Paula Span
- Thinkstock
"Por favor me mostre quando você tomaria esses medicamentos ao longo de um dia." Depois de ler as instruções em sete bulas de comprimidos, foi pedido que os participantes as dividissem em uma caixinha de medicamentos com 24 espaços, um para cada hora do dia.
O ideal é que os sete medicamentos fossem divididos em apenas duas doses por dia. Mas só 15% dos 464 participantes pensaram nesta possibilidade. O mais comum foi a decisão de tomar os comprimidos seis vezes por dia; um terço organizou os medicamentos em sete doses diárias.
Dois dos remédios tinham instruções idênticas, mas um terço dos participantes não percebeu que eles poderiam ser tomados juntos. Quase 80% não entendeu que eles poderiam tomar dois comprimidos juntos se uma bula dizia "a cada 12 horas" e outra "duas vezes por dia" – mesmo que, nesse contexto, elas significassem a mesma coisa.
"Aprendemos de novo como é desafiador manter uma rotina de medicamentos", conta Michael Wolf, epidemiologista da Escola de Medicina Feinberg na Universidade Northwestern, que liderou a experiência.
A adesão aos medicamentos, uma ampla preocupação de saúde pública, é um problema especial para pessoas mais velhas. Eles tomam mais medicamentos do que os pacientes mais novos – não é incomum que tenham sete receitas. Ainda assim os estudos têm mostrado repetidamente que "quanto mais vezes por dia você tem que usar medicamentos, menor a sua adesão", explica Wolf.
Quando os pacientes não conseguem pensar em um plano que funcione, ou se ater a um, pode haver consequências ruins.
O medicamento X parece não fazer efeito, levando o médico a prescrever também o Y quando o problema real é que o paciente não entendeu a dose ou não está tomando o suficiente de X. Ou um paciente mais velho simplesmente desiste de uma rotina complexa de medicamentos e fica sem medicamentos ou com menos do que o necessário, arriscando-se a cair severamente doente.
"Eu vejo isso todos os dias em minha prática clínica. Existe uma possibilidade tremenda de confusão", diz o doutor William Hall, geriatra que dirige o Centro para o Bem Estar da Vida da Universidade de Rochester em Nova York.
Vamos deixar claro que algumas das razões pelas quais os idosos tomam seus medicamentos de maneira errada são difíceis de resolver.
Os custos, por exemplo. Apesar de o Medicare e o Obamacare resolverem parte do problema, alguns idosos não conseguem pagar por seus medicamentos com a frequência necessária.
Ou pior: "Talvez você não compre os medicamentos porque o farmacêutico diz que não está no seu formulário do Medicare e você terá que pagar do seu bolso", explica Tood Semla, farmacêutico e ex-presidente da Sociedade Americana de Geriatria.
Problemas cognitivos, claro, também afetam a habilidade dos pacientes mais velhos de lidar com seus medicamentos. Os idosos podem deliberadamente parar de tomar remédios quando não gostam dos efeitos colaterais.
Mas os lapsos com os medicamentos também acontecem por problemas que,
em um mundo mais racional, deveriam ser muito simples de resolver. Os
pesquisadores e reformadores descobriram maneiras fáceis.
- O calendário universal dos medicamentos: ao invés de pedir aos pacientes para decifrar bulas complexas (algumas usam abreviações em latim, como TID para três vezes ao dia), elas deveriam ter quatro padrões de tempo – de manhã, ao meio-dia, de noite, na hora de dormir – para tomar os medicamentos.
Quase todos os medicamentos podem seguir esse calendário, que ajuda os pacientes a agrupar as pílulas para que não seja necessário tomar as doses frequentemente, pular algumas ou desistir totalmente.
Em uma conferência do Instituto Nacional de Saúde no mês passado, Wolf e seus colegas relataram um teste (ainda não publicado) envolvendo 845 pacientes no norte da Virgínia. Aqueles que receberam a chamada bula focada no paciente usando o calendário universal – em letras grandes – erraram significativamente menos na hora de usar seus medicamentos.
As melhoras mais notáveis aconteceram entre pacientes com maior risco de não adesão aos medicamentos: os menos escolarizados e com rotinas complexas.
A Califórnia começou a pedir (não exigir) que se use o calendário universal – junto com bulas mais simples e com letras grandes – em 2011, apesar da resistência da indústria de medicamentos. Mas até agora nenhum outro estado fez o mesmo.
– Uma aparência consistente: pessoas mais velhas geralmente usam o tamanho, o formato e a cor das pílulas para lembrar o que tomar e quanto. Mas como as farmácias constantemente negociam preços mais baratos em medicamentos genéricos e frequentemente trocam de fornecedores, a aparência dos comprimidos muda muito.
Em um estudo com mais de 11 mil pessoas que saíram de hospitais depois de um ataque cardíaco e a quem foram prescritos remédios cardiovasculares, por exemplo, 29% tomou comprimidos que mudaram de formato ou cor durante o primeiro ano. Os pacientes precisam tomar esses medicamentos por anos, então facilmente irão se deparar com essas alterações.
"O primeiro ano depois de um infarto do miocárdio é um período na vida da pessoa em que a adesão aos medicamentos é extremamente importante", explica Aaron Kesselheim, interno e pesquisador de políticas de saúde do Hospital Brigham and Women em Boston e principal autor do estudo.
Essas alterações cosméticas levam a problemas. Enquanto a maioria dos pacientes permaneceu com suas rotinas, aqueles cujos comprimidos mudaram de cor eram 34% mais propensos a parar de tomá-las, comparados com um grupo de controle. Quando as pílulas mudavam de formato, os pacientes tinham um risco 66% maior de abandoná-las.
Kesselheim e sua equipe sugerem que a FDA exija que os fabricantes façam medicamentos genéricos iguais em cor e formato àqueles com nomes de marca que substituem. Em junho o FDA produziu um guia de recomendações não obrigatórias, afirmando que as mudanças em tamanho (não mencionava cor) poderiam afetar a maneira como as pessoas seguiam a rotina.
"Achamos que não foi amplo o suficiente. As coisas se movem lentamente", afirma Kesselheim, cuja equipe está desenvolvendo outro estudo que podem fazer com que o FDA tome mais ações.
Enquanto espera por melhorias que poderiam ajudar os idosos a lidar com suas rotinas de medicamentos, alguns se aproveitam de um programa gratuito disponível por meio do Medicare.
A Terapia de Gerenciamento de Medicamento, oferecida por seguros privados que cobrem os medicamentos, vai rever as prescrições, as doses, os custos e outras questões para os idosos que possuem várias condições crônicas e tomam muitos medicamentos. Isso poderia ajudá-los a se manter na rotina.
Ainda assim, deveria ser mais fácil fazer isso. "O incrível é que ninguém faz direito", diz Hall.
- O calendário universal dos medicamentos: ao invés de pedir aos pacientes para decifrar bulas complexas (algumas usam abreviações em latim, como TID para três vezes ao dia), elas deveriam ter quatro padrões de tempo – de manhã, ao meio-dia, de noite, na hora de dormir – para tomar os medicamentos.
Quase todos os medicamentos podem seguir esse calendário, que ajuda os pacientes a agrupar as pílulas para que não seja necessário tomar as doses frequentemente, pular algumas ou desistir totalmente.
Em uma conferência do Instituto Nacional de Saúde no mês passado, Wolf e seus colegas relataram um teste (ainda não publicado) envolvendo 845 pacientes no norte da Virgínia. Aqueles que receberam a chamada bula focada no paciente usando o calendário universal – em letras grandes – erraram significativamente menos na hora de usar seus medicamentos.
As melhoras mais notáveis aconteceram entre pacientes com maior risco de não adesão aos medicamentos: os menos escolarizados e com rotinas complexas.
A Califórnia começou a pedir (não exigir) que se use o calendário universal – junto com bulas mais simples e com letras grandes – em 2011, apesar da resistência da indústria de medicamentos. Mas até agora nenhum outro estado fez o mesmo.
– Uma aparência consistente: pessoas mais velhas geralmente usam o tamanho, o formato e a cor das pílulas para lembrar o que tomar e quanto. Mas como as farmácias constantemente negociam preços mais baratos em medicamentos genéricos e frequentemente trocam de fornecedores, a aparência dos comprimidos muda muito.
Em um estudo com mais de 11 mil pessoas que saíram de hospitais depois de um ataque cardíaco e a quem foram prescritos remédios cardiovasculares, por exemplo, 29% tomou comprimidos que mudaram de formato ou cor durante o primeiro ano. Os pacientes precisam tomar esses medicamentos por anos, então facilmente irão se deparar com essas alterações.
"O primeiro ano depois de um infarto do miocárdio é um período na vida da pessoa em que a adesão aos medicamentos é extremamente importante", explica Aaron Kesselheim, interno e pesquisador de políticas de saúde do Hospital Brigham and Women em Boston e principal autor do estudo.
Essas alterações cosméticas levam a problemas. Enquanto a maioria dos pacientes permaneceu com suas rotinas, aqueles cujos comprimidos mudaram de cor eram 34% mais propensos a parar de tomá-las, comparados com um grupo de controle. Quando as pílulas mudavam de formato, os pacientes tinham um risco 66% maior de abandoná-las.
Kesselheim e sua equipe sugerem que a FDA exija que os fabricantes façam medicamentos genéricos iguais em cor e formato àqueles com nomes de marca que substituem. Em junho o FDA produziu um guia de recomendações não obrigatórias, afirmando que as mudanças em tamanho (não mencionava cor) poderiam afetar a maneira como as pessoas seguiam a rotina.
"Achamos que não foi amplo o suficiente. As coisas se movem lentamente", afirma Kesselheim, cuja equipe está desenvolvendo outro estudo que podem fazer com que o FDA tome mais ações.
Enquanto espera por melhorias que poderiam ajudar os idosos a lidar com suas rotinas de medicamentos, alguns se aproveitam de um programa gratuito disponível por meio do Medicare.
A Terapia de Gerenciamento de Medicamento, oferecida por seguros privados que cobrem os medicamentos, vai rever as prescrições, as doses, os custos e outras questões para os idosos que possuem várias condições crônicas e tomam muitos medicamentos. Isso poderia ajudá-los a se manter na rotina.
Ainda assim, deveria ser mais fácil fazer isso. "O incrível é que ninguém faz direito", diz Hall.
Ampliar
Tomar
analgésico e beber mais tarde corta o efeito do medicamento. MITO: O álcool
não interfere na ação dos analgésicos. O que ocorre é que, por ter um
efeito diurético, o álcool faz o organismo excretar mais rapidamente os
medicamentos. O efeito parece reduzido porque o organismo já eliminou o
medicamento. "O uso de bebida alcoólica intervém no processamento
hepático, o que pode acelerar o metabolismo dos analgésicos e assim
interferir diretamente no tempo de duração desses fármacos. Porém não se
pode dizer que corta o efeito", explica o médico anestesiologista Erick
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