Por ainda estarem aprendendo a viver em sociedade, as crianças têm um jeito peculiar de lidar com determinadas situações. Birras, amizades desfeitas (e refeitas) em segundos, por motivos bobos, necessidade de chamar a atenção em certas circunstâncias e atitudes mimadas e egoístas --porque sabem que podem contar com o apoio do pai e da mãe-- são alguns exemplos. O problema é que há quem leve esses comportamentos para a vida adulta --em especial no modo de interagir com o chefe e com os colegas.
Muitas pessoas nem se dão conta de que agem de maneira infantil, mas alguns sinais são importantes para mudar a tempo de não prejudicar uma futura promoção. A seguir, oito frases e atitudes típicas de crianças traduzem comportamentos inadequados no ambiente profissional. Reflita se é o seu caso.
1 - "Você não é mais meu amigo" (ao ouvir uma crítica)
É natural não se sentir bem ao receber críticas, mas a capacidade de ouvi-las deve ser desenvolvida diariamente em um ambiente profissional. Qualquer reação negativa é sinal claro de imaturidade.
"As reações mais comuns observadas em quem não tem essa habilidade são levar o assunto para o campo pessoal e se sentir ofendido, romper o relacionamento com o autor da crítica, responder de forma agressiva e tentar justificar a posição sem elaborar o que escutou", afirma Vagner Sandoval, especialista em gestão de pessoas, liderança e coaching executivo e professor da IBE-FGV (Institute Business Education – Fundação Getúlio Vargas).
"O profissional nunca deve ser reativo. É preciso saber ouvir e avaliar os pontos que precisam ser aperfeiçoados", declara Ylana Miller, sócia-diretora da consultoria organizacional Yluminarh, do Rio de Janeiro, e professora de gestão de carreiras da faculdade Ibmec, também na capital fluminense.
2 - "Não quero mais brincar" (abandonar algum projeto ou bater o pé quando não concordam com suas ideias ou sugestões)
No dia a dia, pode acontecer de, em determinadas situações, alguém enxergar algo sob um viés diferente da maioria e tentar convencer os outros da própria opinião a qualquer custo.
"É preciso debater, sim, e expor o ponto de vista. Mas, se mesmo assim ninguém comprar sua ideia, reflita que talvez o momento não seja o mais apropriado para ela ser posta em prática. É preciso levantar a cabeça e continuar. O que não pode acontecer é travar todo um projeto porque as pessoas não concordam com você", diz o psicólogo Carlos Eduardo Pereira, consultor de carreiras do site Bê-á-bá do RH.
"Se recusar a participar de algo porque a decisão vai contra sua sugestão indica falta de compromisso, empatia e respeito às necessidades do outro e, principalmente, da empresa", fala Izabel Failde, psicóloga organizacional e orientadora de carreiras.
Para Andrea Mele Peixoto, professora da Escola de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, esse tipo de atitude mimada vem sendo muito comum entre a chamada Geração Y, que contempla os nascidos entre os anos 1980 e meados da década de 1990. São pessoas cujos pais --temendo a rejeição e culpados pelo pouco tempo disponível para os filhos-- foram educadas para se sentirem especiais, diferentes e, às vezes, superiores às demais. Resultado: acham que o universo, inclusive o corporativo, deve ceder aos seus caprichos e vontades.
3 - "Vou contar tudo para minha mãe" (ou melhor, para o chefe, em vez de resolver questões com os próprios colegas)
Segundo Vagner Sandoval, da IBE-FGV, ao reagir dessa forma infantil, o profissional demonstra não só imaturidade como a falta de capacidade de negociar e de resolver conflitos. "Ao levar para o superior questões que poderiam ser resolvidas a partir do diálogo entre os envolvidos, a pessoa prejudica o ambiente e enfraquece sua rede de relacionamentos", declara o especialista.
A atitude é desrespeitosa e fomenta o clima de desconfiança na equipe. "Muitos chefes adoram e estimulam esse comportamento, porque ficam conhecendo as últimas fofocas e, principalmente, por acreditarem ter um aliado infiltrado no grupo. Porém, esse profissional certamente será taxado de puxa-saco e nunca contará com o respeito, simpatia ou confiança dos colegas", diz a psicóloga Izabel Failde.
4 - "Quero chamar a atenção, por bem ou por mal" (comporta-se de maneira equivocada em reuniões, não deixando ninguém falar, por exemplo)
Podem existir dois fatores por trás desse comportamento exibicionista. O primeiro é carência e/ou necessidade de se sentir prestigiado. O segundo é egocentrismo, característica de quem se acha o dono da verdade.
Falar em momentos inoportunos e por tempo indeterminado (não deixando mais ninguém se expressar) compromete o andamento da reunião e, consequentemente, deprecia a avaliação do profissional. "Uma dica muito utilizada para não passar do ponto e, dessa forma, não enfadar os presentes, é sempre monitorar a expressão não verbal dos participantes", fala o especialista em gestão de pessoas Vagner Sandoval. "Quando as pessoas começarem a se mexer na cadeira pode ter certeza que você falou demais. É hora de ir para a conclusão da fala."
5 - "Gosto de brincar de lutinha" (compete com os colegas de maneira impulsiva e irracional)
Já na educação infantil, muitas crianças inventam coisas sobre os colegas ou colocam os amigos uns contra os outros para receberem atenção diferenciada dos professores. Na idade adulta, e em muitos ambientes corporativos, a situação não é lá muito distinta. A diferença é que os menores, por não terem consciência da consequência dos seus atos, nem sempre agem de má fé.
"Essas pessoas têm o ego inflado e querem ser as primeiras em tudo, consequência da falta de limites e das concessões dadas pelos pais", diz a professora Andrea. Ela ainda chama a atenção para o fato de que, nas últimas décadas, universidades e empresas ensinaram, de forma mais ou menos sutil, que o colega tem de ser visto como concorrente.
Para Sandoval, da IBE-FGV, quando a competição interna ocorre sob critérios claros e é avaliada de forma transparente pode, sim, gerar resultados positivos, pois estimula a atualização e o desenvolvimento dos profissionais e, logo, da empresa. O problema é que nem sempre os critérios são objetivos. E alguns ambientes priorizam a competição abusiva e desleal por terem uma visão equivocada de que isso traz à tona o melhor de seus profissionais.
6 - "Papai e mamãe são meus e de mais ninguém" (morre de ciúme do chefe)
Muitos profissionais, após um certo tempo de casa, desenvolvem laços mais estreitos com o chefe e se sentem enciumados quando um colega também se aproxima ou é elogiado pelo mesmo. Típico sentimento de criança emburrada com a chegada do irmãozinho? Pois é.
"No âmbito profissional, o problema é que como a pessoa fica 'sentida' acaba não desempenhando seu trabalho direito, degradando o relacionamento com o colega e, por consequência, com toda a equipe", afirma Pereira, consultor do site Bê-á-bá do RH.
7 - "Sempre passam a mão na minha cabeça" (abusa do bom relacionamento com o chefe para não cumprir com o proposto)
Mais uma vez, o tempo de empresa e o relacionamento estreito com o chefe pode confundir um pouco a cabeça de muita gente. Abusar da confiança é uma atitude infantil que pode colocar um ponto final na carreira dos mais competentes funcionários.
"Algumas pessoas deixam de ser pontuais ou de cumprir certas tarefas porque sabem que, pela trajetória dentro da empresa, o chefe dificilmente chamará a atenção por motivos que julgam pequenos. Não é bem assim", declara Pereira.
Nesse contexto, colegas acabam ficando sobrecarregados e podem se sentir desprestigiados, provocando um clima de mal-estar generalizado. "O ideal seria agir de maneira oposta. Com um certo tempo de casa, é hora de o profissional começar a solidificar sua caminhada aos cargos estratégicos da companhia", diz o psicólogo. Folgar é um tipo de deslize que freia tal crescimento.
8 - "Adoro zoar com os colegas" (exagerar nas brincadeiras no ambiente de trabalho)
Na maioria das escolas, é comum observar crianças e adolescentes que gostam de zombar dos mais tímidos ou dos que se comportam de forma diferente. "Alguns não amadurecem quando adultos e replicam os mesmos comportamentos na empresa. Se no meio dos amigos da escola tais ações podem elevar a moral e o respeito perante os demais, pois caracterizam um certo tipo de força e influência sobre o grupo, no ambiente de trabalho, o efeito é contrário, desastroso e extremamente prejudicial para a carreira e a reputação do profissional", fala Sandoval.