Goleiro é ídolo e o que mais ganhou títulos pelo Botafogo
Rio - Os dedos tortos das mãos
deformadas, por uma série de fraturas em 27 anos de carreira, são marcas
registradas de uma lenda viva do futebol. Não havia bola perdida para o
gigante que dispensava luvas e fazia milagres debaixo do gol. Seu nome,
Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, goleiro das defesas impossíveis. Foi
assim no Botafogo, onde é considerado o melhor camisa 1 de todos os
tempos, no Nacional-URU, Internacional, e Barcelona, de Guaiaquil, onde
encerrou a carreira, aos 45 anos. Em uma rápida passagem no Rio, no
último fim de semana, Manga matou a saudade do seu Botafogo e recebeu
homenagens. Como eternizar as mãos em um molde de cimento para o hall
dos grandes ídolos da história do clube. Mas antes de voltar ao Equador,
onde mora há 33 anos, fez um pedido.
“Para quem está aposentado há tanto
tempo é emocionante conhecer o estádio do Botafogo, saber que a torcida e
os dirigentes não se esqueceram de mim. Eu não disse nada a eles
(dirigentes), mas gostaria que o Botafogo fizesse uma camisa com a minha
mão quebrada. Seria um orgulho para mim”, pediu o mito, que é o quinto
jogador que mais vestiu a camisa alvinegra na história: 442 vezes. Além
de ser o maior ganhador de títulos: três Rio-São Paulo (62,64,66), uma
Taça Brasil (68) e quatro Cariocas (61,62,67,68), entre outros.
Perguntado sobre seu herdeiro no futebol, ele diz não ter seguidores.
“Depois que parei não teve nenhum
goleiro parecido comigo. Era muito valente, não brincava debaixo dos
três paus. Joguei mais de dez anos sem luvas. Meus dedos são tortos,
quebrados. Não tem nenhum inteiro, mas são motivos de orgulho”.
Aos 76 anos, o ex-goleiro tenta repassar sua experiência para jovens promessas.
“Tenho uma escolinha em Guaiaquil com 25
crianças de 10 a 7 anos. Trabalho todos os dias. Apesar da idade não
consigo ficar longe do gol”.O futebol também não se esquece de Manga. Não é por acaso que o dia 26 de abril, data do seu aniversário, foi escolhido para ser o Dia do Goleiro. Poderia haver reverência maior?
Falha na Copa de 1966 foi um pecado
O maior trauma da carreira de Manga ocorreu na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Ao substituir Gilmar no jogo contra a seleção de Portugal, o Brasil perdeu por 3 a 1 e foi eliminado da competição.
“Não joguei bem, admito. Foi a minha primeira partida e estava nervoso. Eu falhei, mas não joguei sozinho, todos perderam também. Eu pedi desculpas, levantei a cabeça e segui trabalhando”.
Manga também falou sobre os goleiros
atuais. Elegeu o alemão Manuel Neuer, do Bayern de Munique, como o
melhor da atualidade, e elogiou os brasileiros.
“O Julio Cesar é um grande goleiro,
mas o Jefferson também tem todas as condições de ser titular. Estamos
muito bem servidos”, concluiu.
Goleiro reencontra o filho 38 depois
Em sua visita ao Rio, Manga fez um acerto de contas com o passado. Após se separar da primeira mulher, ele perdeu contato com os filhos: Adílson, que morreu há dois anos, e Wilson, que reencontrou 38 anos depois, em meio a muitas lágrimas.
“Fiquei muito feliz de reencontrá-lo, de conhecer meus netos. Cometi um erro. Pena que não pude fazer o mesmo com o Adílson, que se foi”, lamentou, tentando conter as lágrimas.
Parecido com o pai, Wilson não escondeu a emoção.
“Eu o vi pela última vez com 12 anos, hoje tenho 50, mas não tenho mágoa”, revelou o filho de Manga, que tentou seguir seu passos no futebol.
“Fui goleiro do Náutico, em 86, mas tive poucas chances e segui outro caminho”.
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