9.28.2012

Aprendendo a dar sem receber

O ato de dar sem receber, me faz lembrar história de Maria Pena, viúva do Raimundo, irmão do Chico, que o julgava um mão aberta e não acreditava muito nisso, até que um dia  o interpelou afirmando que não via nada nesse negócio dele servir e dar sem receber nada em troca.




Chico na sua candura angelical explicou a importância de nos remetermos ao papel da doação, expondo que tudo que fazemos com sinceridade e amor no coração Deus abençoa, pois o receber fica em segundo plano, uma vez que ambos os papéis são fundamentais em nossas vidas, pois se damos com a direita sem a esquerda ver, praticamos uma boa ação que mais cedo ou mais tarde seremos recompensados. 

Acredite que aquele que faz o bem, além de viver bem, recebe o bem.
    Em seguida contou para Maria a história dos dois chuchus, que consta no livro Lindos Casos de Chico Xavier. Nem bem acabara de falar quando a vizinha chamou pelo muro, pedindo uns dois emprestados. Pois não amiga, aqui os tem, faça um bom guisado.

    Dali a instantes, sem que pudesse refazer-se da surpresa que tivera, a outra vizinha do lado, também pelo muro, ofereceu quatro chuchus a Maria. Meia hora depois, a vizinha dos fundos, pede a ela uns chuchus e esta a presenteia com os quatro que ganhara. A vizinha da frente, quase em seguida, sem que soubesse o que acontecia, oferece à cunhada do nosso amado, oito chuchus.

    "Por fim, já sentindo a lição e agindo seriamente, Maria é visitada por uma amiga de poucos recursos econômicos, que se demora tempo bastante para desabafar sua pobreza. À saída, recebe, com outros mantimentos, os oito chuchus... E Maria diz para o Chico: - Agora quero ver se ganho dezesseis chuchus, era só o que faltava para completar essa brincadeira... Já era tarde. Estava na hora de regressar ao serviço e Chico partiu, tendo antes enviado a Maria um sorriso amigo e confiante, como a dizer-lhe:-" "Espere e verá".

    Aí pelas dezoito horas, Chico chega a casa. Nada havia sucedido com relação aos chuchus... Maria olhava para o Chico com ar de quem queria dizer: "Ganhei ou não?... Lá pelas vinte horas, todos na sala, juntamente com ele, conversam e nem se lembram mais do caso dos chuchus, quando alguém bate à porta. Maria atende. Era um senhor idoso residente na roça. Trazia no seu burrinho uns pequenos presentes para ela, em retribuição às refeições que sempre lhe dá, quando vem à cidade.

    Colocou à porta um pequeno saco.  Maria abre-o nervosa e curiosamente. Estava repleto de chuchus... Contou-os: sessenta e quatro: Oito vezes mais do que havia ultimamente, dado... Era demais. A graça, em forma de lição, excedia à expectativa, era mais do que esperava." E, daí por diante, Maria compreendeu que aquele que dá recebe sempre mais.

    Nos nossos encontros das lides e em atendimentos fraternos, é comum ouvirmos conflitos parecidos, que em maioria demonstram a falta de compreensão do ato de dar e do de receber. 

Alguns apenas doam, outros querem apenas receber. Procuramos sempre trazê-los à compreensão do reaprender sua maneira de perceber suas atitudes e seu jeito de ser, pois aprenderam por muito tempo que o importante é se preocupar com as outras pessoas e que estas estão sempre em primeiro lugar. 

Ao analisar profundamente sua vida, percebem o quanto sua vida é precária em função de ter essa mentalidade. Ou seja, não se dão conta de que o universo não é nada bondoso com elas, pelo fato de se colocarem em segundo plano.

    Precisamos compreender que em nosso mundo, tudo é baseado na troca. Nada vem de graça, nem mesmo alcançamos um grau de evolução capaz de receber tudo que queremos sem ter méritos para isso. Receber tudo de graça, não tem sentido, muito menos valor.

    Tudo, absoltamente tudo que conquistamos, é um reflexo do que estamos dando, ou seja, recebemos o que doamos para o mundo. Reflita por alguns instantes: o que você tem doado para o mundo? Se não sabe, basta ver o que tem recebido dele, e mais, aquilo que você recebe tem exatamente a mesma proporção daquilo que acha que merece receber.

 Se você recebe amor das pessoas, por exemplo, é porque está amando de verdade tudo que existe, inclusive a si mesmo, não apenas aquilo que acha que merece receber amor, pois também podemos aprender sem dor.

    Sim! Podemos. Para isso precisamos ter consciência da ação dessas leis naturais, conhecendo seus mecanismos e nos ajustando a eles, dessa forma nos tornando "bons alunos" nesse planeta-escola chamado Terra. Toda dor, doença, tristeza, crise ou conflito, revela a não compreensão dessas leis naturais por nossa parte.  

    A pessoa cujo caráter não se desenvolveu além da etapa da orientação receptiva, explorativa, ou amealhadora, experimenta o ato de dar dessa maneira. O caráter mercantil deseja dar, mas só em troca de receber. Dar sem receber, para ele, é ser defraudado. Sente que dar é um empobrecimento. A maioria dos indivíduos deste tipo, portanto, recusa dar. Alguns fazem do ato de dar uma virtude, no sentido de sacrifício. Acham que por ser doloroso dar, deve-se dar.

    No próprio ato de dar ponho a prova minha força, minha riqueza, meu poder. Essa experiência de elevada vitalidade e potência enche-me de alegria. Provo-me como abundante, pródigo, cheio de vida e, portanto, como alegre. Dar é mais alegre do que receber, não por ser uma privação, mas porque no ato de dar, encontra-se a expressão da minha vida.

     A mais importante esfera de dar, entretanto, não é a das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano. Quem dá uma pessoa à outra? Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida. 

Isto não quer necessariamente dizer que sacrifique sua vida por outrem, mas que lhe dê daquilo que em si tem de vivo, dê-lhe de sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu amor.
   Ao dar, verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno.
Nilton Salvador

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