1.24.2015

A era dos tratamentos inteligentes contra o câncer


Antes limitado e quase tão nocivo ao organismo quanto ao tumor, o arsenal à disposição dos oncologistas evoluiu drasticamente e, hoje, provoca menos trauma aos indivíduos que enfrentam esse mal

Tratamentos contra o câncer
A estratégia para superar esse inimigo mudou nas últimas décadas. Até os anos 1990, os médicos basicamente bombardeavam o câncer com as tradicionais quimio, radio e hormonioterapia ou tentavam extirpá-lo por meio de cirurgias. Esses tratamentos, embora ainda sejam fundamentais na batalha, causam baixas expressivas no organismo por atingirem tanto o vilão da história como o tecido sadio, o que sempre traz complicações. No entanto, com um conhecimento cada vez maior nesse front, surgiu um conceito inovador: em vez de golpear o adversário diretamente, por que não tornar as tropas do próprio corpo mais eficazes contra ele, e apenas ele? 
 
Essa tática inusitada ganhou destaque e avança a passos largos. Prova disso é o aparecimento do ipilimumabe, fármaco já aprovado nos Estados Unidos - e que deve desembarcar no Brasil nos próximos meses - para tratar o melanoma, um tipo extremamente agressivo de tumor de pele. "As células cancerosas, apesar de possuírem alterações, têm semelhanças com as saudáveis, e isso faz com que o sistema imunológico não as veja como ameaça. O ipilimumabe tira o freio das nossas defesas, deixando-as propensas a identificar e atacar a doença", esclarece Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde parte das pesquisas com a droga foram realizadas, e autor do livro Como Superar o Câncer, publicado por SAÚDE. "A utilização dela aumentou em quatro meses a sobrevida dos pacientes. E isso é apenas uma média. Há casos em que o tempo foi significativamente superior", ressalta Hoff. 
 
Por atuar nos glóbulos brancos, em tese o remédio deixaria o organismo mais preparado para debelar outros cânceres além do melanoma. "A lógica realmente faz sentido, mas são necessários estudos para corroborar essa teoria", avisa o oncologista Ricardo Caponero, da Clínica de Oncologia Médica, na capital paulista. O fato é que o medicamento se mostrou eficiente e, acima de tudo, foi bem tolerado por quem recebeu suas doses. 
 
Novo aliado: o ipilimumabe 
 
O ipilimumabe é um anticorpo monoclonal, unidade de defesa feita em laboratório que age em moléculas específicas no exterior de uma célula. "A diferença é que a nova droga atua diretamente no sistema imune, enquanto as outras da mesma classe se ligam ao câncer para avisar que ele está ali e deve ser exterminado", diferencia Caponero. Acontece que, antes de criar essas armas teleguiadas, é preciso achar alvos, ou melhor, antígenos onde elas possam fazer seu trabalho. "E cada tipo de tumor tem antígenos únicos", diz a radioterapeuta Deborah Kuban, diretora do MD Anderson Cancer Center, nos Estados Unidos. 
 
Em outras palavras, a luta contra esse mal tende a ficar mais individualizada, porque os medicamentos começam a agir, de maneira bem eficaz, em mecanismos restritos a poucas versões da enfermidade. "Já estão disponíveis tratamentos sob medida para uma série de variações e esperamos que, no futuro, tenhamos opções para todas", afirma Sérgio Simon, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. 
 
Na contramão, pesquisadores da americana Universidade Stanford estão em busca de um remédio com potencial para arrasar muitos tumores distintos sem danificar tecidos saudáveis. Em testes com camundongos, eles encontraram a proteína CD47, presente em cânceres de mama, ovário, cólon, bexiga, fígado, entre outros, e que, ao ser travada por um anticorpo monoclonal, inibia o crescimento da doença. "Isso mostra que essa proteína é um alvo promissor", opina o patologista Irving Weissman, envolvido no projeto. Embora animadora, a descoberta é vista com cautela. "Mesmo que o antígeno seja comum a vários tumores, em seres humanos a resposta ao seu bloqueio pode ser diferente de um caso para outro", contrapõe Hoff. 
 
Abaixo a resistência! 
 
Frequentemente se observa uma terapia surtindo efeito a princípio, mas que, logo depois, não contém mais o avanço do câncer. "Por isso, é fundamental contar com um arsenal vasto como o que começamos a ter hoje em dia. Quando um tratamento para de funcionar, outro o substitui", explica Carlos Henrique Barrios, oncologista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 
 
A resistência se instala devido a mutações que ocorrem no DNA das células cancerosas. Ainda bem que surgem maneiras de ao menos postergá-las. Um bom exemplo é o everolimo. Esse novo fármaco retarda a adaptação de um tipo de tumor de mama à hormonioterapia, que diminui a atuação de hormônios por trás do mal. Com ele, o tempo de sobrevida médio das mulheres acometidas por essa moléstia mais do que duplicou. "Os resultados são tão impressionantes que acreditamos se tratar de um dos maiores progressos dos últimos 20 anos", analisa Barrios. 
 
Os radares que flagram o câncer também passaram por uma modernização. "A acurácia dos métodos de detecção está maior e começamos a utilizar reagentes que tornam as imagens mais nítidas", destaca Hoff. Explica-se: antes da avaliação em si, é administrada uma substância que, ao entrar em contato com determinado tumor, promove uma reação química visível no exame. Isso ajuda a enxergar melhor a extensão e a agressividade do problema. 
 
"Estamos chegando a um momento em que o diagnóstico poderá ser feito por meio de procedimentos simples e com menos trauma ao paciente", assegura Deborah. Uma amostra de sangue, hoje, já ajuda o médico a verificar a existência de um câncer de próstata. E espera-se que daqui a pouco tempo esteja disponível um exame de fezes que acuse a presença de um tumor no intestino. Isso, além de dar mais segurança ao oncologista sobre o que está enfrentando, vai evitar que muita gente passe sem necessidade por métodos como a colonoscopia, tão eficiente quanto invasiva. "Como todos os cânceres são banhados por sangue, talvez no futuro consigamos identificar qualquer um deles com uma mera avaliação do líquido vermelho", aposta Hoff. Ao longo da história, esse inimigo se mostrou mais perspicaz do que imaginávamos. Mas a ciência, sempre no seu encalço, está cada vez mais próxima de agarrá-lo. 
 
Um olhar mais humano
 
A ideia de dar força para a própria pessoa vencer o câncer não está restrita à farmacologia. "O bem-estar vem associado a melhores respostas do sistema imune, e isso influencia no tratamento", garante Alfredo Barros, mastologista da Universidade de São Paulo. Daí a importância dada hoje a cuidados mais integrais, que abordam desde a psicologia até a nutrição. 
 
O que breca a evolução do tratamento
 
Estima-se que 1 bilhão de dólares são gastos para o desenvolvimento de cada novo remédio. Esse valor gera dependência da indústria farmacêutica, porque as universidades e outros centros geralmente não conseguem pagar a conta. Aí, o ritmo dos avanços na área diminui. Afora isso, a burocracia para realizar uma pesquisa desse tipo é enorme. "Precisamos ter mais gente lidando com a papelada do que trabalhando nos experimentos em si", lamenta Paulo Hoff. 
 
O progresso do anticorpo monoclonal
 
As primeiras versões dessa arma eram feitas só com DNA de camundongos. Mas novas técnicas possibilitaram a criação de anticorpos monoclonais com parte dos nossos genes. Atualmente, há alguns inteiramente humanos e, logo, menos propensos a gerar alergias ou a serem rejeitados pelo sistema imune. 
 

Melhorias para ambos os sexos

Graças aos últimos avanços, tumores como o de mama, muito comum nas mulheres, e o de próstata são mais facilmente superados 
 
Mulheres 
Além da droga everolimo, que aumenta o tempo e a qualidade de vida diante de tumores na mama, as cirurgias estéticas atuais trazem resultados ótimos. Assim, quando é preciso tirar parte da glândula, o espelho não vira oponente do bem- estar. 
 
Homens 
Já há um ultrassom altamente preciso para eliminar o câncer de próstata. "Ele atenua o risco de infertilidade e de órgãos adjacentes serem afetados", diz Gustavo Guimarães, diretor de urologia do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, onde o aparelho é usado. 
 

Tradicionais, porém não desatualizados 

Quimioterapia 
As drogas são menos tóxicas do que antes e, no presente, existem alternativas à disposição dos especialistas para controlar as reações adversas. 
 
Radioterapia 
As máquinas emitem raios que contornam o tecido saudável sem atingi-lo em cheio. Com isso, lesões em órgãos próximos ao tumor são minimizadas ao mesmo tempo que a potência da radiação sobe, tornando o tratamento ainda mais letal contra a doença. 
 
Cirurgia 
Fora as operações robóticas, que geram menos danos nos arredores da intervenção, técnicas foram criadas para alcançar regiões de difícil acesso, como o assoalho pélvico.
 

Entenda melhor

O ipilimumabe estimula o organismo a se defender
A era dos tratamentos inteligentes contra o câncer
1. Vilão camuflado 
Existem linfócitos cujo papel é regular a atividade das outras células de defesa. Apesar de essenciais em certas condições, eles inibem o trabalho desses soldados diante do câncer por não o enxergarem como um malfeitor. 
 
2. Ataque liberado 
O ipilimumabe se liga a uma proteína da superfície desses linfócitos chamada CTLA-4. Ao fazer isso, o medicamento desativa esses reguladores naturais e, com isso, deixa o sistema imunológico terrivelmente agressivo. 
 
3. Sem lugar para se esconder 
Como não há mais nada para contê-los, os anticorpos conseguem identificar o tumor e, a partir daí, usam todos os recursos disponíveis para aniquilar cada uma de suas partes.
 

Como funciona a droga que destruiria vários cânceres

A era dos tratamentos inteligentes contra o câncer
1. Um mal diplomático 
Aparentemente, grande parte dos tumores tem uma proteína chamada CD47. Em tese, ela envia uma mensagem para que as tropas do organismo não iniciem o bombardeio em massa. 
 
2. Relações rompidas 
O anticorpo monoclonal anti-CD47, ao entrar em contato com seu alvo, cortaria essa sinalização. Então, nossas defesas naturais partiriam para cima do oponente, seja ele de qual tipo for.
 

Os mais frequentes

Veja os tumores com maior incidência em cada sexo (os dados não levam em conta cânceres de pele não melanomas / fonte: Inca)
A era dos tratamentos inteligentes contra o câncer

O câncer em números

Com o envelhecimento da população, ele se tornou mais frequente. Por outro lado, deixou de ser o monstro de antes. Em seis década a porcentagem de pacientes que sobreviveram ao menos cinco anos após o diagnóstico da doença simplesmente dobrou!
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As novidades no tratamento de depressão

Um alento para as 10 milhões de pessoas que enfrentam a depressão no Brasil: com diagnóstico bem-feito e novos tratamentos – entre os quais, os efeitos secundários do Botox, ainda em estudo –, é possível sair das trevas e recuperar o gosto pela vida.


Mulher pensando

Os participantes do último Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em setembro em Madri, na Espanha, foram surpreendidos com a apresentação de um estudo mostrando que a toxina botulínica do tipo A (o Botox), largamente empregada para suavizar rugas, pode trazer alívio contra a depressão. “A pesquisa é inovadora porque oferece uma nova abordagem para tratar a doença, e ela não entra em conflito com qualquer recurso já disponível”, observou o psiquiatra Norman Rosenthal, professor da Georgetown Medical School, em Washington, nos Estados Unidos, e coautor do estudo, publicado no Journal of Psychiatric Research. Em parceria com o cirurgião dermatológico Eric Finzi, ele acompanhou 74 pacientes de ambos os sexos com diagnóstico de depressão moderada ou severa. Metade recebeu uma aplicação de Botox entre as sobrancelhas, nos músculos usados para franzir a testa, local onde se formam vincos que conferem a expressão de preocupação e tristeza – o chamado olhar bravo. A outra metade (o grupo controle) recebeu uma injeção no mesmo lugar, só que de solução salina. Para avaliar a depressão, os participantes passaram por testes três semanas depois – e isso se repetiu seis semanas mais tarde. O resultado: 52% dos tratados com a toxina tiveram melhora significativa ante, no máximo, 20% do outro grupo. Embora não tenha sido o primeiro trabalho a propor o Botox contra a depressão, o estudo de Finzi e Rosenthal foi o maior e mais controlado já feito e confirma que as expressões do rosto interferem no humor. Um ar mais leve e sereno acaba influenciando nosso estado de espírito. O efeito, portanto, não decorre da ação do princípio ativo sobre o sistema nervoso central, mas do benefício que a mudança facial teria sobre o ânimo e o bem-estar. Ou, como já dizia um dos fundadores da psicologia moderna, o americano William James: “Nós não rimos porque estamos felizes. Nós estamos felizes porque rimos”.
Essa descoberta animadora não é a única. “Diferentemente do que diz o senso comum, a depressão é tratável e a maioria dos pacientes responde bem”, assegura Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Há outras boas notícias para enfrentar a doença, que atinge 350 milhões de pessoas no mundo – mais de 10 milhões delas no Brasil –, na proporção de duas mulheres para cada homem. Segundo o presidente da ABP, parte do prejuízo associado ao transtorno pode ser evitada. As perdas a que ele se refere são a diminuição da qualidade de vida e o ônus para a sociedade, já que a depressão só fica atrás das doenças cardiovasculares. De fato, crescem as evidências de que os tratamentos funcionam e podem ser seguros inclusive para gestantes. Após acompanhar 5 mil pacientes tratados com diversos medicamentos, Robert Gibbons, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, observou melhoras substanciais em todas as faixas etárias. “Hoje o diagnóstico é mais fácil e as chances de sucesso no tratamento são maiores, o que não ocorria no passado”, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e professor da Faculdade de Medicina do ABC.
A depressão produz uma tristeza profunda, desproporcional às circunstâncias (tudo parece assustador demais), perturba o sono e o apetite, elimina a possibilidade de sentir prazer. Ainda que não deixe a pessoa prostrada na cama nem a impeça de trabalhar, esgota sua energia. “É como se eu tivesse um elefante fantasma em cima de mim”, comparou uma paciente atendida na Beneficência Portuguesa, em São Paulo. “A depressão é a solidão dentro de nós que se manifesta e destrói não apenas a conexão com os outros mas também a capacidade de estar em paz conosco mesmos”, descreve o jornalista e escritor americano Andrew Solomon, em O Demônio do Meio-Dia (Companhia das Letras). No livro, que ganhou por aqui nova edição em julho, às vésperas da vinda do autor para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, Solomon registra sua luta contra a doença e afirma que o oposto da depressão não é a alegria, mas a vitalidade. “O único sentimento que resta nesse estado despido de amor é a insignificância.” A saúde padece: cresce o risco de ataque cardíaco, menopausa precoce, perda de memória. Fora o perigo de suicídio. Todo ano são notificados cerca de 10 mil no país, 90% deles ligados à depressão grave. Ainda assim, Solomon defende que é possível viver bem, apesar da doença, e encontrar um sentido no caos para permanecer vivo. “Essa habilidade duramente aprendida infunde, na escuridão demoníaca, a luz do meio-dia.”
Não é um mal do nosso tempo. Os sintomas haviam sido descritos na Antiguidade pelo grego Hipócrates, o pai da medicina. O atual crescimento na incidência é atribuído ao maior número de diagnósticos e também à exposição aos gatilhos para quem nasce com predisposição genética. Entre eles estão o alto nível de stress, o ritmo acelerado da vida atual e a redução das horas de sono. Por muito tempo se supôs que a depressão fosse fruto apenas do déficit de serotonina (que atua sobre o humor, o sono e o apetite). Hoje se sabe que envolve outros mensageiros químicos, como a noradrenalina, responsável pela disposição e por manter a pressão em níveis normais, e a dopamina, que confere motivação para viver e participa do prazer, da memória e da atenção. Essa descoberta expandiu as fronteiras do tratamento. “A evolução dele tem produzido respostas mais rápidas”, destaca Antônio Geraldo da Silva. O combate à doença é feito com antidepressivos, como fluoxetina, sertralina e escitalopram, que normalizam a serotonina; ou a venlafaxina e a duloxetina, que agem sobre a serotonina e a noradrenalina. Também a agomelatina é usada para mirar os receptores da melatonina, indutora do sono. O psiquiatra faz a defesa dos antidepressivos: “Eles não viciam – como os remédios de tarja preta, erroneamente usados contra depressão, já que não conseguem debelá-la”. Os efeitos colaterais, em geral, são leves e toleráveis e variam de boca seca a náuseas.
Como os primeiros resultados aparecem em três semanas, os cientistas tentam abreviar o tempo de espera. Eles têm procurado um teste que aponte previamente se o paciente reagirá bem e rapidamente ao medicamento. Um possível marcador é o fibrinogênio, proteína fundamental para a coagulação. “Observamos que os pacientes com baixa concentração sanguínea de fibrinogênio respondem melhor”, diz o biólogo Daniel Martins de Souza, que iniciou os estudos na Universidade de Munique, na Alemanha, e continua agora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Se o “candidato” for aprovado, a etapa seguinte será desenvolver estratégias para melhorar a resposta, como o uso da aspirina, dada a sua capacidade de inibir a ação do fibrinogênio.
Estímulos elétricos e magnéticos
Quando não há alívio, a depressão é considerada refratária. Então, podem ser adotados métodos como a eletroconvulsoterapia (ECT), em que o paciente recebe uma descarga elétrica de dois segundos para induzir convulsões e aumentar a concentração dos neurotransmissores que trazem bem-estar. “O procedimento é seguro e eficaz, pode ser indicado até para gestantes, mas, como requer internação e anestesia, não é usado como rotina”, explica Antônio Geraldo da Silva. Outro método é a estimulação vagal, que está sendo investigado na Universidade de São Paulo (USP). É invasivo: com procedimento cirúrgico, um aparelho semelhante a um marcapasso é instalado para estimular o nervo vago (um dos dez pares de nervos cranianos) e reequilibrar a produção de neurotransmissores. Já a estimulação magnética transcraniana (EMT) utiliza ímãs e ondas eletromagnéticas para promover alterações na atividade das células nervosas. “O efeito ainda não se compara ao do eletrochoque”, afirma o psiquiatra.
Uma arma importante é a psicoterapia. “Em caso de depressão leve ou moderada, ela é tão eficaz quanto os medicamentos”, diz o psicólogo Armando Ribeiro, coordenador do Programa de Avaliação do Stress da Beneficência Portuguesa, que acaba de participar de um curso de atualização em stress, ansiedade e depressão na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. “O melhor mesmo é associar as duas ferramentas, já que uma potencializa a outra.” Nas depressões severas, a psicoterapia ajuda a reduzir o risco de suicídio. As linhas mais usadas são a terapia comportamental cognitiva e a interpessoal. A primeira entende que os padrões de pensamento determinam as ações e, por isso, estimula o paciente a reconhecer e modificar visões distorcidas da realidade e transformar seu modo de agir. Já a interpessoal aprimora a capacidade de estabelecer relações saudáveis e resolver conflitos.
Fim do preconceito contra a depressão
Mais um aliado é o exercício físico regular. Caminhadas, musculação, dança e natação ativam a produção de endorfinas, o que leva ao bem-estar. “Além disso, aumentam o fluxo de oxigênio para o cérebro, estimulando novas conexões entre as células nervosas nas áreas debilitadas pela depressão”, esclarece Armando Ribeiro. O psicólogo sugere também a acupuntura: “Melhora o sono e ajuda a modular a produção de neurotransmissores”. Meditação e outras práticas de atenção plena (mindfulness) são bem-vindas. “Na depressão, o pensamento se prende ao passado. Essas técnicas mantêm a mente no presente.” Também contribuem o apoio da família e dos amigos e a fé (não no sentido religioso, mas de acreditar em algo). “Quem conta com esses suportes precisa de menos remédios”, diz Arthur Guerra. Para superar o estado depressivo e preveni-lo, é recomendado adotar dieta equilibrada (alimentos ricos em fontes de ômega 3, como sardinha, salmão, linhaça dourada e quinua), tomar sol (para ativar a síntese de vitamina D) e aprender técnicas para administrar o stress.
Mas, antes, é preciso vencer o preconceito. A campanha “Psicofobia é crime”, promovida pela ABP, luta pelo fim do estigma contra quem sofre com desordens mentais. “A depressão é uma doença como diabetes ou hipertensão. Não tem a ver com escolha, tipo de personalidade, covardia ou falta de força de vontade”, ressalta Antônio Geraldo da Silva. “Ninguém diz a um portador de diabetes: ‘Agora se concentre, faça um esforço e baixe sua glicose’. Em vez disso, o paciente é encaminhado a tratamento. Do mesmo modo, quem tem depressão deve ser visto como um doente que precisa de atendimento.” Solomon escreve em seu livro: “Todos gostaríamos que o Prozac resolvesse o problema, mas, pela minha experiência, o Prozac não resolve, a não ser que o ajudemos”. Isso também se aplica ao Botox ou a outros métodos que estão dando perspectivas de futuro para muita gente.

Cristina Nabuco (colaboradora)
Revista Claudia
 


Celular é melhor do que sexo? Veja resultado da pesquisa

Nada menos que 38% de entrevistados em pesquisa dizem que trocariam relação por aparelho

O Dia
Rio - Fazer sexo já não é mais prioridade para muita gente. E a nova geração de ‘abstinentes’ trocaria as relações por um aparelho: o celular. Pesquisa com 7,5 mil voluntários, incluindo brasileiros, revelou que quase 40% preferem ficar sem transar por um ano a abandonar o telefone pelo mesmo tempo.

O levantamento, da Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a empresa de tecnologia Qualcomm, entrevistou pessoas em países como Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul, Brasil, China e Índia. Os participantes foram questionados sobre o que preferiam: ficar um ano sem um determinado aspecto do cotidiano ou sem o celular durante o mesmo período?

Atividades que as pessoas largariam por um ano para não ficar sem celular pelo mesmo período
Foto:  Arte: O Dia
Em relação ao ato sexual, menos brasileiros que a média total da pesquisa toparam a ‘abstinência’: 25%. Americanos e alemães também relataram propensão à troca (33%) um pouco menor. Por outro lado, 66% dos coreanos abririam mão do sexo.
Mas a atividade mais ‘descartável’ em prol do aparelho foi jantar fora, com índice de 64%. Em segundo lugar, vieram renunciar a um dia de folga e ter um animal de estimação (51%). Os chineses mostraram mais disposição para reduzir o descanso semanal (55%). As entrevistas foram feitas entre setembro e novembro e os dados, apresentados esta semana no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça).
O DIA foi às ruas da Lapa, ontem, para saber de quais itens da pesquisa os cariocas abririam mão para não ficar sem o celular durante um ano. De seis entrevistados, um deixaria de lado as relações sexuais. “Acho que o sexo não é tão importante para a vida. Mas para não abandonar as outras situações, a gente acaba acostumando a viver sem o aparelho”, disse o aposentado Arnoldo Viellena, de 69 anos.
As amigas Janaira (E) e Carmem gostam de celular, mas não abririam mão de sexo. Da lista da pesquisa, elas eliminariam jantar em restaurantes
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia
Já as amigas estudantes Carmem Sousa, 23, e Janaira Araújo, 18, deixariam apenas de jantar fora e de folgar. “Acho que abrir mão de sexo seria loucura. Sou viciada em celular, mas há certas coisas que não podemos deixar de fazer”, destacou Carmem. Já para a estudante Ana Lourenço, 28, o pior não é abandonar o aparelho, mas sim ficar sem internet. “Já viajei e fiquei um mês sem o celular. Fiquei ótima. Só não conseguiria ficar sem a internet”, ressaltou.
O assistente administrativo Gabriel de Souza, 28, não considera o celular ‘digno’ de ocupar o lugar de nenhuma das atividades listadas na pesquisa. Ele acrescenta ainda que o dispositivo tornou as relações mais artificiais. “As pessoas esquecem das verdadeiras amizades”, analisou. Assim como Gabriel, o professor de inglês Nelson Luiz Almeida, 29, não é viciado em celular e só o utiliza no horário de trabalho. “Já fiquei dois anos sem o telefone. Consigo ir à academia e passear sem utilizá-lo”.
Estabelecer limites é importante

Para o psiquiatra André Brasil, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o ‘sinal de alerta’ para a dependência tecnológica deve acender entre o grupo que aceitou viver sem sexo e outras atividades importantes. Além da distância dos aplicativos e das redes sociais, o medo de ficar sem informações importantes é outro aspecto que ‘prende’ as pessoas aos telefones, segundo o especialista.

Arnoldo prefere celular do que sexo; Nelson só o usa para trabalho; Gabriel utiliza o aparelho com moderação e Ana acha internet mais útil
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia
“Trocar atividades prazerosas e necessárias pelo celular pode ser doença”, aponta. Segundo ele, são mais suscetíveis ao vício pessoas tímidas, retraídas e com traços de ansiedade e depressão. Para elas, diz André, é mais fácil conviver no meio virtual do que no real e o aparelho funciona como fuga e ‘remédio’ para a solidão.
Segundo ele, a redução do uso dos dispositivos eletrônicos deve ser gradativa. Por exemplo, a pessoa pode trocar algumas horas de uso dos eletrônicos por atividades ‘offline’. Mas a dica de reduzir o uso vale para todos, viciados ou não. “É importante estabelecer um limite. O celular não pode atrapalhar a rotina. Se prejudicar, é melhor não usar”.
Reportagem de Beatriz Salomão, Gabriela Mattos e Fernando Souza
Tags: Celular , Sexo