Jornalista avalia que as ameaças das Forças Armadas contra a CPI, que vem revelando o papel de militares na corrupção no Ministério da Saúde, fazem parte da noção de que elas detêm um “poder tutelar” sobre o Estado brasileiro e que, nessa lógica, Bolsonaro não é uma peça central.
247 - O jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi, analisou as recentes movimentações das Forças Armadas, que vêm elevando o tom das ameaças antidemocráticas em meio às revelações de que militares estavam envolvidos no esquema de propinas no Ministério da Saúde.
Diante da acusação, feita pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), e corroborada pelo dossiê do ex-servidor e operador de propinas Roberto Dias, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, chamou o parlamentar de “leviano e irresponsável”. O tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior foi além e, numa entrevista, disse que as Forças Armadas têm “base legal” para agir contra o Congresso.
À TV 247, Altman destacou que as declarações fazem parte de uma noção dos militares de que eles têm o direito de exercer o “poder tutelar” sobre o Estado brasileiro. A lógica se estende à relação com Jair Bolsonaro, que não é visto como um personagem vital para as Forças Armadas.
“O Bolsonaro sem os militares não existe, mas os militares sem Bolsonaro existem. Os militares e as Forças Armadas têm projeto próprio de poder. Eles cavalgaram no Bolsonaro a partir de 2014/2015 e se deram conta que o Bolsonaro era a via institucional para eles voltarem ao comando do Estado. E eles foram construindo ao redor do Bolsonaro, com ele e apesar de suas contradições, esse caminho. Ou seja, eles estão exercendo na lógica do alto comando um direito que eles consideram legítimo. Não sei de onde eles extraíram essa legitimidade, do direito de exercer o poder moderador no Estado brasileiro, o poder tutelar”, disse o jornalista.
“Nesta lógica de que eles são o poder moderador, eles não podem ser atacados, investigados, criticados. E qualquer investigação de qualquer crime cometido por altos oficiais generais é um ataque às Forças Armadas, e elas respondem atacando o Estado, quem os atacou. Então, há de se compreender a reação das Forças Armadas [aos escândalos de corrupção] desta forma. É uma reação de uma instituição que se autorreverencia e se autorreferencia num poder moderador que elas próprias foram construindo ao longo da história”, completou.