50 anos da pílula anticoncepcional
Como o método contraceptivo influenciou a tomada de decisões pessoais e profissionais pelas mulheres
Por: Burson-Marsteller, Bayer Schering Pharma, Fundação Carlos Chagas, IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto Guttmacher
Publicado em: 03/03/2010 - Revista Sempre Materna
Foto: Divulgação
Em uma sociedade contemporânea em que a mulher exerce diversos papéis, seja como profissional, administradora do lar, estudante, solteira, esposa ou mãe, as influências comportamentais e a moda feminina que marcaram as décadas anteriores são visíveis no dia a dia. Com um ritmo de vida dinâmico, a mulher atual, a exemplo de alguns ícones femininos do passado, vive em constante busca por independência. Neste contexto, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década de 60, permitiu que a mulher passasse a controlar sua fertilidade, conquistasse liberdade sexual com segurança e praticidade e, mais recentemente, aliasse a contracepção a outros benefícios propiciados pela pílula.
Estudo realizado pelo Instituto Guttmacher, organização de saúde sexual dos Estados Unidos, revela que 80 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional no mundo. O maior percentual de consumidoras reside na Europa e nos Estados Unidos e utilizam o método para planejar o tamanho da família, se dedicar aos estudos e à carreira. O estudo revela ainda que, na América Central e do Sul, cerca de 16 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional, sendo que as brasileiras usam os contraceptivos orais durante um período maior – entre dois e cinco anos -, enquanto as mexicanas utilizam o método por apenas um ano sem interrupção. “Normalmente, as mulheres realizam uma pausa no uso da pílula por razões culturais, no entanto, não é um procedimento recomendado, justamente por haver a possibilidade de ocorrer uma gestação não planejada neste período”, afirma o Prof. Dr. Afonso Nazario, Chefe do Departamento de Ginecologia da UNIFESP. O levantamento do Instituto Guttmacher mostra também que a taxa de contracepção na América Central e do Sul aumentou consideravelmente, de 15% em 1969, para mais de 70% em 2000.
O atual índice elevado de utilização da pílula anticoncepcional contrasta com o período de seu lançamento, ocorrido quando o cenário mundial pregava uma conduta moral de castidade feminina - na época o método era receitado apenas para as mulheres casadas e com autorização dos maridos. A primeira pílula, lançada nos Estados Unidos, possuía formulação com altas doses de hormônio, que gerava alguns efeitos colaterais, e assim não conquistou as usuárias. Em 1961 importante empresa do mercado farmacêutico lança a primeira pílula disponibilizada em países da Europa, Austrália e Brasil, com formulação seis vezes maior que a quantidade de princípio ativo dos contraceptivos atuais.
No auge dos anos 70, surge a chamada segunda geração de pílulas, com redução significativa da quantidade de hormônios usados nas primeiras versões. No final dos anos 90 é inaugurada a terceira geração da pílula anticoncepcional, com formulações de baixas doses e princípios ativos mais modernos que proporcionam outros benefícios além da contracepção.
Paralelo ao surgimento da pílula, as mulheres iniciaram uma revolução silenciosa e discreta. A taxa de fecundidade brasileira decresce da média nacional de 6,3 filhos em 1960 para 5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3 filhos em 2000. A região Sudeste foi a que registrou o menor índice de fecundidade, 2,1 filhos por mulher, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Com a opção de controlar a fertilidade, a mulher pode escolher o momento ideal para ingressar no mercado de trabalho em busca de sua independência financeira ou ampliação dos bens de consumo de toda a família”, afirma Flavio Gikovate, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor.
A expansão do ensino nas décadas de 60 e 70 permitiu que as mulheres aumentassem sua escolaridade e, com isso, passassem a pensar no desenvolvimento de uma carreira. “A pílula anticoncepcional surgiu em um momento já favorável para o início da ‘revolução de costumes’, período em que a sexualidade humana ganhou importância própria, desvinculando-a da necessidade de reprodução e permitindo que as mulheres pensassem em relações sexuais sem o pavor da gestação”, ressalta Gikovate.
De acordo com os indicadores da Fundação Carlos Chagas, a participação da mulher no mercado de trabalho ou procurando emprego em 1976 era de 28,8%. Já em 2007, este índice representou um total de 43,6%. Em 2009, dados atualizados do IBGE revelam que o trabalho feminino já corresponde a 45,1% da população empregada no País.
Histórias incriveis sobre a pípula
Depois de 50 anos no mercado, a pílula anticoncepcional evoluiu muito – as moças podem ter certeza de que a pílula que tomam hoje é muito diferente da usada por suas mães alguns anos atrás. Assim como qualquer dama educada, a pílula também tem seus segredos. Conheça histórias surpreendentes sobre esse tipo de droga que, hoje, é tão popular quanto a aspirina:
1 – A pílula não é usada apenas como anticoncepcional
Mesmo que o motivo principal da criação da pílula tenha sido a prevenção de gravidez, em 1957 ela foi aprovada como forma de tratamento para problemas menstruais severos. Dois anos depois, meio milhão de mulheres começaram a usar a pílula por terem, supostamente, desenvolvido problemas menstruais – especialistas suspeitam que esses problemas, na época, eram apenas uma desculpa para que as moças pudessem usar o anticoncepcional sem deixar claro que eram sexualmente ativas. Além de problemas menstruais, a pílula também pode ser usada no tratamento de cistos no ovário, acne, anemia e endometriose.
2 – Algumas marcas possuem “pílulas placebo”
Quem já usou a pílula sabe que deve parar de tomar o remédio por um tempo para que possa ocorrer a menstruação e depois voltar com o tratamento. Há outros tipos de pílula que, no pacote, vêm com uma “ultima semana” diferenciada das demais, que permitem a menstruação. Essas pílulas da última semana seriam placebos, sem hormônio nenhum. Isso tudo foi uma jogada de marketing para que a mulher não precisasse parar de tomar pílulas todo dia e para que o ato parecesse natural. Até hoje algumas marcas persistem nessa forma de apresentação, mas com um diferencial – colocam ferro nas pílulas da última semana para que a mulher, que durante a menstruação perderia sangue, tenha uma reposição da substância, diminuindo os riscos de anemia (na foto do artigo, a cor das pílulas da última semana é diferente).
3 – A pílula pode afetar a sua decisão sobre possíveis parceiros
Algumas novas pesquisas sugerem que a pílula afeta a forma com que as mulheres escolhem seus parceiros. Normalmente, somos atraídos por pessoas que têm os genes um pouco diferente dos nossos, porque a natureza do humano e buscar a variedade genética, para que os bebês sejam mais fortes. Mas a pílula induz a mulher a um estado que, por causa dos hormônios, imita a gravidez (por isso a mulher não engravida. Para o organismo ela já estaria grávida). E, quando uma mulher está grávida, ela procura pessoas similares a ela – membros da família iriam proteger seu suposto bebê. Mas, normalmente, não seriam pessoas com as quais elas iriam querer ter relações. Já no lado dos homens, pesquisas mostram que, de alguma forma, eles percebem que mulher está ovulando e qual estaria “grávida” e, normalmente, são mais atraídos por aquelas que seriam férteis. Antes de levantar protestos, é importante esclarecer que mais pesquisas serão feitas para comprovar esses resultados. E que, para toda regra existe uma exceção.
4 – A pílula polui rios e afeta o meio ambiente
Mulheres que tomam o anticoncepcional eliminam hormônios sintéticos através de suas excreções. Esses hormônios não podem ser quebrados pelas estações de tratamento de esgoto normais e acabam indo parar em rios. Esses hormônios afetariam a fertilidade de animais que vivem e que dependem dessas águas. De acordo com um estudo francês, 50% do estrogênio encontrado nas águas dos rios vem, indiretamente, da pílula anticoncepcional.
5 – A pílula é amada e odiada pelas feministas
A pílula foi o primeiro remédio a ser desenvolvido para usos “sociais” e não puramente médicos. Apesar da criação da pílula ter sido celebrada pelas feministas da época, nos anos 70 riscos que o uso da pílula poderia representar foram levados ao público e levantaram a ira de algumas mulheres,que passaram a considerar o remédio um exemplo do modelo patriarcal que fazia com que elas corressem mais riscos para o prazer masculino. Métodos de contracepção masculinos estão, atualmente, em desenvolvimento.
6 – A criação da pílula só foi possível graças a um católico
Apesar de ser considerada uma inimiga da Igreja Católica – seria um crime, para a Igreja, impedir que uma vida viesse ao mundo (a única forma de contracepção aprovada, atualmente, pelo Vaticano, seria a tabela menstrual, que tem altas chances de falhar. Nela, o casal se abstém de relações sexuais no período em que a mulher, teoricamente, poderia conceber. O sexo fora do casamento também não é visto com bons olhos). Mesmo assim, foi um católico devoto que tornou a pílula uma invenção possível. John Rock freqüentava a igreja todos os domingos, mas acreditava que uma vida sexual saudável e ativa era a chave para a felicidade do casamento. Foi ele que testou a droga para, depois, aprovar sua venda nos Estados Unidos.
7 – Desenvolvida a partir de… inhame?
Cientistas descobriram a progesterona, o principal “ingrediente” da pílula, em coelhos, no ano de 1928. Apesar de eles terem percebido o seu potencial, o químico não poderia ser extraído de animais – pela crueldade e também pelo enorme custo que o processo teria. Em 1943 o pesquisador Russel Marker encontrou uma alternativa mais barata e “verde”: os inhames. Uma espécie de inhame mexicano, conhecida como “cabeza de negro” fornecia enormes quantidades de progesterona, tornando, assim, a fabricação em massa do anticoncepcional possível e, também, tornando a pílula mais barata.
Por
Luciana Galastri [LiveScience]