Potência e eficácia A
potência refere-se à quantidade de fármaco (geralmente expressa em
miligramas) de que se necessita para produzir um efeito, como aliviar a
dor ou diminuir a pressão arterial. Por exemplo, se 5 miligramas do
fármaco B aliviam a dor com a mesma eficácia que 10 miligramas do
fármaco A, então o fármaco B é duas vezes mais potente que o fármaco A.
De fato, um fármaco com maior potência não é necessariamente melhor que
outro. Quando os médicos julgam as qualidades relativas dos fármacos,
consideram muitos fatores, como o perfil dos efeitos secundários, a
toxicidade potencial, a duração do efeito e, por conseguinte, o número
de doses diárias requeridas, e também o seu custo. A eficácia refere-se à
resposta terapêutica potencial máxima que um fármaco pode induzir. Por
exemplo, o diurético furosemida elimina muito mais sal e água através da
urina que o diurético clorotiazida. Por isso a furosemida tem maior
eficácia, ou efeito terapêutico, que a clorotiazida. Tal como a
potência, a eficácia é um dos fatores que os médicos consideram ao
selecionar o fármaco mais apropriado para um doente concreto.
Afinidade e atividade intrínseca
A afinidade e a atividade
intrínseca são duas propriedades importantes para a ação do fármaco. A
afinidade é a atração mútua ou força de ligação entre um fármaco e o seu
objetivo, ou seja, um receptor ou um enzima. A atividade intrínseca é
uma medida da capacidade do fármaco para produzir um efeito
farmacológico ao unir-se ao seu receptor. Os fármacos que ativam os
receptores (agonistas) têm ambas as propriedades; devem aderir com
eficácia aos seus receptores (ter uma afinidade) e o complexo
fármaco-receptor deve ser capaz de desencadear uma resposta no alvo
(atividade intrínseca). Pelo contrário, os fármacos que bloqueiam os
receptores (antagonistas) aderem a estes eficazmente (afinidade), mas
têm uma atividade intrínseca escassa ou nula; a sua função é
simplesmente impedir a interação das moléculas agonistas com os seus
receptores.
Seletividade da ação farmacológica
Alguns fármacos são pouco
seletivos, isto é, a sua ação dirige-se a muitos tecidos ou órgãos. Por
exemplo, a atropina, um fármaco administrado para relaxar os músculos
do trato gastrointestinal, também relaxa os músculos do olho e da
traqueia e diminui o suor e a secreção mucosa de certas glândulas.
Outros fármacos são
altamente seletivos e afetam principalmente um único órgão ou sistema.
Por exemplo, a digitalina, um fármaco que se administra a indivíduos
com insuficiência cardíaca, atua principalmente sobre o coração para
incrementar a eficácia dos batimentos. A ação dos soníferos dirige-se a
certas células nervosas do cérebro.Os fármacos anti-inflamatórios não
esteroides como a aspirina e o ibuprofeno são relativamente seletivos
uma vez que atuam em qualquer ponto onde haja uma inflamação.
Como sabem os fármacos
onde têm de fazer efeito? A resposta está na sua interação com as
células ou com substâncias como os enzimas. Receptores.
Muitos fármacos aderem às
células através de receptores que se encontram na superfície destas. As
células, na sua maioria, têm muitos receptores de superfície que
permitem que a atividade celular seja influenciada por substâncias
químicas (como fármacos ou hormonas), que estão localizadas fora da
célula. A configuração de um receptor é tão específica que só lhe
permite aderir a um fármaco com o qual encaixa perfeitamente (como a
chave encaixa na sua fechadura).
Muitas vezes, pode
explicar-se a seletividade de um fármaco pela seletividade da sua
aderência aos receptores. Alguns fármacos aderem somente a um tipo de
receptor e outros são como uma chave-mestra e aderem a vários tipos de
receptores em todo o organismo. Os receptores não foram, seguramente,
criados pela natureza para que os fármacos pudessem aderir a eles.
Contudo, os fármacos aproveitam-se da função natural (fisiológica) que
os receptores têm. Por exemplo, há substâncias que aderem aos mesmos
receptores no cérebro; é o caso da morfina e dos analgésicos derivados, e
das endorfinas (substâncias químicas naturais que alteram a percepção e
as reações sensoriais). Os fármacos chamados agonistas ativam ou
estimulam os receptores, provocando uma resposta que aumenta ou diminui a
função celular. Por exemplo, o fármaco agonista carbacol adere aos
receptores do trato respiratório denominados colinérgicos, causando a
contração das células do músculo liso, o qual origina a broncoconstrição
(estreitamento das vias respiratórias). Outro fármaco agonista, o
albuterol, adere a outros receptores no trato respiratório denominados
adrenérgicos, causando o relaxamento das células do músculo liso e
produzindo broncodilatação (dilatação das vias respiratórias). Os
fármacos denominados antagonistas bloqueiam o acesso ou a ligação dos
agonistas com os seus receptores. Os antagonistas utilizam-se para
bloquear ou diminuir a resposta das células aos agonistas (de modo
geral, neurotransmissores) que normalmente estão presentes no organismo.
É o caso do ipratropio,
antagonista do receptor colinérgico, que bloqueia o efeito
broncoconstritor da acetilcolina, o transmissor natural dos impulsos
através dos nervos colinérgicos. O uso de agonistas e o de antagonistas
são métodos diferentes, mas complementares, que se utilizam no
tratamento da asma.
O albuterol, agonista do
receptor andrenérgico que relaxa o músculo liso brônquico, pode ser
utilizado junto com o ipratropio, antagonista do receptor colinérgico, o
qual bloqueia o efeito broncoconstritor da acetilcolina. Os
betabloqueadores, como o propranolol, são um grupo de antagonistas
amplamente utilizados. Estes antagonistas bloqueiam ou diminuem a
resposta cardiovascular que os hormônios adrenalina e noradrenalina
promovem, as também denominadas hormônios do stress. Utilizam-se no
tratamento da pressão arterial elevada, da angina de peito e de certas
irregularidades do ritmo cardíaco. Os antagonistas são muito mais
efetivos quando a concentração local de um agonista é elevada. A sua
ação é semelhante ao corte do tráfego numa estrada principal. A
retenção de veículos em hora de ponta, como às 5 da tarde, é maior que
às 3 da madrugada. De modo semelhante, se forem administrados
betabloqueadores em doses que tenham escasso efeito sobre a função
cardíaca normal, estes podem proteger o coração contra os picos máximos e
repentinos das hormônios do stress.
Uma correspondência
perfeita Um receptor da superfície da célula apresenta uma configuração
que permite que uma determinada substância química, como um fármaco, um
hormônio ou um neurotransmissor, possa ligar-se a ele, dado que essa
substância química apresenta uma configuração que se ajusta
perfeitamente ao receptor.
Enzimas Além dos
receptores próprios das células, os enzimas são também outros alvos
importantes para a ação dos fármacos. Estes ajudam a transportar
substâncias químicas vitais, regulam a velocidade das reações químicas
ou efetuam outras funções estruturais, reguladoras ou de transporte.
Enquanto os fármacos
dirigidos aos receptores se classificam em agonistas ou antagonistas, os
fármacos dirigidos aos enzimas classificam-se em inibidores ou
ativadores (indutores).
Por exemplo, a
lovastatina é usada no tratamento dos indivíduos com valores elevados de
colesterol no sangue. Este fármaco inibe o enzima HMG-CoA redutase,
fundamental para produzir colesterol no organismo.A maioria das
interações são reversíveis, quer sejam entre fármacos e receptores, quer
entre fármacos e enzimas. Isto quer dizer que o fármaco se desprende ao
cabo de certo tempo e o receptor ou o enzima recuperam o seu
funcionamento normal. No entanto, uma interação pode ser irreversível se
persistir o efeito do fármaco até que o organismo produza mais enzimas,
como acontece com o omeprazol, um fármaco que inibe um enzima envolvido
na secreção do ácido do estômago.
Fonte: Manual Merck