O primeiro coração artificial totalmente desenvolvido no Brasil começará a bater em breve no peito de alguém. O hospital estadual Dante Paz-zanese, que desenvolve o projeto, acaba de receber autorização para iniciar os testes em humanos.
O novo dispositivo aumenta as chances de que pessoas em estado gravíssimo, que já não respondem bem à medicação, possam resistir até que apareça um doador compatível para transplante. Cerca de 50% dos pacientes graves morrem na fila de espera para a cirurgia.
"A funcionalidade dos corações artificiais já é consagrada. Mas, no Brasil, os preços são proibitivos", explica Aron José Pazin de Andrade, responsável pelo Centro de Bioengenharia do hospital e idealizador do dispositivo.
O custo por paciente, no caso dos aparelhos mais comuns do mercado, fica hoje em torno de US$ 500 mil. O coração brasileiro custaria cerca de 15% desse valor, entre R$ 60 mil e R$ 100 mil.
Essa primeira etapa testará a segurança do dispositivo. O projeto começou em 1998, no doutorado de Andrade. O aparelho tem bons resultados em testes com animais desde 2004.
COMO FUNCIONA
O coração artificial brasileiro é um dispositivo auxiliar, a ser acoplado ao órgão natural, que continuará batendo. O ventrículo direito bombeia o sangue até o pulmão para oxigená-lo. O ventrículo esquerdo leva o sangue para a aorta, que o conduz para o resto do corpo.
"Uma vantagem de o coração natural ser preservado é que, em caso de algum problema na máquina, o paciente continua com o sangue fluindo. Sem contar que, ao manter o órgão, é mais simples controlar a pressão arterial", explica Andrade.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
A cirurgia para a implantação do aparelho, que pesa 700 g, é considerada simples.
"Mas há todo um sistema complexo de pessoal e exames especializados por trás", diz Jarbas Dinkhuysen, chefe do setor de transplante do Dante Pazzanese.
Para evitar a formação de coágulos, um dos principais problemas após implantes desse tipo, os pacientes vão tomar anticoagulantes.
O coração artificial é contraindicado para quem sofreu embolia pulmonar nos 30 dias antes da cirurgia, passou por entubação prolongada ou tem insuficiência renal.
Por questões de segurança e para agilizar a correção no caso de eventuais falhas, os dispositivos ficarão fora do corpo nessa primeira etapa do projeto. Nos testes com animais, o coração artificial implantado dentro do corpo funcionou bem.
Os pacientes também precisarão ficar no hospital.
Nessa fase, cinco pessoas, ainda não selecionadas, receberão o coração artificial. Após a análise dos resultados, deverá ser iniciada uma nova fase, com mais cinco pacientes, alguns deles do HCor (Hospital do Coração), que colabora com o projeto.
Os escolhidos serão pessoas em estado grave, com necessidade de transplante iminente. Após receberem o dispositivo, elas passarão a ter prioridade na fila de transplantes, que hoje tem 88 pessoas no Estado.
A equipe responsável avaliou a possibilidade e diz que, no futuro, o dispositivo poderá ser usado como forma auxiliar também em pacientes menos graves, até como forma de evitar o transplante.
Muitas vezes, apenas ao "aliviar" o trabalho do coração, o aparelho leva a uma melhora significativa do órgão natural.
GIULIANA MIRANDA
Folha
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