Dezesseis anos de milícias
Cleber Lourenço faz um verdadeiro dossiê sobre o envolvimento da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro
Foto: Reprodução/Instagram
—> 2003 – Jair Bolsonaro
Bolsonaro fez uma defesa apaixonada de grupos de extermínio
que estavam atuando na Bahia. Disse ainda que seriam bem-vindos em seu
estado: goo.gl/453rm9.
—> 2003 – Flávio Bolsonaro
Um dos principais alvos da Operação Intocáveis, o ex-capitão do Bope,
Adriano Magalhães da Nóbrega, foi homenageado em 2003 na Assembleia
Legislativa do Rio por indicação do deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Na ocasião, Adriano já era investigado por ter participado da chacina de
cinco jovens na antiga boate Via Show.
Fotos: Reprodução
Os dois principais alvos da Operação Intocáveis, o ex-capitão do Bope
Adriano Magalhães da Nóbrega e o major da PM Ronald Paulo Alves
Pereira, foram homenageador por Flávio – https://goo.gl/GBXAy8
—> 2004 – Flávio Bolsonaro
O major Ronald Paulo Alves Pereira, então capitão, que também recebeu
uma homenagem por meio de uma moção honrosa proposta por Flávio
Bolsonaro, era investigado por participação também da chacina na Via
Show.
—> 2005 – Flávio Bolsonaro
Dois Anos após a chacina, Adriano recebeu a medalha Tiradentes,
principal honraria da Assembleia Legislativa, também com elogios à
carreira do então militar.
—> 2007 – Flávio Bolsonaro
O deputado fez elogios, justificou a existência das milícias e por fim propôs a legalização dos grupos criminosos.
No mesmo ano o então deputado foi contra a CPI das Milícias: https://goo.gl/UKXyjB.
—> 2008 – Jair Bolsonaro
Fez outro discurso apaixonado defendendo as milícias e atacando o deputado @MarceloFreixo: goo.gl/o8LHk7.
—> 2011 – Flávio Bolsonaro
Quando a juíza Patrícia Acioli foi assassinada com 21 tiros por
milicianos, Flávio se manifestou no Twitter afirmando que ela “humilhava
policiais”, o que contribuiu para que tivesse “muitos inimigos”: https://goo.gl/hLFzd1.
—> 2015 – Flávio Bolsonaro
Flávio votou contra a instalação da CPI que investigou os autos de
resistência e mortes decorrentes de ações policiais no estado: https://goo.gl/sQaemW.
No mesmo ano, Flávio se envolveu em outra polêmica, ao defender e
justificar a agressão feita contra a juíza Daniela Barbosa por policiais
e milicianos detidos no Batalhão Especial Prisional, em Benfica, e que
estariam aguardando julgamento.
Filho de Bolsonaro defende PMs que agrediram juíza https://goo.gl/sMZWRL.
—> 2016 – Flávio Bolsonaro
(Ainda sobre o batalhão prisional). Ao ser questionado por um
jornalista sobre a defesa de criminosos, Flávio foi enfático e tentou
justificar mais uma vez seu posicionamento em defesa dos bandidos.
—> 2016 – Jair Bolsonaro
Em 2016, o Coronel Fernando Salema apareceu em um evento ao lado do
então deputado federal Jair Bolsonaro, a quem chamava de “nosso
presidente”. Na ocasião, Flávio Bolsonaro também foi homenageado pelo
comandante do 12° BPM (Niterói).
Segundo investigação do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco)
do Ministério Público do Rio, Salema negociou com as milícias da região
para organizar um ato de campanha em um reduto dominado pelos grupos: https://goo.gl/deiXLB.
—> 2017 – Flávio Bolsonaro
O PM Leonardo Ferreira de Andrade, segundo investigação do MP-RJ,
esteve em fevereiro de 2017 em uma ação em um frigorífico de Vista
Alegre. No local, o PM e seus companheiros de milícia constataram a
existência de alimentos em condições impróprias…
…Eles exigiram o pagamento de propina de R$ 30 mil para que o dono não fosse preso em flagrante: – https://goo.gl/D8YbTt.
Em setembro do mesmo ano, Leonardo recebeu uma moção de Flávio: goo.gl/5vJv1a.
—> fev/2018 – Jair Bolsonaro
Em fevereiro de 2018, durante entrevista para a rádio Jovem Pan, Jair
voltou a defender de maneira enfática os grupos criminosos
paramilitares: goo.gl/yAxyvQ.
—> ago/2018 – Flávio Bolsonaro
Dois PMs que atuavam na campanha do candidato ao senado carioca,
foram detidos na Operação Quarto Elemento. A ação do Ministério Público
Estadual investigava suposta quadrilha de milicianos na zona oeste do
Rio de Janeiro.
—> nov/2018 – Raul Jungmann
O então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ter
certeza de que “políticos poderosos” estavam envolvidos no assassinato
da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido em março do mesmo ano: https://goo.gl/eKfh9C.
–> Dez/2018 – Flávio Bolsonaro
Durante entrevista, Flávio Bolsonaro declarou que Queiroz foi
responsável por obter votos para a família na Zona Oeste do Rio. A área é
tomada por grupos de milícias e apenas candidatos apoiados pelos grupos
possuem autorização para fazer campanha.
—> Dez/2018 – Queiroz
Estourou na mídia o caso envolvendo o assessor Fabrício Queiroz,
lotado no gabinete de Flávio Bolsonaro e que tem a família lotada no
gabinete de Jair Bolsonaro (inclusive uma das filhas, mesmo trabalhando
como personal no Rio) …
… Entre os dias 7 e 20 de dezembro, Queiroz se manteve “escondido” em
Rio das Pedras, em uma comunidade dominada pela milícia conhecida como
Escritório do Crime: https://goo.gl/Je8J8U.
—> 2019 – Escritório do Crime
Uma operação do MP-RJ contra milícias acabou prendendo o PM Ronald e
deu ordem de prisão para Adriano (que segue foragido). A investigação
revela que ambos são lideranças da milícia Escritório do Crime, com base
em Rio das Pedras…
…A operação trouxe à luz um fato estarrecedor: tanto mãe, quanto
esposa de Adriano (chefe do escritório do crime) foram funcionárias de
Flávio Bolsonaro até novembro…
… A mãe do miliciano-chefe é sócia de um restaurante, longe da Alerj.
Em frente, há uma agência do Itaú, onde foi depositada a maior parte do
dinheiro vivo que entrou na conta de Fabrício Queiroz.
—> mar/2019 – O vizinho
O homem preso este mês como assassino de Marielle Franco, Ronnie
Lessa, atuava com Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe do
grupo de matadores da região de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de
Janeiro. Ronnie Lessa é vizinho da família Bolsonaro em condomínio na
Barra da Tijuca.
E a coisa toda não parou por aí!
Este ano também foi revelado que em Angra dos Reis e Ilha Grande, no
Rio de Janeiro, a milícia incentiva e explora pesca predatória do
camarão rosa.
Além de cobrar taxas de quem não tem registro, mantém uma frota de
barcos com pescadores ilegais, que rende cerca de R$ 1,2 milhão por
período.
Não por coincidência, sabem onde é a área de reserva ecológica que
Bolsonaro pretendia acabar? Isso mesmo! ANGRA DOS REIS! O mesmo local
onde Bolsonaro cometeu crime ambiental e, depois, crime de
responsabilidade, ao exonerar o fiscal do Ibama, que anos atrás o multou
por pesca ilegal no mesmo local.
E ainda tem bônus!
Em maio, um miliciano preso no DF por grilagem de terras foi identificado como tio da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Para finalizar, há ainda o episódio do “Seu Jair”:
Um porteiro ganhou destaque no Jornal Nacional de última terça-feira
(29), ao dizer à polícia que no dia da morte de Marielle e do motorista
Anderson Gomes, 14 de março de 2018, um dos suspeitos, Élcio de Queiroz,
obteve autorização de “seu Jair” para entrar no condomínio.
Mas, no dia seguinte, o Ministério Público revelou que a autorização para entrada foi dada por Ronnie Lessa.
Porém, um laudo publicado por diversos portais jornalísticos mostra
que entre os quesitos investigados não estava a possibilidade de
exclusão de arquivos de áudio no dia do assassinato. O laudo também
mostra que os peritos da promotoria não tiveram acesso ao equipamento do
condomínio, portanto não teriam como verificar se houve inserção de
arquivos com data e hora forjadas ou se houve exclusão de arquivos.
Não irei cometer a irresponsabilidade jornalística de fazer ilações
emocionadas contra o presidente da República, mas vejam só, são mais de
dez anos de idas e vindas com as milícias cariocas.
E é este excesso de coincidências que me preocupa.