Nos últimos anos, a neurociência sofreu uma explosão no campo da
pesquisa. A cada dia, surgem novas técnicas, como mapeamentos cerebrais,
que podem tirar fotos instantâneas do fluxo sanguíneo do órgão, e tubos
de vidro microscópicos, que injetam poucas moléculas de um medicamento,
diretamente, no neurônio. "Todas essas inovações ajudaram a revelar a
organização do cérebro em detalhes." Nosso cérebro representa, apenas,
2% do peso total do corpo, mas possui, segundo pesquisas atuais,
aproximadamente, 100 bilhões de neurônios [células nervosas cerebrais],
sendo que, em algumas de suas partes, para realizar suas funções,
aglomera, até, 5 milhões de neurônios de uma só vez e é capaz de
produzir cerca de 1.000 trilhões de conexões. Como os neurônios estão em
atividade permanente, o consumo de energia é grande, motivo pelo qual o
cérebro consome 20% do oxigênio diário, necessário para o corpo.
Sabe-se, hoje, que o cérebro contém 78% de água, 10% de gordura, 8% de
proteína, 1% de carboidrato, 1% de sal e 2% de outros componentes.
Metade do cérebro é constituída de substância branca e, se essa
substância de um único cérebro humano fosse desenrolada, formaria um
cordão, longo o suficiente para dar duas voltas ao redor do globo
terrestre.
Quando está ligado e consciente, o circuito gelatinoso se agita em um
tráfego de pensamentos, impressões, anseios, conflitos, preocupações,
curiosidades e intenções. Desde o pulsar do coração, o movimento do
intestino, a produção de novas células sanguíneas e, até, o eriçar
dos pelos do nosso braço, quando nos assustamos, é controlado pelo
sistema nervoso e, em última instância, pelo cérebro. "Nas reentrâncias
de semelhante cabine, de cuja intimidade a criatura expede as ordens e
decisões com que traça o próprio destino, temos, no córtex [corresponde à
camada mais externa do cérebro], os centros da visão, da audição, do
tato, do olfato, do gosto, da palavra falada e escrita, da memória e de
múltiplos automatismos em conexão com os mecanismos da mente,
configurando os poderes da memória profunda, do discernimento, da
análise, da reflexão, do entendimento e dos multiformes valores morais
de que o ser se enriquece no trabalho da própria sublimação."
Nos planos dos "lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação
científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que
conquistaremos, gradualmente, no esforço de ascensão, representando a
parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução." Apesar desse
silêncio, atualmente, os neurocientistas não têm mais medo de falar,
publicamente, sobre consciência e como o cérebro produz a mente. Segundo
pesquisadores, a experiência espiritual das pessoas pode ser explicada
pela "ausência" de atividade em uma das regiões do cérebro, mas,
especialmente no lóbulo parietal direito, onde se processa as
preferências e gostos pessoais, e onde se "reconhecem as habilidades e
os interesses amorosos da pessoa, portanto, responsáveis pela afirmação
da identidade individual, segundo Brick Johnstone, da Universidade de
Missouri-EUA." O estudo sugere que as pessoas que têm essa região menos
ativa, com menos "definidores próprios", são as mais suscetíveis a levar
vidas espiritualizadas. A descoberta também sugere que uma das
principais características da experiência espiritual é a abnegação, um
comportamento antiegoísta, segundo Johnstone. Em verdade, "o cérebro é o
instrumento que traduz a mente, manancial de nossos pensamentos.
Através dele, pois, unimo-nos à luz ou à treva, ao bem ou ao mal."
Embora tentem explicar (só pelos fenômenos físicos), pela prática dos
neurologistas, toda a classe de fenômenos intelectuais, e, até,
"espirituais", através das ações combinadas do sistema nervoso; e, em
que pese a Ciência ter atingido certezas irrefutáveis, como, por
exemplo, a de que uma lesão orgânica faz cessar a manifestação que lhe
corresponde, e que a destruição de uma rede nervosa faz desaparecer uma
faculdade, ela, porém, está infinitamente limitada para explicar os
fenômenos do espírito. Em razão de semelhante situação, não podemos
afastar a verdade da influência de ordem espiritual e invisível no
cérebro. Se faz mister, também, compreender, não a alma insulada do
corpo, mas ligada a esse corpo, o qual representa a sua forma
objetivada, com um aglomerado de matérias imprescindíveis à sua condição
de tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus atributos
imortais.
Sobre a questão da mente, esta não pertence ao cérebro e o cérebro não
explica a mente, embora exista uma interação entre os dois. A mente é
uma entidade independente, é uma segregação cerebral. O cérebro é o meio
que expressa a inteligência no mundo material. Por isso, a maioria dos
estudiosos da mente humana faz da inteligência um atributo do cérebro.
Há uma diferenciação significativa entre a pesquisa acadêmica com viés,
nitidamente, materialista, e a ciência espírita, pois, enquanto a
ciência humana faz do cérebro o excretor da inteligência, a ciência
espírita faz do cérebro um instrumento do espírito, que é o ser
inteligente individualizado. Destarte, é importante que o Espiritismo e a
Ciência se complementem, até porque, as leis do mundo espiritual e as
leis do mundo material são faces de uma realidade comum, - a vida.
O cérebro assemelha-se a complicado laboratório "onde o espírito,
prodigioso alquimista, efetua inimagináveis associações atômicas e
moleculares, necessárias às exteriorizações inteligentes." Todo o campo
nervoso da criatura constitui a representação das potências
perispiríticas, vagarosamente, conquistadas pelo ser, através de
milênios e milênios. "O cérebro real é aparelho dos mais complexos em
que o nosso «eu» reflete a vida. Através dele, sentimos os fenômenos
exteriores segundo a nossa capacidade receptiva, que é determinada pela
experiência; por isso, varia ele de criatura a criatura, em virtude da
multiplicidade das posições na escala evolutiva. "
Existem os que recebem as sensações exteriores e os que recolhem as
impressões da consciência. "Em todo o cosmo celular, agitam-se
interruptores e condutores, elementos de emissão e de recepção. A mente é
a orientadora desse universo microscópico, em que bilhões de
corpúsculos e energias multiformes se consagram a seu serviço. Nosso
mundo interno, do ponto de vista mental, não é estático, e as idéias não
estão, rigidamente, estabelecidas. "A mente tem a dinâmica de um
mosaico de luzes que se projetam pela consciência, que se contrai ou
expande diante do que nos emociona." Desse Universo abstrato, "emanam as
correntes da vontade, determinando vasta rede de estímulos, reagindo
ante as exigências da paisagem externa, ou atendendo às sugestões das
zonas interiores."
Nervos, zona motora e lobos frontais, no corpo carnal, traduzindo
impulsividade, experiência e noções superiores da alma, constituem
campos de fixação da mente encarnada ou desencarnada. "Para que nossa
mente prossiga na direção do alto, é indispensável se equilibre,
valendo-se das conquistas passadas, para orientar os serviços presentes,
e amparando-se, ao mesmo tempo, na esperança que flui, cristalina e
bela, da fonte superior de idealismo elevado; através dessa fonte, ela
pode captar, do plano divino, as energias restauradoras, assim
construindo o futuro santificante."
A alma é o centro de tudo - emoções, pensamentos, etc.; o cérebro é seu
instrumento, facilitando a coordenação do corpo e servindo de canal para
as múltiplas manifestações da alma. A experiência de cada um de nós é
medida pelo referencial de imagens mentais que criamos e armazenamos
sobre o mundo onde vivemos. Cada objeto, cada palavra, cada sensação é
carregada de um potencial simbólico que desencadeia em nós a capacidade
de criar imagens vivas da realidade. A ciência, sobretudo a
neurociência, apesar dos nítidos avanços, ainda não admite,
integralmente, essa conclusão, insistindo que tudo está nas funções
cerebrais: a linguagem, o pensamento, a coordenação motora, a emoção, e
muito mais. Isso, porque insiste em tomar o efeito pela causa. Na
questão 370 de "O Livro dos Espíritos", temos a solução para os
problemas criados pelo reducionismo materialista: "Da influência dos
órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o
desenvolvimento do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?
Indaga Kardec. Explicam-nos os Emissários do Cristo: "Não confundais o
efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são
próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que
impulsionam o desenvolvimento dos órgãos."
O homem não pode ser o cérebro. Inúmeras experiências de quase morte, de
sonambulismo, de hipnose conduzida, de regressão a vidas passadas, e a
extensa bibliografia dos fenômenos mediúnicos, desmentem,
categoricamente, essa ideia de que os neurônios cerebrais respondem pelo
ser humano. "Portanto, o pensamento, assim como a consciência, não
moram nos neurônios, mas vivem no íntimo da alma imortal, que leva para
todo o sempre, como conquista inalienável, o amor e a sabedoria."
Jorge Hessen
Fonte: http://jorgehessen.net/
O que é a mente?
Alguns pensam que a mente é o cérebro ou qualquer outra parte ou função
do corpo, mas não é verdade. O cérebro é um objeto físico que pode ser
visto, fotografado ou submetido a uma cirurgia.
A mente, por outro lado, não é algo material. Ela não pode ser vista com
os olhos nem fotografada ou operada. Portanto, o cérebro não é a mente,
mas apenas uma parte do corpo.
Não há nada dentro do corpo que possa ser identificado como sendo nossa
mente, porque nosso corpo e mente são entidades diferentes. Por exemplo,
às vezes nosso corpo está descontraído e imóvel, e a mente em plena
atividade, movendo-se rapidamente de um objeto para outro. Isso indica
que nosso corpo e mente não são a mesma entidade.
Nas escrituras budistas, nosso corpo é comparado a uma hospedaria, e a
mente, ao hóspede que ali reside. Quando morremos, a mente deixa o corpo
e vai para uma próxima vida, como um hóspede que sai de uma hospedaria e
vai para outro lugar.
Se a mente não é o cérebro nem outra parte qualquer do corpo, o que ela
é? A mente é um continuum sem forma, que tem como função perceber e
entender os objetos. Sendo, por natureza, algo sem forma, ou não
corpóreo, ela não pode ser obstruída por objetos físicos.
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Geshe Kelsang Gyatso |
É muito importante conseguir distinguir estados mentais agitados de
estados mentais pacíficos. Como explicado no capítulo anterior, os
estados mentais que perturbam nossa paz interior, como raiva, inveja e
apego desejoso, são denominados ‘delusões’ e são as principais causas de
todo o nosso sofrimento.
Talvez pensemos que nosso sofrimento seja provocado por outras pessoas,
pela falta de condições materiais ou pela sociedade, mas, na realidade,
ele vem dos nossos próprios estados mentais deludidos. A essência da
prática espiritual consiste em reduzir e, por fim, erradicar totalmente
nossas delusões, substituindo-as por paz interior permanente. Esse é o
verdadeiro significado da nossa vida humana.
O ponto essencial que aprendemos ao entender a mente é que a libertação
do sofrimento não pode ser encontrada fora da mente. A libertação
permanente só pode ser alcançada por meio da purificação da mente. Sendo
assim, se quisermos nos livrar dos problemas e alcançar paz duradoura e
felicidade, precisamos aumentar nosso conhecimento e compreensão da
mente.