Equipado com sistemas redundantes para evitar catástrofes, o Boeing 777 era uma das aeronaves mais modernas e seguras do mundo até o sumiço do voo 370 na Ásia
Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) e Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br)
O
desaparecimento de um avião comercial da Malaysia Airlines, que partiu
de Kuala Lumpur, na Malásia, na madrugada do sábado 8 com destino a
Pequim, na China, já é o maior mistério da história da aviação. Como uma
aeronave dotada de tecnologia ultrassofisticada é capaz de sumir sem
deixar vestígios? Num mundo coberto por radares e satélites, o caso é
ainda mais intrigante. Segundo especialistas consultados por ISTOÉ, um
Boeing 777 é equipado por diversos sistemas redundantes. Só para a
comunicação, existem cinco rádios independentes em frequência VHF e HF.
Se um deles falha, o outro continua funcionando. A aeronave também é
equipada com sistemas de satélite, comunicação por texto e transponder,
que responde a sinais automáticos de radares em solo sobre sua
identificação, localização e altitude. No caso do voo MH370, relatos
apontam que o transponder parou de funcionar 40 minutos depois da
decolagem. Mas, numa situação adversa, comunicar-se com o mundo externo é
apenas uma das prioridades do piloto. Antes disso, ele precisa
estabilizar a aeronave, determinar sua localização para desviar de
obstáculos ou procurar locais para pousar. “Isso me leva a crer num
evento inesperado, de grandes proporções e tão rápido que os pilotos não
tiveram tempo hábil de se comunicar”, afirma Dag Hammarskjoeld, piloto
de Boeing 777 e diretor de assuntos técnicos da Associação Brasileira de
Pilotos de Aviação Civil.
Aeronaves modernas como o Boeing 777 só
caem depois de uma sucessão improvável de acontecimentos (não à toa,
pilotos gostam de repetir a frase “avião não cai, é derrubado”). Por
isso mesmo, pouco tempo depois de a notícia do desaparecimento do MH370
se espalhar, começaram a surgir hipóteses que vão desde falhas
catastróficas até sequestro e terrorismo. Informações dadas pelas
autoridades malaias indicam que a aeronave perdeu contato com os
controladores de tráfego aéreo uma hora depois da decolagem, quando
entrava no espaço aéreo vietnamita. Naquele momento, o piloto disse
“tudo bem, boa noite”. As condições climáticas eram boas. No caso de uma
explosão repentina, as partes do avião teriam sido encontradas por lá,
na região do Golfo da Tailândia. Na quinta-feira 13, uma reportagem
publicada pelo jornal americano “Wall Street Journal” sugeriu que a
aeronave voou por mais quatro horas ou cerca de quatro mil quilômetros,
chegando ao Índico, à fronteira do Paquistão ou até o Mar Arábico. Isso
descartaria as possibilidades de falhas mecânicas, erro do piloto e
eventos catastróficos e reconduziria as investigações para terrorismo ou
sabotagem.
As buscas por vestígios do Boeing 777, que
levava 239 pessoas a bordo, mobilizaram 12 países, entre eles China,
Estados Unidos e Austrália, mas nem assim houve resultados promissores
até a manhã da sexta-feira 14. Objetos flutuantes suspeitos encontrados
por satélites chineses, um possível bote salva-vidas no Golfo da
Tailândia, uma mancha de óleo em águas malaias, nenhuma dessas pistas
provou ser real. Ampliada diversas vezes, a área vasculhada pelas
equipes de resgate chegou ao tamanho do território de Portugal (cerca de
92 mil quilômetros quadrados). Por mais impressionante que seja seu
tamanho, o avião responsável pelo voo MH370 é, afinal, um pequeno
detalhe perto da imensidão das águas de uma região que começa no Mar do
Sul da China e vai até o Oceano Índico. No início da semana passada, foi
dito às famílias dos passageiros e tripulantes que esperassem pelo
pior.
As falhas de comunicação não foram
exclusivas do avião da Malaysia Airlines. Representantes da companhia
aérea, autoridades da aviação civil do país e policiais caíram em
contradição em diversas situações e entraram numa crise global de
desconfiança. Um dos iranianos que embarcaram com passaportes
falsificados, por exemplo, foi inicialmente descrito como parecido com
Mario Balotelli, jogador de futebol italiano negro. As imagens
divulgadas depois descartaram qualquer semelhança. Houve discordâncias
sobre o número de pessoas que fizeram check-in e não embarcaram. Na
China, berço de 153 passageiros, se popularizou a teoria de que o
Exército malaio abateu o avião por engano depois da mudança de rota e
por isso o país esconde informações. Para especialistas em segurança, o
compartilhamento de dados entre nações vizinhas pode ter sido
comprometido pelo temor de revelar fragilidades em sua cobertura de
radar. Diante do desafio de solucionar tal enigma, mais de dois milhões
de pessoas participaram de uma plataforma online colaborativa,
organizada pela empresa americana Digital Globe, para buscar sinais do
avião em imagens de satélite. Mais de 650 mil objetos suspeitos foram
encontrados. Nenhum deles capaz de revelar o que realmente aconteceu com
o voo MH370.
Foto: She Ling Xinhua/Eyevine/Glow Images, AFP Photo/Mark Ralston
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