Para complementar o
preservativo, há desde o uso de gel e remédios até a circuncisão. Casais
em que só um dos parceiros tem HIV estão entre os públicos-alvo das
pesquisas
Beatriz Salomão
Rio - Há décadas, o preservativo é o recurso mais
famoso na proteção contra o vírus HIV. Mas, com o avanço da Ciência,
deixou de ser o único. Técnicas que incluem desde o uso de gel e
medicamentos até a circuncisão figuram como novas opções, complementares
à camisinha, sobretudo para casais sorodiscordantes (quando apenas um
parceiro tem Aids).
Os métodos integram a chamada profilaxia
(prevenção) pré-exposição e não envolvem apenas o portador da doença.
Por exemplo, uma das opções é o parceiro soronegativo fazer uso contínuo
de antirretrovirais como forma de prevenção. O estudo norte-americano
Iprex, com cerca de 2,5 mil homens que fazem sexo com outros homens e
são soronegativos, revelou que o uso diário do remédio Truvada (usado no
tratamento da Aids) oferece proteção que varia de 43% a 92%, dependendo
da quantidde de comprimidos ingeridos.
No Brasil, o Truvada possui registro na
Anvisa apenas para tratamento da Aids e não pode ser utilizado de forma
preventiva. O Ministério da Saúde oferece antirretrovirais somente para
o parceiro soropositivo.
O Truvada é usado no tratamento de quem tem Aids
Foto: Divulgação
Brenda Hoagland, infectologista e
pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), da
Fiocruz, alerta que os métodos não substituem o preservativo, mas atuam
de forma complementar. “A camisinha é eficaz, mas o uso dela em todas as
relações não acontece. Há anos, o percentual dos que utilizam sempre o
preservativo não passa de 40%”, alerta.
Recurso pouco convencional, a circuncisão pode
reduzir as chances de contágio do parceiro soronegativo em até 45%, de
acordo com pesquisa feita com africanos. Brenda explica que o prepúcio,
pele retirada na cirurgia, é mais sensível e vulnerável a lesões e
infecções que favorecem a entrada do vírus HIV. “Retirar o prepúcio não
indica que o homem não vai se infectar, mas o risco é reduzido” declara a
especialista.
Outra novidade é a versão em gel do Truvada. O
creme microbicida deve ser aplicado no ânus ou na vagina antes e depois
da relação sexual. Na África do Sul, a técnica trouxe 39% de redução do
risco de contágio em 889 mulheres com alto risco de contaminação. Mas,
segundo Brenda, a adesão das participantes ao método foi baixa.
Nos Estados Unidos, há testes com medicamentos
injetáveis com maior duração. No Brasil, a metologia pré-exposição não é
realidade no SUS. Além dos portadores da Aids com relação
sorodiscordante, têm direito ao antirretroviral pacientes com CD4
inferior a 500, sinal de estágio avançado da doença. Pessoas expostas ao
vírus, por relação sexual ou acidente, recebem o medicamento, gratuito,
por 30 dias. Diagnósticos recebidos de forma errada
A pesquisa ‘Vulnerabilidade ao HIV/Aids entre
Casais Sorodiscordantes’, da Fiocruz, analisou questões sociais (renda,
escolaridade, conhecimento da doença e religião) e de acesso aos
serviços de saúde em 17 casais sorodiscordantes (13 heterossexuais e
quatro homossexuais).
Desenvolvido pelo psicólogo Nilo Martinez
Fernandes, do Ipec, o estudo durou quatro anos. Segundo ele, o dado mais
impressionante foi a forma de divulgação do diagnóstico da doença para
pacientes. “Teve gente que soube que era soropositivo por email,
telefone ou por uma atendente. Isso impacta de forma negativa o início
do tratamento”, avalia.
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