2.02.2012

Insulinas, antidiabéticos orais e glucagom

Cerca de 25% dos doentes diabéticos requerem tratamento com insulina (são insulinodependentes); para além daqueles que apresentam cetoacidose, a insulina é necessária em quase todos os doentes com uma manifestação súbita de sintomas, tais como, perda de peso, fraqueza física e algumas vezes vómitos associados com acetonúria.

A maioria dos diabéticos de tipo 2 (não insulinodependentes) e que são obesos, podem ser tratados com a restrição de hidratos de carbono, que permita um certo consumo de energia, com actividade física satisfatória e/ou com a administração de medicamentos hipoglicemiantes. Nos doentes não obesos e sem carência de insulina, as medidas dietéticas podem resolver as situações. De um modo geral, o regime dietético é estabelecido de acordo com as necessidades e consumos calóricos do diabético e constitui também uma alternativa terapêutica.

A selecção dos medicamentos deve ser feita em função do tipo da diabetes e da situação clínica do doente, não devendo, contudo, esquecer-se as recomendações sobre os cuidados alimentares, o exercício físico e os aspectos de higiene individual.

As situações diabéticas diagnosticadas em crianças necessitam de tratamento com insulina desde o seu início.
A insulina desempenha no organismo um papel fundamental na regulação dos hidratos de carbono, lípidos e metabolismo proteico.

A insulina é uma hormona polipeptídica de estrutura complexa, extraída principalmente do pâncreas de porco e purificada por cristalização. Obtém-se também biossinteticamente por tecnologia do ADN recombinante a partir da Escherichia coli ou semisinteticamente por modificação enzimática. Todas as preparações são em maior ou menor extensão imunogénicas no Homem, mas a resistência imunológica às acções da insulina é rara.

As preparações disponíveis diferem quanto à sua duração de acção, podendo esta ser prolongada através do recurso a artifícios de cristalização ou à fixação sobre uma proteína, como a protamina. De acordo com as características farmacocinéticas, ou seja, consoante o seu início de acção, a sua duração de acção e o tempo necessário para atingir a sua concentração máxima, as insulinas são classificadas em: insulinas de acção ultra-rápida ou ultra-curta, rápida ou de curta duração de acção, de acção intermédia, de longa duração de acção ou de acção lenta e ultralenta. As de acção rápida existem em solução cristalina, de absorção SC rápida e com um início de acção 30 a 45 minutos após a administração. Existe, no entanto, uma grande variabilidade inter e intraindividual quanto à sua cinética. As insulinas de acção mais prolongada existem sob a forma de suspensão, adicionadas de protamina, por forma a retardar a sua absorção.

A insulina é inactivada pelas enzimas gastrintestinais e por isso só administrada por injecção. A via SC é a ideal por várias razões. Injecta-se habitualmente na parte superior dos braços, coxas, ancas ou abdómen. Pode aumentar-se a absorção nos membros (superiores ou inferiores) se estes forem previamente sujeitos a um exercício enérgico, imediatamente antes da injecção. É mais facilmente administrada através de aparelhos de injecção SC (canetas) que contêm a insulina num reservatório (cartucho) e medem a dose necessária.

As seringas convencionais e as agulhas continuam contudo a ser preferidas por muitos doentes e por isso estão disponíveis insulinas para esta utilização.

As injecções SC de insulina não causam problemas, embora em alguns doentes obesos possam ocorrer situações de lipodistrofia no local da injecção. Para evitar que tal aconteça, deve recomendar-se a rotação dos locais de injecção.

A insulina pode também ser administrada por via IV ou por perfusão contínua, usando-se uma bomba de perfusão, com insulina solúvel. Esta técnica ou outras em que se usam sistemas semelhantes, tem tido até agora pouca divulgação, por exigirem uma monitorização rigorosa da glucose no sangue e um aconselhamento médico relativamente frequente.

Os efeitos adversos da insulina podem ser metabólicos, imunológicos e locais. Para obter um aumento na eficácia terapêutica da insulina e diminuir os riscos da sua utilização, os doentes devem ser devidamente informados dos cuidados e preocupações com a sua medicação e tornados colaboradores, administrando a si próprios a insulina. Deve haver uma preocupação especial com a administração de insulina nos doentes predispostos a hipoglicemia, nos submetidos a terapêutica com bloqueadores adrenérgicos beta e nos indivíduos com doença coronária ou cerebrovascular, assim como nos alcoólicos.

Nas recomendações de utilização sobre o medicamento é importante informar sobre as condições de conservação e sobre as exigências de controlo da glicemia. Como consequência de um mau seguimento da terapêutica podem surgir situações de hiperinsulinemia, hipoglicemia ou hiperglicemia.

Para controlo da diabetes, em especial da insulino-dependente (Tipo 1) é importante recomendar aos doentes a monitorização da concentração da glucose no sangue. A aplicação dos processos de avaliação da glucose no sangue encontra-se hoje muito facilitada pela variedade de aparelhos que se encontram disponíveis. Esta deve manter-se entre 4 e 9 mmol/litro (valores entre 4 a 7 mmol/litro antes das refeições e abaixo de 9 mmol/litro depois da refeição). Para completar a monitorização os doentes devem ser submetidos à avaliação, no sangue, dos níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c) com uma periodicidade de 4 a 6 meses e devendo o seu valor oscilar entre 4 a 7%.

A introdução da insulina humana sintética na terapêutica não resolveu por completo o problema da imunogenicidade. Também a nova tecnologia usada na sua preparação não permitiu mudar a estrutura dos resíduos de aminoácidos que a compõem, de modo a transformá-la numa insulina mais adequada à via SC. Contudo, deu lugar ao desenvolvimento de análogos da insulina que apresentam farmacocinética diferente da insulina humana regular, classificando-os em insulina de acção rápida, de acção intermédia e de acção prolongada, como já se referiu anteriormente.

Indicações: Diabetes mellitus; cetoacidose diabética.

Reacções adversas: Vejam-se as referências do texto atrás apresentado (8.4.1.), tendo em atenção as reacções locais provocadas pelas injecções.

Contra-indicações e precauções: Vejam-se as referências do texto atrás apresentado (8.4.1.). Reduzir a dose em situações de IR. Doses elevadas podem provocar hipoglicemia.

Interacções: Com os IECAs, bloqueadores adrenérgicos beta, álcool, IMAO, testosterona, esteróides anabolizantes e salicilatos observa-se potenciação dos efeitos hipoglicemiantes.

Posologia: Por via SC, IM ou IV de acordo com a situação clínica do doente.

Os antidiabéticos orais estão reservados para o tratamento da diabetes tipo 2 do adulto, sem complicações por cetoacidose. De um modo geral, nos diabéticos deste tipo consegue-se um controlo regular da glicemia com os antidiabéticos orais. Para além do controlo da glucose são também importantes na prevenção das complicações associadas a esta doença tais como: doença cardiovascular, cegueira, IR e gangrena dos membros inferiores.

As sulfonilureias exercem a sua acção hipoglicemiante por estimulação da secreção da insulina residual endógena, pelo que são eficazes em doentes com um mínimo de função pancreática. Está também associada a elas uma acção a longo prazo aumentando a resposta metabólica à insulina circulante. A hipoglicemia é o acidente mais grave nos idosos que seguem esta terapêutica e está associada ao uso das sulfonilureias de longa duração de acção, pelo que devem preferir-se, neste grupo etário, fármacos de acção curta como a glicazida em vez da cloropropamida ou da glibenclamida.

A selecção cuidada da medicação é o único modo de assegurar a eficácia e diminuir a toxicidade. Após a sua escolha, a terapêutica deve começar com a dose mais baixa disponível e aumentar progressivamente se necessário. Se não for conseguido um controlo metabólico com a dose máxima da sulfonilureia escolhida, esta deve ser substituída por uma mais potente ou por insulina em associação com os antidiabéticos orais.

Todas as sulfonilureias se ligam às proteínas plasmáticas e, como tal, a sua acção hipoglicemiante pode ser modificada quando há interacção a este nível com outros medicamentos. São fármacos metabolizados pelo fígado e eliminados por via renal. Com excepção da glipizida, todas podem dar origem a metabolitos activos, pelo que esta deverá ser a sulfonilureia de eleição em doentes com IR.

Têm idêntico mecanismo de acção alguns fármacos mais recentes, como a glimepirida, sulfonilureia com eficácia semelhante à da glibenclamida, gliclazida e glipizida.

A acção hipoglicemiante destes fármacos pode ser potenciada pelo esforço físico, stress, álcool ou por medicamentos que promovam alteração na ligação às proteínas plasmáticas.

Todas as sulfonilureias estão contra-indicadas na presença de cetoacidose.

As biguanidas, tais como a fenformina e a metformina, não modificam a secreção de insulina; inibem a absorção gastrintestinal de glucose, a neoglicogénese hepática e aumentam a utilização periférica da glucose. Actuam na presença de insulina endógena, pelo que, à semelhança das sulfonilureias, só são eficazes em diabéticos com pâncreas endócrino ainda funcionante. São fármacos úteis nos doentes obesos em que tenha havido falência terapêutica das sulfonilureias ou em complemento destas, por possuírem um mecanismo de acção diferente delas.

Em situações particulares, podem também ser administradas concomitantemente com a insulina, em doentes de difícil controlo hormonal, conseguindo-se, por vezes, reduzir a dose de insulina e melhorar o controlo da glicemia. Nas reacções adversas indicam-se situações hematológicas (redução da agregação plaquetária), de acidose láctica, gastrintestinais (vómitos, náuseas, anorexia, diarreia e flatulência), de má absorção (quer de aminoácidos, vitamina B12 ou ácido fólico) e ainda reacções alérgicas.

Existe ainda uma família química, a das tiazolidinedionas, denominadas glitazonas, cujo mecanismo de acção aumenta ou parcialmente mimetiza, de forma selectiva, certos efeitos da insulina no metabolismo dos hidratos de carbono e dos lípidos; usam-se na diabetes tipo 2 e em outras situações acompanhadas de resistência à insulina. Dentro deste último grupo existe com interesse terapêutico a pioglitazona. A rosiglitazona foi usada na Europa durante alguns anos mas devido aos graves eventos cardiovasculares que provocou foi retirada da terapêutica. Também a troglitazona foi usada nos E.U.A. mas devida à sua elevada toxicidade hepática deixou de ter interesse clínico.
As gliptinas, fármacos inibidores da dipeptidil peptidase, constituem uma classe inovadora de agentes orais para tratamento da diabetes tipo 2, de entre as quais se conhecem com interesse terapêutico a sitagliptina, a vildagliptina e a saxagliptina. A enzima DPP-4 reduz as incretinas, hormonas que fazem parte de um sistema endógeno regulador da homeostasia da glucose; são segregadas pelas células endócrinas do epitélio do íleo, estimulam a síntese e a secreção da insulina, inibem a secreção de glucagom e preservam a função das células beta-pancreáticas. As gliptinas aumentam os níveis das incretinas.
Os inibidores da glucosidase alfa intestinal, tais como a acarbose, retardam a digestão do amido e da sacarose de uma refeição que contenha hidratos de carbono, reduzindo a sua absorção e condicionam consequentemente, atraso e redução nos níveis de glicemia pós-prandial. O seu efeito resulta da acção local no intestino, pelo que a acarbose só é activa se administrada por via oral e ingerida antes das refeições. Apesar de permitir a redução das doses de outros antidiabéticos quando se lhes associa, não os substitui. Nos efeitos adversos referem-se situações gastrintestinais (flatulência, aerofagia, diarreia e distensão abdominal), hepáticas (aumento das transaminases) e de hipocaliemia quando se associa às sulfonilureias. Há ainda referências ocasionais a sonolência, tonturas, cefaleias e redução da trigliceridemia.

A nateglinida, um derivado da fenilalanina, química e farmacologicamente diferente dos outros fármacos antidiabéticos, é um secretagogo da insulina, usado por via oral, de acção rápida e cujo efeito depende do funcionamento das células beta dos ilheus pancreáticos. Está indicada para administração cerca de 15 a 20 minutos antes das refeições e recomendada para terapêutica de associação com a metformina.

Os medicamentos hipoglicemiantes de qualquer tipo não devem ser administrados durante a gravidez ou aleitamento. A insulina é o único medicamento indicado nestas situações, sempre com cuidado e acompanhamento rigoroso da grávida.



O glucagom ou glicagina, como vulgarmente é designada, é uma hormona pancreática com acções várias, sendo as mais estudadas as da homeostase da glucose. Libertada para a corrente sanguínea, tem uma acção ao nível do figado, elevando rapidamente a glicemia por mobilização do glicogénio hepático.

Nas hipoglicemias graves é a produção desta hormona que leva ao pronto restabelecimento da glicemia, podendo evitar as lesões cerebrais da hipoglicemia prolongada, pelo que se comporta como a hormona anti-stress. É usada terapeuticamente nessas situações. Induz também uma estimulação e um aumento da calcitonina e do cálcio. Como todos os polipeptídeos, é uma substância alergizante. Actua ainda sobre a medula suprarrenal, provocando a libertação de adrenalina.

Ainda que nas situações de hipoglicemia a administração de glucose seja frequentemente usada, o glucagom por via IV, SC ou IM é a alternativa em situações hipoglicémicas de emergência, em doentes diabéticos ou em coma por choque insulínico.
/ 8.4.3. Glucagom


O glucagom ou glicagina, como vulgarmente é designada, é uma hormona pancreática com acções várias, sendo as mais estudadas as da homeostase da glucose. Libertada para a corrente sanguínea, tem uma acção ao nível do figado, elevando rapidamente a glicemia por mobilização do glicogénio hepático.

Nas hipoglicemias graves é a produção desta hormona que leva ao pronto restabelecimento da glicemia, podendo evitar as lesões cerebrais da hipoglicemia prolongada, pelo que se comporta como a hormona anti-stress. É usada terapeuticamente nessas situações. Induz também uma estimulação e um aumento da calcitonina e do cálcio. Como todos os polipeptídeos, é uma substância alergizante. Actua ainda sobre a medula suprarrenal, provocando a libertação de adrenalina.

Ainda que nas situações de hipoglicemia a administração de glucose seja frequentemente usada, o glucagom por via IV, SC ou IM é a alternativa em situações hipoglicémicas de emergência, em doentes diabéticos ou em coma por choque insulínico.

Fonte: http://www.infarmed.pt/prontuario/framenavegaarvore.php?id=197


 

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