É preciso descobrir se a tecnologia piorou o problema. Com e-mail, celular, laptop, BlackBerry e outras bugigangas de alta velocidade, tornou-se virtualmente impossível desligar-se do trabalho.
Um dos indicadores mais fortes da síndrome não é o excesso de trabalho, mas a interferência dele na vida privada - um modo sociológico de dizer que recebemos telefonemas de Tóquio no meio do jantar e respondemos a clientes no BlackBerry quando estamos mandando nossos filhos escovar os dentes.
Em 2005, um psiquiatra do King's College, em Londres, realizou um estudo em que um grupo passou por um teste de Q.I. enquanto não fazia nenhuma outra coisa. Outro fez o teste enquanto lidava com e-mail e recebia telefonemas. O grupo não interrompido teve em média 10 pontos a mais. Isso não é nenhuma surpresa. O surpreendente é que o grupo dos e-mails teve em média 6 pontos a menos comparado a um grupo num estudo semelhante que foi submetido ao teste sob efeito de drogas.
E o lazer? Onde fica? O problema é que atualmente o tempo de lazer não é contínuo. Foi distribuído em aumentos discretos. Os seres humanos sempre resistiram a quebras no tempo. Somos liberados por 90 segundos pelo forno de microondas. Mas fazemos alguma coisa significativa nesses 90 segundos? Ou eles desaparecem como um sopro?
Nossa obsessão com a eficiência no trabalho infelizmente contaminou nossa atitude em relação ao lazer. O resultado é um paradoxo maluco. O tempo para descanso se funde às diversas tarefas que fazemos simultaneamente.
Corremos na esteira ao mesmo tempo que ouvimos música e assistimos à TV. Cozinhamos ao mesmo tempo que folheamos uma revista e jogamos conversa fora ao telefone. Tudo isso levanta uma questão: se o lazer não serve para repor as energias, não estamos mais propensos a ter a síndrome de burnout?
Acho que estamos. Talvez a melhor maneira de evitá-la seja, na medida do possível, tomarmos posse do nosso tempo. Em primeiro lugar, é preciso definir o que, de fato, é importante.
Para mim, ler notícias e bons artigos na internet é importante. Mas é preciso, mais do que nunca, ser criteriosa na escolha das fontes e resistir à tentação de ser levada de um texto a outro, meio sem rumo. Quero ler aquilo que me faz ganhar o dia e não perdê-lo.
MSN não me interessa. Facebook é legal, mas com comedimento.
Naquele domingo, a energia elétrica voltou no meio da tarde. Decidi que continuaria sem ela até o final do domingo. OK, dei uma roubadinha quando liguei o secador de cabelo. Mas foram só dez minutos.
Li os jornais, as revistas e avancei bastante num livro ótimo (Liberdade, de Jonathan Franzen). Cozinhei sem energia elétrica. Lavei a louça sem energia elétrica, relaxei deliciosamente sem energia elétrica. Só me dei conta de que ela ainda é essencial na vida da minha família quando meu marido, maloqueiro e sofredor, vibrou com um lance bonito do Timão, transmitido pela TV.
Concordo que não dá para levar nosso estilo de vida sem energia elétrica. Mas posso manter o interruptor desligado e o computador descansando. Mais vezes. Muitas outras vezes.
Cristiane Segatto: Com tempo, sem energia elétrica e feliz
Um dos indicadores mais fortes da síndrome não é o excesso de trabalho, mas a interferência dele na vida privada - um modo sociológico de dizer que recebemos telefonemas de Tóquio no meio do jantar e respondemos a clientes no BlackBerry quando estamos mandando nossos filhos escovar os dentes.
Em 2005, um psiquiatra do King's College, em Londres, realizou um estudo em que um grupo passou por um teste de Q.I. enquanto não fazia nenhuma outra coisa. Outro fez o teste enquanto lidava com e-mail e recebia telefonemas. O grupo não interrompido teve em média 10 pontos a mais. Isso não é nenhuma surpresa. O surpreendente é que o grupo dos e-mails teve em média 6 pontos a menos comparado a um grupo num estudo semelhante que foi submetido ao teste sob efeito de drogas.
E o lazer? Onde fica? O problema é que atualmente o tempo de lazer não é contínuo. Foi distribuído em aumentos discretos. Os seres humanos sempre resistiram a quebras no tempo. Somos liberados por 90 segundos pelo forno de microondas. Mas fazemos alguma coisa significativa nesses 90 segundos? Ou eles desaparecem como um sopro?
Nossa obsessão com a eficiência no trabalho infelizmente contaminou nossa atitude em relação ao lazer. O resultado é um paradoxo maluco. O tempo para descanso se funde às diversas tarefas que fazemos simultaneamente.
Corremos na esteira ao mesmo tempo que ouvimos música e assistimos à TV. Cozinhamos ao mesmo tempo que folheamos uma revista e jogamos conversa fora ao telefone. Tudo isso levanta uma questão: se o lazer não serve para repor as energias, não estamos mais propensos a ter a síndrome de burnout?
Acho que estamos. Talvez a melhor maneira de evitá-la seja, na medida do possível, tomarmos posse do nosso tempo. Em primeiro lugar, é preciso definir o que, de fato, é importante.
Para mim, ler notícias e bons artigos na internet é importante. Mas é preciso, mais do que nunca, ser criteriosa na escolha das fontes e resistir à tentação de ser levada de um texto a outro, meio sem rumo. Quero ler aquilo que me faz ganhar o dia e não perdê-lo.
MSN não me interessa. Facebook é legal, mas com comedimento.
Naquele domingo, a energia elétrica voltou no meio da tarde. Decidi que continuaria sem ela até o final do domingo. OK, dei uma roubadinha quando liguei o secador de cabelo. Mas foram só dez minutos.
Li os jornais, as revistas e avancei bastante num livro ótimo (Liberdade, de Jonathan Franzen). Cozinhei sem energia elétrica. Lavei a louça sem energia elétrica, relaxei deliciosamente sem energia elétrica. Só me dei conta de que ela ainda é essencial na vida da minha família quando meu marido, maloqueiro e sofredor, vibrou com um lance bonito do Timão, transmitido pela TV.
Concordo que não dá para levar nosso estilo de vida sem energia elétrica. Mas posso manter o interruptor desligado e o computador descansando. Mais vezes. Muitas outras vezes.
Cristiane Segatto: Com tempo, sem energia elétrica e feliz
Um comentário:
Celso amigo, a verdade que a VIDA está a uma velocidade aceleradíssima que o homem não consegue mais separar seus ambientes.
Com todas as informações adquiridas de maneira voraz tudo foi colocado num grande liquidificador, batido e hoje não se sabe o que é mais o que.
As origens foram perdidas e o homem vive a sua moda alheio a tudo aquilo que lhe acontece ao redor, apesar de saber que precisa desse redor.
Abraços e sempre obrigada pelas visitas e comentários no (IN)PERCEPÇÕES.
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