Porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um dos suspeitos da morte
esteve no local e disse que iria à casa 58 e que o "seu Jair" atendeu
ao interfone e autorizou a entrada. Bolsonaro, no entanto, estava em
Brasília naquele dia.
Por Luiz Felipe Barbiéri, G1 — Brasília
O presidente Jair Bolsonaroafirmou neste sábado (2) que pegou a gravação das ligações da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, onde tem uma casa, para que não fossem adulteradas. O presidente falou com jornalistas sobre o assunto durante visita a concessionária em Brasília, onde ele comprou uma motocicleta.
Reportagem do Jornal Nacional mostrou na terça-feira (29) que um porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, o ex-policial militar Élcio Queiroz, suspeito de participação no crime, esteve no local e disse que iria à casa 58, casa que pertence ao presidente, e que o "seu Jair" atendeu ao interfone e autorizou a entrada.
Queiroz, entretanto, seguiu para a casa de Ronnie Lessa, outro suspeito do assassinato, no mesmo condomínio. Naquele horário, o então deputado Jair Bolsonaro estava em Brasília e participou de votações na Câmara no mesmo dia.
"Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano. A voz não é a minha", declarou Bolsonaro.
Neste sábado (2), o presidente voltou a dizer que estava em Brasília e não
no Rio de Janeiro no dia em que o ex-policial militar Élcio Queiroz esteve no Condomínio Vivendas da Barra.
Gravação da portaria
Na quarta (30), o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que um
áudio obtido na investigação da morte de Marielle e Anderson mostra
que foi o PM aposentado Ronnie Lessa quem liberou a entrada do
ex-PM Élcio de Queiroz no Condomínio Vivendas da Barra, horas
antes do crime, em 14 de março de 2018 (veja no vídeo acima).
Suspeitos de serem os autores do assassinato, os dois estão presos
desde março deste ano.
Também na quarta, uma gravação divulgada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) mostrou que a autorização para a entrada do
u da casa em que morava outro suspeito – Ronnie Lessa – e não da
casa do presidente.
Nesta sexta-feira (1º), o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Marcos Camargo, afirmou que a análise das provas que envolvem o sistema que registra ligações de interfone no condomínio do presidente Jair Bolsonaro foi superficial e que a ausência de perícia oficial pode levar à nulidade do processo.
"Lá na frente, se não tiver perícia, ele é passível de ser anulado",
afirmou Marcos Camargo. A decisão sobre o arquivamento ou nulidade
do processo cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR).