A
busca continua – sempre
Sem
companheiro, é verdade, mas não sem esperança
Por
Marcelo Camacho
Fotos Bruno Veiga
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LINDA
MORENA
Mônica Lopes: "Adoraria amar de novo". E enquanto isso?
"Muitas mulheres têm amigos que ajudam a dar uma aliviada
na tensão sexual" |
Encalhada,
titia, solteirona, enjeitada, desquitada. E ainda esquisita,
histérica, frígida ou, horror dos horrores,
feia. Houve um tempo em que esses termos abomináveis
eram comuns para se referir à mulher madura sem marido.
Hoje, não apenas estão soterrados na lata de
lixo que engoliu tantos preconceitos como são pura
e simplesmente inverídicos. Basta olhar à própria
volta para constatar: a brasileira moderna que bate na casa
dos 40 sem um homem para chamar de seu não tem, em
geral, nada do antigo estereótipo da solteirona. Ao
contrário, costuma ser vaidosa, bem informada, independente
financeiramente e dona de um aguçado foco profissional.
Essas mulheres não estão sozinhas, reconheça-se,
porque querem. Embora exigentes na hora de escolher o parceiro
ideal, elas não desistem de procurá-lo. Querem,
sim, como quase todo ser humano, encontrar alguém para
compartilhar os bons e os maus momentos da vida, ter uma companhia,
um amigo, um amante, uma outra metade.
A
notícia ruim é fartamente conhecida: está
difícil encontrar um homem assim. A experiência
indica que muitas mulheres nessa faixa vão passar grandes
períodos sem um parceiro fixo, se é que o terão.
A carioca Mônica Lopes é uma dessas mulheres.
Morena de sorriso contagiante, dona de uma produtora de eventos
culturais, ela tem 47 anos, é solteira e, de 1999 para
cá, não teve nenhum relacionamento fixo. Namoros
duradouros, com jeito de casamento, foram três nos dezessete
anos em que morou na Alemanha, mas, desde que voltou para
o Brasil, a coisa não engrenou. "Adoraria amar de novo",
diz Mônica. "Não acredito em quem diz que não
quer ninguém do lado. Mulher nenhuma quer morrer sozinha."
Gerente-residente
de um hotel de luxo do Rio de Janeiro, Andréa Natal,
de 41 anos, pensa de forma muito parecida. "Gostaria de me
apaixonar, ter uma nova história, envelhecer junto
com alguém", diz ela, que foi casada por cinco anos,
é mãe de um menino, e há sete anos está
solteira novamente.
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BARRIGUINHA
Fátima Lomba, agora grávida: "Sou como adolescente, também
'fico'. Mas cheguei a ficar dois anos sem dar beijo na
boca" |
Se
os corações estão tão disponíveis,
o que tanto impede mulheres assim de encontrar o amor? Em
primeiro lugar, elas são produto dos tempos modernos
e do próprio sucesso. A partir do momento em que uma
mulher consegue prover seu sustento, é muito provável
que não aceite um casamento a qualquer preço,
do tipo esta é a única saída para a sobrevivência
econômica e social. Se casada, também diminuem
as possibilidades de que se submeta às frustrações
ou humilhações de uma união infeliz.
Quando demoram a encontrar um parceiro adequado ou voltam
ao mercado emocional, depois de um relacionamento mais longo,
essas mulheres caem na armadilha da incompatibilidade etária,
pois os homens disponíveis, já escassos, estão
interessados em companheiras mais jovens. Por fim, sem encontrar
uma companhia, muitas delas se acostumam às vantagens
da vida-solo: a independência, as decisões rápidas
e não discutidas, a casa inteirinha para si, as manhãs
de domingo com uma toalha enrolada na cabeça... Abrir
mão disso, pensam, só por um homem que realmente
valha a pena. E aí o círculo se fecha: esse
sujeito não está à vista.
A
maior seletividade é um fato da vida, inevitável.
"O grau de exigência da mulher aumentou muito em razão
da independência financeira que ela conquistou. Estamos
mais criteriosas", concorda Regina Butrus, 47 anos, solteira.
Procuradora do Ministério Público do Trabalho,
Regina acredita que não é qualquer parceiro
que entende a rotina profissional de uma mulher bem-sucedida.
"O homem é pouco compreensivo com a mulher que tem
uma carreira. É complicado, por exemplo, que ela atenda
uma ligação telefônica em casa, no meio
da noite, para tratar de trabalho. Não é qualquer
um que entende." Em compensação, mulheres resolvidas
profissionalmente tendem a valorizar menos o histórico
papel de provedor do homem. "Não preciso de um homem
que ache que sua função é me ajudar a
ir em frente", diz a empresária mineira Fátima
Lomba, 37 anos, uma filha. "Quero um homem legal, para andar
de mãos dadas, ir ao cinema. E que também me
ofereça um ombro para eu contar minhas tristezas."
Dona de uma badalada butique no Rio de Janeiro, Fátima
teve um casamento de dez anos e se separou há seis.
Desde então, não surgiu nenhum namoro sério.
"Cheguei a ficar dois anos sem dar um beijo na boca", confidencia.
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FALA
SÉRIO
Andréa Natal, sobre as "dicas" hilárias que já ouviu:
"Me aconselharam a entrar para um clube ou freqüentar
alguma igreja" |
Acusadas
de estar sozinhas devido a um grau de exigência impossível
de ser atendido, mulheres como Fátima insistem em desmentir
a fama de enjoadas. "Não precisa ser um homem com poder
aquisitivo alto. Nem precisa ser um homem culto, mas tem de
ser inteligente", diz Fátima. "Adoro homem careca,
com uma barriguinha. Pode ser até um gari. Mas não
pode ser um perdedor. Ele terá de ser o melhor dos
garis", avisa Mônica Lopes. Onde encontrar esse par,
que, se não é o príncipe encantado, é
pelo menos um parceiro aceitável? Ergue-se aí
outro obstáculo: para profissionais ocupadas com o
trabalho e, eventualmente, com filhos, sobram poucas opções.
Endereços habituais, como barzinhos e outros pontos
de balada, além de pouco produtivos, podem passar exatamente
a imagem oposta à desejada – a da mulher desesperada,
a fim de qualquer coisa. "Não gosto de nenhum tipo
de programa que dê a impressão de que estou à
caça", diz Regina Butrus. "Não vou a uma boate
sozinha, nem a bares." Como dica de lugares para conhecer
alguém interessante, a gerente Andréa Natal
já ouviu coisas que seriam piadas, se não fossem
sérias. "Me aconselharam a entrar de sócia para
um clube ou que eu passasse a freqüentar alguma igreja",
conta.
E a falta que um homem faz? E o sexo? E o vazio no coração?
"Aprendi a curtir a solidão", diz Andréa. "Descobri
que posso ficar bem lendo um livro, cuidando das plantas,
passeando com o cachorro. Não é uma solidão
triste", garante, embora confesse que adoraria ter um homem
do lado na hora de ler o manual do novo videocassete, por
exemplo. "Mandar o carro para o conserto e abrir vidro de
palmito também são tarefas que os homens desempenham
como ninguém", lembra, com humor, Regina Butrus. Desenvolvem-se
também alternativas discretas para algumas das carências.
"Há uma legião de mulheres que têm amigos
que ajudam a dar uma aliviada na tensão sexual", conta
Mônica Lopes. É um tipo de parceria sexual e
de amizade que, segundo ela, convém aos dois lados.
Há, porém, limitações óbvias.
"Orgasmo faz bem ao corpo e à alma, mas não
fico plenamente satisfeita. Há mais sensação
do que emoção", analisa Mônica, que também
não gosta de sexo casual, com quase desconhecidos,
à moda do "ficar", como fazem os mais jovens. Fátima
Lomba é de outra opinião. "Sou como adolescente,
também 'fico'", diz. Numa dessas, ela se descuidou.
Entre a data em que foi entrevistada para esta reportagem
e o dia em que posou para as fotos, descobriu-se grávida
de um parceiro ocasional. Resolveu assumir a alegria e o desafio
de ser mãe por conta própria. Não desistiu,
porém, de encontrar um companheiro. A busca continua.