4.20.2014

‘Eu tenho o desejo de ficar menos bonita’, diz Carolina Dieckmann


Entrevistar Carolina Dieckmann cara a cara é um desafio à concentração. É difícil prestar atenção no que ela está falando enquanto se olha para aquele rosto perfeito. E, ao contrário do que muitos pensam, Carolina esbanja simpatia. Ela tem uma maneira jovial de falar, suas respostas têm alegria e vivacidade.
Talvez o “problema” de Carolina seja a franqueza. A impressão que se tem é que ela realmente não fala nada para agradar. Ela diz o que pensa.Longe da TV após o fim de ‘Joia Rara’, atualmente a atriz está em cartaz em dois filmes: ‘Entre Nós’ e ‘Júlio Sumiu’. O papo foi rápido, mas bastante produtivo. Confiram a seguir:
Primeiro quero saber sobre os dois filmes que você está lançando. É uma tendência sua para o cinema?
Surgiram os convites e na verdade eu filmei um e seis meses depois, o outro. O que houve foi uma grande coincidência dos dois serem lançados juntos. Não sabia, achei que lançaria um primeiro e o outro bem depois.

Me fala desses personagens? São completamente diferentes, né?
São sim, bem diferentes. A Lúcia de ‘Entre Nós’ é uma mulher muito luminosa na fase dela na juventude, uma adolescente semi-adulta, esperançosa e escritora. Dez anos depois ela entristece, se casa com um escritor e se apaga por ele. Um tipo de mulher que a gente conhece.

Foto: João Laet /O DIA
Foto: João Laet /O DIA

A impressão que tenho é que foi um projeto de amigos. Que você, Caio Blat e Maria Ribeiro foram se envolvendo. É isso?
Na verdade estava o Caio, a Maria foi depois. A gente torcia para mais amigos entraram, claro. A história de falar de passagem do tempo com amigos foi o que mais me pegou. O roteiro era bom e eu tenho interesse de falar sobre essas coisas.
Maria é sua amiga antiga, né?
Ela é minha melhor amiga há 20 anos. Nossos personagens são completamente diferentes, mas a intimidade ajudou.

E no filme ‘Julio Sumiu’ você é uma bandida.
Ela é bandida, altamente sexual e explosiva (risos). Faço tudo pela arte. É claro que fazer uma cena mais exposta, sem roupa e sambando é mais constrangedor do que gravar uma cena abrindo uma carta, né? Isso não tem como.

Você acha que existe preconceito da classe rotular atriz de TV?
Acho.

Mas, no seu caso, você não acha que já provou por A mais B que é uma boa atriz independente disso?
Eu tenho que provar para mim e com isso você acaba mostrando para as outras pessoas. Eu acho que já sou exigente comigo mesma. Na verdade, o que eu quero te dizer é que não é que eu persiga para mostrar para as outras pessoas. Cumpro a minha própria exigência.

Existe uma crítica especializada em cinema. Você vai acompanhar isso?
Eu li algumas e fiquei tão feliz que postei no Instagram. Estou animada e lendo matérias de pessoas que nunca escreveram sobre o meu trabalho. É uma novidade para mim e lido com espontaneidade.

Você determinou que depois de ‘Joia Rara’ vai se dedicar mais ao cinema ou até mesmo o teatro?
Tenho um projeto de teatro com a Maria. Tomara que seja para esse ano. É um projeto ambicioso, mas como ainda não tem patrocínio, muitas coisas ainda vão se acertar, não dá para falar muito.

Tem a ver com musical?
Um pouco.

Vamos falar de TV. ‘Joia Rara’ era o que você esperava?
Ai…eu achei que fosse ser um trabalho que iria me exigir muito, um personagem profundo, com muitas camadas. Foi um personagem que entrou numa curva ascendente de felicidade no meio da novela e isso foi muito bom. Geralmente isso acontece no final.

Em ‘Salve Jorge’ nem no final teve isso, né?
Pois é (risos), não teve isso. Mas, por exemplo, a própria Camila, a mocinha de ‘Páginas da Vida’, ficou feliz no último capítulo com a cura. A novela foi um dramalhão no começo, mas ela foi se superando e eu pude contar essa história devagar.

Você pretende se mudar para São Paulo por conta do Tiago (Worcman, marido da atriz), estar lá?
Não pretendo, mas talvez aconteça. A princípio não sei se me mudo. Ele se mudou eu estava no meio da novela… Ainda não sei quanto tempo ele vai ficar lá.

Com o fim da novela você vai ficar mais em São Paulo?
Sim e a gente vai vendo como ficam as coisas lá. Talvez daqui a dois meses eu devo ter essa resposta mais precisa sobre a mudança.

Li que você pensa em adotar uma criança.
Pois é, porque eu acho que talvez eu queria ter um terceiro filho. O José me pede muito. Ele já pediu duas irmãs (risos). Não estava pensando em uma, imagina duas. Realmente acho que eu, que já tive duas gestações, sofro muito grávida. Isso é uma patologia. Eu fico pensando que a criança não vai nascer saudável, que o mundo que ela vai nascer tem muita violência, fico introspectiva demais, sofro muito por coisas que depois que o filho nasce, vejo que são gestacionais.

Mas, isso não é em relação ao seu corpo não, né?
Acho que o corpo é apenas uma consequência. Por eu engordar muito, quero realizar todos os meus desejos gastronômicos de comer muito chocolate e todas besteiras. Eu acho que é um pouco para suprir essa tristeza que me acompanhou nas duas gestações, que me deram filhos saudáveis e lindos. Mas, não foram gestações que eu curtia a barriga.

Você comentou comigo que participou do batismo do Roque, filho da Regina Casé. Isso fez fortalecer ainda mais a vontade de adotar uma criança?
Eu tinha essa ideia antes. Muito em função de pensar que eu já tive filho e vivi essa experiência. Não preciso ter outro filho da minha barriga. Acho lindo adotar. Minha última personagem adotou seis crianças. Nada é por a caso. Minha comadre adota um bebê e eu me apego, minha personagem adota no fim da novela…

Isso é uma consequência na sua vida?
Pois é… Acho que esse assunto está me rondando. Estou encantada com isso.

Você quer uma criança visivelmente pobre, que precise mesmo, ou você vai esperar aquela coisa de surgir na sua vida?
Eu espero que ela surja na minha vida. Eu vou criar essa situação, obviamente, por meios legais. Quero ajudar uma criança a ter uma vida melhor, que nasceu numa situação triste e difícil e que vá ter uma vida melhor e feliz na minha casa. Não quero comprar uma barriga para gerar um bebê.

E a renovação dos votos de casamento. Você quer?
Isso é assunto velho, nem combina falar disso. Um dia vai ter, eu falo isso há muito tempo. Talvez eu adote e batize antes de fazer isso.

Você vai dar um tempo de TV depois de dois papeis consecutivos?
Propositalmente, não.

Você diz muito não?
Digo muito mais sim. Eu amo trabalhar.

Você também está numa emissora que te cerca e te dá muitas bases para você não errar, não é?
Graças a Deus. Eu sou muito inquieta. Ator parado é maluco.

Eu vejo que diferente de muitas atrizes, você mesmo estando em uma novela que não bombe, como foi ‘Salve Jorge’, seu personagem se destaca.
Eu dou muita sorte. A minha personagem em ‘Salve Jorge morreria no capítulo 20’ e acabou estendendo até o 80.

Envelhecer é um problema?
Não.

Você acha que está envelhecendo muito bem?
Eu acho. Eu não faço nada, não saberia nem o que fazer. Nunca usei botox.
Mas, já tiveram médicos te oferecendo tratamentos estéticos?
Não. Eu tenho uma dermatologista ótima que é contra isso. Eu poderia ter sido influenciada por uma médica que começasse a falar disso comigo aos 25 anos. A gente é influenciável e eu poderia ter feito se ela fosse outra. Não consigo pensar em botox, acho tão necessário ter expressão…
Ainda mais no cinema, onde tudo é ampliado…
Sim, claro. E te digo mais, se eu tivesse feito botox não poderia aceitar o papel do filme ‘Entre Nós’. Há uma passagem de tempo e foi preciso trabalhar expressão. A primeira fase é velha e a segunda, nova. Não há maquiagem ali.

Ser muito bonita já te atrapalhou?
Acho que sim, sabia? Eu acho que já me ajudou muito. Não acredito que só feche porta… Acho que abre muitas também. Mas, eu sinto um preconceito.

Aonde?
Em relação ao meu trabalho. Acho que se eu fosse menos bonita as pessoas acreditariam mais em mim. E eu tenho desejos de ficar menos bonita por causa disso.

A maturidade vai te trazer isso, né?
Claro, vai ter uma hora que com certeza eu vou dar uma embarangada (risos) e meu talento vai aparecer. Mas, brincadeiras à parte, eu acho que é isso. Abre portas, mas por outro lado as pessoas não acham legal a pessoa bonita e talentosa. Mas, tudo bem. Isso não é um problema.

Agora eu quero saber da sua rotina.
Eu não tenho.

O que você gosta de fazer no tem tempo livre?
Gosto de buscar as crianças na escola. Pra mim, isso é um luxo. Antes de qualquer outra coisa, quando você me pergunta o que eu gosto de fazer eu penso nos meus filhos. Não penso ler um livro, que eu adoro, ir à praia, que eu amo de paixão… Vem à cabeça ficar com eles.

Isso pode ser também por você ter começado muito cedo e não ter curtido tanto a sua juventude.
Tem momentos que eu consigo curtir muito isso entre uma novela e outra. Eu não posso dizer que não tenho tempo para ficar com os meus filhos nunca, eu tenho às vezes três ou quatro meses de férias.

Tempo é prioridade para você?
Tempo é irrecuperável. Tenho um filho que acabou de fazer 15 anos. Fico feliz de ter participado desse momento, de ter visto esse menino crescer e ter sido mãe dele.

Arrependimentos na vida. Você tem algum?
Não tenho nenhum. Não penso muito nisso. O que não tem remédio, remediado está. Eu quero melhorar sempre. Tem coisas que eu já fiz e hoje não faria mais, porém, isso não significa que eu tenha me arrependido. Pra mim é sempre bola para frente.

Qual é o seu objetivo de vida?
Ser uma atriz cada vez melhor. Penso muito em trabalho. Minha vida pessoal não está separada da profissional. Lógico, para esse objetivo ser alcançado vem a vida pessoal com coisas como: meus filhos estarem bem, eu ter saúde…

Qual imagem as pessoas têm de Carolina Dieckmann?
Não sei qual a imagem que as pessoas têm de mim.

Nunca teve curiosidade de saber?
Eu sei, mas são tantas! Tem gente que fala que é lindo me ver falando dos meus filhos, que adoram a forma como eu trato meus amigos, mas isso tudo são de pessoas que não me conhecem.

E a Carolina pela Carolina?
É uma mulher muito feliz. Mesmo com as dificuldades e com as portas que foram fechadas.

  por: Leo Dias 

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