Terapia online inaugura o divã virtual
Regulamentação ainda não prevê prática, que enfrenta resistência de psicólogos tradicionais e tem custo menor que sessões presenciais
FERNANDA BASSETTE - O Estado de S.Paulo
A terapia saiu dos consultórios e caiu na rede. Num país
em que existem cerca de 80 milhões de internautas, a demanda por
atendimentos psicológicos online está cada vez maior, mas ainda enfrenta
resistência de muitos psicólogos tradicionais.
A última regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre o tema é de 2005. A norma em vigor não reconhece o atendimento psicoterapêutico realizado por computador e só autoriza a terapia online em casos experimentais e de pesquisa, sem cobrança de honorários.
A exceção para atendimentos virtuais existe - limitada a dez sessões - apenas para o que chamam de "orientação psicológica": atender pessoas que estão com problemas sexuais, com os filhos, no trabalho. Assuntos considerados pontuais e nada muito aprofundado.
Para oferecer esse serviço, no entanto, o psicólogo precisa ser credenciado no conselho federal, que emite um selo que garante que o site é reconhecido.
"Ainda é preciso definir exatamente o que é fazer terapia. Mas por que não fazer terapia pelo Skype com alguém da sua confiança?", argumenta a psicóloga Milene Rosenthal, sócia-fundadora do site Psicolink, criado há cerca de um ano especificamente para fazer consultas virtuais.
A ideia do serviço online, diz Milene, é aproximar o psicólogo da população e estar onde as pessoas estão: em casa, no trabalho, no trânsito. Em um ano, foram registrados quase 400 atendimentos virtuais, sendo que cada sessão custa R$ 65 - mais em conta do que uma sessão presencial, que está em torno de R$ 100.
E a demanda de profissionais querendo oferecer o serviço não para de crescer. Hoje são 20 cadastrados, mas há 200 esperando análise do pedido. "O psicólogo está muito longe da população. Esse serviço é para aproximá-lo", diz Milene.
Pioneiro. Desde 1996, psicólogas do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP oferece atendimento virtual por e-mail. O grupo é coordenado pela psicóloga Rosa Maria Farah, que diz haver vantagens e desvantagens em ser pioneiro.
"Percebemos que havia demanda, mas não havia um modelo de atendimento nem regulamentação. E, como éramos uma clínica-escola, não podíamos simplesmente ignorar a demanda dos pacientes", diz Rosa.
O serviço funciona até hoje. O grupo recebe cerca de 12 a 15 e-mails por semana e responde em até sete dias. "É demorado porque cada caso é um caso. Em psicologia não dá para ser automático, é tudo artesanal."
Os perfis de pessoas que buscam atendimento na internet ou por e-mail são os mais variados. São pessoas com problemas envolvendo sexualidade, orientação profissional, problemas com os filhos e até depressão.
Para Rosa, é preciso reavaliar as normas sobre o serviço de terapia online. "Existem muitas diferenças regionais no Brasil, e há regiões com menos profissionais. E a população quer ser atendida por um bom profissional, independentemente da forma como isso vai acontecer", avalia.
Qualificação. Um dos entraves para o atendimento online, diz Rosa, é que faltam profissionais qualificados para fazer esse tipo de atendimento.
Por isso, a PUC vai oferecer treinamento específico para alunos a partir do quinto ano. "O atendimento virtual exige outra estratégia, cria outro tipo de vínculo. E o atendimento também pode ser terapêutico, sem substituir o presencial. É um engano querer comparar os dois."
Milene, do Psicolink, concorda. "A ideia do serviço online não é substituir o atendimento presencial, mas sim dar mais uma opção para o público", diz.
Pesquisa. A psicóloga Maria Adélia Minghelli Pieta, da UFRGS, está fazendo uma pesquisa para comparar os resultados da terapia online com a presencial. Para isso, fará entrevistas com pacientes e terapeutas, além de avaliar dados qualitativos. Cada paciente será acompanhado por três meses. A previsão é de que o estudo seja feito ao longo de dois anos.
Segundo Maria Adélia, uma revisão prévia de estudos aponta que a terapia online é, sim, efetiva. "Em casos de estresse pós-traumático, por exemplo, o atendimento virtual se mostrou mais eficaz do que o presencial", diz.
Maria Adélia também apoia a terapia online, desde que feita com critérios estabelecidos para evitar situações de risco para o paciente. "É cada vez maior a necessidade de a terapia encontrar formas de alcançar a população. Com controle e acompanhamento, não haverá problemas."
A publicitária Raquel Espigado, de 32 anos, enfrentava problemas com o filho pequeno quando resolveu pesquisar se existia algum serviço de terapia online para ajudá-la.
Ela era uma antiga adepta da terapia presencial - frequentou sessões em consultório por mais de um ano - e recorreu à internet para buscar atendimento especializado.
Raquel diz que teve de interromper o tratamento presencial por falta de tempo. "Com esse trânsito louco de São Paulo e a correria do dia a dia, nunca conseguia chegar a tempo para a consulta."
Após pesquisar o assunto, Raquel encontrou referências de vários sites oferecendo o serviço de atendimento virtual. Se informou sobre o site mais confiável, decidiu arriscar e comprou uma sessão com uma psicóloga de Curitiba que ela não conhecia.
"Adorei. Cheguei a ficar com o pé atrás na primeira sessão por se tratar de um serviço virtual e com uma pessoa desconhecida, mas achei super profissional e fiz seis sessões. Deu super certo", afirmou.
Por conta da falta de tempo, Raquel optou por fazer as sessões em casa, aos sábados pela manhã. "Era um horário alternativo. Além de economizar tempo, economizei dinheiro (a sessão online é mais barata que a presencial). A relação custo benefício é ótima", afirmou. / F.B.
A última regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre o tema é de 2005. A norma em vigor não reconhece o atendimento psicoterapêutico realizado por computador e só autoriza a terapia online em casos experimentais e de pesquisa, sem cobrança de honorários.
A exceção para atendimentos virtuais existe - limitada a dez sessões - apenas para o que chamam de "orientação psicológica": atender pessoas que estão com problemas sexuais, com os filhos, no trabalho. Assuntos considerados pontuais e nada muito aprofundado.
Para oferecer esse serviço, no entanto, o psicólogo precisa ser credenciado no conselho federal, que emite um selo que garante que o site é reconhecido.
"Ainda é preciso definir exatamente o que é fazer terapia. Mas por que não fazer terapia pelo Skype com alguém da sua confiança?", argumenta a psicóloga Milene Rosenthal, sócia-fundadora do site Psicolink, criado há cerca de um ano especificamente para fazer consultas virtuais.
A ideia do serviço online, diz Milene, é aproximar o psicólogo da população e estar onde as pessoas estão: em casa, no trabalho, no trânsito. Em um ano, foram registrados quase 400 atendimentos virtuais, sendo que cada sessão custa R$ 65 - mais em conta do que uma sessão presencial, que está em torno de R$ 100.
E a demanda de profissionais querendo oferecer o serviço não para de crescer. Hoje são 20 cadastrados, mas há 200 esperando análise do pedido. "O psicólogo está muito longe da população. Esse serviço é para aproximá-lo", diz Milene.
Pioneiro. Desde 1996, psicólogas do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP oferece atendimento virtual por e-mail. O grupo é coordenado pela psicóloga Rosa Maria Farah, que diz haver vantagens e desvantagens em ser pioneiro.
"Percebemos que havia demanda, mas não havia um modelo de atendimento nem regulamentação. E, como éramos uma clínica-escola, não podíamos simplesmente ignorar a demanda dos pacientes", diz Rosa.
O serviço funciona até hoje. O grupo recebe cerca de 12 a 15 e-mails por semana e responde em até sete dias. "É demorado porque cada caso é um caso. Em psicologia não dá para ser automático, é tudo artesanal."
Os perfis de pessoas que buscam atendimento na internet ou por e-mail são os mais variados. São pessoas com problemas envolvendo sexualidade, orientação profissional, problemas com os filhos e até depressão.
Para Rosa, é preciso reavaliar as normas sobre o serviço de terapia online. "Existem muitas diferenças regionais no Brasil, e há regiões com menos profissionais. E a população quer ser atendida por um bom profissional, independentemente da forma como isso vai acontecer", avalia.
Qualificação. Um dos entraves para o atendimento online, diz Rosa, é que faltam profissionais qualificados para fazer esse tipo de atendimento.
Por isso, a PUC vai oferecer treinamento específico para alunos a partir do quinto ano. "O atendimento virtual exige outra estratégia, cria outro tipo de vínculo. E o atendimento também pode ser terapêutico, sem substituir o presencial. É um engano querer comparar os dois."
Milene, do Psicolink, concorda. "A ideia do serviço online não é substituir o atendimento presencial, mas sim dar mais uma opção para o público", diz.
Pesquisa. A psicóloga Maria Adélia Minghelli Pieta, da UFRGS, está fazendo uma pesquisa para comparar os resultados da terapia online com a presencial. Para isso, fará entrevistas com pacientes e terapeutas, além de avaliar dados qualitativos. Cada paciente será acompanhado por três meses. A previsão é de que o estudo seja feito ao longo de dois anos.
Segundo Maria Adélia, uma revisão prévia de estudos aponta que a terapia online é, sim, efetiva. "Em casos de estresse pós-traumático, por exemplo, o atendimento virtual se mostrou mais eficaz do que o presencial", diz.
Maria Adélia também apoia a terapia online, desde que feita com critérios estabelecidos para evitar situações de risco para o paciente. "É cada vez maior a necessidade de a terapia encontrar formas de alcançar a população. Com controle e acompanhamento, não haverá problemas."
A publicitária Raquel Espigado, de 32 anos, enfrentava problemas com o filho pequeno quando resolveu pesquisar se existia algum serviço de terapia online para ajudá-la.
Ela era uma antiga adepta da terapia presencial - frequentou sessões em consultório por mais de um ano - e recorreu à internet para buscar atendimento especializado.
Raquel diz que teve de interromper o tratamento presencial por falta de tempo. "Com esse trânsito louco de São Paulo e a correria do dia a dia, nunca conseguia chegar a tempo para a consulta."
Após pesquisar o assunto, Raquel encontrou referências de vários sites oferecendo o serviço de atendimento virtual. Se informou sobre o site mais confiável, decidiu arriscar e comprou uma sessão com uma psicóloga de Curitiba que ela não conhecia.
"Adorei. Cheguei a ficar com o pé atrás na primeira sessão por se tratar de um serviço virtual e com uma pessoa desconhecida, mas achei super profissional e fiz seis sessões. Deu super certo", afirmou.
Por conta da falta de tempo, Raquel optou por fazer as sessões em casa, aos sábados pela manhã. "Era um horário alternativo. Além de economizar tempo, economizei dinheiro (a sessão online é mais barata que a presencial). A relação custo benefício é ótima", afirmou. / F.B.
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