5.07.2012

Pesquisa mostra que metade do país não tem o hábito da leitura.

População dividida

  Aponta também que o contato com livros é maior entre crianças que entre adultos e que isso se deve mais à obrigação escolar que ao interesse pessoal.

População dividida
Segundo pesquisa do Instituto Pró Livro, crianças em idade escolar representam 35% dos leitores do país. (foto: Gilberto Filho/ Flickr – CC-BY-2.0)
Quantos livros você leu nos últimos três meses? Se a resposta for menos que dois, você está dentro da média brasileira, segundo resultados de pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Pró Livro. O levantamento, feito a partir de cinco mil entrevistas domiciliares em 2011, também mostra que apenas metade dos brasileiros cultiva o hábito da leitura.
Em sua terceira edição, a pesquisa apontou uma leve queda no número de leitores brasileiros. Se atualmente o país tem cerca de 88,2 milhões de pessoas que leram pelo menos um livro (inteiro ou em parte) nos últimos três meses, em 2007 essa parcela era estimada em cerca de 95,6 milhões de pessoas (55% da população). Mas essa diminuição pode ser explicada por mudanças na metodologia da pesquisa, que ganhou novas perguntas no formulário de entrevistas.
Mesmo assim, os resultados do levantamento revelam um cenário preocupante. O Brasil é um dos países que menos leem na América do Sul. Enquanto os brasileiros leem cerca de quatro livros por ano, os argentinos leem 4,5 e os chilenos, 5,4.
A principal razão apresentada por mais da metade dos entrevistados para não ler é a falta de tempo, seguida pela falta de interesse
“Não temos motivo para comemorar esses índices”, comenta a presidente do instituto responsável pelo estudo, Karine Pansa. “Esperamos que esse quadro contribua para a avaliação e a implementação de políticas públicas que melhorem os índices de leitura no Brasil.”
A principal razão apresentada por mais da metade dos entrevistados para não ler é a falta de tempo, seguida pela falta de interesse. A maioria também considera mais prazerosas outras atividades que não a leitura. Assistir à televisão é o passatempo preferido de 85% das pessoas. Ouvir rádio e sair com amigos também estão entre as preferências. Já a leitura, seja de livro, revista ou jornal, só está nos planos para tempo livre de 28% dos entrevistados.
Apesar de ser uma das últimas opções de muita gente, a leitura é considerada importante por grande parte dos entrevistados. Para 64%, ler representa “fonte de conhecimento” e 6% pensam que a leitura é uma forma de “vencer na vida” e “melhorar a situação financeira”, embora 47% dos entrevistados digam não conhecer ninguém que tenha se tornado bem-sucedido por causa dos livros.

Ler, só se for obrigado

A pesquisa também mostra que no Brasil são os estudantes os que mais leem. Crianças entre cinco e 17 anos, em idade escolar, representam 35% dos leitores do país.
Entre os entrevistados que estudam, o percentual de leitores – 48% – é três vezes maior do que o de não leitores – 16%.Entre as pessoas que não estudam, a parcela de não leitores é cerca de 50% superior à de leitores.
Os dados mostram ainda que a maioria das crianças só lê livros didáticos obrigatórios e paradidáticos indicados pela escola. Isso é mais evidente entre os cinco e 10 anos, faixa etária em que somente 28% leem por iniciativa própria.
Mulher lendo
A pesquisa aponta a mãe como figura determinante para a aquisição do hábito da leitura pelos filhos. (foto: Ariel da Silva Parreira/ Sxc.hu)
Para Pansa, isso é reflexo de que não basta investir em políticas públicas de incentivo à leitura no ambiente escolar, mas é preciso incentivar o contato com livros em casa. “Os pais têm que dar o exemplo, mostrar que a leitura também é entretenimento, não apenas obrigação”, afirma.
A pesquisa confirma a influência da família na aquisição do hábito da leitura. Entre os leitores, 43% apontam a mãe como figura determinante nessa escolha, enquanto seis em cada dez não leitores afirmam nunca terem visto os pais lendo.
Como solução possível, Pansa aponta o investimento em espaços não formais de educação, como bibliotecas. “Tornar as bibliotecas públicas um ambiente atraente e acolhedor, com opções de atividades culturais e de lazer – com programações atrativas, espaços confortáveis, grupos de leitura, horários acessíveis, entre outros – ajudaria a fazer com que a imagem da biblioteca não seja associada somente a um dever escolar.”

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

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