Novos
estudos sugerem que deixar tarefas para depois faz parte do instinto
humano. Como evitar esse mau hábito e botar em prática as resoluções de
Ano-Novo
Começo do ano é que as pessoas costumam traçar planos, reavaliar objetivos e
pensar nas coisas que gostariam de mudar em sua vida. , nesta época
olhamos simultaneamente para o passado e para o futuro, animados pela
esperança de recomeçar. Há uma vontade genuína de mudança, mas ela
costuma esbarrar, para boa parte das pessoas, numa barreira tão sólida
quanto invisível: o hábito de adiar tarefas difíceis ou chatas,
deixando-as para amanhã. Ao final de um ano de adiamentos, descobre-se
que a vida mudou muito pouco.
Ao contrário do que parece,
esse não é apenas um problema seu. Ou apenas de seu filho, que não
estuda. Ou da nova garota no trabalho que não cumpre prazos. Empurrar
com a barriga é uma tendência universal, profundamente enraizada no
comportamento humano. É tão antiga que os romanos já tinham um nome para
ela: procrastinar, que significa, literalmente, mover alguma coisa de
um dia para o próximo.
Uma pesquisa recente da
consultoria Triad PS, de São Paulo, que ouviu mais de 3.500 internautas,
sugere que até 70% dos brasileiros postergam a realização de tarefas.
Nos Estados Unidos, segundo levantamento do psicólogo americano Joseph
Ferrari, pesquisador da Universidade DePaul, pelo menos 20% da população
se encaixa na categoria de procrastinadores crônicos - são pessoas que
adiam a realização de tarefas compulsivamente, a ponto de atrapalhar a
carreira e os relacionamentos pessoais. Mas nem é preciso ir tão longe
para esbarrar com as consequências negativas do hábito de deixar tudo
para amanhã. Quem nunca perdeu o sono com o acúmulo de coisas atrasadas,
que é o resultado invariável da procrastinação? Quem nunca se sentiu
culpado depois de uma sessão de quatro horas em frente à TV, quando
havia tantas coisas urgentes precisando de atenção? Quem não morreu de
raiva de si mesmo por ter adiado, sem justificativa, aquele telefonema
importante que, depois, acabou esquecido?
A
procrastinação deixa de ser apenas mau hábito e se torna um risco
quando contamina a vida profissional. Segundo a pesquisa da Triad PS,
64% das pessoas afirmam adiar sistematicamente tarefas no trabalho. Os
prejuízos são grandes. O risco mais óbvio é perder o emprego. “Postergar
tarefas é típico de gente acomodada, que não busca soluções para os
problemas”, diz Sofia Esteves, presidente da consultoria DM RH. “Não há
mais espaço nas empresas para profissionais assim.” Outro problema é
criar um clima ruim no ambiente de trabalho. “Hoje, os projetos são
feitos sobretudo em equipes”, diz Edson Rodriguez, consultor de gestão
de pessoas. “Ninguém quer pagar pelos atrasos do colega nem empurrá-lo o
tempo todo.” O procrastinador limita seu horizonte profissional. Não
aprimora seu trabalho porque faz tudo às pressas e tem medo de enfrentar
novos desafios – porque conhece sua limitação. Em um mercado
competitivo, vai ficar para trás. “As pessoas que chegam ao topo são as
que sabem usar seu tempo”, diz o especialista em gestão de tempo
Christian Barbosa, da Triad PS.
A boa notícia para todos
nós, que temos alguma dessas manchas no currículo, é que especialistas
de áreas tão distintas quanto economia, filosofia e psicologia estão
debruçados sobre o tema da procrastinação para nos ajudar a conciliar o
pouco tempo de que dispomos com a disposição que em geral nos falta. Uma
série de livros recém-lançados ou prestes a chegar às livrarias mostra
que é possível dar fim à procrastinação e parar de enrolar (
leia o guia abaixo).
Sim, existem técnicas para sacudir a preguiça e vencer a tentação de
empurrar as tarefas para daqui a pouco. Mas, para conhecê-las, leitor,
não deixe a leitura desta reportagem para depois. Esse depois poderá
virar nunca!
O
primeiro passo no processo de vencer a inércia é entender o tamanho do
inimigo – que é enorme. O psiquiatra americano George Ainslie,
especialista em economia comportamental, trata a procrastinação como o
mais básico de todos os impulsos humanos. Ele defende a ideia em um dos
capítulos do livro
The thief of time (
O ladrão do tempo),
lançado no ano passado nos Estados Unidos. “Não conseguimos controlar
totalmente nossa preferência por adiar esforço e chateação”, afirma
Ainslie. O pesquisador da Universidade Temple lembra que não precisamos
de qualquer tentação para cair na procrastinação. Outros impulsos – como
a fome, as drogas, o apetite sexual, o desejo de comprar – dependem de
objetos físicos para que possam ocorrer. Precisam de estímulo. “A
procrastinação, não”, diz Ainslie. Ela permeia nossos pensamentos como
parte de nossa maneira de pensar. Parece ser uma espécie de software
básico: invariavelmente tentamos evitar o que nos dá trabalho. É um
instinto. “Sempre parece melhor adiar custos”, afirma Ainslie. Ele diz
ser a prova viva do que fala. Apesar de ser um dos maiores especialistas
no assunto, não escapa de procrastinar. Para driblar o impulso, se
suborna com pequenas recompensas: “Eu me prometi que depois de dar esta
entrevista eu posso almoçar.” De recompensa em recompensa, Ainslie tenta
entender por que seres humanos adiam tarefas mesmo quando isso os
prejudica.
Uma boa explicação para esse paradoxo é que
somos muito apegados a nossos hábitos e modos de agir. Organizamos a
vida em torno deles, ainda que não sejam práticos ou razoáveis. A
historiadora gaúcha Cássia Silveira, de 29 anos, é adepta do “pânico de
última hora” para avançar no doutorado. Diz que deixa encaminhados todos
os artigos que tem de entregar ou apresentar em congressos. Mas só os
finaliza faltando minutos – isso mesmo, minutos – antes do prazo final.
“Se eu deixar pronto com antecedência, fico ansiosa. Acho que sempre dá
para melhorar”, diz Cássia. Ela garante que a estratégia nunca falhou.
“Procrastinar não gera nenhuma consequência negativa para mim, pelo
contrário.” Ela conta que durante um congresso ganhou alguns minutos
para finalizar sua apresentação no quarto do hotel porque conseguiu que
outro palestrante expusesse seu trabalho primeiro. Também garante que
conseguiu pegar promoções ao comprar um presente porque deixou para ir
ao shopping na última hora. O namorado, sistemático, havia se antecipado
nas compras e pagado mais caro.
Procrastinar, para
algumas pessoas, torna-se um estilo de vida, quase uma definição de
personalidade. É algo que rima com rebeldia, improvisação, desapego.
Parece ligado ao mundo dos criativos, em oposição aos chatos e
organizados. Mas será mesmo? Quem estuda o assunto de perto constata
pouco charme e muita angústia – além de uma série de desvantagens – na
vida dos proteladores seriais. A psicóloga canadense Fuschia Sirois, da
Universidade de Windsor, constatou que os efeitos de procrastinar se
estendem sobre a saúde. Em uma pesquisa com 254 voluntários, aqueles que
confessavam procrastinar com maior frequência tinham níveis mais altos
de colesterol. Provavelmente porque postergavam as consultas médicas, o
início do regime e a ingestão de medicamentos. Exibiam também os maiores
níveis de estresse por estarem sempre preocupados com suas pendências. E
os prejuízos não param aí. Uma pesquisa do escritório de contabilidade
H&RBlock, dos Estados Unidos, concluiu que os americanos recebem
multas de US$ 473 milhões ao ano por pagar impostos com atraso – um
gasto idiota, que poderia ser evitado. Seria sintoma de burrice,
masoquismo ou ambos?
Ainslie, um dos autores de
O ladrão do tempo,
tem outra explicação. Ele acredita que adiamos tarefas, apesar das
consequências negativas, devido à maneira como percebemos o tempo.
Parece algo filosófico, mas é uma questão prática. Responda rápido: se
alguém lhe oferecer R$ 50 agora ou R$ 100 daqui a dois anos, qual das
duas opções você escolheria? Ainslie constatou que a maior parte das
pessoas prefere ganhar menos dinheiro, contanto que ele venha rápido.
Mas, se a pergunta for escolher entre R$ 50 daqui a quatro anos e R$ 100
dentro de seis anos (exatamente a mesma quantia, mas em um horizonte de
tempo diferente), a maioria das pessoas escolhe os R$ 100. Isso sugere
que temos dificuldade em avaliar eventos futuros, inclusive nossa
capacidade de fazer coisas. Como o compromisso está distante – a prova, a
entrega do trabalho, o dia de viajar –, calculamos que vamos fazer lá
na frente muito mais do que conseguimos fazer agora. No fundo,
acreditamos que teremos – no mês que vem, na semana que vem, amanhã –
muito mais energia e disposição do que agora. Porque estaremos mais
descansados, teremos mais tempo... Mas o paradoxo embutido nesse tipo de
atitude é óbvio: se falta disposição hoje, é pouco provável que ela se
materialize amanhã. Afinal, o trabalho continuará igualmente chato e o
tempo para realizá-lo terá diminuído. Mas a ansiedade crescerá.
O
estudante carioca Bruno Mérola, de 22 anos, se define como uma pessoa
de “otimismo exagerado” em relação ao futuro. No começo de cada
semestre, ele sempre acha que dará conta de todas as matérias que
escolheu na faculdade de engenharia de produção. Na prática, conforme o
semestre passa, os trabalhos se acumulam e ele chega a repetir em
algumas disciplinas. “Quero fazer tudo ao mesmo tempo”, diz Mérola. Ele
conta que senta ao computador para estudar e acaba se perdendo na
internet, em pesquisas sobre música e cinema – o mesmo problema de 60%
dos entrevistados pela consultoria Triad PS. Mérola diz se incomodar com
o próprio comportamento, mas, tipicamente, adia o momento de
corrigi-lo. Em outubro de 2008, deixou um recado na comunidade
Procrastinadores Crônicos, do Orkut. “Não consigo terminar de ver
filmes, ler livros, ir à faculdade, dormir, fazer coisas simples nem
coisas importantes”, escreveu. Dois anos depois, ele já procurou ajuda?
“Não”, afirma. “É que agora não me incomoda tanto.”
Há
outras razões para explicar por que tantas pessoas se comportam como
Mérola. Procrastinar pode ser uma maneira de encontrar conforto quando
nos deparamos com uma atividade de que não gostamos. Nesses momentos,
procuramos algo que nos faça sentir bem, que ofereça satisfação
emocional imediata. Nosso cérebro adora esse tipo de gratificação:
instantânea, de preferência que não envolva esforço de qualquer espécie.
Trata-se de uma coisa profundamente humana, talvez mesmo uma compulsão
animal. Os bichos não adiam prazer. Vivem o presente eterno da
satisfação dos sentidos. Humanos funcionam de outra forma, mas não
inteiramente. “Veja o mecanismo que faz as pessoas engordar”, diz o
psicólogo Timothy Pychyl, pesquisador da Universidade Carleton, no
Canadá, e autor do blog Don’t Delay (Não Adie). “É bastante óbvio que
comer muita gordura e açúcar fará mal. Mas isso é depois”, diz ele. “Na
hora, sentir prazer é o que importa.”
Encontrar
estratégias que driblem esse mecanismo cerebral é uma forma de escapar
da tentação de procrastinar. O segredo parece ser transformar a execução
das tarefas mais chatas em algo quase automático, que não demande
esforço. “Você tem de entender aquilo de que gosta e usar a seu favor
para criar novos hábitos”, diz Pychyl. Ele desfia suas dicas no livro
The procrastinator’s digest (
Compêndio dos procrastinadores),
lançado no ano passado nos Estados Unidos. Ele usa sua paixão por
animais para se obrigar a praticar exercícios físicos. “A maneira que
encontrei de não desistir das atividades físicas foi ter cães que
precisam de passeios diários”, afirma. Quando essa estratégia falha, ele
lança mão de um procedimento supostamente mais simples: “se obriga” a
fazer aquilo que ameaçou procrastinar. Aliás, “é só começar” resume o
mantra dos pesquisadores desse assunto. Eles garantem que, depois de nos
engajarmos na tarefa, percebemos que ela não era tão repulsiva quanto
pensávamos. Será?
Os procrastinadores crônicos, que são
em maior número do que os depressivos, dirão que não é tão simples.
Essas pessoas postergam compromissos no trabalho e na vida pessoal
sistematicamente. Adotam a procrastinação como modo de vida – com todas
as consequências nefastas que isso acarreta. No livro
Still procrastinating? (
Ainda procrastinando?),
lançado em setembro do ano passado, o pesquisador Joseph Ferrari afirma
que, para os procrastinadores crônicos, não basta dizer “é só começar”.
Seria o mesmo que sugerir para uma pessoa deprimida “alegre-se!”.
Primeiro, eles precisam reconhecer que a mania de adiar tarefas e
compromissos é um problema, uma vez que muitos camuflam a procrastinação
sob o lema “A vida é curta, e eu quero mais é aproveitar”. Um recado de
Pychyl para os que pensam assim: “Não há nenhum aspecto positivo no
vício de procrastinar. A procrastinação não tem lado bom”.
Como
se trata de um comportamento comum, os especialistas têm dificuldade em
definir o perfil psicológico dos procrastinadores. Mas já sabem algo
sobre os que sofrem da forma mais aguda do problema. Pessoas impulsivas,
por exemplo. Elas costumam cair em tentação facilmente e abandonam as
tarefas no primeiro contratempo. Aquelas que são perfeccionistas – mas
que adotam os padrões de perfeição dos outros e não os seus próprios –
também estão entre os procrastinadores frequentes. Elas temem falhar e,
para evitar a frustração, preferem adiar a execução da tarefa. É
possível que esse comportamento seja reflexo de interação entre aspectos
ambientais (como os costumes da família, que servem de modelo) e
biológicos. Uma pesquisa realizada no Instituto Nacional de Saúde Mental
dos Estados Unidos sugere que cada pessoa pode ser programada
biologicamente para um nível de procrastinação.
Os
cientistas desligaram no cérebro de macacos receptores de dopamina, uma
substância que entra em ação quando fazemos algo que nos dá prazer. Os
animais passaram a cumprir todas as tarefas, sem se importar com que
tipo de recompensa recebiam. Mas alguns se esforçavam mais do que os
outros – um indício de que, mesmo quando o mecanismo de recompensa está
“desligado”, há uma programação que controla a motivação. Ao menos dos
macacos.
O que fazer diante dessa aparente conspiração
contra o esforço? Organizar-se é um bom começo. Quem acha isso difícil
pode usar métodos para aumentar a eficiência pessoal no dia a dia, como o
Getting things done – algo como Deixando as coisas prontas. Os
iniciados na metodologia o chamam de GTD. O programa foi inventado pelo
consultor americano David Allen em 2001 e, desde então, já conseguiu
mais de 500 mil seguidores. O princípio do GTD é simples: para não ficar
estressado, tire da cabeça as tarefas que você tem de realizar. Crie um
diário para reunir seus compromissos, suas contas e pendências. Faça
listas de afazeres de acordo com a prioridade. Pode ser num caderno, no
computador, no celular. O importante é registrar o compromisso para não
ter de pensar nele. “A ideia é não repassar mentalmente, o tempo todo,
tudo aquilo que temos para fazer”, diz o consultor paulistano Daniel
Burd, certificado para ensinar a metodologia GTD no Brasil. “Aumentamos
nossa produtividade quando estamos focados em uma atividade de cada
vez.” Uma vez ao dia as informações anotadas no diário têm de ser
processadas. É o momento de fazer três perguntas:
1. Posso
resolver isso agora? Se a ação for demorar até dois minutos, algo como
mandar um e-mail pedindo uma informação, ela deve ser colocada em
prática naquele momento. Caso leve mais tempo, vá para a segunda
pergunta.
2. Qual é a primeira atitude
para dar andamento à tarefa? Se o objetivo é comprar um novo notebook, a
primeira ação pode ser fazer uma pesquisa de preços. Definido como
começar a cumprir a tarefa, faça a terceira pergunta.
3. Posso
incumbir alguém da tarefa? Caso não, confira sua agenda para encontrar
um horário para acomodá-la. Uma vez por semana separe alguns minutos
para revisar sua lista de pendências e planejar a semana seguinte.
Métodos
como o GTD podem ser eficazes, mas exigem disciplina quase militar. Eu
mesma, que me considero uma pessoa organizada e já praticava sozinha
algumas das técnicas do GTD, sofri para cumprir à risca as diretrizes
essenciais do método. O trabalho fluiu maravilhosamente bem. Foi ótimo
olhar para minha agenda na tarde de sexta-feira e ver que não havia
pendências para a semana seguinte. Mas confesso que me senti pressionada
pela lista de afazeres. Provavelmente porque não sou tão disciplinada
quanto imagino.
Esse não é o caso do empresário mineiro
Bernardo Lobato Fernandes, de 36 anos. Ele prima pela organização e pela
eficiência. Já estudou vários métodos de produtividade por conta
própria e, agora, está se iniciando no GTD. Fernandes quer aprimorar sua
capacidade de resolver as tarefas diárias sem deixar nada passar. Agora
está testando integrar o celular ao programa de e-mails e calendário.
“Tenho certeza de que a disciplina e a organização me fizeram progredir
nos negócios”, diz Fernandes. Aos 18 anos, ele abriu uma agência dos
Correios. Aos 23, fundou uma fábrica de matéria-prima para sorvete.
Hoje, é o presidente fundador da Globalbev, empresa de produção e
distribuição de bebidas com 450 funcionários.
O caso dele
ilustra o que já se sabe: disciplina e bom aproveitamento do tempo são
elementos essenciais ao sucesso profissional. O problema é que ser tão
organizado parece tolher aquilo que há de bom na vida, como tomar um
chope com os amigos durante a semana, reservar uma noite ao ócio, dormir
até mais tarde na sexta-feira. Quem já tentou sabe que manter a agenda
em dia exige sacrifícios. A boa notícia: quem se acostuma com essa
rotina garante que sobra tempo para viver. “Quando você tem segurança de
que está tudo sob controle, consegue aproveitar o tempo livre sem
preocupações”, diz Fernandes. Ele conta que sai no máximo uma noite
durante a semana, mas compensa no fim de semana com programação de lazer
intensa: “Eu acho que chata é a pessoa que vive estressada por não
conseguir cumprir seus prazos”.
O segredo, como em tudo, é
encontrar o equilíbrio. A publicitária paulistana Thais Godinho, de 29
anos, era uma organizadora obsessiva. Há três anos, chegou a um ponto
crítico. Thais tinha tantas pastas para arquivar listas de afazeres,
projetos e contas que não sabia mais consultá-las. As compras de Natal
ela fazia em julho. Cobrava-se tanto que vivia estressada. “Quando o
planejamento vira perfeccionismo absurdo, a pessoa acaba sem
flexibilidade para viver”, diz Christian Barbosa, da Triad PS. “Planejar
além da conta pode ser um tiro no pé.” Hoje, Thais diz estar convencida
de que a melhor maneira para cumprir suas tarefas é simplificar. Ela
mantém uma agenda em que anota seus afazeres. Em preto, estão as tarefas
profissionais. Em azul, trabalhos extras. Em verde, compromissos
pessoais. As compras de Natal foram postergadas – para outubro. Os
parâmetros de Thais ainda são elevados para a maioria das pessoas. Mas é
o que funciona para ela.
A conclusão mais reconfortante
dos estudos sobre procrastinação vem do universo cristão. Um grupo de
pesquisadores liderados por Michael Wohl, da Universidade Carleton, no
Canadá, constatou que o melhor método antiprocrastinação é se perdoar.
Wohl acompanhou 134 universitários durante duas etapas de provas.
Aqueles que se perdoaram por ter adiado os estudos antes do primeiro
teste procrastinaram menos antes da segunda prova. Eles estudaram mais e
tiveram um desempenho melhor do que os alunos que só ficaram se
lamentando. Isso acontece, segundo os cientistas, porque o perdão
implica admissão do problema. Por trás dele existe a disposição
inconsciente de mudar as próprias atitudes. Ainda não está claro se
funciona para todos, mas parece um começo promissor.
MARCELA BUSCATO
Época