Em entrevista ao Correio Braziliense no final de semana, o presidente do Banco Central Alexandre Tombini afirma que o crescimento estará em 4,1% no último trimestre deste ano e em 4,6% no primeiro semestre de 2013. Trata-se de uma boa perspectiva, positiva para o país. Mas, para chegarmos lá, temos que aumentar – e muito – os investimentos e os gastos de custeio do governo, como as compras governamentais. Nesse sentido, são pertinentes as análises de Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, publicadas também no final de semana.
Temos ainda que sustentar o consumo – a presidenta Dilva Rousseff está certíssima nessa questão –, o que exige reduzir juros e tarifas bancárias. Sem medo e sem dó. Como aliás defende em excelente artigo no Estadão de domingo o economista, professor e consultor, Amir Khair (acesse aqui).
O governo tem que aumentar já os investimentos públicos e manter sua política de redução de juros e impostos, estimulando o investimento privado. É fundamental, também, que continue com as concessões e as parcerias público-privadas. Não deve aceitar decisões como a de adiar para o ano que vem as novas concessões dos aeroportos. É preciso vencer as barreiras burocráticas internas do próprio governo.
O investimento público já cresceu um pouco em maio, segundo notícia publicada no Valor Econômico de hoje. Passou de R$ 592 milhões em abril para R$ 1,03 bilhão, com um crescimento nominal de 46% (acesse o texto clicando aqui).
Delfim e Beluzzo
Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo também estão de acordo neste ponto: está na hora de abrir o bolso, gastar e encabeçar um movimento nacional de estímulo ao investimento. Só assim, o Brasil evitará que a crise internacional se instale de vez aqui e cause desemprego. Na visão desses interlocutores, apenas o consumo das famílias não garantirá mais um crescimento duradouro. E negligenciar a expansão da atividade em um momento como o atual seria um suicídio econômico.
Para Delfim, a principal preocupação que o governo deve ter agora é cooptar o setor privado para investir. Para isso, tem que oferecer boas taxas de retorno: “Se estimular, o investimento vai produzir mais consumo imediatamente e aumentar a capacidade produtiva no futuro próximo. É um sistema que se retroalimenta”. Já Belluzzo adverte que a última coisa que o Brasil pode fazer agora é subestimar a crise. Para ele, defender ajuste fiscal em vez da expansão da economia — como faz a Alemanha da chanceler Angela Merkel — é o mesmo que decretar a própria morte.
Pelo mundo: há mudanças, mas dificuldades ainda são grandes...
Há boas notícias vindas da Europa, como os estímulos para o crescimento na Grã Bretanha e na Itália, depois da decisão clara do novo presidente socialista francês de impulsionar a União Europeia em direção à criação de um fundo de investimentos. Mesmo com as eleições na Grécia, apesar da vitória dos conservadores, já está fora de questão a imposição pura e simples de mais sacrifícios à população.
Os gregos mantém a pressão, tendo dado quase um terço dos votos à esquerda. No quadro pós-eleições, mesmo o conservador Samaras fala em rever os acordos (leia aqui no blog a nota A vitória de pirro de direita na Grécia).
Mesmo na China temos sinais positivos para o Brasil com o governo reduzindo juros e retomando investimentos, o que evitará uma desaceleração maior da economia chinesa. Ou seja, embora ainda seja muito ruim e as melhoras sejam ainda tênues, o cenário internacional apresenta melhoras, o que ajuda a quebrar o pessimismo e dá mais fôlego para o Brasil crescer. Depende de nós, de decisões que estão ao nosso alcance.
Fala de Tombini e inflação em queda
O presidente do BC cita ainda os estímulos na área tributária (como a redução de impostos sobre carros e eletrodomésticos), que foram colocados no terceiro e quarto trimestres do ano passado, e uma série de fatores que apontam para um contínuo crescimento da demanda no país, como o mercado de trabalho, que ainda gera 1,4 milhão de empregos, e a renda real, que cresce na faixa de 3%. “Combinando a criação de empregos com a renda real, a massa salarial real avança na faixa de 5% em 12 meses. Portanto, temos fatores para sustentar a demanda interna”.
Quanto à inflação, uma boa notícia: analistas do mercado financeiro já projetam inflação bem próxima do centro da meta de 4,5% em 2012, um cenário impensável alguns meses atrás. O Bradesco, por exemplo, prevê IPCA de 4,9%. O Credit Suisse, de 4,8%. E o Deutsche Bank, de 4,7%. Na terça-feira, um anúncio de medida acompanhado de perto pelos investidores brasileiros mostrou, pela primeira vez no ano, uma expectativa de IPCA inferior a 4,5%. Trata-se de um cálculo que toma por base as negociações com NTN-B, um título público indexado justamente à inflação oficial do país.
Blog do Zé
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