Pacientes com câncer avançado mostraram resultados positivos em primeira fase de pesquisa que usa nanotecnologia para tentar combater a doença
Células cancerígenas: nanopartículas agirão como mísseis
teleguiados, levando o medicamento contra o câncer somente às células
doentes
(Getty Images)
O primeiro teste clínico com nanopartículas
programadas para um tratamento anticâncer mais concentrado e com menos
efeitos colaterais do que a quimioterapia teve resultados positivos,
segundo estudo publicado nesta semana, nos Estados Unidos. Parte dos
participantes do estudo, que sofriam de câncer em etágios avançados,
tiveram o crescimento do seus tumores estabilizados ou reduzidos. O
trabalho foi apresentado na conferência anual da Associação Americana de
Pesquisas sobre o Câncer, realizada em Chicago, e publicado
simultaneamente na versão online da revista médica americana Science Translational Medicine.Opinião do especialista
Artur Katzcoordenador de Oncologia Clinica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
"Tratamentos anticâncer com nanotecnologia fariam com que a droga para a doença ficasse dentro de uma partícula. Essa se ligaria a um tipo de proteína de uma célula cancerígena e, só então, liberaria a substância do medicamento. Como um míssel teleguiado.
É preciso que os pacientes tomem cuidado ao ler esse tipo de pesquisa para que não pensem que já existe um tratamento do qual estão sendo privados. Resultados como esses são relevantes cientificamente, mas na prática clínica ainda não têm nenhuma influência.
O estudo ainda é preliminar e os resultados foram obtidos com apenas 17 pessoas, um número ainda muito pequeno. Com esse número, não é possível afirmar absolutamente nada.
A pesquisa, ainda assim, é importante. Precisamos avançar emestudos sobre novas formas de tratamentos menos tóxicos e mais eficazes. Os resultados são bons, mas é importante observar que somente uma pessoa teve o tumor reduzido. No entanto, a fase 1 de testes clínicos deve provar a segurança do tratamento, e foi o que os resultados demonstraram.
Estudos maiores e mais específicos são necessários para que essa pesquisa avance e suas conclusões finais sejam comparadas com o tratamento convencional. Só então essa tecnologia se tornaria, após ao menos dez anos, um medicamento disponível."
A nanopartícula, chamada BIND-014, foi desenvolvida pela companhia BIND Biosciences, com sede em Massachusetts. "Este é o primeiro tratamento deste tipo utilizado em humanos para qualquer tipo de doença", disse Farokhzad. "A BIND-014 mostrou pela primeira vez que é possível produzir nanomedicamentos programáveis capazes de concentrar efeitos terapêuticos multiplicados diretamente no coração da doença", explicou o doutor Farokhzad. O princípio ativo usado foi o docetaxel, comercializado com o nome de Taxotere.
A pesquisa — O teste clínico de fase 1 do estudo foi feito com um pequeno grupo de 17 pacientes que sofriam de diferentes tipos de câncer em estágio avançado. O teste provou ser seguro e produziu efeitos em "praticamente todos os participantes", mas especialmente em seis deles, nos quais os efeitos foram mais destacados. Neste grupo, uma paciente teve redução do tumor no colo do útero, enquanto outros cinco tiveram seus cânceres (de pâncreas, ânus, cólon, vias biliares e garganta) estabilizados.
Este nanotratamento produziu efeitos favoráveis na luta contra o câncer, inclusive com doses ínfimas de anticancerígenos, que representavam até 20% do que normalmente se prescreve em quimioterapia tradicional por via oral ou em injeções. "Se tentássemos obter essa concentração em um tratamento convencional, mataríamos o paciente", diz Farokhzad. Os pesquisadores explicam que isso se deve ao fato de que as nanopartículas podem depositar no local exato onde se encontra o tumor concentrações de medicamenos até dez vezes maiores.
Os pesquisadores se disseram animados com os resultados porque as doses foram baixas, o que indica que no futuro os médicos poderiam encontrar uma forma de aplicar a quimioterapia em cânceres, direcionando o medicamento ao próprio tumor e evitando seus efeitos colaterais.
Saiba mais
NANOTECNOLOGIAÉ a parte da ciência que estuda o controle da matéria em escala atômica e molecular, entre um e 100 nanômetros. Um nanômetro equivale a um milímetro dividido em um milhão de partes. Para se ter uma ideia, o fio de cabelo possui uma espessura média de 75.000 nanômetros. Com a nanotecnologia, os cientistas conseguem produzir materiais com propriedades especiais, controlando a forma como eles absorvem e espalham a luz e conduzem eletricidade e calor, por exemplo.
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