Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás
Ambiente familiar: é proibido beijar na boca
Não trato de qualquer beijo de rotina. Digo aqueles beijos de novela. Arte explícita dos casais apaixonados, óbvio.
Beijo na boca, o verdadeiro defloramento, como queria o tio Nelson Rodrigues.
Ou você é do tipo que acha ridículo a pegação pública e deixa tudo para a alcova?
Toda essa reflexão, em uma manhã gelada de terça-feira, nos leva a Campinas (SP), onde um bar, o Empório do Nono, adotou cartões para advertir os beijoqueiros. Outras casas da cidade já adotavam vetos aos pombinhos.
É proibido beijar na boca.
Leia aqui a reportagem de Natália Cancian, na versão impressa da Folha de hoje.
Não devemos debitar apenas na conta do Politicamente Correto ou do Sr. Kassab, esse Jânio Quadros sem álcool, que toma conta dos costumes.
A política de proteger o “ambiente familiar” vem de longe. O caso mais tradicional é o da Adega Flor de Coimbra, na Lapa carioca, com pelo menos 70 anos de proibição.
Lembro, certa noite em Uberlândia(MG), quando eu tentava, ainda na pele de um afoito e jovem repórter, umas saliências com uma moça de ilibada reputação, moça de família mesmo, e fui surpreendido pela advertência do bar do Zé:
“Cenas amorosas estão proibidas”.
No bar do Seu Louro, em Juazeiro do Norte, bairro dos Franciscanos, a mesma história. A explicação dele até que fazia sentido: o estabelecimento era vizinho do cabarés da linha do Trem. Não queria que a sua casa fosse confundida com “a pouca vergonha” dos bregas.
E você, amigo(a), já foi interrompido(a) de atos do gênero? O confessionário do tio está aberto, se joguem sob o manto do anonimato ou com o destemor de sempre.
Este folgado cronista ainda pede mais: alguma boa história de uma bar aí da sua cidade?
A galinhada do Kassab e a comida de grife
A comida de marca é mesmo um novo grande fetiche.
E não só da chamada nova classe C, em nome de quem se faz tudo que se presta e que não presta hoje em dia no Brasil.
Falo da galinhada do Alex Atala, o famoso chef dono do restaurante classificado, em um torneio do gênero, como o 4º melhor do mundo, o D.O.M., de SP.
Atala é um cara legal, um cara patente ZL (zona leste de SP), que manja e não fica arrotando por ai a superioridade da chamada “alta gastronomia”.
Cabia a Atala fazer uma galinhada da Virada Cultural, em pleno Minhocão. Foi gente demais. Faltou penosa na encruzilhada de Santa Cecília. Correria e confusão até umas horas.
O secretário de Cultura de SP, Carlos Augusto Calil, deu a nota: “Alta gastronomia em um evento de massa é incontrolável… A gente aprendeu”.
Realmente o populacho não sabe se comportar diante de comida de grife. Não foi isso que o Calil falou, mas vai aqui como minha possível e maliciosa tradução. Já que não tem galinhada, que coma brioche.
É irônico que em uma SP que proíbe a comida de rua, na contramão da história e da urbanidade em todo o mundo, apenas o rango de marca seja liberado. Só poderia dar nesse sururu todo que vimos.
Não sabia que a cidade amava tanto assim uma galinhada. Ora, conheça o Dema, vá no Bahia, ambos no bairro paulistano do Canindé.
Melhor: vá a Goiás, vá a Minas,visite a Serra do Rola-Moça, nos arredores de BH.
Eu prefiro sempre com pequi, por causa da minha origem na chapada do Araripe, óbvio.
Com todo perdão do Atala, minha mãe, dona Maria do Socorro, faz bem melhor.
Já comeu seu rango de grife hoje, meu amigo, minha amiga? O bom é que costuma ser bem baratim.
E não só da chamada nova classe C, em nome de quem se faz tudo que se presta e que não presta hoje em dia no Brasil.
Falo da galinhada do Alex Atala, o famoso chef dono do restaurante classificado, em um torneio do gênero, como o 4º melhor do mundo, o D.O.M., de SP.
Atala é um cara legal, um cara patente ZL (zona leste de SP), que manja e não fica arrotando por ai a superioridade da chamada “alta gastronomia”.
Cabia a Atala fazer uma galinhada da Virada Cultural, em pleno Minhocão. Foi gente demais. Faltou penosa na encruzilhada de Santa Cecília. Correria e confusão até umas horas.
O secretário de Cultura de SP, Carlos Augusto Calil, deu a nota: “Alta gastronomia em um evento de massa é incontrolável… A gente aprendeu”.
Realmente o populacho não sabe se comportar diante de comida de grife. Não foi isso que o Calil falou, mas vai aqui como minha possível e maliciosa tradução. Já que não tem galinhada, que coma brioche.
É irônico que em uma SP que proíbe a comida de rua, na contramão da história e da urbanidade em todo o mundo, apenas o rango de marca seja liberado. Só poderia dar nesse sururu todo que vimos.
Não sabia que a cidade amava tanto assim uma galinhada. Ora, conheça o Dema, vá no Bahia, ambos no bairro paulistano do Canindé.
Melhor: vá a Goiás, vá a Minas,visite a Serra do Rola-Moça, nos arredores de BH.
Eu prefiro sempre com pequi, por causa da minha origem na chapada do Araripe, óbvio.
Com todo perdão do Atala, minha mãe, dona Maria do Socorro, faz bem melhor.
Já comeu seu rango de grife hoje, meu amigo, minha amiga? O bom é que costuma ser bem baratim.
Mantra da Virada: Sr., livrai-me das tentações, mas não hoje
E chega de minha pobre discurseira. Hora de flanar, a melhor ideia de urbanidade e cidadania desde que Paris inventou a luz elétrica e Baudelaire saiu tomando vinho pelas tabernas com a sua turma.
Deixo ai um roteiro esquizofrênico, cuja graça é a impossibilidade de aproveitar uma coisa ou outra. O espírito da Virada é esse. Você fica maluco porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo agora:
18h – É som de preto do Congo. Classe A no último: Ray Lema e Orquestra Jazz Sinfônica. Na estação Júlio Prestes. Tô dentro.
19h – O carregador de piano do John Coltrane Quartet: McCoy Tyner Quartet. Praça da República.Quer coisa mais fina?
21h30 - Bote uma beca e caia no Teatro Municipal: Angela & Cauby repetem o discaço que fizeram ao vivo em 1992. Vou levar minha tia costureira Maryvone. Direto do Crato para este momento lindo.
23h30 – Entrego titia nos braços de Morpheu e confiro o palco Cabaré, ao lado do Copan.o Copan: Ave Maria Gretchen, que disputa com Rita Cadilac, atração de domingo, o posto de bumbum mais longevo do show bizz brasuca. No mesmo local, minha grande aposta da madruga: a atriz e cantora cubana Phedra D. Córdoba, a rainha da Roosevelt e Caribe.
01h – Nelson Rodrigues dizia que “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”. SP finalmente entendeu a onda, a blague, e homenageia o tio Nelson no Sesc Belenzinho. Tem uma festa de peças. E o melhor: Wander Wildner, o rei do punk-brega, com um repertório que dialoga com a sacanagem rodriguiana.
03h30 – Jupiter Maçã nos espera com a beleza rimbaudiana de milhares de miss Lexotans. Na Barão de Limeira.
11h – Agora já estamos na manhã de domingo, óbvio. Defalla para quem é antes de tudo um forte –com ou sem o tal do vinho químico. Ainda na Barão, amigo.
15h – Hora do gênio Pinduca no Arouche. E a guitarreira segue com o melhor encontro de toda a Virada, quando as águas do Capibaribe se misturam às torrentes do Mississipi: Robertinho do Recife & Jesse Robinson.
Boa Virada a todos. E como diria Santo Agostinho: senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje.
Contra a pijamização do sexo e do amor
Sexta-feira é dia de etiqueta no blog. No episódio de hoje: usos & costumes no lar doce lar.
O pijama, amigo, é o paletó de madeira do amor.
E não adianta acreditar nos pijaminhas modernos. Fashion ou à moda antiga, o resultado é o mesmo.
O amor dispensa fardamentos.
O mesmo papai-mamãe, o mesmo pijama de bolinha, o mesmo sexo “funcionário público” e sem lirismo em cima daquele surrado colchão…
Se a rotina já é uma inimiga, sempre na tocaia, imagina a rotina apijamada, fardada, listrada ou de bolinhas.
Pijamas fora, pombinhos. Chega desse rotineiro sono dos justos e acomodados.
Se o sexo só na cama burocratiza o desejo e o elimina, imagina o sexo de uniforme.
A cama, que segundo o tio Nelson, é um objeto metafísico. Seja que diabo isso signifique, faça na cama somente o obrigatório.
Porque você quer despertar o seu lado mais selvagem.
Ao mato, meu rapaz, como nossos kariris, tabajaras, fulniôs e caetés –os canibais que devoraram a culpa cristã ao deglutir o bispo Sardinha em Alagoas.
Aos lugares inusitados, principalmente os lugares públicos. Aos parques, aos bancos traseiros, aos passeios de bicicleta ao bosque mais próximo, às grotas, às cachoeiras, cascatas, aos quintais alheios com flores roubadas.
Porque o medo é o melhor dos excitantes. Sem medo do flagrante delito.
Além do temor, que põe os nervos à flor da pele e enriquece o gozo, a possibilidade de ser visto por um voyeur é também animadora.
Recomenda-se o lindo uso de saias e vestidos, peças que sempre vestem bem esse tipo de pecado. Fonte: os filmes do tarado e genial Tinto Brass.
Porque se você não transar fora da cama, outro(a) fatalmente vai propor ao/a parceiro(a). Eis o perigo.
Não deixe espaço na relação para que um(a) forasteiro(a), um(a) aventureiro(a) o faça. A vítima pode ser você. Não duvide: a concorrência é sempre criativa e atenta às necessidades de pensar em mudanças, no varejo e no atacado, para dar mais requinte ao babado. Ação, amigo.
E o melhor, querida Lola, fora da cama o miserável que divide contigo o mesmo teto não vai roncar logo depois do ato. No máximo fuma aquele king size com filtro de um homem satisfeito.
Fora da cama a gente imita o galo. O único bípede do mundo que canta, feliz, depois do gozo. O resto entristece e dorme.
Porque você precisa ter uma boa resposta para uma velha pergunta. Já pensou que coisa mais sem graça não ter uma boa resposta quando lhe perguntarem qual foi o lugar mais inusitado onde fez amor?
Não precisa ser algo obrigatoriamente extravagante, como o caixão funerário de Catherine Deneuve, no filme “A Bela da Tarde”, mas que seja algo, digamos, diferente.
Sem querer arrancar confissões, mas com alguma curiosidade, qual lugar você sugere, meu rapaz, minha doce rapariga?
O pijama, amigo, é o paletó de madeira do amor.
E não adianta acreditar nos pijaminhas modernos. Fashion ou à moda antiga, o resultado é o mesmo.
O amor dispensa fardamentos.
O mesmo papai-mamãe, o mesmo pijama de bolinha, o mesmo sexo “funcionário público” e sem lirismo em cima daquele surrado colchão…
Se a rotina já é uma inimiga, sempre na tocaia, imagina a rotina apijamada, fardada, listrada ou de bolinhas.
Pijamas fora, pombinhos. Chega desse rotineiro sono dos justos e acomodados.
Se o sexo só na cama burocratiza o desejo e o elimina, imagina o sexo de uniforme.
A cama, que segundo o tio Nelson, é um objeto metafísico. Seja que diabo isso signifique, faça na cama somente o obrigatório.
Porque você quer despertar o seu lado mais selvagem.
Ao mato, meu rapaz, como nossos kariris, tabajaras, fulniôs e caetés –os canibais que devoraram a culpa cristã ao deglutir o bispo Sardinha em Alagoas.
Aos lugares inusitados, principalmente os lugares públicos. Aos parques, aos bancos traseiros, aos passeios de bicicleta ao bosque mais próximo, às grotas, às cachoeiras, cascatas, aos quintais alheios com flores roubadas.
Porque o medo é o melhor dos excitantes. Sem medo do flagrante delito.
Além do temor, que põe os nervos à flor da pele e enriquece o gozo, a possibilidade de ser visto por um voyeur é também animadora.
Recomenda-se o lindo uso de saias e vestidos, peças que sempre vestem bem esse tipo de pecado. Fonte: os filmes do tarado e genial Tinto Brass.
Porque se você não transar fora da cama, outro(a) fatalmente vai propor ao/a parceiro(a). Eis o perigo.
Não deixe espaço na relação para que um(a) forasteiro(a), um(a) aventureiro(a) o faça. A vítima pode ser você. Não duvide: a concorrência é sempre criativa e atenta às necessidades de pensar em mudanças, no varejo e no atacado, para dar mais requinte ao babado. Ação, amigo.
E o melhor, querida Lola, fora da cama o miserável que divide contigo o mesmo teto não vai roncar logo depois do ato. No máximo fuma aquele king size com filtro de um homem satisfeito.
Fora da cama a gente imita o galo. O único bípede do mundo que canta, feliz, depois do gozo. O resto entristece e dorme.
Porque você precisa ter uma boa resposta para uma velha pergunta. Já pensou que coisa mais sem graça não ter uma boa resposta quando lhe perguntarem qual foi o lugar mais inusitado onde fez amor?
Não precisa ser algo obrigatoriamente extravagante, como o caixão funerário de Catherine Deneuve, no filme “A Bela da Tarde”, mas que seja algo, digamos, diferente.
Sem querer arrancar confissões, mas com alguma curiosidade, qual lugar você sugere, meu rapaz, minha doce rapariga?
O direito à sesta -crônica da Barcelona agreste
Um sol para cada um dos 3.957 viventes. Depois do almoço, a sesta, digo, la siesta, é obrigatória. Ainda existem lugares saudáveis no Brasil que mantêm o melhor dos ibéricos costumes.
Estou na Barcelona potiguar, agreste do Rio Grande do Norte, uma das sete Barcelonas do mundo. Moças lindas que só perdem para Maria, uma ex que ora flana nas ramblas originais.
Moças lindas de zolhinhos semicerrados nas redes sonhando príncipes e modernidades.
A sesta deveria ser obrigatória por lei, constar na tábua constitucional, ser recomendada pelo Ministério da Saúde.
Como é bom tirar uma sesta, abaixar a cortina e dar um risinho safado para o capital que se esborracha lá fora; como é bom, mesmo para um falido, ajeitar os travesseiros e cerrar os olhos para sonhos pequenos.
Por uma sesta à sombra da toda-poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, perto do meu esconderijo babilônico.
Uma sesta com as janelas abertas na rua da Aurora, a rua mais linda do mundo, de onde avista-se Beberibes, Capibaribes, Áfricas, Tongas e Polinésias…
A Barcelona potiguar me lembrou como é bom tirar uma sesta com uma rapariga enroscada aos pés, sono leve de conchinha, colherzinha torta de Uri Geller e quetais.
Mas os dois precisam estar no espírito da sesta. Uma alma em desassosego acaba com qualquer sesta, sesta-de-favor não vale, sesta, siesta, carece de savoir faire… Um gato ali ronronando pelas nossas costelas, ave felino.
Numa sesta não vale sonhos épicos, apenas sonhos pequenos,daqueles que a gente realiza num piscar de olhos. Sonhos são filmes grátis, que vemos sem o barulho ridículo de pipoca ou de gente.
Os sonhos são feitos pelos cineastas mortos, jeito de ocupar-lhes no inferno ou purgatório. Coisa da aliança espúria de Deus e do Diabo.
Sesta: modo de usar. Quanto dura uma sesta? O ideal é que não se faça o uso do despertador, que não seja um curta-metragem, que seja um filme que se durma nele inteiro, que se beije o olho de quem dormir primeiro.
Oh Deus, guarde essa costela colada à minha e que esse suorzinho seja o superbonder possível, a resina mais grudenta, que nos livre do fim, amém. “Mas o amor acaba, meu filho”, sopra um anjo pousado no ombro de Paulo Mendes Campos.
Atravesso Barcelona, onde Chico Doido de Caicó, o maior poeta erótico, pornográfico ou fescenino brasileiro -tudo é a mesma coisa, tanto faz mesmo!- sentou praça e é lenda mais viva do que donzela no viço.
Chico Doido amava uma safada sesta. Ele defendia que Jesus Cristo deveria ter nascido em plagas dos Seridós e Caicós.
E qual seria a utilidade do barbudo da cruz neste mundo aqui distante das judeias, belens & jerusaléns?
Jesus nos serviria só para tanger as moscas e atrair as moças da capital.
Gênio dos gênios, esse Chico que de doido não tinha nada. Vocês precisam pesquisar e conhecer urgentemente.
Aqui me despeço por hoje. Barcelona cochila e eu vou em busca de uma cerveja antes do meu tardio almoço caprino. Sim, pra ficar pensando melhor. Como disse o outro Chico, cientista-mor da sonoridade brasuca.
Por que o brasileiro ama tanto o chefe?
Lá se foi o feriadão e é hora de falar mal do chefe, este esporte nacional de nove entre cada 10 brasileiros.
Por isso fiquei bege, como se dizia na prosódia GLS, com o resultado da pesquisa publicada ontem na Folha.
Na hora de falar sério sobre o assunto, 88% dos empregados esquecem a língua ferina e dizem “eu te amo” aos superiores da firma.
Tratei do assunto em crônica para a versão impressa do jornal. Continuo encanado com o assunto e queria dividir o meu susto com o bravo e resistente leitorado deste blog de costumes, comportamento e real-politik.
Você também ama a sua chefia?
Pergunto mais:
O amor na firma é lindo, mas amar o próprio chefe, no grau revelado pela pesquisa, não seria se declarar ao carrasco com a corda no pescoço?
Tudo bem, sempre tive desejo pelas minhas superioras mais poderosas. Só a elas, nunca às chefias masculinas, obedeci com todos os sins e améns. Pura perversão. Talvez vontade de inverter o mando no campo amoroso.
O fundamental Karl Marx (1818 — 1883) talvez explique em algum compêndio sobre luta de classes –lembre-se que uma das suas empregadas domésticas, a jovem Helen, o amava e com o barbudo teve um filho.
O que explicaria tanto amor pelos superiores? Mais um traço da cordialidade? Submissão atávica? Canalhice trabalhística: diz que ama, por alguma pilantragem, mas no fundo detesta? Talvez um pouco disso tudo.
Uma canalhice que o amado chefe retribui na hora de demitir os seus fãs. “Você é ótimo, excelente profissional, um exemplo, mas, infelizmente, vai para a rua da amargura”, diria o perverso, olhando para a fotinha do teu crachá, imagem de quando ainda era um funcionário jovem e saudável.
Nada mais revelador do estrago que nos faz o emprego do que o 2×2 dos crachás. O trabalho danifica o homem, como diz o mantra de boteco.
Eita, me lembrei agora de uma bela fábula de Esopo. Um cordeirinho reclamando da revolta de um porco (vide ilustração aí acima) capturado pela chefia do pastoreio.
Enfim, chega de me repetir aqui nesta croniqueta reciclada. Só queria saber de vocês o que explicaria esse amor todo pelo(a) fofo(a) do(a) chefinho(a).
Quem explica?
Por isso fiquei bege, como se dizia na prosódia GLS, com o resultado da pesquisa publicada ontem na Folha.
Na hora de falar sério sobre o assunto, 88% dos empregados esquecem a língua ferina e dizem “eu te amo” aos superiores da firma.
Tratei do assunto em crônica para a versão impressa do jornal. Continuo encanado com o assunto e queria dividir o meu susto com o bravo e resistente leitorado deste blog de costumes, comportamento e real-politik.
Você também ama a sua chefia?
Pergunto mais:
O amor na firma é lindo, mas amar o próprio chefe, no grau revelado pela pesquisa, não seria se declarar ao carrasco com a corda no pescoço?
Tudo bem, sempre tive desejo pelas minhas superioras mais poderosas. Só a elas, nunca às chefias masculinas, obedeci com todos os sins e améns. Pura perversão. Talvez vontade de inverter o mando no campo amoroso.
O fundamental Karl Marx (1818 — 1883) talvez explique em algum compêndio sobre luta de classes –lembre-se que uma das suas empregadas domésticas, a jovem Helen, o amava e com o barbudo teve um filho.
O que explicaria tanto amor pelos superiores? Mais um traço da cordialidade? Submissão atávica? Canalhice trabalhística: diz que ama, por alguma pilantragem, mas no fundo detesta? Talvez um pouco disso tudo.
Uma canalhice que o amado chefe retribui na hora de demitir os seus fãs. “Você é ótimo, excelente profissional, um exemplo, mas, infelizmente, vai para a rua da amargura”, diria o perverso, olhando para a fotinha do teu crachá, imagem de quando ainda era um funcionário jovem e saudável.
Nada mais revelador do estrago que nos faz o emprego do que o 2×2 dos crachás. O trabalho danifica o homem, como diz o mantra de boteco.
Eita, me lembrei agora de uma bela fábula de Esopo. Um cordeirinho reclamando da revolta de um porco (vide ilustração aí acima) capturado pela chefia do pastoreio.
Enfim, chega de me repetir aqui nesta croniqueta reciclada. Só queria saber de vocês o que explicaria esse amor todo pelo(a) fofo(a) do(a) chefinho(a).
Quem explica?
O regresso da pessoa amada
E não é que deu certo!
Algum leitor mais antigo deste cronista inviável deve lembrar do apelo do Amaro, um homem com o coração partido –havia sido trocado por um canalha.
A mulher voltou para ele, depois de quatro meses. Só agora, porém, ao encontrá-lo ontem no box do Pelado, no mercado de Casa Amarela, no Recife, Amaro contou o desfecho.
O simpático proprietário do estabelecimento fazia as honras com o seu impagável repertório. Cantávamos justamente este vinil aí acima, do genial piauiense Roberto Muller
Está feliz o homem. Queria que você visse. E qual foi o diabo do meu conselho? Reproduzo, a pedido do próprio. “É serviço utilidade pública”, diz.
Eis o que havia escrito para o nosso amigo:`
O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma filosofia de consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.
Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.
A vida é triste, Sizenando, como soprou o cronista.
Com Amaro, chamemos assim o nosso ensaio de Bentinho, não foi diferente.
Quis o destino parafusar-lhe objetos pontiagudos à testa.
Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.
Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador de sua própria desgraça.
Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.
Mato o desgraçado?
Tiro a vida da desalmada?
Vou-me embora pra Tegucigalpa?
Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?
Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, envaidece-se o próprio.
Sossega, Amaro.
O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.
Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.
Entendeste?
Deixar que eles durmam e acordem juntos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros vespertinos, que se esbaldem.
É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.
A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.
Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.
Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.
Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.
Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.
Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.
Ao amante, Amaro, a falta de assunto.
Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.
Some, Amaro, depois me conta.
Algum leitor mais antigo deste cronista inviável deve lembrar do apelo do Amaro, um homem com o coração partido –havia sido trocado por um canalha.
A mulher voltou para ele, depois de quatro meses. Só agora, porém, ao encontrá-lo ontem no box do Pelado, no mercado de Casa Amarela, no Recife, Amaro contou o desfecho.
O simpático proprietário do estabelecimento fazia as honras com o seu impagável repertório. Cantávamos justamente este vinil aí acima, do genial piauiense Roberto Muller
Está feliz o homem. Queria que você visse. E qual foi o diabo do meu conselho? Reproduzo, a pedido do próprio. “É serviço utilidade pública”, diz.
Eis o que havia escrito para o nosso amigo:`
O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma filosofia de consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.
Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.
A vida é triste, Sizenando, como soprou o cronista.
Com Amaro, chamemos assim o nosso ensaio de Bentinho, não foi diferente.
Quis o destino parafusar-lhe objetos pontiagudos à testa.
Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.
Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador de sua própria desgraça.
Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.
Mato o desgraçado?
Tiro a vida da desalmada?
Vou-me embora pra Tegucigalpa?
Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?
Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, envaidece-se o próprio.
Sossega, Amaro.
O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.
Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.
Entendeste?
Deixar que eles durmam e acordem juntos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros vespertinos, que se esbaldem.
É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.
A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.
Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.
Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.
Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.
Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.
Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.
Ao amante, Amaro, a falta de assunto.
Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.
Some, Amaro, depois me conta.
Quase esqueci o dia da Sogra. Imperdoável
Sorte teve Adão, que não teve sogra nem caminhão.
Desculpe ai, mas justo este blog que tem obrigação moral com as efemérides e toda uma cultura de almanaque ia esquecendo o dia mais sagrado. O Dela. A Sogra. É hoje.
Se não fosse a Helen, linda leitora, adeus, não iria prestar a homenagem de sempre às mães das minhas meninas.
Folclorizada no último, espécie de bumba-meu-boi dos casamentos, a sogra sempre foi motivo de chacota e demonização nos lares doces lares.
Óbvio que há um certo e maligno inseticida do exagero pulverizado sobre a mãe das nossas mulheres, mas, convenhamos, as referidas senhoras estão longe de obter o alvará de soltura e de inocência neste debate.
O problema é sério e universalíssimo. Não há a velha divisão antropológica -entre civilização e barbárie- em matéria de sogra. A mãe da cria das nossas costelas age da mesma forma em qualquer parte do planeta.
Seja na Suécia, no Crato ou no reino dos esquimós e avatoscos.
Viram só a iniciativa da Igreja Católica na Itália? Começou a tentar reeducá-las, em nome da manutenção dos casamentos e da paz nos lares doces lares. Incluíu no pacote de moral cristã também os sogros. Eles perturbam menos, porém também carecem de uns bons pitos e cascudos.
O curso para as queridas sogras começou na cidade de Udine, no norte italiano. A tendência é que o Vaticano o estenda pelo mundo inteiro. O projeto, com ajuda de altos e gabaritados psicólogos, se chama “Famílias em diálogo, como ser pais eficientes com filhos que vivem a experiência de casal”.
Em alguns rincões daquele lindo país macarrônico, os sogros são responsáveis por até 50% do desmantelo conjugal dos pombinhos. Os outros 50% devem ficar por conta do tédio propriamente dito e inevitável dos casais, claro, a falta de sexo, a infidelidade, o futebol retranqueiro etc etc.
Nunca cheguei a ter uma dona Olímpia como sogra, mas, amigo, não tenho grandes queixas de nenhuma delas, sempre me alimentaram com bons caldos e sopas e até riram generosamente das minhas pilhérias sem graça nos almoços dominicais. No mínimo, havia um bom tratamento a um poeta maluco que amava suas filhas –com algum risco que isso pudesse implicar, claro.
Dona Olímpia, amigo(a) leitor(a) da Espresso, foi a melhor sogra do mundo, a perfeita, aquela que descobriu a forma de fazer filha e genro felizes. Felizes na medida em que isso é possível em um casório, formalidade que na maioria das vezes destrói os ensaios de grandes amores.
A distinta senhora, reza a lenda lítero-boêmia, existiu de fato, é a personagem maravilhosa do “Livro de uma Sogra”( editora Casa da Palavra, RJ) do escriba Aluísio de Azevedo, aquele mesmo autor de “O Mulato” e “O Cortiço”, tão obrigatórios nas escolas e nos vestibulares.
Com a sua sogra exemplar, no entanto, o maranhense é divertidíssimo.
Livraço. Olímpia, ainda no remoto 1895, sabe tanto das coisas que sempre trata de separar, com pequenas viagens e obrigações nada chatas, a sua filha e o consorte. Tudo para que nunca caiam na rotina acachapante.
Quando noivos, reparem que gênia, ajuda a criar histórias que o deixem no suspense amoroso, apenas com boas pontinhas de ciúmes.
Olímpia, que já havia passado por um casamento desastroso, fastio danado, cuida até em reduzir a solenidade da lua de mel, orientando os recém-casados a se embriagarem sem a obrigação do grande coito na noite inaugural.
A consumação do amor,segundo ela, não poderia ser algo burocrático e abrupto, viria num crescendo de beijos e ternuras até uma explosão naturalíssima. Gênia. Um belo exemplo!
“Sorte teve Adão, que não teve sogra nem caminhão’?
Não concordo não. Pela primeira vez na vida desaprovo uma filosofia de parachoque -escolástica taõ importante na vida quanto a cátedra, seja UFPE, a melhor do Brasil, seja a USP.
Desculpe ai, mas justo este blog que tem obrigação moral com as efemérides e toda uma cultura de almanaque ia esquecendo o dia mais sagrado. O Dela. A Sogra. É hoje.
Se não fosse a Helen, linda leitora, adeus, não iria prestar a homenagem de sempre às mães das minhas meninas.
Folclorizada no último, espécie de bumba-meu-boi dos casamentos, a sogra sempre foi motivo de chacota e demonização nos lares doces lares.
Óbvio que há um certo e maligno inseticida do exagero pulverizado sobre a mãe das nossas mulheres, mas, convenhamos, as referidas senhoras estão longe de obter o alvará de soltura e de inocência neste debate.
O problema é sério e universalíssimo. Não há a velha divisão antropológica -entre civilização e barbárie- em matéria de sogra. A mãe da cria das nossas costelas age da mesma forma em qualquer parte do planeta.
Seja na Suécia, no Crato ou no reino dos esquimós e avatoscos.
Viram só a iniciativa da Igreja Católica na Itália? Começou a tentar reeducá-las, em nome da manutenção dos casamentos e da paz nos lares doces lares. Incluíu no pacote de moral cristã também os sogros. Eles perturbam menos, porém também carecem de uns bons pitos e cascudos.
O curso para as queridas sogras começou na cidade de Udine, no norte italiano. A tendência é que o Vaticano o estenda pelo mundo inteiro. O projeto, com ajuda de altos e gabaritados psicólogos, se chama “Famílias em diálogo, como ser pais eficientes com filhos que vivem a experiência de casal”.
Em alguns rincões daquele lindo país macarrônico, os sogros são responsáveis por até 50% do desmantelo conjugal dos pombinhos. Os outros 50% devem ficar por conta do tédio propriamente dito e inevitável dos casais, claro, a falta de sexo, a infidelidade, o futebol retranqueiro etc etc.
Nunca cheguei a ter uma dona Olímpia como sogra, mas, amigo, não tenho grandes queixas de nenhuma delas, sempre me alimentaram com bons caldos e sopas e até riram generosamente das minhas pilhérias sem graça nos almoços dominicais. No mínimo, havia um bom tratamento a um poeta maluco que amava suas filhas –com algum risco que isso pudesse implicar, claro.
Dona Olímpia, amigo(a) leitor(a) da Espresso, foi a melhor sogra do mundo, a perfeita, aquela que descobriu a forma de fazer filha e genro felizes. Felizes na medida em que isso é possível em um casório, formalidade que na maioria das vezes destrói os ensaios de grandes amores.
A distinta senhora, reza a lenda lítero-boêmia, existiu de fato, é a personagem maravilhosa do “Livro de uma Sogra”( editora Casa da Palavra, RJ) do escriba Aluísio de Azevedo, aquele mesmo autor de “O Mulato” e “O Cortiço”, tão obrigatórios nas escolas e nos vestibulares.
Com a sua sogra exemplar, no entanto, o maranhense é divertidíssimo.
Livraço. Olímpia, ainda no remoto 1895, sabe tanto das coisas que sempre trata de separar, com pequenas viagens e obrigações nada chatas, a sua filha e o consorte. Tudo para que nunca caiam na rotina acachapante.
Quando noivos, reparem que gênia, ajuda a criar histórias que o deixem no suspense amoroso, apenas com boas pontinhas de ciúmes.
Olímpia, que já havia passado por um casamento desastroso, fastio danado, cuida até em reduzir a solenidade da lua de mel, orientando os recém-casados a se embriagarem sem a obrigação do grande coito na noite inaugural.
A consumação do amor,segundo ela, não poderia ser algo burocrático e abrupto, viria num crescendo de beijos e ternuras até uma explosão naturalíssima. Gênia. Um belo exemplo!
“Sorte teve Adão, que não teve sogra nem caminhão’?
Não concordo não. Pela primeira vez na vida desaprovo uma filosofia de parachoque -escolástica taõ importante na vida quanto a cátedra, seja UFPE, a melhor do Brasil, seja a USP.
A capanga de um homem de qualidade
Voltemos a discorrer, no perigo da hora, sobre o crepúsculo do macho-jurubeba. Urge.
Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.
Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.
Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.
Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico.
Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.
Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.
Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.
Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.
Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.
Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico.
Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.
Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.
O malandro que pôs a mulher no seguro
E lá se foi o Dicró, 66,o cara que nos ensinou que o negócio é rimar.
Só o free-style do samba de malandragem salva. Fez herdeiros no rap, como Max B.O., entre outros craques da rima rara e riquíssima.
A melhor do Dicró, no modesto impressionismo deste blog, é: “Botei minha nega no seguro”. Ouça aqui.
Dicró inventou o seguro anti-chifre –repare na letra da música e na desgraça do post anterior.
“Me diga qual é o marido que não se preocupa com sua
mullher/ Vagabundo é bicho mal você sabe como é/ Ricardão aí é mato por isso me preveni/ Minha nega não me engana mas se vacilar… o seguro taí”.
Um suburbano coração carioca é sempre mais prevenido. Porque o chifre, amigo, assim como a velha da foice, não perdoa, ceifa a alegria de um homem, por mais que a gente saiba que se trata de inevitável sina.
Sempre ouvimos falar em modelos que põem a bunda no seguro, como a gaúcha Melanie Fronckowiack, lembra dela, amigo tarado de plantão? É a fraca! Veja que romântica aqui.
Aquela que ganhou em Paris, no ano passado, o prêmio do melhor derrière da terra.
Ai se eu pudesse e meu dinheiro desse, amigo Dicró, pagaria na buena esta apólice! Falar nisso, com que você rimaria o sobrenome dela, meu caro tenor do morro?
Esquece,camarada, o motivo destas breves linhas era tão-somente deixar um abraço de despedida. Vai lá, o Moreira da Silva e o Bezerra idem te esperam.
E não me vem repetir aquele mantra do velório carioca, coisa de um certo filósofo do Meiér: “O ruim não é morrer. O pior é não poder espantar as moscas”.
Fica com Deus,
Só o free-style do samba de malandragem salva. Fez herdeiros no rap, como Max B.O., entre outros craques da rima rara e riquíssima.
A melhor do Dicró, no modesto impressionismo deste blog, é: “Botei minha nega no seguro”. Ouça aqui.
Dicró inventou o seguro anti-chifre –repare na letra da música e na desgraça do post anterior.
“Me diga qual é o marido que não se preocupa com sua
mullher/ Vagabundo é bicho mal você sabe como é/ Ricardão aí é mato por isso me preveni/ Minha nega não me engana mas se vacilar… o seguro taí”.
Um suburbano coração carioca é sempre mais prevenido. Porque o chifre, amigo, assim como a velha da foice, não perdoa, ceifa a alegria de um homem, por mais que a gente saiba que se trata de inevitável sina.
Sempre ouvimos falar em modelos que põem a bunda no seguro, como a gaúcha Melanie Fronckowiack, lembra dela, amigo tarado de plantão? É a fraca! Veja que romântica aqui.
Aquela que ganhou em Paris, no ano passado, o prêmio do melhor derrière da terra.
Ai se eu pudesse e meu dinheiro desse, amigo Dicró, pagaria na buena esta apólice! Falar nisso, com que você rimaria o sobrenome dela, meu caro tenor do morro?
Esquece,camarada, o motivo destas breves linhas era tão-somente deixar um abraço de despedida. Vai lá, o Moreira da Silva e o Bezerra idem te esperam.
E não me vem repetir aquele mantra do velório carioca, coisa de um certo filósofo do Meiér: “O ruim não é morrer. O pior é não poder espantar as moscas”.
Fica com Deus,
Nenhum comentário:
Postar um comentário