A DESFAÇATEZ DE ROBERTO GURGEL
Incomodado, o procurador-geral da República foi ontem ao Jornal Nacional
tentar se explicar ou se justificar quanto às cobranças de
parlamentares, inclusive da oposição, e setores da sociedade pelo fato
de haver engavetado o inquérito da Polícia Federal que mostra as
relações promíscuas entre o contraventor Carlos Cachoeira e o senador
Demóstenes Torres (ex-DEM).
Na maior desfaçatez, Gurgel agarrou-se ao discurso da velha mídia para
desviar o foco das atenções que recai sobre ele, em meio à enxurrada de
escândalos provocada por Cachoeira e Demóstenes.
Em casos recentes, com bem menos dados e evidências, Gurgel não levou
mais do que algumas horas para assacar sua pena acusatória contra outros
personagens políticos citados em denúncias.
Se tivesse cumprido com seu dever quando ficou sabendo da gravidade dos
fatos, em 2009, é muito provável que Demóstenes não fosse eleito
senador, nem Marconi Perillo governador de Goiás nas eleições de 2010. E
o esquema corrupto de Carlos Cachoeira, que, segundo as investigações,
se alastrou por vários setores da atividade pública, talvez já estivesse
debelado há muito tempo.
Mas Gurgel ficou quieto. Fez de conta que não era com ele. Por quê?
Gurgel deve, sim, explicações ao país. E não só por meio de notas à
imprensa ou de táticas diversionistas – como na entrevista de ontem ao
Jornal Nacional da rede Globo, em que incorporou o discurso da Revista
Veja e acusou os citados no chamado mensalão de fazer pressão contra
ele, por causa do julgamento desse processo no STF.
Ora, o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Por acaso
Gurgel é ministro do STF? Tem voto lá? Não, não tem. Que culpa tem o
STF e os acusados no processo do “mensalão” se Gurgel não adotou as
providências necessárias e assim contribuiu, mesmo que indiretamente,
para que o esquema de Cachoeira, Demóstenes e outros continuasse
funcionando e se ampliando?
Aliás, o depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Souza, à CMPI do
Cachoeira, na terça-feira (8/5), foi o que aumentou as suspeitas, ao
declarar que o procurador poderia ter agido há dois anos. Destaco aqui,
também, o comentário de um deputado da oposição que, após a fala do
delegado, afirmou: “Ele (Gurgel) estava com uma bomba atômica na mão”.
Estranhamente – ou nem tanto – o depoimento do delegado foi omitido pelo Jornal Nacional da rede Globo de ontem...
O Brasil de hoje, graças ao alcance cada vez maior das redes sociais,
não depende mais das Organizações Globo ou da Veja – e de suas penas ou
canetas de aluguel – para saber o que se passa no país. Se já estava
claro, antes, que Gurgel precisa se explicar na CPMI, agora ficou ainda
mais evidente. Nenhum cidadão brasileiro está acima das leis e das
instituições. Por mais que saiam por aí gritando “mensalão”, qualquer um
pego com a boca na botija, deve ser investigado e punido, se
necessário.
Madacarú
Nenhum comentário:
Postar um comentário