5.12.2012

Como aproveitar os juros baixos?


Entendendo um pouco sobre Juros:

O que é a taxa básica de juros?

O Banco Central é o responsável pela taxa básica de juros. Foto: Beatriz Albuquerque
O Banco Central é o responsável pela taxa básica de juros. Foto: Beatriz Albuquerque.
Para entender a taxa básica de juros, é preciso primeiro saber o que é o juro. O dicionário Houaiss o define como "quantia que remunera um credor pelo uso de seu dinheiro por parte de um devedor durante um período determinado, ger. uma percentagem sobre o que foi emprestado; soma cobrada de outrem, pelo seu uso, por quem empresta o dinheiro". Em linguagem mais simples, Carlos Antonio Luque, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), dá um exemplo de como isso funciona: "Se eu tiver à disposição uma maçã e se alguém quiser tomá-la emprestada, eu vou exigir que, no futuro, essa pessoa me devolva a maçã e mais um pedaço. Esse pedaço extra é o que representa os juros".
No Brasil, o governo federal emite títulos públicos e, por meio da venda deles, toma empréstimos para financiar a dívida pública no país e outras atividades como educação, saúde e infraestrutura. Quem compra esses títulos aplica seu dinheiro para, em troca, receber uma contrapartida: os juros. Mas quem define isso? "O Banco Central, que administra os leilões de títulos do governo, define uma remuneração sobre eles, que é a taxa básica de juros", explica o professor. Dentro desse órgão, existe outro chamado Comitê de Política Monetária, o Copom. Ele foi criado em 1996 e sua função é, como diz o próprio nome, definir as diretrizes da política monetária do país e a taxa básica de juros. Periodicamente, o Copom divulga a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), que é a média de juros que o governo brasileiro paga pelos empréstimos tomados de bancos. É a Selic que define a taxa básica de juros no Brasil, pois é com base nela que os bancos realizam suas operações, influenciando as taxas de juros de toda a economia.

Aumentar ou reduzir esse imposto pode trazer diferentes implicações à economia de um país. "Quando o Banco Central aumenta a taxa de juros, ele está nos dando a seguinte orientação: 'Não consumam hoje os bens, peguem seu dinheiro e apliquem no mercado financeiro, pois assim vocês poderão consumir mais no futuro'. Quanto ele a reduz, diz o contrário, que é mais conveniente comprar os bens hoje e não aguardar o futuro para obtê-los", diz Carlos Antonio Luque. Ou seja, o aumento na taxa básica de juros atrai mais investimentos em títulos públicos e a quantidade de dinheiro em circulação diminui. Com isso, as pessoas compram menos. A lei de mercado faz com que a queda na demanda baixe os preços dos produtos e serviços em oferta. Assim, consegue-se conter o avanço da inflação, mas o ritmo da economia desacelera. Porém, se a taxa for reduzida, acontece o inverso: os bancos diminuem os investimentos nos títulos do governo e passam a aumentar o crédito à população, o que eleva a quantidade de dinheiro circulando e estimula o consumo. O crescimento na demanda de produtos e serviços aquece o setor produtivo e, consequentemente, a economia como um todo. Em compensação, faz os preços se elevarem e possibilita o avanço da inflação.

Dicas para você administrar melhor suas finanças nessa nova era, dos investimentos à renegociação das dívidas

Os juros começaram a cair na economia brasileira. No início, a insistência era velada, com críticas veiculadas na imprensa tanto à taxa Selic, fixada pelo Banco Central e que determina os juros pagos pelo governo para captar recursos e financiar suas atividades, quanto aos altos juros cobrados pelos bancos. Com clara influência sobre as decisões do Banco Central, o governo da presidenta Dilma conseguiu que os juros caíssem; e, mais recentemente, fez com que os bancos públicos (Caixa Econômica e Banco do Brasil) diminuíssem os juros, obrigando aos bancos privados que sempre lucraram com os juros altos a terem que acompanhar(portabilidade)a politica de juros baixos. Isso significa que as taxas de juros cobradas em empréstimos, financiamentos (inclusive o imobiliário, como sinalizou a Caixa Econômica recentemente), no cheque especial e em outros produtos bancários como investimento, capital de giro para as grandes e pequenas empresas, o acesso a estes juros baixos  melhora  a economia brasileira.
Até pouco tempo atrás, se alguém falasse que o Brasil estava prestes a se tornar um país com juros civilizados, seria motivo de chacota. Dezoito anos após a implantação do Plano Real (governo Itamar Franco), que trouxe a estabilidade econômica, graças a administração do plano pelo governo atual, o Brasil parecia destinado a ser o eterno campeão mundial dos juros altos. Agora, surgem sinais de que os juros também podem alcançar um patamar de Primeiro Mundo – ou, ao menos, semelhante ao de outros grandes países emergentes, como China, Índia e Rússia. Isso deverá trazer uma transformação profunda na vida dos indivíduos e das empresas. 
A queda dos juros é fruto de uma conjunção de fatores. O maior deles é a própria estabilidade. Sem ela, ainda estaríamos correndo para o supermercado no dia do pagamento do salário para comprar antes da remarcação dos preços. A atual crise global também deu sua contribuição para a virada. Com a desaceleração econômica, o Banco Central pôde promover seguidos cortes na taxa básica de juros, a Selic, usada como referência pelos bancos, sem risco de incentivar um aumento no consumo e alimentar reajustes de preços com impacto na inflação.
Hoje, a taxa básica está em 9% ao ano e, de acordo com a expectativa dos analistas, deverá baixar a 8,5% no final de maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o menor nível da história. Descontada a inflação, isso representará uma taxa real de 3,1% ao ano. 
A queda nas taxas está provocando mudanças em todos os investimentos. Aplicações que garantiam ganhos de 10% ou 12% ao ano recentemente sem correr praticamente nenhum risco agora estão perdendo fôlego. Quem quiser ganhar um pouco mais terá de se arriscar na Bolsa ou mesmo no mundo dos negócios.
Com uma boa orientação, é possível tirar o melhor dessa nova era. Para ajudar a administrar seu patrimônio,

Abaixo, duas dicas:

1. Devo tirar meu dinheiro da caderneta de poupança?
A velha poupança pode parecer pouco atraente para muito sabichão do mercado financeiro. Mas, para boa parte dos aplicadores e investidores, mesmo os mais endinheirados (que costumam reservar alguns trocados para diversificar seu patrimônio na caderneta), ela é – e continuará a ser – uma alternativa observada com carinho. Quem tem dinheiro hoje na poupança pode até migrar para outras aplicações, como sempre aconteceu, por razões pessoais ou estratégicas. Mas não por causa da mudança nas regras de cálculo dos rendimentos promovida pelo governo no final de abril. “A poupança tem um público cativo, que aplicou e vai continuar a aplicar”, diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo de investimentos e previdência do Itaú Unibanco.
Pelas novas regras, a caderneta renderá só 70% da Selic, a taxa balizada pelo Banco Central, quando ela for menor ou igual a 8,5% ao ano – algo que pode acontecer já no final de maio, se as previsões dos analistas se confirmarem. Em outras aplicações, os investidores mais abonados podem obter quase 100% ao ano da Selic. Só que a poupança é isenta de tributação, enquanto nas demais aplicações o investidor paga imposto sobre seus ganhos.
Além disso, a poupança é uma aplicação simples. O poupador recebe o mesmo rendimento em qualquer banco do país. E ela ainda oferece o menor risco do mercado. O investidor está protegido contra quebras de instituições financeiras pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 60 mil por CPF. Com os fundos de investimento, isso não acontece. O único risco da poupança seria a Selic ficar abaixo da inflação, porque seu dinheiro perderia valor. Isso, porém, não aparece nos binóculos dos analistas.

2. O que devo fazer com o dinheiro em CDBs, fundos de renda fixa e DI?
A queda dos juros reais, aqueles que superam a inflação e representam o ganho dos investidores na prática, tira muito do charme que as aplicações de renda fixa tiveram no passado recente, quando as taxas ofereciam mais de 10% ao ano. Hoje, com os juros reais na faixa de 3,5% (e as projeções apontando para uma taxa entre 2% e 2,5% ao ano), o investidor terá de investir mais para ter o mesmo ganho do passado.
Isso não significa que será preciso correr para remanejar seu dinheiro. Ele continua seguro na renda fixa. Qualquer investidor mantém uma parcela do dinheiro nas aplicações mais conservadoras. “Para aumentar o risco, o aplicador tem de estar preparado para ganhar ou perder”, diz Nascimento. Se, ainda assim, você quiser rever suas aplicações, procure refletir calmamente. “O investidor que quiser mudar seu portfólio deve entender os riscos envolvidos nas diferentes aplicações, para fazer a mudança com segurança”, afirma Joaquim Levy, presidente da Bram, a empresa de gestão de recursos do Bradesco.
Quem quiser ser mais cauteloso poderá investir em aplicações com taxas prefixadas, como CDBs e fundos de renda fixa, onde é possível “travar” as taxas antecipadamente. Como os fundos DI, acompanham o sobe e desce das taxas, eles serão beneficiados se o Banco Central tiver de subir os juros mais para a frente, para conter um eventual repique inflacionário, segundo preveem alguns analistas.
 JOSÉ FUCS, DANIELLA CORNACHIONE E NATHALIA PRATES 
 Começou a queda de juros. Isso é tudo (ou quase tudo) o que empresários, instituições e trabalhadores vêm pedindo há anos. É lugar comum acusar os bancos de obterem lucros exorbitantes e o governo de cobrar elevada carga tributária. Mas agora, pela necessidade de fazer frente à crise que assola o mundo e manter o mercado interno aquecido, o governo decidiu mexer na política de juros. Começou por fazer os bancos oficiais a darem o exemplo e, com seu peso, puxar para baixo as taxas cobradas pelo mercado particular. A medida deu o tom para os discursos do Dia do Trabalho. Mas exige mais do que o temerário populismo, já que o nível dos juros é conseqüência de um intrincado processo sobre o qual foi montada nossa economia, hoje a sexta do mundo. Tradicionalmente, os bancos oficiais servem para alavancar o desenvolvimento através da viabilização de obras de infraestrutura e de suporte a programas oficiais de inclusão social e bem-estar da população. São tarefas que nem sempre apresentam o retorno financeiro de mercado, mas justificam-se pelos resultados que trazem ao conjunto da sociedade. Por conta disso, quando necessário, recebem o aporte de recursos públicos e até de programas internacionais de apoio ao progresso.
No entanto, no Brasil de hoje, os bancos oficiais, em vez de simples indutores do desenvolvimento, passaram a atuar como concorrentes privilegiados da iniciativa privada. Isso torna preocupante a política que venha a empregá-los como âncoras dos juros e custos das operações financeiras. É preciso lembrar que os bancos públicos gozam de uma série de privilégios e, mesmo oferecendo atendimento de má qualidade à clientela, vivem com as agências lotadas de clientes cativos. Além disso, por serem instituições públicas, não estão sujeitos à quebra ou falência, que ronda todo negócio particular quando não adequadamente administrado.
Todos queremos juros baixos. Mas é preciso levar em consideração as leis pétreas do mercado. O dinheiro que o banco privado empresta à sua clientela é o mesmo que toma emprestado da própria clientela. Em vez de usar o peso dos bancos oficiais para fazê-los baixar, o ideal seria que o Banco Central, como instrumento regulador, atuasse mais rigorosamente para evitar a cobrança de taxas abusivas e, ao mesmo tempo, o governo e o parlamento editassem leis que promovam a desoneração fiscal do setor e possam redundar na redução dos custos operacionais. Feito isso, a tendência é a queda real dos juros, sem o risco da quebra das instituições bancárias que, sem qualquer dúvida, são peças importantes do sistema econômico nacional.
Precisamos de medidas que beneficiem o mercado e funcionem no longo prazo. Não podemos correr o risco de repetir as experiências negativas dos planos econômicos – exceto o Real – que, num primeiro momento animaram, mas só serviram para desordenar o mercado e a economia brasileira.

por Dirceu Cardoso

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