6.07.2014

Não aguento mais trabalhar; quando poderei me aposentar?

Internauta tem 43 anos e questiona como avaliar quando poderá se aposentar - ou ao menos reduzir o ritmo acelerado da rotina. Veja a resposta de Fernando Meibak

Editado por Priscila Yazbek, de
Dreamstime.com
Mulher nervosa
Mulher nervosa: Para reduzir o ritmo é preciso ter bastante dinheiro guardado
Dúvida do internauta: Tenho 43 anos de idade, sou solteira e não tenho filhos. Quando saberei que posso parar de trabalhar por já ter poupado o suficiente? Ou quando poderei ao menos reduzir o ritmo acelerado do dia a dia? Claro que a intenção é manter o padrão de vida atual na aposentadoria.

Moro em uma casa própria, tenho um carro do ano passado e praticamente não tenho tempo livre para nada. Trabalho cerca de dez horas por dia no escritório, demoro uma hora para me deslocar e passo quase duas horas na academia. Quando me sobra tempo, eu durmo (e ainda menos do que eu gostaria).

Resposta de Fernando Meibak*:
Você descreve ter uma atividade intensa, o que é muito positivo, por um lado. Com 43 anos, solteira, com moradia própria (presumo que já paga) e um ritmo forte de trabalho você comenta que gostaria de ter um ritmo de vida menos acelerado e pergunta quando seria viável diminuir o ritmo em função de já ter poupado recursos suficientes.
O balanço da vida pessoal e vida profissional é sempre muito importante. Há aqueles que defendem que é preciso ter um grande volume de trabalho, com sacrifício da vida pessoal, visando uma acumulação financeira mais rápida, para melhor aproveitamento mais adiante.
Mas há aqueles que defendem manter uma melhor qualidade de vida, com dedicação "normal" ao trabalho, para ter tempo para se dedicar a outras atividades (viajar, ir ao cinema, ler, ver shows, se dedicar a algum hobby, etc.).
É uma escolha muito pessoal, mas me alinho mais com o segundo grupo e vejo que talvez você esteja mais próxima ao primeiro grupo.
O fato de você não ter família, um parceiro e filhos, dá a você uma condição de disponibilidade de tempo e ausência de gastos financeiros relevantes. Provavelmente você tem um custo de vida controlado, até pela limitação de atividades que você descreveu.
Você ainda é relativamente muito jovem e terá capacidade de trabalhar até uma idade bem mais avançada. Como pretende diminuir o ritmo, o importante é você avaliar algumas coisas.
A primeira delas: qual será seu custo de vida a partir de uma idade na qual você não pretende ou não consigará mais trabalhar. Gosto de assumir os 60 anos como parâmetro. Outro ponto importante é estimar uma idade de longevidade. Gosto de assumir os 90 anos como idade mínima. 
Dito isso, seria possível calcular qual o montante de recursos que seria necessário aos 60 anos para fazer frente aos gastos estimados.
A seguir, destaquei alguns números indicativos, segundo premissas conservadoras de inflação e juros:
a) Para um padrão de gastos de 5 mil reais mensais, você precisaria ter uma reserva de cerca de 1,2 milhão de reais aos 60 anos.
b) Para um padrão de gastos de 10 mil reais mensais, você precisaria ter uma reserva de cerca de 2,4 milhões de reais aos 60 anos.
Como você tem 43 anos e está a 17 anos dos seus 60 anos, para avaliar quanto você deve poupar hoje, eu calculei qual quantia hoje equivaleria a 1,2 milhão de reais daqui a 17 anos (para renda de 5 mil reais mensais), considerando que esse valor fosse investido e gerasse um rendimento suficiente para cobrir a inflação anual e ainda sobrar um rendimento real de 3% ao ano (já descontado o imposto de renda que incidiria sobre o rendimento). 
a) Para ter 1,2 milhão de reais aos 60 anos, você deve ter aproximadamente726 mil reais hoje. 
b) Para  ter 2,4 milhões de reais aos 60 anos, você deve ter aproximadamente1.452.000 reais hoje.
Agora vamos interpretar os dados. A situação "a" mostra que se você tiver 726 mil reais hoje você poderá reduzir o ritmo de trabalho porque se essa quantia for investida e tiver  um rendimento real (acima da inflação) de 3% ao ano, você terá aproximadamente 1,2 milhão de reais aos 60 anos, já descontado o imposto de renda.
Vale ressaltar que aqui estamos falando apenas do valor que você deve ter para a aposentadoria. Além disso, obviamente, você precisará ter uma outra fonte para manter seus gastos entre os 43 anos e os 60 anos, para que os 726 mil reais iniciais sejam apenas investidos para a aposentadoria.  
Essa remuneração de 3% ao ano acima da inflação pode ser encontrada, por exemplo, nos títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação, as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B). As NTN-Bs disponíveis para venda atualmente estão oferecendo rendimentos de cerca de 6% ao ano, mais a variação da inflação, medida pelo IPCA.
Assim, você pode avaliar como está sua situação atual. Se tiver menos recursos do que o estimado, terá que poupar. Se já tiver o volume indicado, você poderá investi-lo e utilizar o excedente para outras coisas e curtir mais a vida, com menos trabalho.

A herança deixada pelos meus pais é uma boa ou uma furada?


  É um erro eu contar com a herança dos meus pais?


É um erro eu contar com a herança dos meus pais?

 A herança deve ou não ser incluída no planejamento financeiro para o futuro? Muitos pais se preocupam em deixar um patrimônio, ainda que modesto, para os filhos após sua partida. E esse é um bom pensamento. Mas como os filhos devem encarar esses bens? Devem contar que, ao menos na sua aposentadoria, vão possuí-los? Ao fazer um planejamento financeiro para o longo prazo, podem se dar ao luxo de fazer um esforço financeiro menor? O professor Samy Dana, da FGV, responde, no vídeo.

Para que se preocupar?



Há apenas duas coisas com que você deve se preocupar: se você está bem ou se você está doente.
Se você está bem, não há nada com o que se preocupar.
Se você está doente, há duas coisas com que se preocupar: se você vai se curar ou se vai morrer.
Se você vai se curar, não há nada com o que se preocupar.
Se você vai morrer, há duas coisas com que se preocupar: se você vai para o céu ou para o inferno.
Se você vai para o céu, não há nada com o que se preocupar.
Agora, se você vai para o inferno, estará tão ocupado em cumprimentar velhos amigos que nem terá tempo de se preocupar.
Então, para que se preocupar?

(Conselho Chinês)

Serviço Secreto dos EUA quer 'detector de sarcasmo' para monitorar o Twitter


Twitter (Reuters)
Programas têm dificuldades para Identificar quando alguém não está falando sério na internet
O Serviço Secreto americano está em busca de um programa de computador capaz de identificar quando alguém está sendo sarcástico em posts publicados no Twitter.
A ferramenta ajudará a saber quando alguém não está falando sério - casos chamados de "falsos positivos" pelo governo americano.
"Queremos automatizar nossa análise em tempo real do que é publicado nas redes sociais, especialmente do Twitter", disse o porta-voz do serviço secreto, Ed Donavan, ao jornal The Washington Post.
A notícia veio à tona depois que o governo americano divulgou anúncio online na última segunda-feira, em busca de novos softwares para melhorar esse serviço de monitoramento.
O interesse da agência abrange também ferramentas capazes de identificar pessoas influentes em redes sociais, acesso a dados antigos publicados nas contas do Twitter e tópicos de interesse para a agência do governo, entre outras funções.
Segundo o governo americano, o objetivo é "preservar a integridade da economia e proteger líderes nacionais e chefes de Estado e governos que visitarem os Estados Unidos".
O país tem sido muito criticado e pressionado desde que foi revelado que sua Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) monitorava ligações telefônicas e a atividade online de americanos e de cidadãos de outros países.

Piadas infelizes

Nesse tipo de monitoramento, identificar quando alguém está sendo irônico é um desafio porque a linguagem de mensagens envolve elementos complexos e de difícil compreensão por uma máquina.
Por isso, brincadeiras publicadas em redes sociais complicaram a vida de seus autores - ainda que fossem no final das contas apenas posts infelizes.
Um usuário do Twitter foi preso em abril depois de postar uma mensagem com uma ameaça de bomba para a empresa aérea América Airlines. Ele disse depois ter feito uma piada.
No ano passado, uma adolescente americana foi presa depois de publicar no Facebook um comentário sarcástico dizendo que "atiraria numa escola cheia de crianças".
E, em 2012, um irlandês e uma britânica que viajavam juntos foram levados em custódia nos Estados Unidos depois do homem postar que planejava "destruir a América" e "desenterrar Marilyn Monroe". O irlandês afirmou que "destruir" era uma gíria para "festejar muito".

QUERO AQUECER SEU CORAÇÃO



Fawller Santos




Não estou ficando velho, estou me tornando um CLÁSSICO...Por muito tempo fui tudo que pude. AGORA SOU TUDO QUE QUERO...

 
Um dia sem sol uma eternidadee vivida,
A sua ausência presente,
A distância perdida,
Quando aqui está, não há Sol, não há Lua, que brilhe tanto quanto o seu olhar tanto quanto seu sorriso e esta presença enche meu coração de alegria

Apesar de eu ainda estar a sentir uma leve tristeza porque sei que em breve, novamente só estarei, pois terás que partir, e meu dia voltará a ser frio e escuro como uma noite de inverno 

Aqueça-me enquanto presente estiver e
amorne-me enquanto longe ficar

pois no tempo presente é o que me vitaliza pra suportar a distância e a espera de um novo amanhecer a seu lado. 
Tomara que os olhos de inverno das circunstâncias mais doídas não sejam capazes de encobrir por muito tempo os nossos olhos de sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer, ínfima, tímida, para ver também um bocadinho de céu. Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem de sentir confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor. Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. 
Tomara.
O tempo se perde em devaneios no ar,
Que carrega para todo o lugar o perfume,
Das folhas das cascas dos troncos
Enquanto se diluem; é o ciúme

De um sonho que se impõe;
O inverno não existe mais, me deito nesse outono,
Não tenho mais o sentido, e me decepciono,
E se não houver mais estações no ano?

A lembrança é o espaço da idéia,
O silêncio enquanto transpõe a cerca de arame
Seduz a pele e um canto alegre decompõe.

Chega de primavera, de ouvir o canto dos pássaros
Quero o frio etéreo de seus lábios

Que me faz tremer os ossos.                         Temos a força de suportar um inverno abaixo de zero que pode ser frio, úmido, molhado, muitas vezes intercalado por dias de muito calor e noites indefinidas. Temos a força de suportar o frio que dói na ponta dos dedos, que treme a voz, que atrofia as extremidades do corpo…

Temos a força de suportar o vento gelado que traz a sensação de vivermos no limite cortante do frio que não cessa, senão quando cumpre o tempo da estação.

Temos a força de suportar o sol acanhado que permite, com timidez, que o frio realize o seu trajeto, que engravide a terra, hiberne as sementes e delicadamente se afaste para que brote a vida do chão…

Temos a força de suportar o gelo que a natureza nos presenteia todo ano, repetidamente, com a mesma elegância e sabedoria.

Só não suportamos o frieza dos sorrisos, das almas insensíveis, o gelo da indiferença e a neve enrustida, que forma um tapete nos sentimentos, capaz de matar a vida que brota do coração.

"Em Itaquera, agora nóis é tudo playboy"

Como a bilionária Arena Corinthians transformou um bairro esquecido da periferia de São Paulo, abriu perspectivas para milhares de moradores e colocou a zona leste da cidade no centro do mundo

Amauri Segalla

É terça-feira à tarde e o carro da reportagem está rodeando o Itaquerão, o estádio que vai receber a primeira partida da Copa do Mundo. A uns 500 metros da entrada principal, numa rua ladeada por prédios coloridos do conjunto habitacional Cohab – edifícios verdes, amarelos, laranjas e vermelhos –, uma gritaria chama a atenção. O carro para diante de um boteco enfeitado com bandeiras do Brasil, e dá para ver o nome Bar da Rose ao lado da televisão. No aparelho de LCD passa um daqueles modorrentos amistosos pré-Copa e alguém manda aumentar o som. Em pé, com a mão no peito, pelo menos 20 sujeitos cantam bem alto o “Hino Nacional”, mais por farra do que por patriotismo. Enquanto deixam a camaradagem fruir, movida por incontáveis litros de cerveja, o assunto não poderia ser outro: o estádio construído no quintal da casa deles. “Isso aqui ficou uma maravilha”, diz o “autônomo” (foi ele mesmo quem fez o gesto clássico de aspas) Luciano Silva Costa, 35 anos, enquanto ergue os óculos escuros para dar uma piscadinha. “Agora nóis é tudo playboy.”
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Só quem nasceu e cresceu na zona leste de São Paulo sabe como esse pedaço da capital foi, desde sempre, o túmulo do progresso da cidade. A região foi a última a ter shopping center. Nos anos 80, quando abriram um McDonald’s no Tatuapé, a criançada até fez festa. Na mesma época chegaram as primeiras concessionárias de marcas bacanas de carro, o primeiro hospital decente, a primeira balada com shows ao vivo de bandas legais. A Radial Leste, a avenida que faz a conexão com o centro, até hoje é um inferno com 30 quilômetros de congestionamentos diários. O rio Aricanduva, que corta bairros populosos como Penha e Vila Carrão, inundou e destruiu casas e famílias durante 30 anos e só recentemente, com os piscinões, saciou sua sede. Só quem nasceu e cresceu na zona leste sabe que ela é a única região da cidade que apelida seus moradores. Quem nasce e cresce na zona leste é chamado pelos outros de “ZL”, como se isso fosse ofensivo. Não existe “ZN”, “ZO” ou “ZS”. Nesse aspecto, os moradores da Zona leste sempre estiveram à frente dos outros, que jamais possuíram uma identidade própria.
COPAITAQUERA-02-IE-2324.jpg OPOSTOS
O campo de terra Negritude fica atrás do bilionário estádio do Corinthians,
a não mais de um quilômetro de distância
A Arena Corinthians foi a vingança definitiva dos moradores da zona leste. No próximo dia 12 de junho, quando Brasil e Croácia entrarem em campo, 1,5 bilhão de pessoas do mundo inteiro terão seus olhos voltados para Itaquera, o bairro de 523 mil habitantes escolhido para a construção do estádio. “A gente ficou orgulhoso, mas o que conta mesmo é que a vida vai melhorar”, diz o técnico de raio X Alexandre Alves, um são-paulino de 30 anos. Para ele, o Mundial será uma benção. “O pessoal da Ambev pagou R$ 25 mil para a gente autorizar a pintura do prédio.” Alexandre vive em um dos edifícios da Cohab a poucos metros da entrada do Itaquerão e que foram escolhidos pela fabricante de cerveja para fazer desenhos alusivos à festa do futebol. Segundo ele, os moradores ainda não decidiram se vão dividir o dinheiro ou se farão melhorias na construção.
Na abertura da Copa, 1,5 bilhão de pessoas vão voltar
seus olhos para um bairro negligenciado pelos governos
Se fosse preciso escolher uma única imagem como símbolo máximo de Itaquera, essa imagem seria a de um prédio da Cohab. A prefeitura estima que 40 mil pessoas vivam nos mais de 500 edifícios de cinco andares, sem elevador e com área média de 50 metros quadrados, que constituem o conjunto criado na década de 60 sob o nome de Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo. Para quem vive nas zonas nobres da cidade, Cohab é sinônimo de moradia precária. Basta dar uma olhada mais atenta nas construções que ficam no entorno do Itaquerão para descobrir que isso não corresponde exatamente à realidade. Se você tem uma mochila pesada nas costas, não é fácil subir, de escada, cinco andares, mas alguns prédios oferecem certa infraestrutura, como quadra de futebol e gramado para a molecada brincar. “Em 2009, passei mais de um ano procurando apartamento para comprar em São Paulo, e com os R$ 90 mil que tinha só consegui vir para a Cohab”, diz a enfermeira baiana Patrícia Martins Silva.
COPAITAQUERA-04-IE-2324.jpg FARTURA
Alexandre Alves, diante de seu prédio (com o número 58), e Rosilene Cabral,
dona do Bar da Rose: ele ganhou dinheiro para autorizar a
pintura e ela vai aumentar o preço de seus produtos
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Patrícia nasceu na Chapada Diamantina, um paraíso ecológico na Bahia, mas veio para São Paulo estudar. Quando fechou negócio, não tinha a menor ideia de que a Arena Corinthians seria erguida diante da janela de sua sala. O apartamento dela, de dois dormitórios e 58 metros quadrados, aconchega bem duas pessoas (Patrícia vive ali com a filha pré-adolescente), tem tevê de plasma e aparelho de som de qualidade. Graças à decisão dos organizadores da Copa, ela melhorou de vida. “Há alguns dias venderam um apartamento igual ao meu, aqui ao lado, por R$ 200 mil.” Não é preciso muito esforço para entender o milagre da multiplicação do patrimônio. “O Itaquerão fez minha casa valer o dobro.”
Enquanto vê o Brasil fazer uma partida morna contra o Panamá, a turma reunida no Bar da Rose tem histórias parecidas para contar. Todos dizem que, de uma forma ou de outra, lucraram e lucram com o estádio. No domingo 1º, o técnico de raio X Alexandre Alves, o mesmo que faturou um dinheiro com a pintura patrocinada pela Ambev, saía de casa quando um carro cheio de turistas estacionou diante de seu prédio. “Eles olharam para mim e perguntaram quanto era”, diz Alexandre. “Não entendi e os caras falaram alguma coisa sobre o preço para estacionar.” Maroto, respondeu que custava R$ 20. “Deveria ter falado R$ 100, porque os bacanas iam pagar.”
Dona do Bar da Rose, Rosilene Cabral, 51 anos, não tem dado conta do número de pessoas, inclusive estrangeiros, que aparecem em seu boteco depois de visitar a Arena Corinthians. Ela faz um caldo de feijão caprichado e cobra atualmente R$ 6,50 por ele. “Na semana que vem, durante a Copa, acho que vou cobrar uns R$ 10.” Seu bar fica na zona de exclusão definida pela Fifa, mas ela até agora não tem ideia se poderá ou não abri-lo durante o Mundial.
ITAQUERA-06-IE-2324.jpg TRANSFORMAÇÃO
As centenas de Cohabs em Itaquera e o muro na Radial Leste grafitado
por artistas plásticos: pressa para deixar o bairro bonito para a Copa
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O Itaquerão não terá impacto positivo apenas para um número pequeno de moradores. As obras nos arredores do estádio, inauguradas com atraso e que na semana passada ainda estavam passando por ajustes, devem dar maior fluidez ao caótico trânsito da região. Um trecho da Radial Leste foi duplicado, viadutos e túneis foram construídos. “Antes, eu levava 40 minutos para sair de carro da minha casa e fazer o retorno para a Radial no sentido centro”, diz o motorista de ônibus Paulo César Leite. “Agora, faço o mesmo percurso em dez minutos.” Uma bela passarela de vidro permitirá que moradores cruzem a Radial em direção ao estádio, em vez de atravessar a perigosa avenida.
Na semana passada, quem visitava Itaquera tinha a noção exata do jeito brasileiro de ser. Em toda parte do bairro centenas de profissionais plantavam grama, arrumavam canteiros, limpavam muros pichados, passavam cimento em calçadas quebradas, varriam o lixo das ruas. Na estação Corinthians-Itaquera, uma das duas que desembocam no estádio (a outra é a Arthur Alvim), o barulho de furadeiras pregando placas indicativas era infernal. É inegável que Itaquera está ficando bonita para receber a maior festa do esporte mundial, mas isso não exclui o fato de que tudo deveria ter sido feito com mais antecedência. O que está pronto, porém, enche os moradores de orgulho. O que mais impressiona são os quatro quilômetros de muros grafitados por 70 artistas plásticos e que enfeitam a Radial até a entrada do estádio. O canteiro central da avenida foi pintado de verde e amarelo e é impossível não entrar no clima da Copa ao se deparar com tudo isso.
COPAITAQUERA-07-IE-2324.jpg EM OBRAS
Novo viaduto e nova passarela construídos para melhorar
o fluxo de carros e de pessoas no entorno do estádio
Por mais que Itaquera tenha se transformado nos últimos anos, ela é, afinal de contas, um bairro periférico da maior cidade do País. A fotografia que aparece na primeira página desta reportagem foi tirada no Campo do Negritude, onde funciona a Escola de Futebol Cohab 1. Rodeado por prédios, o terrão fica atrás da Arena Corinthians, a não mais de um quilômetro de distância. É um lugar modesto, cheio de buracos e com vira-latas passeando enquanto os moleques jogam bola. Ali dá para ouvir o som da torcida gritando no estádio bilionário. “Um dia vou jogar no Itaquerão”, diz Pablo Everton Souza Santos, o garoto de meião azul que aparece na foto. Por enquanto, o que separa Pablo do Itaquerão são alguns poucos prédios da Cohab.
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Fotos: João Castellano/Ag. Istoé; Edson Lopes Jr/A2 FOTOGRAFIA, Alex silva/Estadão Conteúdo; Friedemann Vogel/FIFA

Novo presidente da Ucrânia diz que Crimeia 'foi, é e será ucraniana'


Magnata Petro Poroshenko tomou posse neste sábado (7).
Ele anunciou que irá ao leste pró-russo em breve.



Da EFE


O novo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, mostra sua credencial presidencial após sua posse neste sábado (7) (Foto: Presidential Press-Service /Anastasiya Syrotkyna /AFP)O novo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, mostra sua credencial presidencial após sua posse neste sábado (7) (Foto: Presidential Press-Service /Anastasiya Syrotkyna /AFP)
O novo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, foi empossado no parlamento (Rada Suprema) neste sábado (7). Ao assumir o país, ele disse que a península da Crimeia, anexada pela Rússia em março passado, "foi, é e será ucraniana".
"A Rússia ocupou a Crimeia, que foi, é e será ucraniana. E isto o disse aos dirigentes russos na Normandia. A Crimeia é e será ucraniana. Ponto final", afirmou durante Poroshenko durante seu discurso de posse.
O novo presidente anunciou viajará ao leste pró-russo em breve, mas rejeitou o diálogo com os líderes insurgentes e defendeu a integridade territorial do país.
"Quero a paz e alcançarei a unidade da Ucrânia. Por isso começo minha gestão com uma proposta de plano de paz", disse Poroshenko durante seu discurso de posse.
Poroshenko também prometeu uma ampla anistia aos milicianos pró-russos que deponham as armas e não tenham cometido delitos de sangue, e se mostrou disposto a convocar eleições locais nas regiões rebeldes de Donetsk e Lugansk.
O novo presidente da Ucrânia, o magnata Petro Poroshenko. (Foto: Valentyn Ogirenko / Reuters)O novo presidente da Ucrânia, o magnata Petro Poroshenko. (Foto: Valentyn Ogirenko / Reuters)
"Com um projeto de descentralização do poder, com a garantia do uso da língua russa em suas regiões. Com a firme intenção de não dividir os ucranianos em bons e maus. Com respeito às particularidades das regiões", disse.
"Isso sim, hoje necessitamos de um parceiro legítimo para o diálogo", destacou, antecipando que convocará eleições municipais nas regiões rebeldes do leste russófono.
"Não vamos falar com os bandidos", acrescentou, em alusão aos dirigentes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, que proclamaram no dia 12 de maio sua independência após referendos separatistas.
Poroshenko também afirmou que convocará eleições parlamentares antecipadas, mas insistiu que o único idioma estatal é o ucraniano e descartou a federalização do país, como pedem os insurgentes e o Kremlin.
"Os sonhos de federalização não têm fundamento na Ucrânia. Os conselhos locais receberão novas faculdades, mas a Ucrânia foi e será um Estado unitário", assinalou.
Crise com a Rússia
O magnata Petro Poroshenko é o quinto presidente na história deste país, está substituindo o cargo de Viktor Yanukovich, que se exilou na Rússia após ser deposto durante os violentos distúrbios de fevereiro passado em Kiev.

A posse do novo chefe de Estado ucraniano aconteceu depois do primeiro contato, na sexta-feira (6), entre Poroshenko e o presidente russo, Vladimir Putin, nos atos do 70º aniversário do desembarque de Normandia.
Durante o breve encontro em terras francesas, Poroshenko acertou com Putin que um emissário russo viajará este domingo (8) a Kiev para abordar os primeiros passos para a regra do conflito no leste da Ucrânia.
Ambos os líderes defenderam pôr fim aos combates no leste da Ucrânia entre forças governamentais e os rebeldes pró-russos.
Por outro lado, o líder ucraniano expressou sua confiança em receber o reconhecimento russo dos resultados do pleito presidencial do dia 25 de maio passado, nos quais Poroshenko ganhou no primeiro turno.
Em sua posse neste sábado, o novo chefe de Estado ressaltou que "os cidadãos da Ucrânia não viverão em paz e segurança até que normalizemos as relações com a Federação Russa".
Ao mesmo tempo, denunciou que a "Rússia ocupou a Crimeia", em alusão à anexação da península por Moscou promulgada no dia 21 de março pelo presidente russo, Vladimir Putin.
"A Rússia ocupou a Crimeia, que foi, é e será ucraniana. E isto disse ontem aos dirigentes russos na Normandia nos festejos pelo 70º aniversário: A Crimeia é e será ucraniana. Ponto final", assegurou.
O novo presidente assegurou que Kiev deve assinar em breve um Acordo de Associação com a União Europeia (UE), cujo rejeição foi o estopim dos protestos que desembocaram em fevereiro na derrocada de Yanukovich.
Poroshenko ressaltou que esse acordo será o primeiro passo para o futuro ingresso da Ucrânia na UE durante um discurso de posse em presença do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.

Copa das Copas: O MUNDO NO BRASIL

O mundo no Brasil

Estrangeiros que adotaram o Brasil como casa ajudam a contar um pouco da história desta Copa. São representantes das 32 seleções (além do Brasil) que moram em uma das 12 cidades sede


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Rio de Janeiro
Conhecida no mundo por monumentos como o Cristo Redentor e belezas naturais como o morro do Pão de Açúcar, o Rio de Janeiro entrará para a história do futebol como uma das raras cidades a sediar duas finais da Copa do Mundo (a outra é a Cidade do México). Principal porta de entrada de turistas no Brasil, o Rio também é famoso por realizar festas grandiosas, como o Carnaval e o Réveillon, e por sua hospitalidade
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Cuiabá
Conhecida como “cidade verde”, a capital do Estado de Mato Grosso receberá quatro partidas na primeira fase do Mundial
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São Paulo
Na maior cidade do País será dado o primeiro chute da Copa 2014. A Arena Corinthians deve receber cerca de 60 mil torcedores no jogo de abertura, disputado entre Brasil e Croácia. Como toda metrópole, tem vários programas para entreter os visitantes entre as partidas. Mas também tem protestos e manifestações, muitos deles contrários ao próprio evento
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Salvador
Uma das principais cidades turísticas do Brasil, a capital da Bahia sediará o melhor embate da primeira fase: Espanha e Holanda
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Belo horizonte
A cidade com maior número de bares por habitante (1 para 170) é famosa também por sua hospitalidade e culinária
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Recife
A capital do frevo também é conhecida como a Veneza Brasileira, por causa dos rios que a dividem. Com forte vocação turística, é um polo cultural dinâmico
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Porto alegre
O sotaque peculiar do porto-alegrense é uma das características que fazem o torcedor saber bem onde está. Afinal, dificilmente vai ouvir em outra cidade-sede uma frase como “mas bá, guria!”. Também são típicos da capital gaúcha o churrasco, o chimarrão e as baixas temperaturas durante o inverno
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Fortaleza
Fortaleza foi eleita pelo “The New York Times” a cidade com a noite de segunda-feira mais agitada do mundo. Nos arredores da capital, destacam-se as praias paradisíacas
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Natal
Conhecida por suas belezas naturais e por ser uma das cidades mais procuradas pelos turistas, a capital potiguar sediará quatro partidas na primeira fase do Mundial
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Brasília
O centro político do País, famoso pela arquitetura assinada por Oscar Niemeyer, será palco do terceiro jogo do Brasil na primeira fase
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Curitiba
A capital paranaense se destaca pela diversidade de culturas. Com invernos rigorosos, é repleta de áreas verdes, muitas vezes cobertas por araucárias, árvore típica da região
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Manaus
A cidade que irá abrigar jogos importantes na primeira fase promete compensar a falta de tradição no esporte com os encantos da Floresta Amazônica
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Fotos: Felipe Varanda, Adriano Machado - Ag. Istoé, Chico Lelis, João Castellano, EDSON RUIZ - Ag. Istoé, MARCUS DESIMONI/NITRO; Rafael L. G. Motta, Leo Caldas, Humberto Nicoline - Ag. Istoé, LUCAS UEBEL/Ag. Istoé; Marcos Nagelstein/JC; Jarbas Oliveira/Ag. Istoé, Tiago Lima, Pablo Pinheiro, Adriano Machado - Ag. Istoé, Guilherme Pupo, Rafael Danielewicz, Alberto Cesar Araujo - Ag. Istoé

Copa das Copas: Invasão estrangeira

Mais de 800 mil fanáticos por futebol já começaram a chegar ao Brasil para embalar a Copa do Mundo. Quem são eles, como se prepararam e o que farão durante a maior competição esportiva do planeta

Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) e Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)

Quando começa uma Copa do Mundo? A resposta óbvia, e correta, é no momento em que abre oficialmente a festa de abertura e, em seguida, a bola rola, com o jogo inaugural, tradicionalmente capitaneado pelo país anfitrião. Mas um Mundial de futebol se inicia bem antes disso. Quando chegam os atores da competição, as seleções e as torcidas dos países envolvidos na disputa, que colorem e transformam a atmosfera das cidades-sede com sua vibração. Ainda há poucos times no País – até a sexta-feira 6, haviam chegado oito delegações –, mas, se depender dos estrangeiros que já estão aqui e daqueles que chegam nas próximas semanas, a Copa do Brasil, que se inicia protocolarmente no dia 12 de junho, às 17h, com Brasil e Croácia, na Arena São Paulo, já está a todo vapor. “Turistas de 186 países vêm nos visitar e serão 30 bilhões de espectadores em todos os jogos, no mundo todo”, diz o ministro do Turismo Vinícius Lage. Segundo a Fifa, foram vendidos pouco mais de 2,9 milhões de ingressos, 40% deles para torcedores de fora. Levantamento recente do Ministério dos Esportes revela que serão mais de 800 mil pessoas vindas do exterior durante a competição. “Sendo que meio milhão virá pela primeira vez ao Brasil por conta da Copa do Mundo. Isso alavanca a economia nacional”, afirma o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes. A expectativa é que gastem cerca de R$ 2,5 bilhões por aqui.
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Quarta-feira 4: torcedores de nacionalidades diferentes que já
chegaram do Exterior para o Mundial se confraternizam
na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro
O fato de ser a primeira Copa realizada no continente americano no século 21 colaborou também para uma grande procura. Os sul-americanos, por exemplo, se valem da proximidade para assistir ao Mundial, da maneira que for possível. No Chile, uma caravana gigantesca foi organizada para partir de Santiago, cruzar a Cordilheira dos Andes e estacionar em Cuiabá, onde a seleção realiza sua primeira partida contra a Austrália, na sexta-feira 13. Serão entre 800 e 3200 carros dirigindo em comboio por cinco dias, percorrendo 800 quilômetros diários. “Fazemos de tudo para ver o Chile ser campeão. Somos uma torcida apaixonada e aventureira”, diz Alberto Schmidt, chefe de operações do grupo. São esperados até 70 mil chilenos no Brasil durante a competição, quatro mil vindos somente do grupo de Schmidt.
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Igualmente apaixonada, a torcida alemã desembarcará em peso por aqui. Segundo o Consulado da Alemanha no Rio de Janeiro, são esperados, pelo menos, 20 mil alemães no país para participar do Mundial. Recente levantamento do site de pesquisas de passagens aéreas Skyscanner confirma o dado. Os alemães ocupam o terceiro lugar do ranking dos países que mais enviarão torcidas para cá, perdendo apenas para os norte-americanos e os argentinos. “A torcida alemã é a mais simpática e feliz. O torcedor grita e cria expressões para se referir aos jogadores da equipe adversária”, afirma Harald Klein, o cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro. O web-designer alemão Sami Jaafar, de 28 anos, economizou durante dois anos para ver a Copa. No dia 7 de julho, ele desembarca no Rio de Janeiro sonhando com uma final entre o Brasil e a Alemanha. Sami não comprou ingresso para ir ao Maracanã, porque achou o preço “um absurdo”. Mas também porque prefere sentir o clima das ruas. Ele pretende quer assistir aos jogos em telões ao ar livre, de preferência, na Praia de Copacabana, tomando caipirinha e vendo mulheres bonitas. Ele não teme nem os protestos, nem a criminalidade: “Em 2006, a mídia internacional também disse que a Copa na Alemanha seria perigosa por causa dos hoolligans e dos neo-nazistas. Mas o clima não poderia ter sido melhor”. Sami vai viajar com um amigo – o único que não se assustou com os preços. Os dois vão ficar hospedados em Copacabana, a cinco minutos da praia, num apartamento alugado através de uma agência de viagens berlinense.
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Com pouca tradição futebolística, os americanos surpreenderam já na compra de ingressos. Foram 196.838 entradas vendidas para eles, segundo a Fifa, perdendo apenas para o Brasil. “Estou certa de que vocês verão milhares de americanos se produzindo com todos os tipos de fantasias e roupas típicas”, afirma Liliana Ayalde, a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. A esperança dela se confirma no grupo de Kimberly Kallansrude, 20 anos. Ela e outros quinze amigos vieram ao país para fazer um intercâmbio e resolveram esticar a estadia para aproveitar a Copa do Mundo. Para fugir dos preços altos, se hospedaram no Albergue Bonita, em Ipanema, zona sul do Rio. “Vamos assistir só ao início da Copa, mas estamos muito empolgados.” Conhecida por sua neutralidade em assuntos políticos, a Suíça terá 6 mil torcedores por aqui. “A torcida suíça é um pouco como o time, cheia de potencial, mas nem sempre ciente das suas capacidades. É como uma pessoa tímida, que só se revela de verdade quando está à vontade”, diz o suíço Claudio Baumann, que mora no País há dois anos e já recepciona vinte conterrâneos para o Mundial.  A gelada Rússia também fará parte da festa. Com QG da torcida montado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o torcedor que não conseguir entrar no Maracanã no domingo 22 para assistir a partida contra a Bélgica não ficará sem lugar para brindar. O russo Euan Kay, 24 anos, ainda tem esperança em conseguir sua entrada. “Eu não poderia perder uma Copa no Brasil. A melhor parte do futebol é que ele une as diferenças entre os povos.”
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Essa pluralidade é apontada justamente como a chave do sucesso do Mundial. “O Mundial é aquele momento em que fingimos assistir a um duelo de nações, que será resolvido no campo esportivo”, afirma o sociólogo Ronaldo Helal, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Diferenças à parte, o historiador e pesquisador André Couto aponta algumas semelhanças entre os grupos de torcedores. “Os latinos costumam ser mais apaixonados, festivos e coloridos. Os ingleses são eufóricos, apesar de causar preocupação com a violência dos hooligans. Os portugueses são frios, mas pode ser que o bom momento do Cristiano Ronaldo mude essa percepção. E a Holanda costuma ter as mulheres mais bonitas.”
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Rahima Ayla Dirkse, 20 anos, é uma ilustre representante da beleza holandesa. Há quatro anos, enquanto Wesley Sneijder marcava o segundo gol da vitória da Holanda contra o Brasil na Copa do Mundo da África do Sul, seu avião pousava em Salvador. Foi só colocar o pé fora do aeroporto Luís Eduardo Magalhães para perceber uma cidade calada. Foi nesse momento que ela se deu conta: o País do futebol tinha sido eliminado justamente pela sua seleção. “Era um baixo astral, todo mundo chorando. Futebol não tem essa mesma força onde eu moro”, diz. Ela queria ver a festa na cidade – um dos principais motivos de sua segunda visita ao Brasil. “Foi naquele dia que decidi que voltaria para a Copa do Brasil”, afirma a estudante de Farmácia, de 20 anos, que hoje mora em Groningen, cidade universitária localizada ao norte da Holanda. Dito e feito. Rahima convenceu seus pais e os três voltam a Salvador. A família Dirkse vai desembarcar mais uma vez na Bahia, estado onde seu país faz o primeiro jogo, contra a Espanha, na sexta-feira 13. O trio, que só chega ao Brasil no dia 5 de julho e ainda não possui ingressos, tem esperanças de ver os jogos do time laranja nas fases eliminatórias.
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Uma coisa é certa: os holandeses esperam transformar o Brasil em uma grande nação laranja. Em São Paulo, eles preparam uma grande caravana para o jogo do dia 23, contra o Chile. Cerca de 500 holandeses que estão acampados num clube na zona sul paulistana acompanharão, a partir das 8h, a “Oranje March” - percurso tradicionalmente feito por um ônibus laranja de dois andares cercado por uma multidão que segue a seleção do País durante os campeonatos internacionais. Na primeira parte do trajeto, caminharão ao lado do veículo do local onde estão as barracas até o metrô mais próximo. Do fim da linha até o estádio, voltarão a se juntar ao coletivo até um terreno perto da Arena São Paulo, onde festejarão até o início do jogo, às 13h. “No resto do ano somos normais, mas durante os jogos viramos loucos. Vestimos roupas cor de laranja e fazemos maluquices ao som dos nossos gritos de guerra”, diz a acampante holandesa Dorinda Hovenga.
Com o Papa Francisco ao seu favor, e o melhor ataque da competição – Messi, Di Maria, Aguero e Higuaín –, a passional argentina está confiante. Na base do GPS, uns poucos contatos e alguma sede de aventura, um trio de jovens portenhos sairá de Buenos Aires de carro nesta semana e chegará antes de a bola começar a rolar.“Vamos parando em casas de amigos e hostels. Levamos até barraca para acampar”, diz o programador David Sadrinas. Os três amigos têm certeza de que essa é a Copa deles. “A próxima é na Rússia, a seguinte no Catar, tudo muito longe”, afirma o analista de crédito Santiago Pascale. Eles mostram, satisfeitos, os ingressos adquiridos em sites como eBay e Mercado Livre. Apesar de a revenda ser proibida, não se intimidaram em gastar até US$ 500 dólares em cada entrada. Sonhar é grátis, mas, ir à Copa, definitivamente não. “Estourei todos os cartões de crédito. Para voltar, a cada parada pedirei um depósito na conta aos pais”, diz o analista Francisco Mora.
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Se há torcedores que viajam na base do improviso, outros são extremamente meticulosos. Como o inglês James Connaughton, de 25 anos, que começou a guardar dinheiro e fazer os planos para a viagem em 2007, quando soube que o Brasil receberia a Copa de 2014. Mesmo sem saber se a Inglaterra se classificaria, ele estava decidido a realizar um sonho de infância e assistir ao maior torneio do mundo no país que, para ele, é “a casa do futebol”. Pela internet, James estudou as 12 cidades-sede em busca de uma base onde pudesse conciliar os jogos com praias e baladas. Acabou se decidindo por Natal, onde deve passar duas semanas em uma pousada, na companhia de outros cinco amigos. “Vi que Natal é uma cidade pequena, menos caótica, mais segura e com mais chances de ter sol e calor nesta época do ano”, diz, já imaginando os roteiros que programou para os dias sem futebol: passeios de buggy pelas dunas de Genipabu e uma esticada à Praia da Pipa.Na última semana da viagem, passa por Recife e termina no Rio, onde se, tudo sair como o esperado, poderá ver sua Inglaterra disputar uma oitava-de-final em pleno Maracanã. Para aproveitar ao máximo a experiência, matriculou-se num curso particular intensivo de português. A Football Association (FA) e a Federação dos Torcedores de Futebol britânica estimam que cerca de 10 mil ingleses devem viajar ao Brasil. As casas de câmbio britânicas mostram isso – aumentou em 1000% a demanda pela moeda brasileira em Londres. Outro hóspede europeu de Natal é o italiano Davide Bizzoto, 39 anos, que terminou com a namorada, que viria com ele, mas não desistiu do sonho de acompanhar sua seleção no Brasil. “Essa será a melhor copa de todos os tempos”, diz ele, que ficará na Praia do Pipa.
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Na terra dos atuais campeões mundiais, a crise econômica e taxas de desemprego na casa dos 25%, estão fazendo o sonho de ver ao vivo o bicampeonato ser cancelado pela grande maioria dos torcedores espanhóis. A dificuldade até virou mote para o comercial de um dos patrocinadores, que pediu aos espanhois para cortar e enviar ao time “seus corações”, os escudos de suas camisas da seleção. O caro souvenir foi costurado e transformado em uma bandeira que acompanhará os jogadores pelo Brasil. Para alguns poucos, no entanto, as passagens e entradas nos estádios estão garantidos e o uniforme pode continuar intacto. É o caso do jornalista Ángel Rubiano, 29 anos. “Estrear na Copa vendo a seleção jogando no Maracanã é sensacional!”, diz ele, que terá como base a cidade do Rio de Janeiro. Apesar de saber que não vai ser fácil para a Espanha, ele se diz otimista. “Esse time nos deu duas Eurocopas e a última Copa. Não tem como estar pessimista com eles.” Nem todos os espanhóis, no entanto, estão tão esperançosos. “Somos um dos favoritos, mas ganhar vai ser muito difícil porque estamos um pouco abaixo do que éramos em 2010”, diz Miguel Riera Menendez, que chegou sozinho ao Brasil para acompanhar os jogos de seu time no Rio e em Curitiba e ficará hospedado em casas de amigos e em hotéis. O argelino Mohamed Kellala também veio sozinho, apesar de uma caravana do seu País estar trazendo 2,1 mil compatriotas, segundo a embaixada. Além de acompanhar todos os jogos da Argélia na primeira fase, Kellala pretende conhecer outras atrações brasileiras, como as obras do arquiteto Oscar Niemeyer. Primeiro o esporte, depois o turismo. Afinal, nada mais divertido para esses torcedores do que uma partida de futebol. Durante uma Copa. E no Brasil.
Com Cristiane Ramalho, de Berlim (ALE); Janaina Cesar, de Bassano del Grappa (ITA); Lucas Moretti, de Croningen (HOL); Maria Luisa Cavalcanti, de Londres (ING); Rachel Costa, de Madri (ESP); Samuel Rodrigues, de Buenos Aires (ARG) e Paula Rocha
Foto: Felipe Varanda/Ag. Istoé, Lucas Moretti; Nicole Ris; Macarena Dias Bradley; Karime Xavier / Folhapress; Renato Gianturco, Imago/ZUMAPRESS.com); Ana Rojas; Viola Scheurer, João Castellano; Bruno Poppe; Rafael Danielewicz

Dormir depois de estudar ajuda no aprendizado



Sono profundo auxilia na retenção de informações após estudo
Foto: Wania Corredo / Agência O Globo
RIO - Uma boa noite de sono após os estudos ajuda no aprendizado, indica um novo estudo publicado na revista "Science". Pela primeira vez, pesquisadores da Langone Medical Center, em Nova York, mostram que o sono profundo logo depois de estudar incentiva o crescimento de conexões entre as células cerebrais, o que ajuda a reter memórias.
— Sabemos há muito tempo que o sono desempenha um papel importante na aprendizagem e na memória. Se você não dorme bem, você não vai aprender bem — afirmou Wen Biao-Gan, pesquisador de neurociência e fisiologia da NYU — Mas o que é o mecanismo físico subjacente responsável por esse fenômeno? Aqui nós mostramos como o sono ajuda os neurônios a formarem conexões muito específicas em ramos que podem facilitar a memória de longo prazo.
Em nível celular, o sono nunca é tranquilo. Células do cérebro soltam faíscas de informações constantemente durante a vigília. Cientistas acreditam que essa ação ajuda a formar novas memórias e a fortalecer informações que podem não ter sido compreendidas anteriormente.
Para entender como este mecanismo funciona, os pesquisadores ensinaram ratos a se equilibrarem em uma vara de fiação e acompanharam as células antes e depois do aprendizado. Com o tempo, os ratos aprenderam a se equilibrar na haste que gradualmente passou a girar mais rápido.
— É como aprender a andar de bicicleta. Uma vez que você aprende, você nunca esquece — afirma Gan.
Depois de acompanhar as mudanças cerebrais com o aprendizado, a pesquisa passou a investigar o impacto do sono nos resultados. Eles treinaram dois grupos de ratos: um formado por ratos que ficavam na haste girando por uma hora e que, em seguida, dormiam durante sete horas e outro que treinou o mesmo período mas ficou acordado nas sete horas seguintes.
— Imagine uma árvore onde crescem folhas em um ramo mas não em outro. Quando aprendemos algo novo é como se estivesse brotando folhas em um ramo específico.
Os pesquisadores concluíram que uma parte do cérebro é ativada quando o camundongo aprende uma tarefa e entra em um sono profundo. Perturbar este processo impede o desenvolvimento destes neurônios.
— Nossos dados sugerem que a reativação neuronal durante o sono é muito importante para o crescimento de conexões específicas dentro do córtex motor — afirma Dr. Gan