Em
seguida, Doneda deu até uma explicação. "PayPal não é uma empresa
jornalística e nem um monopólio. Pode verificar se está de alguma forma
colaborando com a propagação do discurso de ódio, e acho meritório que o
faça – do contrário estaria lucrando com isto". "A situação nem sequer é
nova. Bloqueios do gênero são costumeiros".
Já
deu para perceber que não foi só uma matéria mal feita, certo? E sendo o
UOL do mesmo grupo que é dono do PagSeguro, uma plataforma brasileira
de pagamentos que oferece exatamente o mesmo tipo de serviço que o
PayPal, fica tudo ainda mais evidente. A nota não é jornalismo, é
pirataria disfarçada de reportagem.
O
PagSeguro é uma criação de Luiz Frias, um dos herdeiros do grupo Folha,
que publica a Folha de S. Paulo. Frias começou sua carreira no UOL,
pioneiro na internet brasileira. Foi dentro do portal que o PagSeguro
surgiu, inicialmente como uma plataforma para pagamento de compras
online. Hoje, ele oferece uma das máquinas de pagamento com cartão mais
populares do país, tornou-se muitas vezes maior que o UOL e está se
transformando num banco. Em 2018, Frias amealhou US$ 2,3 bilhões ao abrir o capital do PagSeguro na bolsa de Nova York.
Na
redação do UOL, ninguém comenta a matéria. Mas o mal estar que ela
causou, ontem, era palpável. Até porque é fato notório por ali que, por
causa dos negócios dos Frias no setor, qualquer matéria a respeito de
sistemas de pagamento online precisam das bênçãos da chefia para serem
publicadas. "Foi claramente por conta do PagSeguro", cravou pra mim, em
sigilo, um ex-funcionário que conhece muito bem a casa.
Em
português bem claro: ao se retirar da disputa pelo dinheiro que
alimenta a indústria de ódio e difamação da extrema direita, o PayPal
estendeu o tapete vermelho ao PagSeguro. E o banco dos Frias parece ter
achado que era o momento de mandar o recado (no mínimo, a extremistas em
geral) de que dinheiro conta mais que eventuais pudores a respeito de
como ele é ganho. Business as usual.
Se mandou mesmo um 'Oi, sumido' a Olavo e seus alunos, o PagSeguro está dando de ombros pras próprias regras de serviço, como observou o jornalista Guilherme Amado,
da Época. "Olavo viola o item oitavo da política do PagSeguro, que
proíbe atividades como 'usar linguagem ou imagem ou transmitir ou
propagar mensagem ou material que denotem ou promovam o preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou origem, ou que incitem à violência ou ao
ódio' e 'agir contrariamente à moral e aos bons costumes'".
Olavo
já ligou publicamente o movimento gay à pedofilia, e eu poderia listar
mas dezenas de barbaridades como essa mas quero poupar vossos estômagos
em pleno sábado de manhã.
A questão aí é que Olavo pode, sem saber, ter aprofundado uma disputa em andamento
na família dona do grupo Folha. É uma disputa que já vem há algum
tempo, desde a morte de Otavio Frias Filho, que alçou a Folha ao posto
de mais relevante jornal do país. Com a ausência dele, assumiu a irmã,
Maria Cristina Frias, destituída por Luiz Frias – o caçula dos três. A
briga envolve o dinheiro do PagSeguro – que seria bem-vindo na Folha
numa época de crise aguda no negócio do jornalismo – e pode selar o
futuro do jornal.
Luiz
Frias não é exatamente um entusiasta do jornal. Quando destituiu a
irmãdo comando, os boatos de que a Folha seria vendida só fizeram
crescer. Olavo de Carvalho é um ingrediente extra nesse caldeirão. Mas
um ingrediente bastante picante. Ele já afirmou, por exemplo, que "os
jornalistas são os maiores inimigos do povo". Será uma empresa do grupo
Folha a permitir que ele siga |
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