9.29.2012

Doença Bipolar e o Valproato


Doença Bipolar  
Compreendê-la
Este guia foi elaborado no sentido de o ajudar a compreender como o tratamento com Valproato, com o nome comercial Depakine crono e Diplexil, pode ajudá-lo a viver mais facilmente com a Doença Bipolar.
À medida que for lendo, vai poder compreender os diferentes tipos e sintomas. Compreenderá que o Valproato ajudou várias pessoas, incluindo aquelas que não tiveram sucesso com outros tratamentos. Irá descobrir o que esperar do tratamento com valproato, como este actua isoladamente e em conjunção com outros tratamentos, bem como quando pedir ajuda ao seu médico.
Através deste guia poderá aprender como ajudar-se a si próprio. Na parte de trás encontrará informações básicas, um mapa para registar o humor e uma lista de recursos que lhe possibilitam adquirir um maior conhecimento sobre a Doença Bipolar.

O que é a Doença Bipolar?
A Perturbação Depressiva recorrente (conhecida como Doença Unipolar) e a Perturbação Maníaco-Depressiva (agora conhecida como Doença Bipolar) são doenças da regulação do humor no sistema nervoso central. Estas duas perturbações do humor afectam uma percentagem alta de pessoas, que corresponde a cerca de 10% da população.
Na Doença Bipolar, o humor oscila entre períodos de mania (humor “elevado”, ou euforia), podendo persistir semanas ou meses, e períodos de humor extremamente “baixo”, ou depressão.

Quem é afectado pela Doença Bipolar?
A doença afecta pessoas de todas as idades, raças, grupos étnicos e classes sociais. Muitas pessoas com Doença Bipolar estão estabilizadas. Algumas foram galardoadas com Óscares, outras produziram obras-primas literárias e artísticas, ou lideraram os seus países em tempo de guerra.
As mulheres são duas vezes mais vulneráveis a sofrer de Depressão, porém a Doença Bipolar afecta na mesma proporção homens e mulheres. Através da observação de pessoas que sofrem de Doença Bipolar constatou-se que aproximadamente 60% relata a presença de sintomas de bipolaridade antes ou durante a adolescência. Em média, o diagnóstico correcto surge 8 anos após terem sido acompanhados por mais de 3 médicos diferentes. 
                 
Qual a causa?
A causa directa da Doença Bipolar não é inteiramente clara, contudo os factores genéticos, bioquímicos e ambientais desempenham, cada um deles, um papel importante. Verificou-se a presença da Doença Bipolar em vários familiares. Os sintomas podem ser despoletados pelo stress, acontecimentos de vida (por exemplo, morte de ente querido ou divórcio), dificuldades emocionais ou abuso de álcool, juntamente com consumo de drogas ilícitas. Todavia, estes podem aparecer espontaneamente, sem a existência de uma causa específica.

Sintomas da Doença Bipolar
Mania
  • Sentimentos de excitação, euforia
  • Pensamentos rápidos
  • Diminuição da necessidade de dormir
  • Discurso acelerado
  • Diminuição do tempo gasto para comer
  • Retirar prazer do excesso, como sexo e gastos excessivos 
  • Distracção
  • Irritabilidade, impaciência
  • Excessiva autoconfiança
  • Juizos errados, decisões impulsivas
Depressão
  • Sentimentos de tristeza e vazio
  • Preocupação excessiva
  • Alterações do sono
  • Diminuição da capacidade de sentir prazer
  • Alterações do apetite
  • Diminuição do interesse por Atividades habituais, incluindo o desejo sexual
  • Dificuldades de concentração e memória
  • Indecisão
  • Sentimentos de inutilidade e culpa inapropriada
  • Ideias de suicídio

Como distinguir a Doença Bipolar das alterações normais do humor?
As oscilações de humor na Doença Bipolar são extremas – desde a euforia ou energia excessiva até ao mais profundo desespero e apatia. Tal torna a vida caótica, incontrolável e interfere com o quotidiano. Podem verificar-se oscilações diárias, semanais e padrões sazonais. Há pessoas que podem ter vários episódios de mania e depressão num único ano, ao passo que outras podem passar anos sem terem um novo episódio.

Existem diferentes tipos de Doença Bipolar? 
Sim, e são determinadas consoante os diferentes padrões de sintomas. A “mania” envolve um período de euforia seguido de um período de depressão. Os Ciclos Rápidos verificam-se quando ocorrem quatro ou mais ciclos de humor (quer de “mania” como de depressão) por ano. As Crises Mistas, simultaneamente hiperAtividade e ideias depressivas, implica que estes ciclos ocorram diariamente durante pelo menos uma semana. A Hipomania envolve euforia, irritabilidade, aumento da Atividade menos intenso do que se verifica na mania. A Perturbação Ciclotímica é um padrão menos extremo de alternância entre vários episódios depressivos e de hipomania, durante um período de 2 ou mais anos, sem que se tenha verificado Depressão Major ou um episódio maníaco. Tanto a hipomania como a perturbação ciclotímica podem progredir no sentido da Doença Bipolar se não forem tratadas. 

Como é que se sabe que o Valproato é eficaz?
O valproato foi considerado, num estudo realizado com o maior grupo de controlo clínico de doentes bipolar até à data, seguro e eficaz no tratamento da “mania”, crises mistas e ciclos rápidos. Ficou igualmente provado, que o valproato é seguro e eficaz no tratamento da epilepsia.

Se o Lítio não resultar deverá tentar-se o valproato? 
O tratamento com Lítio pode não resultar. Aproximadamente 20% a 40% dos doentes podem não responder ao Lítio ou não serem capazes de tolerar os seus efeitos secundários. O Lítio é eficaz no tratamento da “mania” típica, porém pessoas com outros tipos de episódios maníacos nem sempre têm os mesmos resultados. Se não obteve sucesso com o Lítio pode questionar o seu médico acerca do valproato, pois está provada a sua eficácia para todos os tipos de Doença Bipolar e em doentes que não respondem favoravelmente ao Lítio.

Quantas vezes por dia irei ter de tomar valproato?  
A maioria dos doentes toma inicialmente valproato três vezes por dia, após estabilizarem tomam duas vezes por dia ou apenas ao deitar. O médico tomará a decisão, baseada na sua condição individual, de qual será o tratamento mais benéfico para si. Este terá em consideração factores como: a sua história clínica, medicamentos, dieta e Atividade, incluindo a sua ocupação profissional.    

Será que o valproato resulta no meu caso?
Poderá sentir os efeitos de valproato de imediato ou notar uma melhoria gradual. O valproato actua entre 3 a 4 dias após o início do tratamento da mania, enquanto o Lítio demora uma semana ou mais a actuar.

Durante quanto tempo devo tomar valproato?
Deverá tomar valproato pelo tempo que o seu médico determinar. A Doença Bipolar é uma doença para toda a vida, sendo recomendado a continuidade irrevogável do tratamento. Assim que o seu humor estabilize, poderá sentir-se melhor e querer abandonar o valproato, tendo grandes probabilidades de voltar a ter episódios maníacos e/ou depressivos. O objectivo consiste em atingir e conservar os níveis eficazes de valproato no sangue. É por isso que é importante tomar correctamente a medicação prescrita.

Já estou a tomar a medicação para a Euforia e/ou Depressão. Posso também tomar valproato?
Sim. É muito comum às pessoas com Doença Bipolar ter de tomar mais do que uma medicação. As combinações, em politerapia, incluem Lítio (Priadel), Valproato (Depakine), Carbamazepina (Tegretol), Lamotrigina (Lamictal), Olanzapina (Zyprexa/Diplexil), Quetiapina (Seroquel, Alzen), Risperidona (Risperdal), Topiramato (Topamax), Gabapentina (Neurotin), etc.


O que deverá saber sobre Valproato

O Valproato, também conhecido como Ácido Valpróico, é um dos antiepilépticos de eleição tanto nas crises generalizadas, como nas crises focais ou nas crises secundariamente generalizadas. Tal como a fenitoína e a carbamazepina, o valproato bloqueia as descargas repetidas e prolongadas dos neurónios, que estão por trás de uma crise epiléptica. Estes efeitos devem-se, em doses terapêuticas, à diminuição da condutância dos canais de sódio voltagem-dependentes.
Relativamente aos seus efeitos secundários, os agudos incluem náuses, vómitos, dor abdominal, aumento de peso e alopécia. Em termos de toxicidade idiossincrática, há que considerar a hepatotoxicidade e a trombocitopénia.
Haverá riscos de interacção entre valproato e outros produtos farmacológicos?
Sim. Cada um dos médicos que o acompanha e o seu farmacêutico deverão ter conhecimento de todos os medicamentos que está a tomar de modo a protege-lo de interacções medicamentosas. Lembre-se de os informar das alterações nas prescrições e medicamentos que compra com e sem prescrição. Deverá ter conhecimento que varfine, um anticoagulante, não deverá ser usado com Valproato, pois o risco de hemorragia é elevado, especialmente em caso de cirurgia  ou tratamento dentário.

É preciso fazer análises sanguíneas?
O seu médico poderá, provavelmente, querer que faça análises antes de iniciar o tratamento com Valproato e periodicamente durante o tratamento. Estas análises são uma forma de controlar os níveis de Valproato no sangue e outras características sanguíneas.

O Valproato tem efeitos secundários? 
  
Poderá sentir efeitos secundários quando iniciar o tratamento com Valproato, mas estes são, geralmente, moderados e de curta ou média duração. Verificou-se, nos testes clínicos, que poucos pacientes tiveram de interromper o tratamento com Valproato devido aos seus efeitos secundários e que as pessoas que estão a tomar Valproato tendem a considera-lo mais tolerável do que o lítio.

Quais são os efeitos secundários que se verificam mais?
Os efeitos secundários de Valproato que se verificam mais são: náusea, sonolência, tonturas e erupção cutânea.

Existem outros efeitos secundários que deva ter conhecimento?
Alguns doentes que tomam Valproato experimentam aumento de peso ou queda de cabelo.
As alterações de peso, nomeadamente o aumento de peso, acontecem porque o Valproato pode aumentar o apetite. Para evitar o aumento de peso, deve ter precauções com o que ingere. Poderá solicitar ao seu médico a recomendação de dietéctica que o ajudem a manter o peso desejável.
Alguns doentes que tomam o Valproato podem experimentar perda da vitalidade capilar e possivelmente perda de cabelo. Não é uma situação permanente. Está demonstrado que as vitaminas contendo selénio e zinco (Selenium ACE) podem ajudar a minimizar a ocorrência destes efeitos.

O Valproato pode afectar o fígado?
Tal como a maioria dos compostos químicos, o valproato pode afectar a função hepática. Em alguns doentes foi detectada hepatoxidade. O seu médico está apto a reconhecer facilmente os indivíduos com maior risco, particularmente crianças muito pequenas que tomam mais do que um antiepiléptico ou pessoas com atraso mental grave.
Caso se verifique algum problema, este ocorre nos primeiros 6 meses após o início do tratamento com Valproato. O seu médico poderá querer, durante este período, avaliar a sua função hepática através de análises sanguíneas.
Tanto você como o seu médico devem estar atentos aos efeitos secundários que podem indiciar problemas hepáticos. Estes incluem náusea, vómitos, fadiga, cansaço ou fraqueza invulgares, edema (inchaço), icterícia (pele e olhos amarelos) e facilidade em ter equimoses.

Existem efeitos secundários relativamente aos quais deve ser contactado imediatamente o médico?
Sim. Caso você ou a sua família os detecte precocemente pode evitar uma situação potencialmente grave. Contacte o seu médico imediatamente se tiver alguns dos seguintes sintomas: febre, cansaço ou fraqueza intensa, hemorragias e equimoses invulgares, urina escura ou fezes claras, olhos e pele amarelada, dores abdominais intensas, erupção cutânea ou urticária, estado confusional, visão dupla, mal-estar extremo ou comportamento anormal. Os sinais de sobre-dosagem de Depakine (Valproato) incluem vertigens, sonolência excessiva, tremor intenso; respiração irregular, lenta ou superficial; ou coma. Se tiver estes sintomas deve contactar-se o médico imediatamente.

Pode tomar-se Valproato durante a gravidez?
O médico deve tomar conhecimento da probabilidade de estar grávida, bem como do seu desejo em querer engravidar, de modo a decidir se o Valproato é um tratamento indicado para si nesse período. Sabe-se que este farmaco pode produzir alterações no desenvolvimento embrionário, sendo essencial uma cuidada ponderação de benefícios e riscos, além de um cuidado no seguimento da gravidez.

O Valproato causa dependência?   
Não. O Valproato não é aditivo.

Doença Bipolar
Como é que poderá contribuir pessoalmente para o seu tratamento
Seja o parceiro do seu médico. Mantenha-se em contacto com o médico para que este tenha conhecimento de como se está a sentir e de como a medicação está a actuar.
Lembre-se de tomar a medicação diariamente como foi prescrita. Forneça a informação ao seu médico relativamente a toda a terapêutica medicamentosa que está a tomar. Entre, antecipadamente, em contacto com este sempre que tiver necessidade de acrescentar outra medicação.
Em caso de tratamento dentário, cirúrgico ou se tiver necessidade de ir às urgências informe o seu médico ou dentista de que está a tomar Valproato.
Obtenha apoio social. Fale com as pessoas em quem confia sobre a sua situação de modo a que elas saibam como o ajudar. Poderá participar nas valências instituídas na área da Reabilitação Psicossocial. Contacte a Associação de Apoio a Doentes Depressivos e Bipolares – ADEB, cujo contacto se encontra no verso, de modo a integrar um Grupo de Auto-Ajuda.   
         
Tenha cuidados consigo. Para se manter estável necessita de dormir o suficiente, ingerir refeições nutritivas, reduzir o stress e fazer exercício. Precisa de se manter afastado de drogas usadas com fins recreativos e do álcool.
Se tiver ideação suicída contacte o seu médico, procure o apoio das pessoas e peça ajuda. Não deixe que a depressão o vença. As ideias de suicídio são temporárias.
Adquira o máximo de conhecimentos possíveis sobre a Doença Bipolar. Quanto mais souber, mais poder e controlo tem sobre a sua vida mas não queira saber mais que o seu médico nem tente substituí-lo por si próprio.
Aprenda a separar o seu verdadeiro Eu da Doença Bipolar, e dê a si próprio crédito quando este é justo. A doença não o define. Você tem capacidade de controlar a sua doença e administrar cuidadosamente o tratamento que recebe dos técnicos de saúde.
 
Conheça os seus estados de humor
  
Umas das formas de gerir a Doença Bipolar é conhecer e registar diariamente o humor.
As crises podem durar dias, meses ou mesmo anos. Em média, sem tratamento, as fases de mania e hipomania (euforia leve) duram poucos meses, enquanto as depressões arrastam-se muitas vezes por mais de seis meses. Há designações especiais para cada forma de evolução da Doença Bipolar:

Bipolar I
A pessoa sofre crises de mania ou crises mistas (sintomas de depressão e mania misturados) e, quase sempre, também tem fases depressivas. As crises voltam a repetir-se excepto se fizer o tratamento preventivo.
grafico que demonstra as oscilações de humor durante um ano de uma pessoa com bipolar 1

Bipolar II
A pessoa tem crises depressivas graves e fases leves de elevação do humor (hipomania). As crises de elevação do humor podem não ser identificadas ou referidas porque o doente se sente “acima do normal” com muita energia e alegria, sem perturbações óbvias. Se o tratamento for só para a depressão, com uma medicação exclusivamente com antidepressivos, não se verifica uma estabilização, podendo surgir crises frequentes e uma viragem do humor.
grafico que demonstra as oscilações de humor durante um ano de uma pessoa com bipolar 2

Ciclos Rápidos
A pessoa tem pelo menos quatro crises por ano, em qualquer combinação de fases de mania, hipomania, mistas e depressivas. Corresponde a uma evolução que atinge entre 5 e 15% dos doentes com Doença Bipolar. Pode, em alguns casos, resultar de uma terapêutica demasiado intensiva e prolongada com antidepressivos, em vez da adequada terapêutica de estabilização do humor.
grafico que demonstra as oscilações de humor durante um ano de uma pessoa com ciclos rápidos
Para fazer um registo do humor necessita de um diário para tomar notas o qual poderá obter na ADEB.
Durante o dia anote a hora e as alterações de humor. No final do dia, use a escala para avaliar o humor durante a totalidade do dia.
Após 14 dias, poderá observar a constância de um padrão. Continue a registar o humor durante as várias estações. Leve o gráfico do humor quando tiver consulta com o médico e juntos podem actuar no sentido de rentabilizar o seu plano de tratamento.
 Logotipo da ADEB

Um comentário:

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

stabilizadores do Humor: lítio, valproato, carbamazepina e outros

ESTABILIZADORES DO HUMOR

O transtorno do humor bipolar (THB) é um transtorno mental grave que acomete indivíduos jovens, cujo curso em geral é crônico e muitas vezes incapacitante.

No controle dos seus sintomas a farmacoterapia é fundamental.

Além disso, abordagens psico-educativas, individuais ou em grupo e incluindo os familiares, com informações sobre a doença (sintomas, períodos de crise, etiologia, curso e prognóstico, estresses indutores), sobre as drogas utilizadas (doses, tempo de uso, efeitos colaterais, controles laboratoriais), sobre aspectos nutricionais, exercícios físicos, impactos sociais são de grande utilidade, particularmente para manter a adesão ao tratamento que é de longo prazo e sujeito a intercorrências.

Desenvolver no paciente a capacidade de identificar os sinais precoces do início de um novo episódio de mania ou depressão e de

lidar com os fatores desencadeantes, é uma estratégia de grande valor para a prevenção de recaídas.

Na tabela 6 estão os estabilizadores do humor em uso na atualidade, as doses diárias e níveis séricos recomendados. Lítio, ácido valpróico, carbamazepina são as drogas consideradas de primeira linha.

Recentemente outros anticonvulsivantes como o topiramato, a lamotrigina, a gabapentina vem sendo testados, bem como a olanzapina. A eficácia destes novos compostos, no THB não está estabelecida de forma consistente.