Dirceu diz preferir morrer a delatar como Palocci
O ex-ministro José Dirceu fez um contraponto entre
a sua situação e a do também ex-ministro Antonio Palocci; segundo ele, é
melhor morrer do que perder a dignidade e se tornar delator; Dirceu
também afirmou que Palocci sempre batalhou pelos próprios interesses – e
não por uma causa coletiva; "Só luta por uma causa quem tem valor. Os
que brigam por interesse têm preço. Não que não me custe dor,
sofrimento, medo e às vezes pânico. Mas prefiro morrer que rastejar e
perder a dignidade", afirmou
247 – O ex-ministro José Dirceu fez um contraponto entre a sua situação e a do também ex-ministro Antonio Palocci, aponta a colunista Mônica Bergamo.
Segundo ele, é melhor morrer do que perder a dignidade e se
tornar delator; Dirceu também afirmou que Palocci sempre batalhou pelos
próprios interesses – e não por uma causa coletiva.
"Só luta por uma causa quem tem valor. Os que brigam por
interesse têm preço. Não que não me custe dor, sofrimento, medo e às
vezes pânico. Mas prefiro morrer que rastejar e perder a dignidade",
afirmou
Dirceu, condenado na Operação Lava Jato, disse ainda que prefere "morrer" antes de delatar.
Leia, abaixo, reportagem da Agência Brasil sobre o depoimento de Palocci:
Daniel Isaia - Correspondente da Agência Brasil
O ex-ministro Antônio Palocci disse hoje (6) que a
Odebrecht adquiriu um apartamento em São Bernardo do Campo para o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um terreno para a construção
do Instituto Lula, como compensação pelas vantagens que a empresa
recebeu durante o governo do petista. Ele depôs diante do juiz federal
Sérgio Moro, em Curitiba, na condição de réu da ação penal da Opereção
Lava Jato que apura estes fatos, apresentados em denúncia do Ministério
Público Federal (MPF).
“Eu queria dizer, a princípio, que a denúncia procede. Os fatos
narrados nela são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos narrados
nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro ainda maior de
um relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da
ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante
movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht
para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de
benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2”, disse Palocci ao
iniciar o depoimento. “E eu tenho conhecimento porque participei de boa
parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do
presidente Lula e ministro da Casa Civil da presidente Dilma”.
O ex-ministro detalhou, ainda, como as diretorias da Petrobras foram
divididas entre os três principais partidos que compunham o governo
durante as administrações petistas. “Na Diretoria de Serviços, [ficou] o
PT, na Diretoria Internacional, o PMDB, e na Diretoria de
Abastecimento, o PP. Desenvolveu-se uma relação de intenso financiamento
partidário de políticos, pessoas, empresas. Esse foi um ilícito
crescente na Petrobras, até porque as obras cresceram muito e, com elas,
os ilícitos”, disse.
Palocci também disse a Moro que conversava com Lula sobre essas
relações. Ele narrou como foi questionado pelo ex-presidente em 2007 se
estaria havendo “muita corrupção” nas diretorias de Serviços e de
Abastecimento.
Segundo o ex-ministro, a Odebrecht repassou R$ 4 milhões em espécie
ao Instituto Lula como propina. Palocci disse ainda que a empreiteira
havia disponibilizado uma reserva de R$ 300 milhões em propina ao PT, e
que o ex-presidente sabia se tratar de “dinheiro sujo”.
Dilma
Antônio Palocci contou que havia uma desconfiança da Odebrecht quanto
à eleição da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele narrou uma reunião que
teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010 entre Lula e Emílio
Odebrecht, dono da empreiteira.
“Nessa reunião, o presidente Lula leva Dilma, presidente eleita, para
que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele
queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os
seus aspectos, lícitos e ilícitos”, contou o ex-ministro. Ele disse que
não estava na reunião, mas que ficou sabendo dela através de Lula.
Em seguida, Palocci disse que a Odebrecht foi beneficiada durante o
governo Dilma em algumas situações. A pedido do juiz Sérgio Moro, o
ex-ministro citou como exemplo que a empreiteira desejava assumir a
administração de um aeroporto de grande porte e havia perdido as
licitações para concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e
Brasília. Segundo ele, a licitação do aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro, foi direcionada para que a empreiteira vencesse o certame.
“Havia uma cláusula que impedia o vencedor da licitação de Cumbica de
participar da licitação do Galeão em condições livres. Isso foi colocado
por solicitação da Odebrecht”, contou.
Detido em Curitiba
O ex-ministro está detido na carceragem da Polícia Federal (PF) de
Curitiba. Ele já foi condenado em outra ação penal da Lava Jato a 12
anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Neste processo, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que o Grupo
Odebrecht comprou um terreno no valor de R$ 12,4 milhões para a
construção do Instituto Lula — obra que não chegou a ser executada.
Ainda segundo a denúncia, o ex-presidente também recebeu como vantagem
indevida da empreiteira uma cobertura vizinha ao apartamento onde mora,
em São Bernardo do Campo.
O depoimento do ex-presidente Lula nesta ação penal está marcado para o dia 13 de setembro.
Outro lado
O Instituto Lula, em sua página no Facebook, divulgou uma nota em que
diz que o depoimento de Antonio Palloci é contraditória “ com outros
depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que
só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em
outros processos” e que busca negociar com o MPF e com o juiz Sérgio
Moro um acordo de delação premiada “que exige que se justifique
acusações falsas e sem provas contra o ex-presidente Lula”.
“Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se defender
como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do
Ministério Público para obter redução de pena e que no processo do
tríplex foi de Léo Pinheiro”, diz a nota.
A nota também diz que a acusação do Ministério Público usa o
argumento de que o terreno teria sido comprado com “com recursos
desviados de contratos da Petrobrás” só para poder ser julgado dentro do
âmbito da Operação Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro e que “não há nada
no processo ou no depoimento de Palocci que confirme isso”. Também cita
que Palocci falou de uma série de reuniões onde “não estava e de outras
onde não haveriam testemunhas de suas conversas. Todas falas sem
provas.”
O Instituto Lula reafirma, na nota, que jamais solicitou ou recebeu
qualquer terreno da Odebrecht e que nunca teve outra sede além daquela
em que instituto funciona atualmente. Lula reafirmou que “jamais cometeu
qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois
mandatos de presidente da República eleito pela população brasileira.”
Em nota divulgada na quinta-feira (7) à imprensa, a assessoria da
ex-presidente Dilma Rousseff classifica as declarações do ex-ministro
como "mentira" e "ficção". "Todo o conteúdo das supostas conversas
descritas pelo senhor Antonio Palocci com a participação da então
ministra Dilma Rousseff – e mesmo quando ela assumiu a Presidência – é
uma ficção. Esta é uma estratégia adotada pelo delator em busca de
benefícios da delação premiada", diz a nota.
Sobre as regras para concessão de aeroportos no país, a nota
esclarece que a decisão do governo Dilma de não permitir que um
consórcio ou empresa ganhasse mais de um aeroporto foi criada para gerar
concorrência entre as empresas concessionárias de aeroportos:
"Buscou-se evitar que, caso uma empresa tivesse a concessão de dois
aeroportos, priorizasse um em detrimento do outro. O governo Dilma
buscava atrair mais empresas para participar do sistema aeroportuário,
garantindo que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), como órgão
regulador, tivesse mais parâmetros para atuar"