Agenda cheia, reprovação dos pais,
conflitos na escola. Pesquisas na área de neurociência e comportamento
mostram como a exposição a fatores estressantes compromete o
desenvolvimento das crianças e o que fazer para evitar danos futuros
Rachel Costa
Natação, inglês, equitação, tênis, futebol. É cada vez mais comum
encontrar crianças que mal saíram da pré-escola e já cumprem agendas de
“miniexecutivo”, com compromissos que se estendem ao longo do dia. A
intenção dos pais ao submeter os filhos a essas rotinas é torná-los
adultos superpreparados para o competitivo mundo moderno. O preço que se
paga por tanto esforço, porém, pode ser alto. Ainda pequenas, essas
crianças passam a apresentar um problema de gente grande, o estresse. “É
uma troca que não vale a pena”, afirma o psicoterapeuta João Figueiró,
um dos fundadores do Instituto Zero a Seis, instituição especializada na
atenção à primeira infância. “Frequentemente essa rotina impõe à
criança um sentimento de incompetência, pois lhe são atribuídas tarefas
para as quais ela não está neurologicamente capacitada.” Como uma
bomba-relógio prestes a explodir, o estresse infantil tem ganhado status
de problema de saúde pública. Nos Estados Unidos, por exemplo, a
Academia Americana de Pediatria publicou, em dezembro, novas diretrizes
para ajudar os médicos a identificar e tratar esse mal. O risco dessa
exposição, alertam os cientistas, são danos que vão bem além da
infância, como a propensão a doenças coronarianas, diabetes, uso de
drogas e depressão.
Dos poucos estudos brasileiros sobre estresse infantil, se destaca um
levantamento realizado pela pesquisadora Ana Maria Rossi, presidente da
International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR). A
pesquisa, feita com 220 crianças entre 7 e 12 anos nas cidades de Porto
Alegre e São Paulo, revelou que oito a cada dez casos em que os pais
buscam ajuda profissional para seus filhos por causa de alterações de
comportamento têm sua origem no estresse. “O estresse é uma reação
natural do nosso corpo, o problema é esse estímulo atingir níveis muitos
altos ou se prolongar por longos períodos”, diz Ana Maria.
Para ajudar pais e profissionais de saúde a identificar quando há risco,
cientistas do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos, propuseram uma divisão: o estresse
positivo, aquele em que há pouca elevação dos hormônios e por pouco
tempo; o tolerável, caracterizado pela reação temporária e que pode ser
contornada quando a criança recebe ajuda; e o tóxico, o que deve ser
combatido, ligado à estimulação prolongada do organismo, sem que a
criança tenha alguém que a ajude a lidar com a situação. “A origem pode
estar em episódios corriqueiros que gerem frustração ou aflição
frequentemente, como brigas na escola ou com familiares, ou em situações
únicas, mas com impacto muito grande, como a morte inesperada de alguém
próximo, abuso sexual ou acidente”, esclarece Christian Kristensen,
coordenador do programa de pós-graduação em psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Quando exposto a
quantidades muito grandes dos hormônios do estresse, o organismo sofre
uma espécie de intoxicação. Cai a imunidade, deixando a pessoa mais
exposta a infecções, há uma interferência nos hormônios do crescimento e
até mesmo o amadurecimento de partes essenciais do cérebro, como o
córtex pré-frontal, é afetado. “Essa região é responsável pelo controle
das funções cognitivas, como a capacidade de moderar a impulsividade e a
tomada de decisões”, explica o neurocientista Antônio Pereira, do
Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
SINAIS
Uma professora alertou Liliana para a dificuldade do filho Rafael em ler os enunciados.
No médico, descobriu-se o porquê: o garoto tem ansiedade e déficit de atenção
Mas o que tem tirado as crianças do eixo tão prematuramente? No
estudo realizado pelo Isma-BR, em primeiro lugar aparecem a crítica e a
desaprovação dos pais, seguidas pelo excesso de atividades, o bullying e
os conflitos familiares. Esse último fator mereceu atenção especial em
uma pesquisa realizada na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.
E o resultado comprovou uma suspeita antiga. “Em nosso estudo
demonstramos que o ambiente estressante está associado à ocorrência mais
frequente de doenças nas crianças”, disse à ISTOÉ a pediatra Mary
Caserta, coordenadora do trabalho, que envolveu 169 crianças entre 5 e
10 anos. Muitas vezes, os pais nem desconfiam que a enfermidade do filho
pode ter raízes no estresse. “Passa tão batido que às vezes a criança é
medicada de modo errado”, diz Marilda Lipp, diretora do Centro
Psicológico de Controle do Stress e professora da PUC-Campinas.
Encontrar reações físicas intensas, mas sem nenhuma doença de fundo não é
mais novidade para os médicos. “Cefaleias e dores abdominais causadas
por estresse são as queixas mais comuns”, diz Ricardo Halpern,
presidente do departamento de comportamento e desenvolvimento da
Sociedade Brasileira de Pediatria.
Outro perfil que se tornou comum nos consultórios é o da criança
estressada pela superproteção dos pais. São os “reizinhos mandões”,
como apelidou a psicopedagoga Edith Rubinstein. “Esses meninos e meninas
têm muita voz dentro de casa e dificuldade de lidar com o esforço”, diz
a especialista. Não deixar a criança aprender a contornar situações
difíceis é extremamente prejudicial. Isso porque uma característica
importante para evitar os quadros de estresse tóxico é justamente a
resiliência – a capacidade de a pessoa se adaptar e sair de situações
adversas. “Quando a criança é sempre tirada pelos pais do apuro, ela não
desenvolve essa habilidade e se torna mais suscetível ao estresse”, diz
a psicanalista infantil Ana Olmos.
Com a evolução científica, o que se tem constatado é que não só no
comportamento as reações ao estresse são distintas. Estudando um grupo
de 210 crianças de 2 anos, pesquisadores da Universidade de Rochester,
nos Estados Unidos, notaram que comportamentos diferentes estão
associados a níveis distintos de cortisol no sangue. Os pequenos
voluntários foram divididos em dois grupos: as “pombas” (crianças
cautelosas e dóceis) ou os “falcões” (atrevidas e assertivas). Enquanto
as “pombas” apresentavam uma elevação abrupta na quantidade de cortisol
circulando na corrente sanguínea quando expostas a situações
estressantes, nos “falcões” a concentração desse hormônio permanecia
praticamente inalterada. E isso trazia consequências diversas para os
dois grupos: “pombas” demonstraram mais chances de desenvolver depressão
e ansiedade. Já os “falcões” estavam mais suscetíveis a comportamentos
de risco, hiperatividade e déficit de atenção. “É importante reconhecer
essas diferenças para intervir”, disse à ISTOÉ Melissa Sturge-Apple,
coautora da pesquisa.
MÉTODO
Edmara de Lima coordena os professores e funcionários da Prima Escola
Montessori para diagnosticar as mudanças emocionais dos alunos
“O estresse é um fator de risco importante para a grande maioria das
doenças mentais”, diz Guilherme Polanczyk, do Instituto de Psiquiatria
da Universidade de São Paulo. “E seu efeito sobre o organismo é bem
maior em sistemas menos maduros, como o das crianças.” Prova disso foram
os dados apresentados por pesquisadores da Universidade de Michigan,
nos Estados Unidos. A exposição à violência, ainda que moderada, foi
capaz de gerar modificações no comportamento em 90% das 160 crianças
entre 4 e 6 anos analisadas no estudo. As principais alterações eram
pesadelos, voltar a fazer xixi na cama e a chupar o dedo. Em um terço
dos pequenos voluntários, a consequência foi mais grave: ocorreram
crises de asma, alergias e déficit de atenção ou hiperatividade. E 20%
deles desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático. “Quanto mais
estresse na infância, maior a chance de se ter alterações físicas e
psicológicas quando adulto”, disse à ISTOÉ Sandra Graham-Bermann, autora
da pesquisa.
Foi após dois eventos estressores que a menina R., 14 anos, desenvolveu o
transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Na mesma semana, em 2009, ela
viu o som do carro da mãe ser roubado e o pai escapar, por pouco, da
tragédia no voo 3054 da TAM (que se chocou contra um hangar do aeroporto
de Congonhas, em São Paulo, matando todos a bordo). Depois dos sustos,
começou a manifestar manias de repetição. “O ritual de repetição me
deixa muito ansiosa e me abate muito”, diz a menina. “Para os pacientes
de TOC, a própria doença é considerada estresse crônico”, avalia o
psiquiatra Eduardo Aliende Perin, membro do Consórcio Brasileiro de
Pesquisa em TOC.
RECOMEÇO
Em Realengo, o desafio é apagar da memória de alunos, funcionários e
pais a experiência negativa de ver estudantes mortos dentro da sala de aula
Estresse e transtornos mentais também vêm juntos quando falta
diagnóstico. Foi o que ocorreu com o psiquiatra Jorge Simeão, 38 anos.
Sem saber o que tinha, ele sofreu durante toda a sua adolescência e
juventude. Muitos o consideravam um rapaz distraído, que não se
preocupava com os outros. Foi preciso se formar na faculdade como médico
psiquiatra para Simeão finalmente descobrir que os traços de
comportamento que o acompanhavam não eram uma falha de caráter, mas uma
alteração no funcionamento do seu cérebro. Ele tem transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade (TDAH). “O esforço que precisava fazer para
me concentrar e a falta de compreensão de colegas me geraram uma tensão
muito forte, a vida toda.” Histórias como a de Simeão são bem mais
comuns do que se imagina. Pelos cálculos da Organização Mundial da
Saúde, uma em cada cinco crianças tem alguma desordem psiquiátrica e a
grande maioria leva anos até receber o diagnóstico. A mais comum, de
acordo com pesquisas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados
Unidos, é a ansiedade, presente em 8% dos meninos e meninas abaixo dos
18 anos. Em seguida, aparecem a depressão (7,8%), os distúrbios de
conduta (5,6%) e o TDAH (5%).
ATENÇÃO
Várias crianças atendidas pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk
apresentam estresse como sintoma de um transtorno mais grave
Ainda há poucas ações voltadas para a saúde mental infantil, mas
algumas já demonstram bons resultados. Edmara de Lima, coordenadora
pedagógica da Prima Escola Montessori, em São Paulo, orienta uma dessas.
“Observamos as crianças sob três ângulos: primeiro analisamos o corpo,
se ela enxerga e fala bem e se está com os hormônios em níveis
adequados. Depois analisamos a inteligência, se está adequada à idade.
Por último vemos as questões emocionais.” No Rio, o neurologista do
comportamento Alexandre Ghelman ajusta os últimos detalhes para iniciar,
no próximo semestre, um trabalho com alunos do terceiro ano do ensino
médio para evitar a tensão, em especial a gerada pelo vestibular. “Vamos
ensinar-lhes técnicas para que lidem melhor com as situações
estressantes”, diz Ghelman. Entre as lições, os jovens vão aprender como
identificar o que os tira do sério, quais são os sentimentos que os
dominam nessa hora e como relaxar diante dos fatores estressores. A
escola tem mesmo muito que contribuir. Foi graças ao alerta de uma
professora que a editora gráfica Liliana Franco, 48 anos, levou o filho
Rafael, então com sete anos, ao médico. “Ela me disse que ele estava
lendo só a primeira linha dos enunciados das perguntas antes de
responder às questões”, afirma Liliana. No psiquiatra, se descobriu que
Rafael tem TDAH e ansiedade. Com o treino cognitivo-comportamental e o
tratamento medicamentoso, porém, o garoto, hoje com 15 anos, conseguiu
reverter vários sintomas e se prepara para prestar vestibular.
Nem todos, porém, têm a sorte de receber um diagnóstico precoce. Daí
advêm as complicações. “Podemos fazer um paralelo entre os transtornos
mentais e a diabete. Em ambos, você não vai curar a pessoa, mas quanto
mais cedo é a intervenção, maiores as chances de reduzir seus impactos”,
avalia o psiquiatra Christian Kieling. “A lacuna entre quem tem algum
transtorno mental e aqueles que recebem o atendimento especializado é
muito grande”, avalia Dévora Kestel, assessora regional de Saúde Mental
da Organização Panamericana de Saúde (Opas). No Brasil, o governo
federal planeja os primeiros passos. “Estamos começando a pensar uma
política integrada entre os ministérios para cuidar da saúde mental na
infância”, informou Paulo Bonilho, coordenador nacional de Saúde da
Criança do Ministério da Saúde. Medida mais que necessária para desarmar
a bomba-relógio do estresse infantil.
INCOMPREENSÃO
Sem um diagnóstico, o psiquiatra Jorge Simeão cresceu sob a tensão de
não conseguir ser “normal” como os outros. A dificuldade em se lembrar
de coisas e o esforço para se concentrar eram constantes fontes de estresse
Massacre traumático
Até um ano atrás, um estudante
armado invadir um colégio e atirar contra seus colegas era algo distante
do imaginário brasileiro. A cena era usualmente associada a alguma
tragédia americana – país que concentra 70% de ataques desse tipo. Desde
7 de abril de 2011, porém, o Brasil passou a integrar essa estatística.
Wellington de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira,
em Realengo, invadiu o colégio e disparou contra alunos e funcionários,
deixando 12 mortos. “É preciso atenção após tragédias, pois elas são
importantes gatilhos para os transtornos mentais, em especial o do
estresse pós-traumático”, avalia Fábio Barbirato, chefe do setor de
psiquiatria da infância e adolescência da Santa Casa do Rio. Por isso,
desde o massacre há um esforço coletivo para apagar essas marcas. No
atendimento psicológico, que se iniciou no dia seguinte ao incidente, já
passaram 90 crianças e 100 adultos. Cerca de metade deles segue em
tratamento. Caíque, um menino de 3 anos que perdeu a tia Jéssika Guedes
no massacre, ficou durante muito tempo perguntando quando a jovem
voltaria para a casa. “Ele perguntava para quem ia à escola se Jéssika
estava lá.” Com apoio psicológico, está aos poucos assimilando que a tia
não voltará mais. Como ele, várias crianças e famílias ainda sofrem com
a tragédia. “Pode demorar anos para esses efeitos negativos serem
contornados”, disse à ISTOÉ o psiquiatra Timothy Brewerton, um dos
responsáveis pelo atendimento às vítimas do massacre de Columbine,
ocorrido em uma escola americana em 1999. Para ele, à medida que se
aproxima o marco de um ano da tragédia, é preciso mais cuidado. “A
efeméride é uma espécie de gatilho para novas reações emocionais.”
Excelente matéria, de utilidade pública. As vezes os pais
encontram se perdidos e confusos com o comportamento e sintomas que os
filhos podem estar desevolvendo sem se dar conta que podem ser
decorrentes de alguns detalhes da sua rotina. Parabéns Isto É!
SAIBA MAIS:
Os pais podem prevenir o ESTRESSE de seus filhos?
É
uma avalanche de informações diárias (via fax, Internet etc.), de todos
os cantos do planeta, entrando em nossas casas, em nossos escritórios,
em nossa vida. São tantas as novidades, os avanços tecnológicos e o
desenvolvimento do conhecimento humano, como dar conta de tudo isso?
Como orientar os nossos filhos para que tirem o melhor de suas
capacidades e sejam felizes? Como ajudá-los a não se tornarem crianças,
adolescentes ou adultos estressados?
A modernidade trouxe consigo aspectos positivos,
contudo, também trouxe mais pressão, cobranças, agitação,
competitividade e menos cooperação e solidariedade.
Como não se deixar engolir por tudo isso e levar uma vida saudável sem exageros de ansiedade e estresse?
Acredito ser essa uma tarefa um tanto difícil, mas não impossível.
Chegou a hora de organizarmos o nosso dia a dia, assim como o de
nossos filhos. São tantas as possibilidades de atividades que podemos
programar.
"Não é bom começar o inglês desde já? E a natação, o judô, as aulas de violão?", perguntam os pais mais aflitos.
"Quanto mais tempo fora de casa, menos contato com a TV e aqueles filmes violentos", dizem os outros.
Como dosar a atividade física e intelectual e não
esquecer que existe também o lazer, o brincar, atividades fundamentais
para o desenvolvimento emocional e social da criança.
Às vezes, é com as melhores das intenções que os pais
preenchem integralmente o dia de seu filho. São tantas as tarefas e
horários a cumprir, que não sobra tempo para ele respirar ou para não
fazer nada, ou ainda para ficar sozinho com seus brinquedos e fantasias.
Afinal, a criatividade, a produção de novas idéias e os pensamentos
brilhantes necessitam de espaços vazios para se manifestarem.
A realidade atual
A estrutura familiar moderna tem levado a uma
diminuição do tempo de interação entre pais e filhos, empurrando os pais
para um sistema de auto cobrança e culpas sem fim, ao mesmo tempo que
fazem cada vez mais exigências às crianças, podendo gerar maior
ansiedade e estresse.
Com relação a esse aspecto, tenho ficado bastante
preocupada ao verificar que algumas escolas, visando é claro, a
excelência de seus alunos, vêm programando "vestibulares" para crianças a
partir de 4 ou 5 anos, e que, infelizmente, em decorrência disso, pais
cada vez mais aflitos estão correndo atrás de escolas preparatórias e
aulas particulares.
Sinal dos tempos? Calma lá!!!
Observamos que muitas crianças acabam pagando um
preço muito alto, pois se sentem pressionadas a dar apenas resultados
positivos para não frustrarem os pais.
É muito importante que os pais estejam atentos às
situações de estresse a que seus filhos ficam expostos. Tais situações
devem ser necessariamente proporcionais à habilidade, à maturidade, ao
estágio de desenvolvimento e à resistência da criança.
Se por um lado não podemos e não devemos proteger os
nossos filhos dos problemas e conflitos com os quais vivenciam no dia a
dia, por outro não temos o direito de "jogá-los aos leões", sem que
antes adquiram estratégias de enfrentamento de uma forma gradual e
lógica.
O que é o estresse infantil?
O estresse em geral é uma reação do organismo diante
de situações ou muito difíceis ou muito excitantes, que podem ocorrer em
qualquer pessoa, independentemente de idade, raça, sexo ou situação
sócio-econômica.
Em períodos de estresse, a harmonia do organismo fica
afetada e cada órgão passa a trabalhar em ritmo diferente dos demais.
Se esse estado se prolongar por muito tempo, há uma quebra do equilíbrio
interior e um enfraquecimento do organismo e, consequentemente, a
manifestação de sintomas e doenças.
O estresse infantil é pouquíssimo conhecido, sendo bastante difícil
encontrar pesquisas sobre o assunto, tanto no Brasil como no exterior.
A maior parte dos trabalhos sobre o estresse em
crianças brasileiras foi desenvolvida na Universidade Católica, em
Campinas. Nessas pesquisas verificou-se que toda criança,
inevitavelmente, enfrentará inúmeras situações de estresse ainda nos
primeiros anos de vida, tais como acidentes, doenças, hospitalizações,
nascimento de irmãos, mudanças de casa, escola ou de empregada, além das
tensões geradas pela necessidade sempre maior de autocontrole.
Fontes de estresse infantil
Pesquisas revelam que o estresse na criança pode
estar relacionado a fatores internos e externos, da mesma forma que
ocorre com o adulto.
Os fatores internos referem-se às características de
personalidade, pensamentos e atitudes da criança, diante de várias
situações que ela precisa enfrentar na vida. Assim sendo, o estresse
pode ser criado por ela própria, de acordo com sua maneira de perceber a
si e o mundo ao seu redor.
As fontes internas de estresse na criança são:
ansiedade, depressão, timidez, desejo de agradar, medo do fracasso e de
punição divina, preocupação com mudanças físicas, dúvidas quanto à
própria inteligência, interpretações amedrontadoras de eventos simples
ou mesmo medo de ser ridicularizada por amigos.
Já as fontes externas de estresse na criança são
devidas às mudanças significativas ou constantes, responsabilidades e
atividades (o miniexecutivo) em demasia, brigas ou separação dos pais,
algumas escolas, morte na família - principalmente de pais ou irmãos
-exigência ou rejeição por parte dos colegas, disciplina confusa por
parte dos pais, nascimento de irmão, doença e hospitalização, troca de
professora ou de escola, pais ou professores estressados, medo de pai
alcoólatra e até doença mental dos pais.
Atitudes dos pais que podem prevenir o estresse infantil.
Primeiramente,
os pais precisam cuidar do seu próprio estresse, para servirem de
modelo para os filhos. Se diante de "situações problema", os pais agirem
com muita ansiedade, os filhos terão a tendência de repetir os mesmos
padrões de comportamento.
Atitudes positivas que envolvam a paciência, o prazer, a alegria de estar
com a criança, a aceitação e a forma simples e realista de encarar os
desafios do dia a dia, podem incentivar a criança a resolver os
problemas e desenvolver a sua auto-estima.
É preciso ouvir a criança, não sobrecarregando-a com
atividades extracurriculares; escutar com seriedade o que ela tem para
dizer sobre o assunto e procurar oferecer atividades que sejam do seu
agrado.
Respeitar o ritmo da criança e não fazer comparações -
os irmãos são diferentes quanto ao seu ritmo de dormir, comer,
aprender, socializar-se e até de caminhar - mesmo que os pais tenham
outro modo de agir, também é uma ação indispensável, assim como a
escolha cuidadosa da escola em que irá frequentar. É preciso ouvir com
atenção as queixas da criança, pois ela pode estar vivendo um problema
de fato.
Em caso de conflitos conjugais, é fundamental evitar o
envolvimento das crianças, pois muitas vezes elas acabam por se
sentirem responsáveis pela situação.
Contudo, é muito importante que não se poupe a
criança em demasia; uma criança excessivamente poupada não tem chances
de se preparar para o mundo de hoje.
Estimular sua independência é algo fundamental, contanto que se respeite sua etapa de desenvolvimento natural.
Os pais devem evitar que seus filhos acreditem que só
são valorizados e amados se tiverem um desempenho perfeito em tudo que
fazem. Quanto a esse aspecto, o que tenho observado na clínica é que um
dos principais causadores de estresse em crianças é a grande preocupação
delas em corresponder às expectativas de sucesso dos seus pais. Desse
modo, não atribuem valor à pessoa que são, mas por aquilo que fazem.
Por fim, acredito que os cuidados dos pais com o
controle do estresse infantil, juntamente com todos os profissionais que
estão envolvidos com a educação das crianças, possa levar a uma
sociedade mais produtiva, mais feliz e mais bem adaptada.
Portanto, caros pais, mãos à obra e boa sorte!
Dra. Monica Mlynarz
Ultimamente, não são apenas os adultos que sofrem de estresse por causa do
trabalho, do
trânsito e dos milhares de compromissos diários. As
crianças
têm apresentado com mais frequência quadros de estresse, porém, por
motivos um pouco diferentes: carência dos pais, mudança de casa,
separação ou brigas dos pais, mudança de escola e os inúmeros
cursos que elas têm de fazer diariamente. Para que o seu filho não sofra desse mal,
saiba como superar o estresse infantil.
Em primeiro lugar, é preciso identificar o quadro de estresse. A
criança estressada
apresenta irritabilidade, pesadelos, medos excessivos, choro além do
normal, dificuldades na fala, mudanças no apetite, carência afetiva e
retorno aos comportamentos infantis já superados, como urinar na cama e
chupar chupeta.
Então, se a sua criança apresenta esses sintomas, você precisa mudar o
seu ritmo de vida, pois na maioria das vezes, é ele o grande causador
do
estresse infantil. Como os pais trabalham cada vez
mais para sustentarem os seus filhos, têm menos tempo para ficar com
eles, gerando insegurança e tristeza nos pequenos. Portanto, trabalhe um
pouco menos ou, ao invés de chegar em casa cansada e sem fôlego,
retome-o e brinque mais com o seu filho, porque ele é uma vida que
depende completamente de você.
As crianças se acostumam com uma rotina e, por isso, quando
acontece alguma mudança em suas vidas, elas tendem a ficar estressadas.
Sendo assim, as mudanças de casa ou a de escola causam muito estresse
nelas. Nessas situações, a criança precisa se sentir segura, sabendo
que você sempre estará ao seu lado. Converse seria e calmamente com ela,
dizendo-lhe que no novo ambiente, ela poderá conhecer novos amiguinhos e
novos lugares e que, por isso, será muito
divertido. E complete que ela ainda poderá manter contato com os seus antigos colegas através da internet.
Há pais que acham que, quanto mais
cursos a criança fizer, mais inteligente ela será ou apenas a colocam em vários
cursos
para que ela ocupe o seu dia, deixando-os em paz. No entanto, assim
como ficamos estressados com várias tarefas a cumprir durante o dia, as
crianças também ficam, e em maior intensidade. Por isso, não exija
demais dos seus filhos, deixe-os serem crianças, pois essa é a melhor
fase da vida deles, apesar de ser curta demais.
Quanto às brigas ou separação do casal, não há outro remédio senão
conversar calmamente com a criança e tentar fazer com que ela entenda
que os seus pais não podem mais continuar juntos, por causa das
diferenças que há entre eles. Porém, o mais importante é dizer que ela
não tem culpa de nada. Explique-lhe que, após a separação, ela terá duas
casas e que isso pode ser muito divertido e diferente. Com o tempo, ela
acaba se acostumando com a nova rotina, porém, nesses casos, um
acompanhamento profissional é o ideal para que ela não fique estressada.
Contudo, se todas essas medidas forem tomadas e o seu filho ainda apresentar sintomas de estresse, procure por ajuda
especializada imediatamente, pois se ele não for tratado a tempo, pode gerar problemas mais graves como uma depressão.