Para quem pratica ioga, memória de longo prazo melhorou 20% e houve redução do estresse
Alexandre Gonçalves, Mariana Lenharo, Jornal da Tarde - O Estado de S.Paulo
Um estudo científico brasileiro mostrou que a ioga traz benefícios cognitivos e afetivos palpáveis para quem a pratica.
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Clayton de Souza/AE
O professor José Luiz Jabali Corradi e suas alunas: 'Cérebro ativado'
O trabalho, conduzido por pesquisadores do Instituto do Cérebro da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), preenche uma lacuna
nos estudos sobre o impacto neuropsicológico da ioga. A maioria carece
de controles adequados que garantam o rigor ou a aplicação universal dos
resultados (mais informações nesta página).
Diferentemente do que ocorreu nas outras pesquisas, desta vez os
pesquisadores escolheram voluntários saudáveis que não praticavam ioga.
Eles foram recrutados no Batalhão Visconde de Taunay, do Exército, em
Natal (RN).
Os cientistas conseguiram autorização do coronel Odilon Mazzine
Junior para realizar uma atividade atípica para o grupo de 17 soldados
que participaram do estudo: ao longo de um semestre, eles praticaram uma
hora de ioga, duas vezes por semana.
Outros 19 militares não participavam das aulas e serviram como grupo
de controle. Isso é importante para que os resultados do grupo que
praticou ioga possam ser comparados.
A bióloga Regina Helena da Silva, coordenadora do estudo, pratica
ioga há cerca de uma década, mas nunca tinha colocado o exercício sob a
lente da psicobiologia, sua área de pesquisa.
Animou-se, no entanto, quando o também biólogo Kliger Kissinger
Fernandes Rocha pediu que ela o orientasse no doutorado. Rocha é
professor de ioga e reconhecia as limitações dos estudos sobre o tema.
Por isso, sugeriu abordá-lo em uma tese. O trabalho, publicado na
revista científica Consciousness and Cognition, é fruto desse interesse.
Os militares foram avaliados no início e no fim do estudo. Foram
aplicados testes de memória e formulários para averiguar o nível de
estresse e outras condições psicológicas, bem como testes fisiológicos.
"Notamos uma melhora de 20% na memória de longo prazo nos militares
que praticaram ioga", afirma Rocha. "É um porcentual que indica um
considerável ganho cognitivo."
Ele recorda que também houve uma diminuição no nível de estresse. "O
cortisol (hormônio associado ao problema) presente na saliva diminuiu
50% no grupo da ioga", recorda o pesquisador, que aos 14 anos recebeu
indicação médica para praticar ioga com a finalidade de atenuar as
raízes psicológicas de uma gastrite nervosa.
Como não houve alterações significativas no grupo de controle, os
pesquisadores descartam a atribuição da melhora aos exercícios físicos.
Isso porque o grupo de controle realizava até mais exercícios do que o
que se dedicou à pratica da ioga.
Mistério. Os cientistas afirmam que os mecanismos
neurofisiológicos responsáveis pela melhora cognitiva e afetiva ainda
são desconhecidos.
"Trabalhamos com a hipótese de que a meditação na ioga melhora a
capacidade de concentração", explica Regina. "Contudo, a diminuição do
estresse também poderia explicar a melhora dos resultados nos testes que
avaliaram a memória."
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