5.26.2007

A Qualidade não pode privilegiar o menor preço

FARMANGUINHOS LUTA PARA ELEVAR PRODUÇÃO
Barreiras burocráticas dificultam dia-a-dia do laboratório, que é referência no tratamento da aids. Referência do programa DST-Aids, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), do complexo Fiocruz, no Rio, produz anualmente 2,5 bilhões de comprimidos. É uma quantidade considerável, que representa uma duplicação da produção nos últimos três anos, mas ainda é metade do que a unidade poderia fabricar. Dificuldades legais e burocráticas fazem com que o potencial da unidade não seja plenamente utilizado. "Poderíamos estar produzindo mais, principalmente anti-hipertensivos, diuréticos e outros medicamentos mais consumidos", lamenta Eduardo Costa, diretor de Farmanguinhos. Médico infectologista, phD pela Universidade de Londres, este gaúcho de 65 anos, funcionário de carreira da Fiocruz, encampou uma verdadeira cruzada contra a burocratização que engessa os laboratórios oficiais. Entre os 18 existentes, Farmanguinhos está entre os maiores. Desde novembro do ano passado, a unidade utiliza um novo modelo de compras para tentar fugir ao engessamento da Lei 8.666, que rege concorrências em órgãos públicos. Em vez de licitar a compra de princípios ativos, a Farmanguinhos passou a fazer contratação de serviços de produção. Princípio ativo, em tradução leiga, seria como conhecemos a base de fabricação de um remédio. Num exemplo simples: o princípio ativo de um antitérmico pode ser dipirona, iboprufeno ou paracetamol. "Com a contratação dos serviços, buscamos superar a dificuldade de não termos registro de princípio ativo, estender por cinco anos os contratos e acompanhar a produção dentro da fábrica, para termos fármacos de acordo com nossas especificações", diz Costa. A qualidade do material obtido em licitações, que têm de privilegiar o menor preço, é um dos principais problemas. Por vezes, o produto tem de ser totalmente reprocessado para adequação ao método de produção, o que ocorre com mais freqüência com importados. Costa comenta que o aumento das importações quase destruiu a farmoquímica brasileira, que viu minguar o parque industrial de 200 para 80 fábricas. "Hoje, 80% dos fármacos são importados, principalmente da China e da Índia", diz. A Farmanguinhos foi incumbida de fabricar o similar do Efavirenz, medicamento importado mais usado no tratamento de aids no Brasil. Este mês, o governo decretou o licenciamento compulsório do remédio, suspendendo a exclusividade da multinacional Merck Sharp & Dohme no fornecimento e aquisição de genéricos do anti-retroviral no País. Agora, Costa está em campanha para mudar a estrutura de Farmanguinhos, transformando-o em empresa. Com isso, poderá se habilitar a buscar financiamento no BNDES, por exemplo, e não ficar apenas amarrado às encomendas do Ministério da Saúde. NÚMEROS - 2,5 bilhões de comprimidos é a produção anual do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), localizado no Rio de Janeiro; 18 laboratórios são oficiais no Brasil; Farmanguinhos é um dos maiores; 80 fábricas compõem o parque industrial farmoquímico do Brasil. Há alguns anos, eram 200 unidades. - Irany Tereza, RIO - Fonte: Estado de São Paulo

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