Eles buscam na escola, levam à natação, ajudam no banho. Cada vez mais avós respondem por cuidados com as crianças Mas a questão é que eles também liberam o doce antes do jantar.
Os pais não poderiam contar com ajudantes mais confiáveis e preparados. Só que divergências no jeito de educar os pequenos podem tumultuar a convivência.
"Regras devem ser bem combinadas entre adultos",
|
|
|
|
Heitor, 1 ano e 7 meses, entre a mãe, Débora Ramos Batista, 37, e a avó, Beatriz |
"As avós acham que, se deu certo da forma como fizeram com os filhos, não há por que mudar. Mas a medicina evoluiu muito"
Segundo ele, muitas avós insistem em dar chás e papinhas para bebezinhos, quando a recomendação, hoje, é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses.
Avós também estão presas à ideia de que "mais gordinho é mais fortinho", afirma. "A criança que passa mais tempo com avó tende a ter um ganho de peso maior."
Se é assim, Lopez pede que a avó participe das consultas. "Pediatra que não ganha a avó perde o cliente", diz.
Além de ter guloseimas, a casa dos avós costuma ser um espaço gostoso onde netos podem assistir TV até tarde, comer no sofá etc.
Quer dizer: mais motivos para discussões entre pais e avós. "Na casa dos pais é uma lei, na dos avós é outra", libera geral a psicóloga Ceres Alves de Araújo.
"Quem educa é pai e mãe, os avós não têm essa função."
Vovô e vovó estão, portanto, autorizados a deixar o neto fazer tudo, até o que talvez negaram aos filhos, quando eram papai e mamãe.
Mas, se os pais da criança fazem um pedido
tipo não dar chocolate à criança, os avós devem atender, diz a psicóloga. "Agora. se não há ordem contra, tudo bem."
Se pais e avós não forem um só time, o pequeno percebe e tira proveito. "Sem acordo, a criança manipula", diz.
É preciso ficar claro que quem manda são os pais. "Se a criança pede algo aos avós, esses devem dizer que vão consultar os pais dela antes."
Beatriz Ramos, 63, diz se esforçar para não interferir na educação do neto Heitor, um ano e sete meses. "Tento ser solidária, mas respeitar o espaço. É preciso estar por perto, mas não tão perto."
Antes de arrumar uma briga por uma bobagem, os pais devem levar em consideração a dedicação dos avós.
"É preciso saber agradecer, lembrar que eles não têm obrigação de cuidar de criança, e que isso às vezes é um esforço para uma pessoa de mais idade", diz Tania Zagury, professora da UFRJ que lança o livro "Filhos: Manual de Instruções".
Para ela, avô não estraga neto. "O maior estrago pode ser mimar um pouco, mas o ganho afetivo é maior que qualquer mau hábito que a criança possa adquirir."
A convivência entre avós e netos beneficia os dois lados, claro. A tarefa de cuidar de criança faz com que muitos avós se sintam úteis e renovados. "Pessoas aposentadas e deprimidas ganham motivação com a responsabilidade, além do carinho da criança", diz Lopez.
Do lado dos netos, os ganhos vão além dos mimos. "A criança percebe o processo de envelhecimento, aumenta seu respeito pelos idosos e tem uma noção mais completa de família", diz a educadora Tânia.
NOVAS FAMÍLIAS
Os avós são figuras importantes nas novas famílias, com tantas separações e ramificações. "Aos avós cabe o papel de promover a unidade e harmonia dessas famílias ampliadas"
Muitas vezes, são os avós que têm novas uniões: surgem as figuras da avó madrasta, a "avodrasta", e do "avodrasto". "Avós acabam abarcando uma infinidade de crianças introduzidas na família",.
A Câmara dos Deputados aprovou projeto que dá aos avós o direito de visitar os netos, filhos de pais separados. Não é raro a criança manter só o vínculo familiar com quem obteve a guarda. Falta a sanção presidencial.
O administrador Danilo Chasles, 72, diz que remoçou com o nascimento do neto, Gabriel, 2. Vovô o acompanhou desde os exames de ultrassom e cuidou do menino quando recém-nascido.
"O Gabriel chama meu pai de 'vovô amigão'", diz a psicóloga Luciana Chasles, 32. E o "amigão" conta: "Quando vou buscá-lo na escola, ele corre e pula no meu colo."
CASA DA VOVÓ X ESCOLINHA
Quem não pode contar com os pais em tempo integral para deixar os filhos recorre às escolas infantis.
"Deixar com os avós é vantajoso pelo vínculo amorosos", afirma a professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp.
Mas as chamadas escolinhas oferecem vantagens. "Esses espaços possuem uma metodologia para cada faixa etária e criam um clima coletivo. As crianças aprendem a repartir, a perder e a ganhar", afirma a professora.
Um estudo de pesquisadores britânicos mostrou que bebês que estavam sob os cuidados dos avós aos nove meses de idade apresentaram mais problemas de comportamento aos três anos em comparação com crianças que estavam em creches, escolinhas ou com babás.
Foi provado que os bebês que convivem mais com os avós têm mais facilidade para vocabulário, mas perdem em experiências sociais.
"Os espaços cuidadores são mais lúdicos, a criança começa a ter uma desenvoltura melhor", defende a professora da Unicamp. "Se estiver pintando ao lado de um colega, a criança vai olhar o que o outro está fazendo, tentar imitar. Em casa, é provável que a avó queira ajudar com a pintura, e a criança não se sentirá tão desafiada."
| Editoria de Arte / Follhapress/Editoria de Arte / Follhapress |
|
|
*