicamente o novo governo para que ele não se sustente.
Depende da vontade política de um e outro de manter a democracia no Paraguai,
mesmo frágil, de pé.
A classe dominante paraguaia nunca deu muita importância a
isso, pois sempre consegue espaço para se acomodar e continuar a transformação
do país em uma espécie de vagão a reboque principalmente do Brasil. Desde o fim
da guerra, em 1870 tem sido assim.
Fernando Lugo foi acusado, entre as farsas várias, de
humilhar as forças armadas (existem, ou são esbirros do capitalismo?) e colocar-se
ao lado dos trabalhadores sem terra.
É velho e boçal latifúndio que no Paraguai é a força econômica
mais poderosa.
Os protestos populares acontecem próximo ao Parlamento, mas
já com forças policiais prontas para massacrar e impedir qualquer reação.
É preciso ir às ruas em toda a América Latina e é
fundamental asfixiar essa elite que cheira a esgoto.
Se o governo brasileiro quiser não tem golpe que sobreviva.
O problema é querer. A preocupação hoje, no entanto, é de “consenso possível”
(um fracasso na RIO+20) e as eleições de outubro.
A mídia de mercado – fétida também – no Brasil já
desestimula qualquer atitude mais forte do governo. Afirma que Lugo declarou
que aceitará o “julgamento político”. É mais uma das muitas e constantes
mentiras padrão GLOBAL.
O golpe no Paraguai fere o arremedo de democracia que sub existe
no Brasil e outros países com o consentimento dos “poderes moderadores”. As
elites políticas e econômicas são as mesmas, arcaicas, podres e totalitárias. Quando
querem colocam as garras de fora.
Foi o que fizeram com Lugo. O que querem fazer com Chávez. Com
Evo Morales e outros tantos.
E no fim de tudo atribuir a culpa ao Irã.
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