Médico afirma que uma gravidez não desejada pode gerar uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental"
Especialistas de Brasília afirmam que a relação afetiva
com o bebê que está para nascer é fundamental para a formação e o
fortalecimento do vínculo materno. Estudos mostram que os primeiros seis
anos são decisivos na vida da pessoa, especialmente devido ao
desenvolvimento cerebral. A formação do bebê, no entanto, já começou
antes do seu nascimento.
O médico pediatra Laurista Corrêa Filho teve a certeza
da constatação após uma experiência no Centro Internacional da Infância,
em Paris, em 1991. No retorno dele a Brasília, seis anos depois, foi um
dos idealizadores de um grupo de estudos multidisciplinar sobre o tema.
O trabalho cresceu a ponto de o grupo prestar consultoria para o
Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria, além de fazer
palestras em vários estados brasileiros.
"Até então, o paradigma existente era a parte física,
diagnóstico e tratamento. A parte de saúde mental ficava para trás",
lembra o médico. A Associação Brasileira de Estudos para o Bebê foi
fundada em Brasília em decorrência do movimento.
O médico afirma que uma gravidez não desejada pode gerar
uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental",
adverte. Segundo ele, o reconhecimento de que todos os sentidos do bebê
já funcionam mesmo antes do nascimento era até então apenas uma
suposição, que foi comprovada cientificamente. A maneira como a mãe
reage à gestação é fundamental para a formação da criança, garante o
médico. Por isso, a comunicação com o bebê é muito importante.
O feto é capaz de captar as vibrações dos sons das
palavras emitidas pela voz materna, com todas as emoções que as
acompanham. Para os médicos, a relação de troca com o feto é fundamental
para a formação e fortalecimento do vínculo materno. É uma forma de
garantir a saúde e o bem-estar do bebê. Por isso é importante que as
mães conheçam as formas de desenvolvimento dele do ponto de vista físico
e mental.
"Se o bebê não for desejado pela mãe, como será essa
criança? Será um sobrevivente e não um ser humano. Como ele vai se
desenvolver?", questiona o médico.
Na saúde pública, o especialista acredita que a falta de
conhecimento é um dos problemas mais graves em relação aos
procedimentos com a mãe. Isso faz com que o bebê seja recebido por uma
equipe despreparada. Falta acolhimento, na avaliação dele. A intenção
com o grupo de estudos é modificar essas atitudes. Por isso, as ações se
concentram em melhorar a formação dos profissionais.
A importância da comunicação na gravidez
Durante a gravidez já se estabelece um vínculo afetivo, diz Roselle Bugarin Steenhouwer, médica cirurgiã pediatra, coordenadora geral de Saúde da Asa Sul e diretora geral do Hospital Materno Infantil de Brasília. "O bebê reconhece a voz, até o cheiro do líquido amniótico onde está inserido", afirma.
Durante a gravidez já se estabelece um vínculo afetivo, diz Roselle Bugarin Steenhouwer, médica cirurgiã pediatra, coordenadora geral de Saúde da Asa Sul e diretora geral do Hospital Materno Infantil de Brasília. "O bebê reconhece a voz, até o cheiro do líquido amniótico onde está inserido", afirma.
Para a médica, o bebê é receptivo a tudo o que acontece
no ambiente. Ele escuta e sente. Por isso não há nada que a mãe faça que
não influa no desenvolvimento da criança ainda no útero. Os casos mais
graves são os de bebês rejeitados.
"Ele não pode sentir que não é bem-vindo, que a mãe não o
quer ou o rejeita. Caso contrário, esse bebê vai nascer triste. O amor é
o segredo do sucesso de um desenvolvimento psicomotor e afetivo
saudável", defende.
Ela explica que a mãe pode estar cheia de vontade de ter
uma gravidez tranquila e ter problemas. Por isso o mais importante é o
bebê sentir que é desejado, apesar das adversidades. "Ela deve parar em
algum momento do dia e pensar nele, falar com ele, colocar uma música
que ela goste para ouvir e relaxar", sugere.
Os hormônios que a mãe libera, sobretudo os
neurotransmissores, passam para o bebê pelo cordão umbilical, explica o
médico Raulê de Almeida, especialista em desenvolvimento infantil pela
Universidade de Brasília (UNB).
"O bebê percebe o comportamento da mãe e associa com o
tipo de hormônio. Se a mãe está muito intranquila, vai liberar
catecolaminas, hormônios liberados em situações de estresse. Se a mãe
está tranquila, serena, feliz, vai liberar endorfina, e vai transmitir
ao bebê uma condição de bem-estar", avalia.
Almeida explica que uma mãe depressiva, triste, que não é
capaz de se comunicar com o seu bebê, poderá ter surpresas negativas. A
ausência dessa ponte com a criança vai dificultar a formação do
vínculo. Consequentemente, o bebê terá uma formação comprometida, sem
apego. Poderá desenvolver neuroses, psicoses e problemas na sua vida
futura que o impedirão de ser feliz plenamente.
Entre as posturas recomendadas pelos médicos para
melhorar a relação entre mãe e bebê estão conversar diariamente com a
criança, ouvir música com ela, contar histórias para ela, evitar
situações de estresse e de conflito durante a gravidez.
O Ministério da Saúde recomenda ainda que, para garantir
uma gestação tranquila e a segurança do bebê, é fundamental que a
gestante faça o acompanhamento pré-natal e adote um estilo de vida
saudável, com alimentação balanceada e evitando o consumo de bebidas
alcoólicas e cigarros.
Número de crianças prematuras é alto no país
Segundo um estudo do Unicef divulgado em agosto, a prevalência de crianças prematuras é de 11,7% em relação aos partos no país. O percentual coloca o Brasil no mesmo patamar de países de baixa renda, onde a prevalência é de 11,8%. Os pesquisadores investigaram os números da prematuridade no Brasil e também o baixo peso ao nascer.
Segundo um estudo do Unicef divulgado em agosto, a prevalência de crianças prematuras é de 11,7% em relação aos partos no país. O percentual coloca o Brasil no mesmo patamar de países de baixa renda, onde a prevalência é de 11,8%. Os pesquisadores investigaram os números da prematuridade no Brasil e também o baixo peso ao nascer.
Para Laurista Corrêa Filho, não se pode relacionar a
falta de afeto entre mãe e filho durante a gravidez com o caso de
prematuridade. Para ele, são vários fatores que contribuem para isso,
especialmente gravidez na adolescência.