Doença Bipolar
Compreendê-la
Este guia foi elaborado
no sentido de o ajudar a compreender como o tratamento com Valproato,
com o nome comercial Depakine crono e Diplexil, pode ajudá-lo a viver
mais facilmente com a Doença Bipolar.
À medida que for lendo, vai poder compreender os diferentes tipos e
sintomas. Compreenderá que o Valproato ajudou várias pessoas, incluindo
aquelas que não tiveram sucesso com outros tratamentos. Irá descobrir o
que esperar do tratamento com valproato, como este actua isoladamente e
em conjunção com outros tratamentos, bem como quando pedir ajuda ao
seu médico.
Através deste guia poderá aprender como ajudar-se a si próprio. Na
parte de trás encontrará informações básicas, um mapa para registar o
humor e uma lista de recursos que lhe possibilitam adquirir um maior
conhecimento sobre a Doença Bipolar.
O que é a Doença Bipolar?
A Perturbação Depressiva
recorrente (conhecida como Doença Unipolar) e a Perturbação
Maníaco-Depressiva (agora conhecida como Doença Bipolar) são doenças da
regulação do humor no sistema nervoso central. Estas duas perturbações
do humor afectam uma percentagem alta de pessoas, que corresponde a
cerca de 10% da população.
Na Doença Bipolar, o humor oscila entre períodos de mania (humor
“elevado”, ou euforia), podendo persistir semanas ou meses, e períodos
de humor extremamente “baixo”, ou depressão.
Quem é afectado pela Doença Bipolar?
A doença afecta pessoas
de todas as idades, raças, grupos étnicos e classes sociais. Muitas
pessoas com Doença Bipolar estão estabilizadas. Algumas foram
galardoadas com Óscares, outras produziram obras-primas literárias e
artísticas, ou lideraram os seus países em tempo de guerra.
As mulheres são duas vezes mais vulneráveis a sofrer de Depressão,
porém a Doença Bipolar afecta na mesma proporção homens e mulheres.
Através da observação de pessoas que sofrem de Doença Bipolar
constatou-se que aproximadamente 60% relata a presença de sintomas de
bipolaridade antes ou durante a adolescência. Em média, o diagnóstico
correcto surge 8 anos após terem sido acompanhados por mais de 3
médicos diferentes.
Qual a causa?
A causa directa da
Doença Bipolar não é inteiramente clara, contudo os factores genéticos,
bioquímicos e ambientais desempenham, cada um deles, um papel
importante. Verificou-se a presença da Doença Bipolar em vários
familiares. Os sintomas podem ser despoletados pelo stress,
acontecimentos de vida (por exemplo, morte de ente querido ou
divórcio), dificuldades emocionais ou abuso de álcool, juntamente com
consumo de drogas ilícitas. Todavia, estes podem aparecer
espontaneamente, sem a existência de uma causa específica.
Sintomas da Doença Bipolar
Mania
- Sentimentos de excitação, euforia
- Pensamentos rápidos
- Diminuição da necessidade de dormir
- Discurso acelerado
- Diminuição do tempo gasto para comer
- Retirar prazer do excesso, como sexo e gastos excessivos
- Distracção
- Irritabilidade, impaciência
- Excessiva autoconfiança
- Juizos errados, decisões impulsivas
Depressão
- Sentimentos de tristeza e vazio
- Preocupação excessiva
- Alterações do sono
- Diminuição da capacidade de sentir prazer
- Alterações do apetite
- Diminuição do interesse por Atividades habituais, incluindo o desejo sexual
- Dificuldades de concentração e memória
- Indecisão
- Sentimentos de inutilidade e culpa inapropriada
- Ideias de suicídio
Como distinguir a Doença Bipolar das alterações normais do humor?
As oscilações de humor
na Doença Bipolar são extremas – desde a euforia ou energia excessiva
até ao mais profundo desespero e apatia. Tal torna a vida caótica,
incontrolável e interfere com o quotidiano. Podem verificar-se
oscilações diárias, semanais e padrões sazonais. Há pessoas que podem
ter vários episódios de mania e depressão num único ano, ao passo que
outras podem passar anos sem terem um novo episódio.
Existem diferentes tipos de Doença Bipolar?
Sim, e são determinadas
consoante os diferentes padrões de sintomas. A “mania” envolve um
período de euforia seguido de um período de depressão. Os Ciclos Rápidos
verificam-se quando ocorrem quatro ou mais ciclos de humor (quer de
“mania” como de depressão) por ano. As Crises Mistas, simultaneamente
hiperAtividade e ideias depressivas, implica que estes ciclos ocorram
diariamente durante pelo menos uma semana. A Hipomania envolve euforia,
irritabilidade, aumento da Atividade menos intenso do que se verifica
na mania. A Perturbação Ciclotímica é um padrão menos extremo de
alternância entre vários episódios depressivos e de hipomania, durante
um período de 2 ou mais anos, sem que se tenha verificado Depressão
Major ou um episódio maníaco. Tanto a hipomania como a perturbação
ciclotímica podem progredir no sentido da Doença Bipolar se não forem
tratadas.
Como é que se sabe que o Valproato é eficaz?
O valproato foi
considerado, num estudo realizado com o maior grupo de controlo clínico
de doentes bipolar até à data, seguro e eficaz no tratamento da
“mania”, crises mistas e ciclos rápidos. Ficou igualmente provado, que o
valproato é seguro e eficaz no tratamento da epilepsia.
Se o Lítio não resultar deverá tentar-se o valproato?
O tratamento com Lítio
pode não resultar. Aproximadamente 20% a 40% dos doentes podem não
responder ao Lítio ou não serem capazes de tolerar os seus efeitos
secundários. O Lítio é eficaz no tratamento da “mania” típica, porém
pessoas com outros tipos de episódios maníacos nem sempre têm os mesmos
resultados. Se não obteve sucesso com o Lítio pode questionar o seu
médico acerca do valproato, pois está provada a sua eficácia para todos
os tipos de Doença Bipolar e em doentes que não respondem
favoravelmente ao Lítio.
Quantas vezes por dia irei ter de tomar valproato?
A maioria dos doentes
toma inicialmente valproato três vezes por dia, após estabilizarem
tomam duas vezes por dia ou apenas ao deitar. O médico tomará a decisão,
baseada na sua condição individual, de qual será o tratamento mais
benéfico para si. Este terá em consideração factores como: a sua
história clínica, medicamentos, dieta e Atividade, incluindo a sua
ocupação profissional.
Será que o valproato resulta no meu caso?
Poderá sentir os efeitos
de valproato de imediato ou notar uma melhoria gradual. O valproato
actua entre 3 a 4 dias após o início do tratamento da mania, enquanto o
Lítio demora uma semana ou mais a actuar.
Durante quanto tempo devo tomar valproato?
Deverá tomar valproato
pelo tempo que o seu médico determinar. A Doença Bipolar é uma doença
para toda a vida, sendo recomendado a continuidade irrevogável do
tratamento. Assim que o seu humor estabilize, poderá sentir-se melhor e
querer abandonar o valproato, tendo grandes probabilidades de voltar a
ter episódios maníacos e/ou depressivos. O objectivo consiste em
atingir e conservar os níveis eficazes de valproato no sangue. É por
isso que é importante tomar correctamente a medicação prescrita.
Já estou a tomar a medicação para a Euforia e/ou Depressão. Posso também tomar valproato?
Sim. É muito comum às
pessoas com Doença Bipolar ter de tomar mais do que uma medicação. As
combinações, em politerapia, incluem Lítio (Priadel), Valproato
(Depakine), Carbamazepina (Tegretol), Lamotrigina (Lamictal),
Olanzapina (Zyprexa/Diplexil), Quetiapina (Seroquel, Alzen),
Risperidona (Risperdal), Topiramato (Topamax), Gabapentina (Neurotin),
etc.
O que deverá saber sobre Valproato
O
Valproato, também conhecido como
Ácido Valpróico, é um dos antiepilépticos de eleição tanto nas
crises generalizadas, como nas
crises focais ou nas
crises secundariamente generalizadas. Tal como a
fenitoína e a
carbamazepina, o
valproato
bloqueia as descargas repetidas e prolongadas dos neurónios, que estão
por trás de uma crise epiléptica. Estes efeitos devem-se, em doses
terapêuticas, à diminuição da condutância dos
canais de sódio voltagem-dependentes.
Relativamente aos seus efeitos secundários, os agudos incluem náuses,
vómitos, dor abdominal, aumento de peso e alopécia. Em termos de
toxicidade idiossincrática, há que considerar a
hepatotoxicidade e a
trombocitopénia.
Haverá riscos de interacção entre valproato e outros produtos farmacológicos?
Sim. Cada um dos médicos
que o acompanha e o seu farmacêutico deverão ter conhecimento de todos
os medicamentos que está a tomar de modo a protege-lo de interacções
medicamentosas. Lembre-se de os informar das alterações nas prescrições e
medicamentos que compra com e sem prescrição. Deverá ter conhecimento
que varfine, um anticoagulante, não deverá ser usado com Valproato,
pois o risco de hemorragia é elevado, especialmente em caso de
cirurgia ou tratamento dentário.
É preciso fazer análises sanguíneas?
O seu médico poderá,
provavelmente, querer que faça análises antes de iniciar o tratamento
com Valproato e periodicamente durante o tratamento. Estas análises são
uma forma de controlar os níveis de Valproato no sangue e outras
características sanguíneas.
O Valproato tem efeitos secundários?
Poderá sentir efeitos secundários quando iniciar o tratamento com
Valproato, mas estes são, geralmente, moderados e de curta ou média
duração. Verificou-se, nos testes clínicos, que poucos pacientes
tiveram de interromper o tratamento com Valproato devido aos seus
efeitos secundários e que as pessoas que estão a tomar Valproato tendem
a considera-lo mais tolerável do que o lítio.
Quais são os efeitos secundários que se verificam mais?
Os efeitos secundários de Valproato que se verificam mais são: náusea, sonolência, tonturas e erupção cutânea.
Existem outros efeitos secundários que deva ter conhecimento?
Alguns doentes que tomam Valproato experimentam aumento de peso ou queda de cabelo.
As alterações de peso, nomeadamente o aumento de peso, acontecem
porque o Valproato pode aumentar o apetite. Para evitar o aumento de
peso, deve ter precauções com o que ingere. Poderá solicitar ao seu
médico a recomendação de dietéctica que o ajudem a manter o peso
desejável.
Alguns doentes que tomam o Valproato podem experimentar perda da
vitalidade capilar e possivelmente perda de cabelo. Não é uma situação
permanente. Está demonstrado que as vitaminas contendo selénio e zinco
(Selenium ACE) podem ajudar a minimizar a ocorrência destes efeitos.
O Valproato pode afectar o fígado?
Tal como a maioria dos
compostos químicos, o valproato pode afectar a função hepática. Em
alguns doentes foi detectada hepatoxidade. O seu médico está apto a
reconhecer facilmente os indivíduos com maior risco, particularmente
crianças muito pequenas que tomam mais do que um antiepiléptico ou
pessoas com atraso mental grave.
Caso se verifique algum
problema, este ocorre nos primeiros 6 meses após o início do tratamento
com Valproato. O seu médico poderá querer, durante este período,
avaliar a sua função hepática através de análises sanguíneas.
Tanto você como o seu médico devem estar atentos aos efeitos
secundários que podem indiciar problemas hepáticos. Estes incluem
náusea, vómitos, fadiga, cansaço ou fraqueza invulgares, edema
(inchaço), icterícia (pele e olhos amarelos) e facilidade em ter
equimoses.
Existem efeitos secundários relativamente aos quais deve ser contactado imediatamente o médico?
Sim. Caso você ou a
sua família os detecte precocemente pode evitar uma situação
potencialmente grave. Contacte o seu médico imediatamente se tiver
alguns dos seguintes sintomas: febre, cansaço ou fraqueza intensa,
hemorragias e equimoses invulgares, urina escura ou fezes claras, olhos
e pele amarelada, dores abdominais intensas, erupção cutânea ou
urticária, estado confusional, visão dupla, mal-estar extremo ou
comportamento anormal. Os sinais de sobre-dosagem de Depakine
(Valproato) incluem vertigens, sonolência excessiva, tremor intenso;
respiração irregular, lenta ou superficial; ou coma. Se tiver estes
sintomas deve contactar-se o médico imediatamente.
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Pode tomar-se Valproato durante a gravidez?
O médico deve tomar
conhecimento da probabilidade de estar grávida, bem como do seu desejo
em querer engravidar, de modo a decidir se o Valproato é um tratamento
indicado para si nesse período. Sabe-se que este farmaco pode produzir
alterações no desenvolvimento embrionário, sendo essencial uma cuidada
ponderação de benefícios e riscos, além de um cuidado no seguimento da
gravidez.
O Valproato causa dependência?
Não. O Valproato não é aditivo.
Doença Bipolar
Como é que poderá contribuir pessoalmente para o seu tratamento
Seja o parceiro do seu
médico. Mantenha-se em contacto com o médico para que este tenha
conhecimento de como se está a sentir e de como a medicação está a
actuar.
Lembre-se de tomar a
medicação diariamente como foi prescrita. Forneça a informação ao seu
médico relativamente a toda a terapêutica medicamentosa que está a
tomar. Entre, antecipadamente, em contacto com este sempre que tiver
necessidade de acrescentar outra medicação.
Em caso de tratamento dentário, cirúrgico ou se tiver necessidade de
ir às urgências informe o seu médico ou dentista de que está a tomar
Valproato.
Obtenha apoio social.
Fale com as pessoas em quem confia sobre a sua situação de modo a que
elas saibam como o ajudar. Poderá participar nas valências instituídas
na área da Reabilitação Psicossocial. Contacte a Associação de Apoio a
Doentes Depressivos e Bipolares – ADEB, cujo contacto se encontra no
verso, de modo a integrar um Grupo de Auto-Ajuda.
Tenha cuidados consigo. Para se manter estável necessita de dormir o
suficiente, ingerir refeições nutritivas, reduzir o stress e fazer
exercício. Precisa de se manter afastado de drogas usadas com fins
recreativos e do álcool.
Se tiver ideação suicída
contacte o seu médico, procure o apoio das pessoas e peça ajuda. Não
deixe que a depressão o vença. As ideias de suicídio são temporárias.
Adquira o máximo de conhecimentos possíveis sobre a Doença Bipolar.
Quanto mais souber, mais poder e controlo tem sobre a sua vida mas não
queira saber mais que o seu médico nem tente substituí-lo por si
próprio.
Aprenda a separar o seu
verdadeiro Eu da Doença Bipolar, e dê a si próprio crédito quando este é
justo. A doença não o define. Você tem capacidade de controlar a sua
doença e administrar cuidadosamente o tratamento que recebe dos
técnicos de saúde.
Conheça os seus estados de humor
Umas das formas de gerir a Doença Bipolar é conhecer e registar diariamente o humor.
As crises podem durar dias, meses ou mesmo anos. Em média, sem
tratamento, as fases de mania e hipomania (euforia leve) duram poucos
meses, enquanto as depressões arrastam-se muitas vezes por mais de seis
meses. Há designações especiais para cada forma de evolução da Doença
Bipolar:
Bipolar I
A pessoa sofre
crises de mania ou crises mistas (sintomas de depressão e mania
misturados) e, quase sempre, também tem fases depressivas. As crises
voltam a repetir-se excepto se fizer o tratamento preventivo.
Bipolar II
A pessoa tem crises depressivas
graves e fases leves de elevação do humor (hipomania). As crises de
elevação do humor podem não ser identificadas ou referidas porque o
doente se sente “acima do normal” com muita energia e alegria, sem
perturbações óbvias. Se o tratamento for só para a depressão, com uma
medicação exclusivamente com antidepressivos, não se verifica uma
estabilização, podendo surgir crises frequentes e uma viragem do humor.
Ciclos Rápidos
A pessoa tem pelo menos quatro
crises por ano, em qualquer combinação de fases de mania, hipomania,
mistas e depressivas. Corresponde a uma evolução que atinge entre 5 e
15% dos doentes com Doença Bipolar. Pode, em alguns casos, resultar de
uma terapêutica demasiado intensiva e prolongada com antidepressivos,
em vez da adequada terapêutica de estabilização do humor.
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Para fazer um registo do humor necessita de um diário para tomar notas o qual poderá obter na ADEB.
Durante o dia anote a hora e as alterações de humor. No final do dia,
use a escala para avaliar o humor durante a totalidade do dia.
Após 14 dias, poderá
observar a constância de um padrão. Continue a registar o humor durante
as várias estações. Leve o gráfico do humor quando tiver consulta com o
médico e juntos podem actuar no sentido de rentabilizar o seu plano de
tratamento.