9.07.2013

Comportamento


Estudo: 30% dos britânicos dormem nus e 7% usam meias durante a noite

Pesquisa avaliou hábitos noturnos de todo o mundo Foto: Getty Images
Pesquisa avaliou hábitos noturnos de todo o mundo
Foto: Getty Images
Um estudo intitulado The International Bedroom descobriu que os britânicos são duas vezes mais propensos a dormirem nus do que os americanos. No questionário, 30% dos britânicos responderam que preferem dormir pelados, contra 12% dos norte-americanos e 9% dos alemães. As informações são do Daily Mail.

A enquete estudou os rituais noturnos de pessoas de todo o mundo e descobriu que 7% dos britânicos dormem com meias, 17% dos norte-americanos têm o hábito e 19% dos canadenses. Em relação à higiene, a pesquisa levantou que 55% dos britânicos trocam a roupa de cama uma vez por semana, contra 18 % dos alemães.

Do total de britânicos participantes, 13% contaram dormir com as persianas abertas, um em cada dez disse que o pet também passa a noite na cama e um em cada cinco britânicos usa três ou mais travesseiros. 

Terra

Clareamento dental sem supervisão pode causar até câncer

O uso de kits clareadores de forma exagerada ou sem orientação profissional pode causar danos à saúde oral do usuário, inclusive, lesões cancerígenas
Foto: Shutterstock
O clareamento dos dentes, procedimento cada vez mais procurado pelos pacientes insatisfeitos com as manchas, pode trazer desconfortos muito maiores para quem o faz de maneira inadequada. O uso de kits clareadores de forma exagerada ou sem orientação profissional pode causar danos à saúde oral do usuário, inclusive, lesões cancerígenas.

A dentista da Sorridents, Andrea Serikawa, explica que o clareamento nunca é feito de uma só vez. Como se trata de um procedimento repetitivo, pode irritar a mucosa e causar lesões que podem vir a se desenvolver como tumor. “Isso porque há a proliferação inadequada de células, por um estímulo externo ao organismo. Isso faz com que haja uma desorganização da composição celular”, diz.

Por isso, a importância do acompanhamento profissional se dá no momento em que é imprescindível prevenir o contato da mucosa com os produtos. Em geral, nos consultórios, é aplicada uma camada de resina que protege a gengiva e mantém o material somente nos dentes. “Cabe ao dentista avaliar o progresso após o procedimento e se houve lesões”, aponta. 

O consultor científico da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Mauro Piragibe, destaca que o clareamento feito de forma indiscriminada pode causar ulcerações nas mucosas como lábios e bochecha, na língua e na gengiva, além de hipersensibilidade nos dentes e até mesmo reabsorções na raiz. “Pode haver danos como queimaduras que, dependendo do grau, podem virar pequenas aftas, ulcerações maiores e até perda de tecido gengival”, diz.

Controvérsias
Para o oncologista Ricardo Caponero, da Clinonco, o desenvolvimento de doenças a partir do contato da água oxigenada com a mucosa não está comprovado. “A água oxigenada é rapidamente degradada e libera oxigênio em forma de gás e água. Mesmo sendo um radical livre altamente reativo, usado sobre a pele, o oxigênio é liberado na atmosfera, sem nenhum efeito lesivo conhecido”, pontua. 

SAÚDE E BELEZA

No Dia da Pátria, só vândalos aparecem nas manifestações

Sete de Setembro

Mais uma vez, a cena se repetiu nas principais capitais do país: o protesto como desculpa para um pequeno grupo de arruaceiros realizar o quebra-quebra

Os protestos já viraram rotina no calendário das principais cidades brasileiras. Como também passou a ser comum o quebra-quebra do patrimônio público. Neste sábado, 7 de setembro, Dia da Independência, as manifestações convocavam milhões de pessoas para sair às ruas. Mas apenas uma pequena parcela compareceu para, claro, provocar confusão. Foram os seguidores da tática black bloc, que pretendiam chamar mais atenção do que os desfiles cívicos.
As maiores manifestações ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. As três capitais registraram, mais uma vez, cenas de confronto entre pequenos grupos e policiais. Também ocorreram passeatas em Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e cinco capitais. Ao todo, 40 cidades registraram algum tipo de protesto.
Pelo balanço das polícias militares de todo o país, menos de 20.000 pessoas foram às ruas neste sábado e pouco mais de 500 pessoas foram detidas. Até às 22 horas, 50 manifestantes foram levados para a delegacia em Brasília. No Rio, 77 foram detidos. Em São Paulo, 39 pessoas foram presas. Em Curitiba, 27 e em Fortaleza, 30. Cerca de 20 manifestantes ficaram feridos.
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O temor de confusão esvaziou as paradas militares. Em Brasília, pela manhã, o forte esquema de segurança impediu que o público acompanhasse o desfile do gramado da Esplanada dos Ministérios, como já é tradição. Apenas quem foi para as arquibancadas pode assistir à marcha. A Polícia Militar colocou 4.000 homens a mais para garantir a segurança e revistar bolsas e mochilas. No Rio, cerca de 300 manifestantes contornaram a barreira policial montada para evitar a chegada à área do desfile e conseguiram alcançar a pista lateral. Houve lançamento de bombas de gás, prisão de manifestantes e tumulto generalizado nos arredores da Avenida Presidente Vargas, nos arredores do desfile. Assustados, os espectadores se refugiaram nas estações do metrô - o prefeito Eduardo Campos e o governador Sérgio Cabral não estavam presentes. Em São Paulo, não houve incidentes durante a parada, que neste ano não teve a presença da cavalaria e da Tropa de Choque da PM, que foram deslocados para outros pontos da cidade. 
A presidente Dilma chegou às 9 horas - quinze minutos depois do previsto na agenda oficial - para acompanhar o desfile na capital federal. Estiveram presentes na tribuna de honra o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha; o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz; e o presidente do STF, Joaquim Barbosa. As ausências notadas foram as dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves.
Apesar de o número de manifestantes ter sido bem menor do que os 40.000 esperados pelo governo local, um grupo de cerca de 500 pessoas deu trabalho para a polícia em Brasília. Trinta e nove foram detidas. Logo após o fim do desfile, parte dos militantes tentou forçar a entrada no Congresso Nacional. Depois de serem repelidos pelos policiais, eles se dirigiram ao estádio Mané Garrincha. Houve novos confrontos e o grupo não conseguiu se aproximar da arena. Ele atacaram uma concessionária, onde danificaram cinco carros, tentaram invadir a sede da TV Globo e fecharam algumas das principais vias da capital. Os comerciantes da rodoviária do Plano Piloto e de um shopping no centro de Brasília fecharam as portas. Alguns militantes, com o rosto coberto, arremessaram rojões nos policiais. 
O desfile militar em São Paulo começou às 9h15 com um protesto nas arquibancadas do Sambódromo do Anhembi, zona norte da capital paulista.  Um pequeno grupo de policiais civis e militares levou faixas e bradou contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB).  O ato ocorreu em frente à tribuna de honra, onde Alckmin acompanha o desfile ao lado do prefeito Fernando Haddad (PT), do comando das Forças Armadas e também das polícias Civil e Militar. 
Em São Paulo, cerca de 1.000 manifestantes fecham os dois sentidos da Avenida Paulista na altura do vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Dois grupos diferentes se concentraram no local: um ligado a movimentos contra a corrupção e o outro, aos black blocs. Caracterizados pelas roupas pretas e máscaras, o grupo anarquista tinha um carro de som e de uma TV de plasma para propagar suas ideias de guerrilha urbana. Em frente ao prédio da TV Gazeta, os mascarados quebraram as vidraças de uma banca de jornal e de uma agência bancária do Bradesco. Também depredaram cavaletes e guarda-sóis colocados na ciclofaixa da Paulista. 
Os black blocs entraram em confronto com a Polícia Militar em frente à Câmara Municipal, no centro de São Paulo. O grupo de mascarados apedrejou o prédio público e a Tropa de Choque da PM respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Em seguida, os vândalos cercaram um efetivo da Polícia Militar e atacaram fogos de artifício, pedras e paus nos policiais. A Tropa de Choque avançou para cima dos manifestantes. O edifício da Procuradoria Geral do Município também teve as vidraças quebradas por pedras atiradas de estilingues. 

Mais de um terço da população mundial pode ter deficiência de vitamina D

Osteoporose

Análise de 195 estudos realizados em 44 países mostra que 37,3% deles detectaram níveis da vitamina abaixo do necessário

Corpo humano é capaz de produzir a vitamina sozinho, desde que seja exposto a uma quantidade suficiente de luz do Sol
A principal fonte de vitamina D é a luz do Sol. Mesmo assim, grande parte da população possui baixos níveis dessa vitamina no snague, o que pode acarretar no desenvolvimento de osteoporose e outros problemas ósseos (Thinkstock)
A deficiência da vitamina D pode levar a uma série de complicações de saúde, como raquitismo, osteoporose e até câncer. Mesmo assim, estudos que analisam seu nível entre a população mundial são raros. Por causa disso, pesquisadores da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, realizaram uma revisão de 195 pesquisas conduzidas em mais de 168.000 voluntários em 44 países ao redor do mundo. O resultado, publicado na revista British Journal of Nutrition, mostra que mais de um terço desses estudos detectou níveis insuficientes da vitamina na população local.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: A systematic review of vitamin D status in populations worldwide

Onde foi divulgada: periódico British Journal of Nutrition

Quem fez: Jennifer Hilger, entre outros

Instituição: Universidade de Heidelberg, na Alemanha

Dados de amostragem: Revisão de 195 estudos conduzidos em 44 países com mais de 168.000 pessoas

Resultado: 37,3% dos estudos detectaram níveis médios de 25(OH)D abaixo do 50 nmol /L, mostrando que a população analisada possuía deficiências em vitamina D
A principal fonte de vitamina D é o Sol, mas ela também pode ser encontrada em alimentos como leite e ovos. Baixos níveis da substância podem ter um impacto sério na saúde da população, principalmente no desenvolvimento dos ossos e músculos. Em crianças, a deficiência de vitamina D é uma das causas do raquitismo, enquanto que em idosos ela está associada com a osteoporose e a um risco elevado de fraturas. Evidências cada vez maiores apontam também para o aumento do risco de câncer e doenças cardiovasculares.
Por isso, os pesquisadores alemães analisaram uma série de estudos publicados ao redor do mundo sobre o assunto. Cada um deles avaliava o nível de 25(OH)D — um produto do metabolismo da vitamina D — no sangue da população local. As autoridades de saúde consideram que pessoas com um nível abaixo dos 50 nanomoles por litro (nmol/L, a medida mais comum para medir a concentração da substância no sangue) tem algum tipo de deficiência no consumo da vitamina D. "Embora tenhamos encontrado um alto grau de variabilidade entre os diversos relatórios sobre o consumo de vitamina D, 37,3% deles relataram níveis insuficientes de 25(OH)D na população", diz Kristina Hoffmann, pesquisadora da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.
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VITAMINA D
Armazenada no fígado, promove a absorção de cálcio e fósforo do intestino. A evidência mais forte sobre seus benefícios é a proteção contra fraturas ósseas, mas pesquisas também já relataram uma associação entre a vitamina e uma menor prevalência de doenças cardiovasculares e câncer. A deficiência da vitamina pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. A principal fonte da substância é o sol, mas também é possível obtê-la em alimentos ricos na substância, como bacalhau, salmão, leite e gema de ovo.

Segundo o estudo, as faixas da população que mais sofrem com a deficiência da vitamina são os recém-nascidos e os idosos internados em asilos e hospitais. A região que teve os níveis mais altos de vitamina D em todo mundo foi a América do Norte. Os pesquisadores conseguiram encontrar poucos estudos sobre a América do Sul, o que não permitiu uma análise realmente representativa da região.
A Fundação Internacional de Osteoporose, que reúne pesquisadores e médicos da área, afirma que o estudo deve servir como um incentivo para maiores investigações acerca do tema, bem como para medidas de saúde pública que melhorem os níveis da vitamina nos grupos de maior risco. "Dado o aumento global no número de idosos e o aumento de quase quatro vezes nas fraturas de quadril desde 1990, as autoridades de saúde pública devem analisar o impacto que esse nível inadequado de vitamina D tem sobre os riscos de fratura e na saúde em geral de sua população idosa, bem como das crianças e adolescentes”, diz Judy Stenmark, diretora da fundação.

O nascimento da inteligência


Pesquisas revelam que fatores como amamentação, suplementação de vitamina D e até a obesidade dos pais terão impacto no nível do QI da criança do seu nascimento até o resto de sua vida

Monique Oliveira e Wilson Aquino

Uma safra de novos estudos realizados em todo o mundo está apresentando revelações surpreendentes sobre o processo de desenvolvimento da inteligência humana. As pesquisas apontam, pela primeira vez, fatores importantíssimos associados ainda à vida uterina e aos primeiros anos de vida que serão decisivos para a evolução do intelecto. Reunidos, esses trabalhos traçam o mais completo retrato científico do nascimento da inteligência.
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E se trata de um retrato belíssimo. Ele deixa claro o quanto essa habilidade depende de uma combinação complexa de circunstâncias para que atinja seu ápice na vida adulta. Condições que surgem antes mesmo da fecundação, como evidencia uma pesquisa realizada no Centro Médico Forest Baptist (Eua). O trabalho apontou que filhos de mães com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 (já classificado como obesidade) têm maior chance de desenvolver limitações cognitivas. Eles manifestaram três pontos a menos de QI (quociente de inteligência) em relação aos nascidos de mulheres de peso normal. Ainda se estuda de que maneira o excesso de peso da mãe impacta a inteligência do filho, mas há algumas hipóteses. “O acúmulo de peso pode contribuir para um maior número de células anormais do sistema imunológico, capazes de atacar outras estruturas”, disse à ISTOÉ Jennifer Helderman, uma das autoras do estudo. “O mecanismo resulta em uma maior predisposição à inflamação, que poderia afetar o tecido neurológico da mãe e do feto”, especula.
Nas primeiras semanas após a fecundação, inicia-se uma etapa-chave: é quando começa a se formar o tubo neural, a estrutura que dará origem ao cérebro. Diversos trabalhos relacionam o sucesso desse processo à presença em concentração adequada de ácido fólico (vitamina B). Caso contrário, uma das extremidades do tubo não se fecha, originando, por exemplo, a anencefalia (ausência parcial do encéfalo e da calota craniana). “Pesquisas confiáveis apontam forte conexão entre déficit de ácido fólico e essa anomalia”, explica o médico Luiz Celso Villanova, chefe do setor de neurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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Outras duas substâncias despontam com igual importância para a formação da inteligência: o iodo e a vitamina D. Estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido, analisou as concentrações de iodo na urina de 1.040 mães em estágio inicial da gestação. Depois, aos filhos nascidos dessas gestantes foram administrados testes de inteligência aos 8 anos e de leitura, aos 9. As crianças com piores desempenhos foram as geradas por mães que apresentaram ingestão de iodo menores do que 150 mg por dia. “Sua deficiência em gestantes deve ser tratada como um assunto de saúde pública”, escreveram os autores da pesquisa. No Canadá, uma análise de vários trabalhos sobre o tema feito pela Universidade McGill concluiu que crianças nascidas de mães que receberam suplementação do composto na gravidez e após o nascimento tiveram QI entre 12 a 17 pontos mais alto do que as demais.
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O neuropediatra Villanova alerta para a importância da suplementação de
alguns nutrientes como forma de garantir a formação correta das estruturas cerebrais
Igual influência apresenta a vitamina D, segundo pesquisas recentes. Pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Epidemiologia Ambiental de Barcelona, na Espanha, acompanharam 1.820 mães e verificaram que os filhos daquelas com níveis adequados do composto na gravidez tiveram melhor desempenho em testes de inteligência do que filhos de mães com déficit da substância. Embora os cientistas não apontem uma razão específica para a associação, explicam que a literatura científica é vasta quanto ao peso da vitamina na saúde geral do bebê. “Há diversos estudos demonstrando relação entre o composto e o desenvolvimento do sistema imunológico, por exemplo. É natural supor que exista impacto também no funcionamento cerebral”, afirmou à ISTOÉ a epidemiologista Eva Morales, autora do estudo.
Por volta da 20ª semana, estruturas indispensáveis para a boa comunicação entre os neurônios estão em formação. Entre elas os dentritos (projeções que permitem essa comunicação) e a bainha de mielina (que assegura a eficácia dessa interação). Grande parte da bainha é constituída de moléculas de DHA, um gênero de ácido ômega 3. Trata-se de um composto fabricado pelo corpo, mas uma suplementação é indicada. Ela pode ser feita por meio da alimentação pela mãe. Uma das melhores fontes são os peixes de água fria, como salmão e sardinha. Também é importante que a mulher aumente o consumo de proteínas, base para a produção dos neurotransmissores, as substâncias que levam a informação de um neurônio a outro.
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Da mesma forma que a ciência está identificando o que aumenta a chance de um QI mais elevado, as pesquisas começam a apontar o que, ainda na vida uterina, pode prejudicar o potencial intelectual. A poluição é um desses elementos. Estudo do Centro de Desenvolvimento do Cérebro, da Universidade de Colúmbia (Eua), revelou que a exposição a hidrocarbonetos aromáticos policíclicos – substâncias produzidas durante a queima incompleta de combustíveis – sofrida pelo feto fará com que a criança apresente cerca de quatro pontos a menos em testes de inteligência. A hipótese é que os poluentes atravessam a placenta e danificam o tecido cerebral do feto.
Outra constatação nesse sentido é a de que o estresse materno na gestação impacta negativamente a inteligência da criança. “Ele causa danos ao desenvolvimento do córtex pré-frontal”, explica o neurocientista Antonio Pereira, do Instituto do Cérebro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O cientista brasileiro se refere à área do cérebro associada ao processamento do raciocínio. “Se a mãe tiver uma gestação sem estresse, será melhor para o desenvolvimento cognitivo da criança.”
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Há ainda achados como o da Universidade de Colúmbia (Eua), segundo o qual crianças nascidas de 37 semanas apresentaram pior desempenho de leitura e matemática do que as nascidas de 41 semanas. A conclusão foi feita com base em uma análise de 138 mil crianças de escolas públicas de Nova York (Eua) e poderia ser explicada pelo fato de que o tempo maior dentro do útero favoreceria a formação de mais redes neurais por onde as informações trafegam e são armazenadas.
Quando nasce, cada neurônio da criança faz aproximadamente 2,5 mil sinapses – as conexões entre os neurônios por meio das quais as informações são passadas de um a outro. Esse número pode chegar a 15 mil aos 3 anos de idade. Para que isso ocorra é vital que outros fatores nutricionais e ambientais sejam respeitados. Afinal, eles proverão as condições necessárias para que essas conexões se multipliquem e neurônios não sejam descartados por falta de uso. “Após alguns meses depois do nascimento, o volume cerebral quadruplica”, explica Solange Jacob, coordenadora pedagógica da organização Pupa, que desenvolve atividades com pais e crianças para melhor desenvolver o intelecto infantil na primeira infância. “Aos 3 anos, uma criança já fez um quatrilhão de conexões cerebrais.”
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Neste mês, um importante estudo publicado na revista da Associação Médica Americana confirmou de forma contundente o papel da amamentação nessa construção do intelecto. “Mostramos uma conexão direta entre o aleitamento materno e a inteligência”, disse à ISTOÉ Mandy Belfort, professora de pediatria da Escola de Medicina de Harvard (Eua) e uma das líderes do estudo. Ela e sua equipe seguiram 1.312 bebês entre 1999 e 2010. Entre os principais achados, o grupo descobriu uma relação interessante. Nas crianças de 3 anos, a cada mês adicional de amamentação foi registrada uma média de 0,21 ponto a mais em testes de QI em comparação às que não tiveram o tempo extra. A mesma influência positiva permanece aos 7 anos, em que os participantes contabilizavam um acréscimo de 0,35 ponto em testes orais e 0,29 em exames não verbais.
No Brasil, um trabalho da PUC de Pelotas (RS) encontrou a mesma relação. Em 2002 e 2003, os cientistas acompanharam 616 bebês para avaliar a permanência e a frequência com que eram amamentados. Quando as crianças completavam 8 anos de idade, elas foram submetidas a testes de QI. “Os bebês que mamaram por mais de seis meses obtiveram desempenho 30% superior”, explica a pediatra Elaine Albernaz, responsável pela pesquisa. De acordo com o pediatra carioca Daniel Becker, do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o benefício transcende o potencial de raciocínio. “O aleitamento contribui tanto para a inteligência do ponto de vista cognitivo como social e afetivo”, afirma.
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As explicações para o benefício não repousam somente em um mecanismo. Primeiro, há o estímulo do próprio contato entre mãe e filho. “Quando o bebê é amamentado, a mãe toca nele, olha e fala com ele. Esse vínculo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo”, assegura a médica Elaine. Depois, há o impacto de substâncias presentes no leite materno que atuam na formação e no crescimento dos neurônios, como as gorduras e o ácido araquidônico.
Um trabalho da PUC do Rio Grande do Sul chama a atenção para a importância de cuidados especiais aos prematuros também no que diz respeito à cognição. Durante oito anos, os pesquisadores acompanharam 200 crianças nascidas prematuramente, mas não consideradas de risco (não apresentavam sequelas neurológicas). Apresentavam apenas baixo peso (menos de 2,5 quilos) ao nascer. Em teste de avaliação de inteligência aplicado quando elas chegaram aos 8 anos, manifestaram pontuações inferiores ao esperado. “Acreditamos que a questão está mais relacionada ao baixo peso de nascimento do que com a prematuridade. Isso é um aspecto associado à desnutrição intrauterina”, explicou a neurologista infantil Magda Nunes, professora de neurologia da Faculdade de Medicina da PUC/RS e autora do experimento. Em animais, a pesquisadora constatou que a falta de nutrientes corretos torna menor o hipocampo, estrutura do cérebro que participa do processamento de funções cognitivas e da memória.
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O cientista Aron Barbey, dos Estados Unidos, investiga
como a inteligência emerge dos circuitos de neurônios
Informações desse gênero são alvo de investigação em todo o mundo. “Nosso desafio é estudar de que maneira a inteligência emerge de sistemas neurais e o estudo da arquitetura do cérebro ajuda a entender alguns padrões de pensamento e comportamento”, afirmou à ISTOÉ o pesquisador Aron Barbey, do Laboratório de Neurociência da Universidade de Illinois (Eua). O cientista é um dos mais respeitados estudiosos dos caminhos neuronais associados à cognição. Com base em seu conhecimento, também se coloca como um dos principais defensores de que o desenvolvimento inicial de habilidades como os raciocínios concreto e abstrato tem raízes em uma interação que une, entre outros elementos, uma boa nutrição cerebral, como se viu, herança genética e ambiente.
Na fundação desses pilares, está cada vez mais consolidado, por exemplo, o poder do afeto. “A criança deve ter pelo menos uma relação afetiva significativa para desenvolver a empatia, capacidade que vai determinar muitos aspectos do processamento cognitivo”, explica o médico e psicoterapeuta João Augusto Figueiró, fundador do Instituto de Zero a Seis, entidade que tem por objetivo estimular a consciência sobre a importância da primeira infância para o desenvolvimento do indivíduo. Nesse sentido, algo banal como o convívio com um animal de estimação ajuda muito. Uma revisão de 69 pesquisas realizadas por cientistas de várias instituições europeias mostrou que pela interação entre um bicho de estimação e crianças se verifica o desenvolvimento de habilidades importantes – respeito, confiança e empatia entre elas.
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Efeito oposto promove o uso de aparelhos como smartphones e tablets. Apesar do apelo educacional desses aparelhos, a Academia Americana de Pediatria recomendou recentemente que os pais não ofereçam esses recursos a seus filhos antes que eles completem 2 anos de idade. Num artigo intitulado “Crianças devem aprender da brincadeira – e não do monitor”, a entidade cita pesquisas que associam o uso de mídias eletrônicas a um pior desempenho da linguagem e ao atraso no desenvolvimento emocional, entre outros prejuízos.
 

STF encara ponto mais fraco da Ação Penal 470

Na dosimetria, fase de definição das penas, o Supremo adotou um sistema faccioso de deliberação


O céu abriu um pouco, define um assistente de um dos onze ministros do STF, no final da sessão de ontem.
Ele se referia ao voto de Teori Zavaski, o ministro que interrompeu o debate para questionar o ponto mais frágil das condenações produzidas pela Ação Penal 470 – as penas de quem foi condenado por formação de quadrilha, que atinge vários réus, entre José Dirceu e José Genoíno.
No percurso labiríntico que as discussões do STF costumam tomar, vez por outra, a decisão de Zavaski pode vir a ter um alcance muito maior do que parece.
Zavaski anunciou que mudava seu voto, para concordar com a minoria que, em deliberações nos dias anteriores, questionou a condenação por quadrilha.
O ministro não anunciou exatamente o que irá fazer.
Se, por exemplo, enquadrar Dirceu na pena mínima, e for acompanhado por outros ministros nessa decisão, o principal troféu político do julgamento e outros réus poderão deixar o regime fechado e cumprir pena em semi-aberto.
Não se sabe, ainda, qual o poder real de influência do voto de Zavaski no STF. Se, a partir dos debates que devem ocorrer a partir de hoje, ele for seguido por outros dois ministros, haverá uma maioria a favor da revisão das condenações por formação de quadrilha.
Mesmo que os réus não venham a ser absolvidos desse crime, o que seria o justo, em minha opinião, teriam a pena reduzida, o que seria um dano menor.
Mas também pode não acontecer e o voto revisto de Zavaski se revelar um ponto fora da curva.
Em qualquer caso, o voto de Zavaski trouxe à luz o impasse de fundo em que se encontrava o debate sobre embargos de declaração no STF.
Até então, em várias oportunidades, ministros até admitiam que haviam descoberto um erro em determinadas sentenças.
Mas se recusavam a fazer a correção necessária em função de um argumento formal, de que os “embargos de declaração” não eram o momento adequado para tanto.
Com um argumento diverso, o ministro Luiz Roberto Barroso chegou a dizer que concordava com Ricardo Lewandovski no pedido de revisão da pena do Bispo Rodrigues mas, recém chegado ao STF, não se considerava no direito de refazer o julgamento.
O próprio Zavaski assumiu uma conclusão idêntica, neste e em outros casos, embora empregasse teses diferentes.
O debate de ontem foi iniciado por um voto do ministro Luiz Roberto Barroso e foi a partir dali que surgiu a novidade que permitiu a Zavaski reabrir o debate sobre formação de quadrilha.
Barroso propôs a redução a pena de um dos condenados. Tratando de um cidadão que não desperta as mesmas paixões e até preconceitos típicos da ação penal 470, pois vem a ser um doleiro do Rio de Janeiro, ligado ao PP, o mais conservador da frente de aliados do governo Lula, Barroso apontou para um caso flagrante de injustiça: penas diferentes para cidadãos condenados por crimes iguais, a partir de responsabilidades idênticas na mesma empresa.
As ponderações de Barroso ganharam força no plenário, conquistando a maioria. Assim, pela primeira vez, desde que o debate sobre embargo de declaração teve início, o STF admitiu e corrigiu um erro.
A intervenção de Zavaski sobre formação de quadrilha ocorreu nessa situação. Até então, mesmo aceitando as ponderações de Barros, ele ficou contra a ideia de reduzir penas. Mesmo assim, admitiu que, quando ocorre um “erro de julgamento,” enfrenta-se uma questão que deve ser resolvida de uma forma ou de outra. “Ou se beneficiou (um réu). Ou se prejudicou.”
Ao constatar, contudo, que a maioria havia assumido outro entendimento, foi além dos colegas e mudou um voto anterior. Considerou que era possível caminhar em outra direção e aí foi para uma questão mais relevante, da condenação por formação de quadrilha.
É sintomático que essa discussão tenha sido provocada, em dois momentos, pelos dois novos integrantes do STF, nomeados depois que a primeira fase do julgamento havia sido encerrada.
Há um motivo. Eles ficaram de fora de uma das situações mais estranhas do julgamento da ação penal 470.
Na dosimetria, fase de definição das penas – que é o debate essencial dos recursos – o STF adotou um sistema faccioso de deliberação, no ano passado. Decidiu, por maioria, que apenas os juízes que haviam condenado um réu teriam direito a definir o tamanho de sua pena. Com isso, ocorreu aquilo que se poderia imaginar.
Ao serem debatidas apenas por ministros convencidos da culpa de cada acusado, as penas se tornaram artificialmente altas, sem refletir a visão de conjunto de STF. Para compreender o que aconteceu, basta imaginar, por hipótese, o caso de um réu condenado por seis votos a cinco.
Se todos os juízes participam do debate de sua pena, mesmo aqueles convencidos de sua inocência, sua condenação será mantida, mas o resultado será seguramente mais equilibrado, mais próximo do que seria uma opinião do conjunto dos juízes sobre um caso. (Não custa recordar que o STF é um conjunto único, e não uma soma de indivíduos e suas sentenças. Por isso os ministros se reúnem e debatem em vez de enviar votos e deliberar pela internet).
Quando se recorda que o direito de definir as penas é, no fim das contas, a expressão concreta do Direito e da Justiça, o ponto final que concentra os direitos dos réus, os deveres dos juízes e, é claro, os honorários dos advogados, pode-se ter uma ideia da distorção produzida.
Num debate fechado entre os já convencidos, ocorre aquilo que se vê num centro acadêmico estudantil, numa assembleia de acionistas de empresa e, data vênia, num encontro de juízes e suas togas negras. Temos a opinião de apenas um grupo demarcado, o que favorece uma deliberação com um viés pré-definido.
Mesmo condenados, os réus enquadrados por formação de quadrilha tiveram quatro votos contra cinco a favor de sua inocência. Se esse quadro equilibrado tivesse sido transferido para o debate sobre penas, os réus teriam mais chances de receberem sentenças que refletiam a visão do conjunto do STF sobre sua culpa. Quem se recorda dos debates da dosimetria, dificilmente terá esquecido a impressão de que determinadas penas foram agravadas não porque fossem as mais adequadas, mas porque se temia que penas leves pudessem favorecer a prescrição quando se pretendia garantir de qualquer maneira que os réus fossem para a cadeia.
"Reafirmo que não temos semideuses no Supremo", disse Marco Aurélio Mello, ao apoiar Luiz Roberto Barroso. Falando de penas diferentes para crimes identicos, apontou para "uma contradição que salta aos olhos e que precisa ser corrigida."
Não se sabe até onde irá este debate. O Supremo enfrenta pressões de outro lado. O ministério público voltou a falar que irá pedir a prisão dos condenados, como se isso fosse possível sem que o Supremo revogasse várias etapas na fase final do julgamento, que até hoje fazem parte da jurisprudência da casa. Estamos falando da publicação dos acórdãos a respeito dos embargos de declaração, que têm prazo de 60 dias para serem elaborados, e do direito dos condenados apresentarem um novo embargo de declaração a partir dos acórdãos. Há, também, o debate sobre embargos infringentes, onde 12 condenados com quatro votos dissidentes têm o direito – reconhecido até 2007 por Joaquim Barbosa – de pedir a revisão de seu julgamento.
É neste debate que será possível descobrir o que aconteceu ontem.
Paulo Moreira Leite

A caminho do cárcere


Próximos de uma condenação cada vez mais provável, mensaleiros já planejam a vida na prisão. Para passar o tempo, levarão na bagagem laptops, DVDs e até livros de poesia. E alguns estão preocupados em como assistirão aos jogos da Copa

Izabelle Torres

O maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal (STF) pode ter seu desfecho esta semana, com a prisão de 23 condenados por participar do esquema do mensalão. A iminência da cadeia levou grande parte dos réus a replanejar sua existência, depois de uma condenação cada vez mais provável. Na última semana, ISTOÉ conversou com pessoas próximas aos protagonistas do escândalo. A primeira preocupação dos condenados e de seus advogados é saber onde irão cumprir a pena recebida. Os réus querem ficar próximos das famílias, mas ao mesmo tempo num lugar onde sua integridade física possa ser garantida.
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Quando esteve no presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, em razão de delitos com a Receita, o operador do mensalão, Marcos Valério, chegou a exibir marcas de tortura pelo corpo. Embora o próprio Valério jamais tenha esclarecido do que se tratava, as circunstâncias da agressão apontam para um caso clássico de chantagem no interior de uma cadeia, pelo qual um detento é dominado e torturado por bandidos recolhidos no mesmo local, até que seus familiares comprem sua segurança em troca de polpudas somas em dinheiro. Por essa razão, advogados dos condenados acreditam que a melhor opção para o cumprimento da pena seria manter seus clientes no presídio da Papuda, em Brasília. Na penitenciária da capital federal, estão sendo gastos mais de R$ 3 milhões na reforma de uma ala especial. É para lá que pretende ir o deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e os mineiros Ramon Hollerbach e Cristiano Paz.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares prefere ficar em São Paulo, perto da esposa. Na mala, vai colocar alguns livros de literatura e ­poesia – o preferido é Cora Coralina – e alguns DVDs de bossa nova.

Na conta de Delúbio, a condenação de oito anos e 11 meses de detenção deve resultar em pouco menos de dois anos em regime fechado. Um tempo que ele diz que vai encarar como mais uma missão do PT. Delúbio já organizou a administração da sua imobiliária online, que será comandada por sua irmã, Delma Soares. A preocupação do ex-tesoureiro é se conseguirá assistir ao futebol, especialmente aos jogos da Copa do Mundo. Também gostaria de se manter informado sobre a vida política e partidária enquanto estiver detido. Quem esteve com ele durante os últimos dias diz que a família tem evitado tratá-lo como vítima e que o próprio Delúbio admite que esperava um resultado desfavorável em razão do que chama de viés politizado do julgamento.
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A mesma postura se exibe na casa de José Dirceu, embora o clima seja mais tenso. Apontado como o chefe da quadrilha pelos ministros do STF, Dirceu reafirma que sua condenação tem caráter político-partidário, e assim explica o motivo de os ministros não terem oferecido respostas mais alongadas para os recursos de sua defesa. Na quinta-feira 5, Dirceu reuniu 100 pessoas no salão de festas do seu apartamento, na Vila Mariana, para assistir no telão ao julgamento dos embargos de declaração. Apesar de se manter calado e apenas ouvir as palavras de apoio dos amigos e das ex-mulheres que estavam presentes, o ex-ministro de Lula temia que sua prisão fosse decretada naquele dia. Dirceu disse aos advogados que gostaria de ficar na penitenciária de Vinhedo, cidade onde mora com sua família, mas quer a garantia de que estará seguro e longe de criminosos perigosos ou de facções. Na conta do advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira, os dez anos e dez meses de condenação devem resultar em apenas um ano e meio de regime fechado, tempo em que Dirceu pretende gastar escrevendo um livro e artigos políticos no seu blog, além de realizar trabalhos voluntários na prisão, como lavar roupa e cozinhar. Para continuar militando da prisão e manter contato com os companheiros petistas, Dirceu planeja levar um l­aptop. A exemplo de Delúbio, Dirceu também quer saber como verá os jogos do Brasil durante a Copa do Mundo. Quando conseguir passar para o regime semiaberto, o ex-ministro da Casa Civil voltará a atuar no PT e tentará recuperar o portfólio de clientes da sua empresa de consultoria.
José Dirceu não tem grandes preocupações financeiras, ao contrário do deputado federal José Genoino (PT-SP), ex-presidente do partido condenado a seis anos e 11 meses de detenção em regime semiaberto. Na última quinta-feira, enquanto os ministros do STF julgavam os últimos embargos de declaração, Genoino entrou com um pedido de aposentadoria por invalidez como deputado federal. Foi a saída pensada pelo advogado Luiz Fernando Pacheco para livrá-lo de uma votação sobre a perda de mandato e garantir salário integral de R$ 26,7 mil. O pedido foi entregue à direção-geral da Câmara e deve ser analisado por uma junta médica da Casa na próxima semana. Técnicos legislativos que trabalham no setor afirmam que o pedido deve ser aceito. Para isso, levarão em conta os argumentos do médico Roberto Kalil, do Hospital Sírio-Libanês, onde o deputado foi operado em julho para correção de dissecção de aorta. Kalil afirma que o deputado sofre de cardiopatia grave, “que o leva a ser atingido pelo risco social de incapacidade total e definitiva para o trabalho”. Para o médico, as tensões em torno da atividade política e as viagens frequentes de São Paulo para a capital podem agravar sua doença.
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Se o pedido for rejeitado, o deputado continuará recebendo R$ 20 mil, referentes à aposentadoria proporcional a 14 anos de serviço como deputado em legislaturas passadas. É com base nesse laudo médico elaborado por Kalil que o advogado de Genoino vai pedir para que ele cumpra prisão domiciliar, alegando a necessidade de cuidados específicos e proximidade com a família. Segundo relatos de quem esteve com o deputado na última semana, seu estado emocional é mais delicado do que o de outros condenados. Até pela saúde fragilizada, ele tem recebido atenção da família e se poupado de discutir o assunto. No PT, o entendimento é de que, enquanto cumprir a pena, Genoino poderá dar consultorias informais para o partido.
A preocupação em não se afastar da política é o que motiva o deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP) a programar sua prisão para Brasília, apesar de ser oficialmente de São Paulo. Em um jogo combinado, o cacique do PR pretende cumprir sua pena na capital para acompanhar de perto as movimentações partidárias. Enquanto estiver preso, viverá do salário de funcionário do partido e pretende dar expediente na sede da legenda durante o dia, já que estará em regime semiaberto. Valdemar tem repetido a amigos que estava havia anos se preparando para a cadeia e considera quase nula a possibilidade de haver um novo julgamento por meio de embargos infringentes. Mas, em tese, essa possibilidade existe, mesmo que remota.
Na terça-feira 10, os advogados dos condenados vão entregar aos ministros um memorando defendendo o uso desse tipo de recurso no julgamento. A ideia é que esses novos argumentos ajudem os ministros a decidir se aceitam ou não esses embargos, uma vez que ele é previsto no Regimento Interno da Corte, mas não na lei 8.038/90, que disciplina os processos no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Três ministros ouvidos por ISTOÉ afirmam que a lei deve sobrepor-se ao regimento e por isso os embargos tendem a ser rejeitados. A expectativa desses ministros é que haja pelo menos seis votos contrários ao uso dos embargos infringentes no julgamento do mensalão.
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A decisão sobre um novo julgamento será tomada pelos ministros na quarta-feira 11, quando continuarão julgando o embargo apresentado por Delúbio Soares. Se for aceito, além de Delúbio, outros dez réus podem apresentar o novo recurso. São eles: João Paulo Cunha, José Dirceu, José Genoino, Marcos Valério, Kátia Rabello, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, José Salgado, João Cláudio Genu e Breno Fischberg, estes dois últimos beneficiados com redução de pena na semana passada, porque o STF reconheceu que errou no cálculo das condenações. O pior cenário para os condenados, considerado o mais provável, é a rejeição dos embargos pelo Supremo. Na prática, isso significa que o Ministério Público Federal poderá pedir a prisão imediata dos condenados, alegando não haver mais recursos disponíveis. As prisões, nesse caso, ocorreriam na sexta-feira.
A data é bem posterior ao que pretendia o presidente da corte, Joaquim Barbosa, que pressionou os colegas para concluir o julgamento na semana passada. Nos bastidores, os ministros admitem que não concordaram com a pressa proposta pelo relator do caso por dois motivos. O primeiro, mais técnico, se refere à possibilidade de os advogados alegarem cerceamento de defesa e condenação sem obediência aos prazos legais. O segundo motivo é pessoal. Os ministros entenderam que Barbosa tentava acelerar o fim do julgamento para abrir espaço ao decreto de prisão imediata. Os réus seriam presos às vésperas das comemorações de 7 de setembro, em que ele é convidado do palanque presidencial.

Como eles espionam

Foi a partir da ilha de Ascensão, a 2,5 mil quilômetros do Recife, que agentes de Barack Obama conseguiram bisbilhotar conversas telefônicas e trocas de e-mails da presidenta Dilma Rousseff

Claudio Dantas Sequeira e Josie Jeronimo

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A cerca de 2,5 mil quilômetros do Recife (PE), numa região inóspita do Atlântico Sul, existe uma pequena ilha de colonização britânica chamada Ascensão. É lá que os agentes de Barack Obama captam aproximadamente dois milhões de mensagens por hora. São basicamente conversas telefônicas, troca de e-mails e posts em redes sociais. É dessa pequena ilha que os técnicos da NSA, uma das agências de inteligência dos Estados Unidos, vêm bisbilhotando as conversas da presidenta Dilma Rousseff e de alguns de seus ministros mais próximos, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ na última semana. A ilha de Ascensão tem apenas 91 quilômetros quadrados e seria irrelevante se não estivesse numa posição estratégica, a meio caminho dos continentes africano e sul-americano. Ao lado de belas praias, sua superfície abriga poderosas estações de interceptação de sinais (Singint), que se erguem como imensas bolas brancas. Elas integram um avançado sistema de inteligência que monitora em tempo real todas as comunicações de Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela e fazem parte de um projeto conhecido como Echelon (leia quadro à pág. 46), que envolve, além dos Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Canadá.
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Documentos mostrados pelo ex-analista da CIA Edward Snowden indicam
que a interceptação americana partiu da ilha de Ascensão
O indicativo mais forte de que a invasão de Obama nas conversas da presidenta Dilma e seus ministros se deu a partir da ilha está nos próprios documentos exibidos por Edward Snowden, denunciando o esquema. Neles, lê-se, na parte inferior, o grau de classificação “top secret” (ultrasecreto), o tipo de documento Comint/REL (comunicação interceptada) e sua divulgação (USA, GBR, AUS, CAN, NZL), exatamente as siglas que indicam os países do sistema Echelon. “Há um alto grau de probabilidade de que a NSA já tenha entrado não apenas no sistema de comunicações da presidenta, mas em todos os sistemas nacionais críticos”, alerta o consultor em segurança Salvador Ghelfi Raza, que já trabalhou para o governo de Barack Obama.
As antenas da ilha de Ascensão conseguem captar as mensagens logo depois de serem produzidas, antes mesmo que elas cheguem aos satélites para serem distribuídas. Uma vez recolhidas, as informações são lançadas em um gigantesco computador instalado no Fort Meade, em Maryland, nos EUA. Lá, são processadas em um programa chamado Prism (Prisma), que localiza, por intermédio de palavras-chaves, aquilo que os bisbilhoteiros procuram, entre os milhões de dados recebidos por hora. A partir daí as informações são submetidas a um outro programa, que quebra a criptografia. Ainda em Maryland, computadores traduzem as informações coletadas. Feita a análise, o que for de interesse do governo americano será distribuído aos agentes espalhados por todo o mundo para continuar o serviço de monitoramento. Muitas vezes empresas americanas ligadas à telefonia e à internet são acionadas para informações complementares. Com acesso à rede, por um técnico autorizado, é possível captar todo o tráfego de dados, sejam arquivos de vídeo, sejam fotos, trocas de mensagens ou chamadas de voz sobre IP.
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A cooperação de grandes corporações, como Microsoft, Google, Facebook ou mesmo os gigantes da telefonia, Verizon e At&T, é fundamental para o funcionamento da rede da NSA. Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram ainda que os EUA contam com dezenas de empresas de segurança da informação, num total de 1,2 milhão de técnicos, agentes e autoridades. Na ilha de Ascensão, que serviu à Inglaterra na Guerra das Malvinas, também estão instalados o serviço de inteligência criptológica britânico (GCHQ), estações de monitoramento de testes nucleares e uma das duas estações da emissora de rádio “The Counting Station”, apelidada de “Cynthia”, pela qual a CIA se comunica com seus agentes secretos espalhados pela América do Sul e África.
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Foi a partir de 11 de setembro de 2011, com George W. Bush e o início da guerra ao terror, que a Casa Branca determinou uma modernização completa da base de Ascensão. Desembarcaram na pequena ilha voos regulares com supercomputadores, novas estações de monitoramento e uma vasta gama de equipamentos de ponta. O contingente de agentes da NSA cresceu cinco vezes e foi acompanhado por esforços britânicos no mesmo sentido. Ao assumir em 2009, Barack Obama determinou uma revisão completa da política de cyberdefesa, que ele classificou como “o mais sério desafio econômico e de segurança nacional” que os EUA deveriam enfrentar como nação. Para o democrata, era necessário promover um salto tecnológico e estratégico em toda a infraestrutura de comunicações e informação. Logo ele nomeou um comitê executivo, integrado por representantes governamentais e do setor empresarial, e um coordenador, o cyberczar, com livre acesso a seu gabinete e com quem passou a despachar diariamente. Hoje, a NSA é a agência principal do sistema de inteligência americano. Abaixo dela estão outras 18, inclusive a velha CIA. Embora muitos acreditem que o Echelon seja coisa do passado, a verdade é que ele foi atualizado e sua plataforma de operação digital é a base da atual defesa cibernética, que não respeita limites na realização de seus objetivos estratégicos, políticos e comerciais.
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Sobre estar sozinho…


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século.

O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino.

A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo.

Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas.

Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou.

Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo.

O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.

Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa.

As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro.

Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.

Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.

Flávio Gikovate