‘Esquerda precisa ser racional e aceitar os ex-golpistas na luta contra Bolsonaro’, diz Marcia Tiburi
247 - Marcia Tiburi,
falou à TV 247 que é preciso que a esquerda aceite os golpistas
arrependidos em seu campo de luta política e aproveite tais reforços
para engrossar a luta contra o governo Jair Bolsonaro.
“Como a gente vai lidar com golpistas arrependidos? De maneira cristã
e de maneira ética, aceitando que essas pessoas estão arrependidas.
Isso não significa que nós vamos nos tornar amigos dessas pessoas, que
nós vamos desenvolver com elas laços de confiança. A confiança é uma
coisa que você conquista, demora, pode ser que daqui dez anos sejam
pessoas confiáveis, porém agora é importante aceitar”, explicou.
Tratando do youtuber Felipe Neto e da jornalista Miriam Leitão, do
Globo, Marcia Tiburi exemplificou a importância destas duas
personalidades no combate ao bolsonarismo, ainda que tenham apoiado o
golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e que resultou no atual
governo.
“Acho terrível, por exemplo, o que fazem com o Felipe Neto. Eu que
não sou da geração Felipe Neto, eu nem sabia que ele tinha sido
golpista, mas que bom que ele não é mais. Que bom que agora ele está
percebendo, ele que é um menino jovem e tem tempo de se reconstituir,
que bom que ele está percebendo, e eu acho que ele tem feito um
excelente papel. Então acho que reconhecer, seja um Felipe Neto, seja
uma Miriam Leitão, que foi muito golpista e que nesse momento ataca
Bolsonaro, isso não torna a Miriam Leitão uma pessoa confiável, mas
torna uma pessoa interessante no combate ao Bolsonaro”.
Para a filósofa, a esquerda precisa ser “racional” e pensar de forma
prática neste caso. “Eu peço que a esquerda seja menos emocional, mais
racional e mais pragmática nesse sentido, o que não quer dizer que a
gente vai simplesmente começar a endeusar as pessoas. Analisar
racionalmente as posições políticas dessas pessoas em um jogo de xadrez
que está sendo jogado no Brasil acho que é bem importante. Aceitemos os golpistas e aproveitemos que os golpistas estão aí batendo nos
golpistas que estão acima deles”
- A queda do cavalo pode demorar, mas ela chega. Esperamos agora, depois que a 2ª Turma do Supremo considerou Moro parcial e anulou a sentença dele no caso Banestado, que o STF declare Moro suspeito também no julgamento de Lula, para que a sentença contra o ex-presidente seja devidamente anulada. Leia mais: https://bit.ly/31udLxK
O Conselho Superior da Fundação Oswaldo Cruz, órgão colegiado composto por sua presidente e por representantes de diferentes segmentos da sociedade nacional, não pertencentes aos quadros da instituição, em reunião realizada no dia 29 de julho de 2020, reconhece que a Fiocruz vem mobilizando seus melhores esforços no sentido de contribuir e oferecer respostas à grave crise humanitária observada no país, resultado da pandemia Covid-19.
O Conselho apoia a priorização institucional em CT&I na atual conjuntura, identificando lacunas do conhecimento, destacando estudos epidemiológicos relacionados ao entendimento e enfrentamento da doença, sobretudo através da indução de projetos, que miram respostas rápidas e a geração de inovações tecnológicas, como o Inova-Covid, ora em andamento. Considera ainda estratégicas as articulações da Fiocruz com instituições acadêmicas e com o setor produtivo, bem como com a Organização Mundial da Saúde (OMS), visando ao intercâmbio e difusão de conhecimentos e iniciativas baseadas em evidências, relacionadas a estudos sobre transmissão, prevenção, controle, testagem, avaliação terapêutica e prospecção de vacinas para a Covid-19.
Observadas as desigualdades sociais e de gênero no transcurso da pandemia, o Conselho reconhece as iniciativas da Fiocruz dirigidas a populações vulnerabilizadas, reafirmando o protagonismo e competência da força de trabalho feminina não só na atenção à saúde, mas particularmente na liderança de pesquisas e no planejamento e tomada de decisão da instituição. Também enfatiza a relevância de iniciativas da Fiocruz em interação com o SUS, através de diferentes níveis e instâncias representativas, a par de um grande esforço comunicacional visando à difusão de informações corretas sobre a pandemia.
Enfim, considerando altamente relevantes as iniciativas da Fiocruz no enfrentamento da pandemia da Covid-19, o Conselho vem particularmente manifestar-se em apoio aos esforços da Fiocruz em busca de uma vacina, ressaltando que:
o quadro pandêmico global e nacional da Covid-19, com graves repercussões à vida, à saúde e à economia, impondo grande sofrimento às populações, fomentou um imenso esforço mundial, sem precedentes, na busca acelerada de uma vacina, como ora observado;
a Fiocruz, como instituição estratégica de Estado na área de saúde, agiu prontamente ao prospectar amplamente parcerias e possibilidades de vir a produzir, em território nacional, uma vacina eficaz e segura, com a urgência que a crise sanitária está a exigir;
com o apoio do Ministério da Saúde, a Fiocruz decidiu estabelecer parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca, considerando inclusive a compatibilidade e aderência da plataforma desenvolvida pela parceria com a infraestrutura tecnológica existente em Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz à frente do processo;
os entendimentos estabelecidos com Oxford-AstraZeneca incluem prerrogativas altamente beneficiosas para o país, incluindo especialmente a transferência integral da tecnologia, garantindo assim a Bio-Manguinhos a necessária capacitação e autonomia de produção em futuro muito próximo, superando barreiras ao acesso da população à vacina e às soluções tecnológicas cujo domínio impactam no desenvolvimento do nosso complexo industrial da saúde;
são promissores os resultados dos estudos clínicos fase II da vacina, publicados recentemente no Lancet, que apresentam resultados altamente satisfatórios quanto a sua segurança e imunogenicidade;
na mesma linha, a OMS confirma que se trata de um dos projetos mais avançados do mundo em termos de desenvolvimento até o momento, estando em fase 3 dos ensaios clínicos;
a transparência do processo negocial da Fiocruz com a parceria que, inclui a transferência à Fiocruz do IFA (ingrediente farmacêutico ativo), quando Bio-Manguinhos processará a formulação, envase, rotulagem e controle de qualidade de 30,4 milhões de doses;
ao término dos ensaios clínicos e com a eficácia da vacina comprovada, o acordo prevê uma segunda etapa, com a produção de mais 70 milhões de doses, perfazendo um total de 100,4 milhões de doses para ampliar rapidamente o processo vacinal nacional. Em paralelo se desenvolverão etapas de transferência e apropriação de tecnologia, com vistas à produção autônoma de Bio-Manguinhos antes do final do primeiro semestre de 2021, com capacidade estimada de 40 milhões de doses mensais;
um dado extremamente importante – a economicidade do processo negocial: o custo da dose da vacina será menos de U$ 4 dólares, refletindo apenas seu custo de produção, muito abaixo de estimativas internacionais conhecidas, de U$ 40 dólares/dose; o baixo custo certamente viabilizará o acesso equitativo e sustentável da vacina, não só ao povo brasileiro como também a outros países;
por fim, os Conselheiros reconhecem o empenho dos servidores públicos da Fiocruz na apropriação dos ciclos tecnológicos de desenvolvimento da Vacina da Covid-19, guiados por preceitos éticos comprometidos com o SUS e com a saúde da população, num notável esforço de resposta à crise humanitária que vivemos, reafirmando a Ciência & Tecnologia como bem público e o acesso com equidade como um direito humano fundamental.
Novas moléculas inibem enzima importante para a bactéria da tuberculose
A descoberta vai ajudar, no futuro, no desenvolvimento de novos fármacos contra o patógeno que tem algumas cepas resistentes a antibióticos
Pesquisadores identificaram moléculas capazes de se ligar a uma das principais enzimas da bactéria Mycobacterium tuberculosis, a diidrofolato redutase (DHFR)
A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata jovens e adultos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São aproximadamente 10 milhões de casos e 1,5 milhão de mortes por ano. Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP identificaram moléculas capazes de se ligar a uma das principais enzimas da bactéria Mycobacterium tuberculosis, a diidrofolato redutase (DHFR). Publicado na revista ACS Infectious Diseases, da Sociedade Americana de Química, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo representa um importante avanço na busca por novos tratamentos para a doença.
Coordenado pelo pesquisador Marcio Vinicius Bertacine Dias, o grupo foi um dos primeiros no Brasil a usar a técnica de descoberta de fármacos baseada em fragmentos, que consiste em testar moléculas simples e pequenas contra alvos biológicos específicos em algum patógeno. O alvo escolhido foi a enzima DHFR, por ser essencial para a sobrevivência da bactéria. “Essa enzima também é muito estudada na descoberta de fármacos para câncer, doenças autoimunes e doenças infecciosas causadas por bactérias e protozoários”, explica.
Há mais de dez anos trabalhando com a DHFR em tuberculose, os cientistas já observaram que a bactéria possui algumas características que a tornam mais resistente a antibióticos utilizados para outras infecções bacterianas. “Mesmo o Bactrim, que também tem a DHFR como alvo, não é efetivo contra a tuberculose”, diz o pesquisador. Dessa forma, os cientistas escolheram testar moléculas diferentes dos inibidores de DHFR já conhecidos, explorando outros grupos químicos. De 1.200 moléculas, foram selecionadas dez com melhor capacidade de se ligar à enzima.
Essas pequenas moléculas são excelentes pontos de partida para a descoberta de novos fármacos, uma vez que podem ser facilmente modificadas, considerando propriedades importantes presentes em medicamentos. Um desses “pontos de partida” foi modificado pela equipe e levou à descoberta de algumas moléculas promissoras, que já mostraram alta afinidade com a DHFR da M. tuberculosis. No entanto, ainda não foi confirmado se as moléculas identificadas são capazes de matar a bactéria – para isso, elas precisariam atravessar a sua complexa parede celular e chegar ao alvo, que é um dos grandes desafios no tratamento da tuberculose. Hoje, o grupo está trabalhando para aumentar a eficiência dessas moléculas em inibir a DHFR e torná-las ainda mais potentes e para que consigam atravessar essa barreira.
Impacto e inovação
O atual tratamento para tuberculose envolve a administração de pelo menos quatro fármacos diferentes durante seis meses, acompanhados de uma série de efeitos colaterais, como danos no fígado. “Com os efeitos adversos e a longa duração, muitas pessoas desistem do tratamento assim que começam a melhorar. Logo, temos uma grande quantidade de cepas que são resistentes aos medicamentos”, afirma Marcio Dias. “Nosso trabalho abre perspectivas para desenvolver compostos com novos mecanismos de ação contra a tuberculose.”
O pesquisador também chama atenção para as vantagens da técnica de descoberta de fármacos baseada em fragmentos, comum no Reino Unido e Estados Unidos, mas ainda pouco explorada no Brasil. “São moléculas mais baratas, que permitem desenvolver um composto também com preço reduzido – algo muito relevante quando se produz um medicamento.” Durante seu pós-doutorado na Universidade de Cambridge (Reino Unido), Dias trabalhou com os pesquisadores Sir Tom Blundell e Chris Abell, pioneiros na aplicação dessa técnica. Com informações da USP
Coleção com 634 fotografias revela o
cotidiano dos profissionais do “Programa Mais Médicos”. Imagens doadas à
Casa de Oswaldo Cruz estão em formato digital para consulta on-line e
gratuita.
Por Cristiane d’Avila
Um conjunto documental com mais de 600 imagens digitais, sob o título
de “Coleção Mais Médicos”, sob a custódia do Departamento de Arquivo e
Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (DAD/COC/Fiocruz), representa, nas
palavras do fotógrafo Araquém Alcântara, autor do trabalho, um manifesto humanista.
Por cerca de um ano, em 2015, Araquém percorreu 38 cidades de 20
estados do Brasil e fez mais de cinco mil registros dos médicos
brasileiros e estrangeiros em suas rotinas de atendimento a populações
que pouco, ou nunca, haviam estado em contato direto com um médico.
Para além da qualidade técnica e estética, as fotografias da Coleção
representam o cotidiano do Programa Mais Médicos (PMM), política de
saúde pública instituída pelo Ministério da Saúde (MS) em 2013 [1].
O Programa é um desdobramento da Política Nacional de Atenção Básica
(Pnab) e tem como objetivos, principalmente, o provimento de médicos em
municípios pequenos e pobres, regiões longínquas de difícil acesso e
periferias de grandes cidades (historicamente desassistidas), o aumento
da oferta de cursos de medicina no país e o fortalecimento da atenção
básica em saúde.
As 634 imagens digitais que compõem a Coleção foram doadas pelo fotógrafo ao DAD/COC em 2016 e estão disponíveis na Base Arch,
repositório on-line que dá acesso a informações sobre milhares de itens
do arquivo histórico da Fiocruz (textos, fotografias, filmes, áudios). A
Coleção Mais Médicos está organizada em 43 dossiês identificados pelo
nome do médico retratado. Eis uma bela fonte para quem deseja conhecer
um pouco mais da história que vivemos, a História do Tempo Presente.
Nas fotografias é possível observar a rotina de atendimento aos
pacientes, as condições de vida das populações assistidas e parte dos
locais visitados por Araquém Alcântara. São “fotos para os arquivos da memória”, destacou o fotógrafo em entrevista sobre o trabalho, publicado em livro em 2015.
A criação do PMM
Em 2011, como consequência da aprovação da Política Nacional de Atenção Básica (Pnab), a atenção básica [2]
(chamada também de porta de entrada do SUS) foi alçada à condição de
prioridade de governo. A Pnab era fruto de um esforço iniciado em 2003,
quando o Ministério da Saúde criou a Secretaria de Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde (SGTES) para fortalecer a formação de recursos
humanos para o SUS.
A Atenção Básica à Saúde (ABS) é um conceito construído ao longo das
últimas cinco décadas em paralelo ao da Atenção Primária à Saúde (APS) [3].
Em resumo, significa garantia de acesso à atenção, promoção e prevenção
em saúde. Conforme apontam os jornalistas Elisa Batalha e Adriano de
Lavor, é a partir do contato com uma equipe de atenção básica, em uma
Unidade Básica de Saúde (UBS), que os usuários são encaminhados, se
necessário, para serviços mais complexos.
Em 2013, o Brasil possuía apenas 1,8 médicos por mil habitantes. Esse
índice era menor do que o de países como Argentina (3,2 por mil),
Portugal e Espanha (ambos com 4 médicos por mil habitantes). Além disso,
o país sofria com a distribuição desigual de médicos por regiões: 22 estados estavam abaixo da média nacional, sendo que havia municípios sem médicos ou enfermeiros.
O desafio era claro: levar médicos para o interior e periferias do
país, com a devida inserção e qualificação destes profissionais na
atenção básica; ampliar o número de cursos de graduação em medicina em
Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas; abrir vagas
de residência médica em atividades de atenção básica, serviços de
urgência e emergência do SUS e medicina de família e comunidade. Era
preciso, ainda, ampliar o acesso aos serviços de saúde, diminuir o tempo
de espera nos atendimentos e melhorar a infraestrutura e ampliar as
UBS.
O governo federal, a partir desse diagnóstico, atendeu à
reivindicação da Frente Nacional de Prefeitos, mediada pelo Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), de
universalização da atenção básica. Assim foi instituído o PMM,
convertido em lei em outubro de 2013.
Primeira chamada pública
A primeira chamada pública do PMM contou com a adesão de 3.511
municípios, que solicitaram ao MS 15.460 médicos. Na ocasião, embora o
Programa tenha priorizado a seleção de médicos brasileiros, apenas 1.096 com registro em Conselhos Regionais de Medicina (CRM) se candidataram e foram contratados.
Nos casos em que médicos nacionais não estavam em número suficiente
para as vagas disponíveis, intercambistas (médicos formados no exterior)
foram convocados para atuar em municípios com dificuldades de contratar
e fixar médicos [4].
Foi quando a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a fim de
garantir profissionais para as UBS, cooperou tecnicamente com a
iniciativa triangulando acordos entre Brasil e Cuba para a vinda do
Contingente Internacional de Médicos Especializados em Situações de
Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve – a Brigada Henry Reeve, nome
que homenageia Henry Reeve (1850-1876), norte-americano que lutou pela independência cubana. [5]
A ilha caribenha possui ampla experiência
no envio de médicos a outros países para trabalhar em setores de saúde
como atenção primária, cirurgias e atendimento de vítimas de desastres
naturais. Juntaram-se a eles 522 estrangeiros de várias outras
nacionalidades (italianos, argentinos, haitianos, venezuelanos, etc.).
Em 12 meses, o Programa recrutou 14.462 médicos (79% cubanos, 16% brasileiros e 5% de outras nacionalidades) atendendo a 93,5% da demanda dos municípios inscritos.
No âmbito da formação profissional, o primeiro edital do PMM,
publicado em outubro de 2013, deu início à etapa de pré-seleção de
municípios aptos a abrir cursos de medicina. Em 2014, após a seleção de
mantenedoras privadas por meio de nova chamada pública, abriram-se 36
escolas de medicina, totalizando 2.290 novas vagas. Até 2013, as 27
capitais do país concentravam 8.858 vagas em cursos de graduação em
medicina, quase o mesmo número que todos os municípios brasileiros
juntos (8.612). Em dois anos de Programa, o número de vagas no interior subiu para 10.637.
Em trabalho de campo
para avaliação do PMM realizado ao longo de cinco anos, a partir de
2014, uma equipe multidisciplinar coordenada por pesquisadores da
Universidade de Brasília (UnB) constatou que o Brasil, antes do Mais
Médicos, estava longe de atingir o parâmetro recomendado pelo MS (um
médico para cada mil habitantes). Apenas 823 municípios atingiam essa
meta. Um ano após a implantação do Programa, o percentual aumentou em
20%, chegando a 991 municípios. Segundo dados do MS, até 2016 o PMM
contratou 18.240 médicos para atuar em 4.058 municípios (73% dos
municípios brasileiros), promovendo atendimento a populações ribeirinhas
na Amazônia, comunidades rurais do semiárido nordestino e quilombolas,
assentamentos, como também periferias e morros de grandes cidades. Além
disso, enviou 294 médicos para os 34 Distritos Sanitários Indígenas
(100% de cobertura), garantindo a presença destes profissionais em todos os Distritos, fato que nunca havia sido possível desde a criação do subsistema de Atenção à Saúde Indígena no SUS.
Até hoje, o Programa é reconhecido como estratégia fundamental para o
acesso à saúde de forma universal e equitativa, conforme está
preconizado na Constituição Federal de 1988 e deve ser garantido pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).
“(…)o
país sofria com a distribuição desigual de médicos por regiões: 22
estados estavam abaixo da média nacional, sendo que havia municípios sem
médicos ou enfermeiros.”
— Cristiane d’Avila
“O PMM contribuiu para a efetivação e consolidação dos princípios e
diretrizes do SUS e garantiu acesso à saúde, especialmente para as
populações mais pobres, municípios pequenos e regiões remotas e
longínquas”, concluíram os pesquisadores após percorrerem 32 municípios
com 20% ou mais da população em extrema pobreza, selecionados em todas
as regiões do Brasil. A partir de bancos de dados do Ministério da
Saúde, a pesquisa incluiu a análise do Programa em 5.570 municípios
brasileiros.
Foi um período vigoroso da atenção básica no Brasil. Conforme consta
do portal do MS, em 2014 o governo federal investiu R$ 20 bilhões na
área, sendo R$ 5 bilhões na construção, ampliação e reforma de 26 mil Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelos municípios brasileiros.
A Coleção
A Coleção Mais Médicos é o primeiro arquivo sob a custódia do DAD em
formato totalmente digital, acessível por completo na internet. Para
conferir, acesse neste link as 634 imagens (role a página para visualizar melhor o material).
São documentos que ilustram a relevância e o impacto do PMM para a
assistência à saúde e a qualificação do SUS. Por ser a primeira do
gênero no acervo fotográfico do DAD, possibilita novos olhares sobre a
história da saúde pública e das políticas públicas de saúde.
“O conjunto se destaca pelo tratamento humanístico do tema, onde
médicos, população e paisagens se mesclam. As imagens refletem os
significados sociais e humanos que um projeto dessa natureza pode
proporcionar a uma população carente” destaca a historiadora Aline Lopes
de Lacerda, chefe do Serviço de Arquivo Histórico da COC.
O trabalho do fotógrafo e jornalista Araquém de Alcântara é outro
aspecto relevante da Coleção. “De reconhecida atuação em questões
ambientais e difusão do patrimônio natural brasileiro, ele empregou seu
talento e experiência para retratar os médicos do Programa”, completa a
historiadora.
Notas
[1]
O Programa Mais Médicos foi lançado pelo governo federal em 8 de julho
de 2013 através de medida provisória convertida na lei 12.871, de 22 de
outubro de 2013.
[3]
Realizada em 1978, a Conferência Internacional de Atenção Primária à
Saúde de Alma-Ata, no Cazaquistão, considerou três componentes
essenciais como conceitos de atenção primária: saúde para todos, com
foco na prevenção, o acesso igualitário e a participação direta da
população no meio social como determinante do processo saúde-doença.
Conferir: SANTOS et al., 2016.
[4]
FRANCO, Thais de A.Vidaurre; PAIVA, Carlos Henrique Assunção. Programa
Mais Médicos para o Brasil: textos e documentos de referência reunidos.
In: Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. Estação de Trabalho Observatório História e Saúde. Rio de Janeiro, 2016.
[5]A
Brigada foi criada em 2005 por Fidel Castro e já esteve presente em 22
países com mais de 7.000 profissionais de saúde, entre médicos e
enfermeiros. Atualmente, ajuda no combate à Covid-19 em diversas nações
do mundo e concorre ao Prêmio Nobel da Paz 2020. Fonte: https://bit.ly/3gMa2kA
Referências
ALCÂNTARA, Araquém. Mais Médicos. São Paulo: Terrabrasil, 2015. 223 p.
BATALHA Elisa; LAVOR, Adriano de. “Nova Pnab transforma atenção
básica em atenção mínima ao reduzir saúde da família e criar cesta
limitada de serviços”. Revista Radis, Nº 183, 2017. Disponível aqui.
FRANCO, Thais de A. Vidaurre; PAIVA, Carlos Henrique Assunção.
Programa Mais Médicos para o Brasil: textos e documentos de referência
reunidos. In: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Casa de Oswaldo Cruz. Estação de Trabalho Observatório História e Saúde. Rio de Janeiro, 2016.
SANTOS, João Bosco Feitosa dos et al.Médicos estrangeiros no Brasil: a arte do saber olhar, escutar e tocar.Saude soc. [online]. 2016, vol.25, n.4, pp.1003-1016. ISSN 1984-0470.
SANTOS, Wallace Dos et al. Avaliação do Programa Mais Médicos: relato de experiência. Saúde debate, Rio de Janeiro , v. 43, n. 120, p. 256-268, Mar. 2019. Disponível aqui.
Cristiane d’Avila é jornalista, doutora em Letras
pela PUC-Rio, Tecnologista em Saúde Pública da Casa de Oswaldo Cruz
(COC/Fiocruz), onde atua no Departamento de Arquivo e Documentação.
Mestre em Comunicação Social e Especialista em Comunicação e Imagem pela
PUC-Rio. É organizadora do livro “Cartas de João do Rio a João de
Barros e Carlos Malheiro Dias”, publicado pela Funarte em 2013, e autora
do livro “João do Rio a caminho da Atlântida”, publicado em 2015 com
apoio da Faperj. Colabora mensalmente com o Café História com textos
sobre História das Ciências e da Saúde.