5.07.2012

Síndrome do esgotamento profissional.

Alerta aos profissionais da saúde

Trabalhadores dessa área são muito propensos à chamada síndrome do esgotamento profissional. Pesquisas feitas na Universidade Federal de São João del Rei apontam situações e características associadas ao desenvolvimento da doença em enfermeiros.
Por: Fernanda Braune
Publicado em 01/05/2012 | Atualizado em 01/05/2012
Alerta aos profissionais da saúde
Enfermeiros do centro de terapia intensiva infantil mantêm uma relação muito estreita com seus pacientes e essa é uma das causas para o desenvolvimento da síndrome de Burnout. (foto: Wikimedia Commons/ tradimus – CC BY 3.0)
Cansaço, desestímulo, depressão e frieza nas relações com outras pessoas. É assim que você se sente no seu trabalho? Pois esses são sintomas bastante comuns entre os portadores da síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional, que, embora pouco diagnosticada no Brasil, afeta muitos trabalhadores da área de saúde. Pesquisas feitas com enfermeiros na Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), campus de Divinópolis (Minas Gerais), apontam agora situações e características associadas ao desenvolvimento da doença por esses profissionais.
A síndrome de Burnout desenvolve-se em profissionais que exercem função assistencialista e têm relação direta e frequente com outras pessoas. Professores, médicos, enfermeiros e psicólogos são os mais suscetíveis, devido à sobrecarga de trabalho e à falta de autonomia – principalmente quando trabalham em escolas e hospitais.
A síndrome de Burnout desenvolve-se em profissionais que exercem função assistencialista e têm relação direta e frequente com outras pessoas 
Para averiguar a ocorrência da síndrome em profissionais de enfermagem, a UFSJ iniciou o projeto ‘De bem com a enfermagem’, que surgiu após a observação de que muitos profissionais que trabalhavam em um grande hospital de Divinópolis saíam de licença médica por problemas emocionais. “Eles nos contactaram para investigar as causas dessas licenças e nós logo suspeitamos da síndrome de Burnout”, conta um dos coordenadores do projeto, o enfermeiro e professor Richardson Machado.
Os pesquisadores começaram então a avaliar os profissionais de enfermagem que trabalham no setor de nefrologia e no centro de terapia intensiva (CTI) infantil do hospital, áreas fechadas e em que se mantêm relações com pacientes em estado crítico.
Nos dois setores, dois tipos de questionários foram usados para avaliar a ocorrência da síndrome. Um solicitava informações pessoais e profissionais e o outro apresentava 22 questões ligadas à exaustão emocional, à frieza nas relações interpessoais e à baixa realização pessoal no trabalho. Participaram da pesquisa 60 profissionais do setor de nefrologia e 36 do CTI infantil – dentre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.

Sintomas comuns

Segundo os pesquisadores, a maior parte dos entrevistados apresentou algum sintoma associado à síndrome, seja a frieza no tratamento dos pacientes, o desencanto com a profissão ou o cansaço emocional.
Os resultados mostraram que, no setor de nefrologia, os profissionais do turno da noite são mais afetados por esses sintomas. “Mesmo dormindo durante o dia, o sono nunca é completamente reposto, o que pode causar cansaço”, explica a estudante de enfermagem Taciana Ferreira, que aplicou e avaliou os questionários.
No CTI infantil, porém, os profissionais que trabalham durante o dia são os que mais apresentam alguma das características da síndrome. “A rotina de trabalho à noite no CTI é menos estressante, porque o profissional não tem que trocar curativo, dar banho nos pacientes, enfim, tem um menor número de atividades”, avalia Ferreira.
Enfermeira com bebê
Segundo a pesquisa, as mulheres são mais propensas a desenvolver a síndrome de Burnout. (foto: Flickr/ BiblioArchives/ LibraryArchives – CC BY-NC-ND 2.0)
Embora vários profissionais desses setores tenham manifestado indícios da síndrome de Burnout, apenas três – dois do setor de nefrologia e um do CTI infantil – foram diagnosticados como portadores, pois apresentavam todos os sintomas característicos.
Segundo Ferreira, esses profissionais possuem perfil parecido: são mulheres entre 20 e 30 anos que têm apenas diploma do ensino médio. “As mulheres são mais propensas porque muitas delas, além de trabalharem, ainda têm que administrar a casa e, se tiverem filhos, se preocupar com sua educação e seu crescimento”, analisa.
A pessoa deve manter atividades físicas e de lazer em que relaxe e se desligue dos assuntos do trabalho 
Os pesquisadores pretendem agora avaliar a ocorrência de depressão e ansiedade nos profissionais do setor de oncologia do hospital, bem como nos pacientes e seus acompanhantes. O objetivo é relacionar os resultados com os da pesquisa sobre a síndrome de Burnout nos enfermeiros, para diferenciar as patologias. “Isso é importante porque o diagnóstico de Burnout ainda é incomum no Brasil e, muitas vezes, é confundido com o de depressão”, destaca Richardson Machado.
Taciana Ferreira ressalta a necessidade de se divulgar a síndrome de Burnout para os jovens profissionais, com vistas não apenas ao seu diagnóstico, mas à sua prevenção. “A pessoa deve manter atividades de lazer em que se desligue dos assuntos do trabalho e fazer uma atividade física ou qualquer outra que a relaxe”, sugere. “Isso ajuda na busca pelo equilíbrio entre trabalho e lazer, que é necessário para uma boa qualidade de vida.”

Fernanda Braune
Ciência Hoje On-line

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