Ao entrar de maneira dramática na realidade de crianças e adolescentes, a violência urbana, em crescente banalização nos dias de hoje, atravessou a última e mais protegida fronteira da família brasileira. Jovens numa faixa etária em que ainda alimentam alguma inocência sobre as ameaças do mundo assistiram em rede nacional a cenas estarrecedoras do massacre de alunos dentro de uma escola municipal do subúrbio do Rio. Um misto de dor, tristeza e perplexidade se abateu sobre pais e filhos. O completo impacto da tragédia, inédita na história do País, ainda é imprevisível. Mas as consequências negativas sobre a formação e educação desses jovens já estão delineadas. Afrontada, a nova geração leva a marca do medo para as suas vidas. Um processo perigoso que, lá na frente, pode estabelecer novos padrões de comportamento social. O terror na Escola Municipal Tasso da Silveira poderia ter ocorrido em qualquer outrocolégio e é justamente essa sensação de insegurança que preocupa. Quando ao menos 12 estudantes são sumariamente executados na sala de aula e outros 13 também alvejados pelos tiros de um psicopata, muitos da mesma idade ficam a se perguntar: poderia ter sido comigo? Rompe-se na cabeça dessas crianças, de maneira generalizada, a ideia que muitas acalentam de que ali, naquele local, como em suas casas, estão protegidas. É senso comum nessa fase da vida. Para elas, o seu lar e a sua escola, onde passam boa parte da infância e adolescência, são eixos de bem-estar e segurança. Quando tal percepção é apagada, quando essas fortalezas inexpugnáveis de estabilidade e cuidado são invadidas pela onda de crueldade que virou rotina nas ruas, o dano psicológico pode ser demolidor. Já existem inúmeros registros médicos de meninos e meninas que desenvolveram a chamada síndrome do pânico, uma doença dos dias atuais, normalmente verificada na fase adulta. A tragédia de Realengo desencadeia discussões fundamentais: como superar o trauma? Como conduzir a abordagem do assunto com esses meninos e meninas assustados? É o grande desafi o que hoje se impõe para pais, mestres e autoridades em meio à cruel realidade que vivemos. E que, até aqui, estava distante deles – alunos, filhos, meras crianças.
ISTO É
Editorial
Nenhum comentário:
Postar um comentário