Uma proposta para reduzir a quantidade de iodo no sal brasileiro foi colocada ontem em consulta pública pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida, feita a pedido do Ministério da Saúde, é uma reação à mudança do hábito alimentar do brasileiro, que passou a usar mais o tempero em sua dieta. Com o maior consumo do sal, a quantia de iodo adicionada ao produto deve ser ajustada, defende o ministério.
"A medida pretende reduzir o risco de uma ingestão excessiva de iodo, que, de acordo com estudos, pode levar à tireoidite de Hashimoto", afirmou a especialista em vigilância da Anvisa, Paula Ferreira. A doença ocorre por um erro no sistema imunológico. O organismo passa a atacar a tireoide, levando ao hipotireoidismo. Pacientes com o problema apresentam cansaço, ganho de peso e fadiga crônica.
O ministério calcula que o consumo médio de sal pelo brasileiro, incluindo alimentos processados e preparados fora de casa, é de 12 gramas - mais que o dobro do limite definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para populações com esse perfil de consumo, a OMS recomenda que a quantidade de iodo adicionada ao sal varie de 20 e 40 mg por quilo. Atualmente, a Anvisa determina índice entre 20 e 60 mg. A proposta, que ficará em consulta pública por 60 dias, reduz para 15 a 45 mg.
Apesar de ter sido feita de acordo com critérios da OMS, a proposta não está livre de polêmica. Para Laura Ward, professora da Unicamp e diretora do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a mudança tem um princípio falho. "O ideal seria trabalhar para uma redução da ingestão de sal, não ajustar o teor de iodo", diz. "O consumo de sal no País é extremamente elevado, algo que precisa ser corrigido. Mas não há garantias de que em todas as regiões se faça uso excessivo."
Ela avalia que, para quem usa o tempero de forma moderada e mora distante do litoral, há o risco do ressurgimento de outro problema grave: o cretinismo. A doença, provocada pela deficiência do iodo durante a gestação, pode fazer com que o sistema nervoso central do feto não se desenvolva de forma adequada.
A estimativa é de que um terço das crianças que não recebem a quantia adequada do iodo durante a gestação desenvolve o problema e outro terço, deficiência cognitiva. O bócio, por sua vez, é uma doença provocada pela falta do iodo em adolescentes e adultos. "Foi por causa das duas doenças que a adição do iodo ao sal começou a ser feita. Atualmente, não há casos registrados desses problemas no País", conta Laura. Ela teme, no entanto, que a redução dos teores de iodo no sal aumentem o risco do ressurgimento das doenças. "Será tirar de um santo para colocar em outro", compara.
Laura reconhece que a incidência da tireoidite de Hashimoto tem aumentado no Brasil e em outras partes do mundo, como países da Europa e da África, mas afirma que o consumo excessivo de iodo não é a única hipótese para o aparecimento da tireoidite. "Stress, exposição à radiação ionizante e uso de produtos com bisfenol também estão ligados à doença", diz. Na Sociedade Brasileira de Endocrinologia, ela vai defender o envio de um documento com críticas à redução.
Acima do limite
12 gramas é a média diária de consumo de sal do brasileiro
5 gramas é o limite máximo diário de consumo de sal recomendado pela OMS
Estadão
"A medida pretende reduzir o risco de uma ingestão excessiva de iodo, que, de acordo com estudos, pode levar à tireoidite de Hashimoto", afirmou a especialista em vigilância da Anvisa, Paula Ferreira. A doença ocorre por um erro no sistema imunológico. O organismo passa a atacar a tireoide, levando ao hipotireoidismo. Pacientes com o problema apresentam cansaço, ganho de peso e fadiga crônica.
O ministério calcula que o consumo médio de sal pelo brasileiro, incluindo alimentos processados e preparados fora de casa, é de 12 gramas - mais que o dobro do limite definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para populações com esse perfil de consumo, a OMS recomenda que a quantidade de iodo adicionada ao sal varie de 20 e 40 mg por quilo. Atualmente, a Anvisa determina índice entre 20 e 60 mg. A proposta, que ficará em consulta pública por 60 dias, reduz para 15 a 45 mg.
Apesar de ter sido feita de acordo com critérios da OMS, a proposta não está livre de polêmica. Para Laura Ward, professora da Unicamp e diretora do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a mudança tem um princípio falho. "O ideal seria trabalhar para uma redução da ingestão de sal, não ajustar o teor de iodo", diz. "O consumo de sal no País é extremamente elevado, algo que precisa ser corrigido. Mas não há garantias de que em todas as regiões se faça uso excessivo."
Ela avalia que, para quem usa o tempero de forma moderada e mora distante do litoral, há o risco do ressurgimento de outro problema grave: o cretinismo. A doença, provocada pela deficiência do iodo durante a gestação, pode fazer com que o sistema nervoso central do feto não se desenvolva de forma adequada.
A estimativa é de que um terço das crianças que não recebem a quantia adequada do iodo durante a gestação desenvolve o problema e outro terço, deficiência cognitiva. O bócio, por sua vez, é uma doença provocada pela falta do iodo em adolescentes e adultos. "Foi por causa das duas doenças que a adição do iodo ao sal começou a ser feita. Atualmente, não há casos registrados desses problemas no País", conta Laura. Ela teme, no entanto, que a redução dos teores de iodo no sal aumentem o risco do ressurgimento das doenças. "Será tirar de um santo para colocar em outro", compara.
Laura reconhece que a incidência da tireoidite de Hashimoto tem aumentado no Brasil e em outras partes do mundo, como países da Europa e da África, mas afirma que o consumo excessivo de iodo não é a única hipótese para o aparecimento da tireoidite. "Stress, exposição à radiação ionizante e uso de produtos com bisfenol também estão ligados à doença", diz. Na Sociedade Brasileira de Endocrinologia, ela vai defender o envio de um documento com críticas à redução.
Acima do limite
12 gramas é a média diária de consumo de sal do brasileiro
5 gramas é o limite máximo diário de consumo de sal recomendado pela OMS
Estadão