5.09.2016

O avanço de drogas sintéticas

Polícia amplia a batalha contra drogas sintéticas

Investigações apontam envolvimento de traficantes de classe média

Francisco Edson Alves
Rio - Cem vezes mais potentes que as tradicionais e devastadoramente mais nocivas, as drogas sintéticas vêm ganhando as ruas no Brasil, aterrorizando famílias e autoridades. Tentando conter o derrame de produtos altamente alucinógenos, a Polícia Civil do Rio passou a investigar quadrilhas de classe média, especializadas neste tipo de tráfico. Em contrapartida, às vésperas das Olimpíadas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez mais inclusões em sua lista de drogas proibidas, que agora somam mais de 50 Novas Substâncias Psicoativas (NSPs). As anexações mais recentes foram feitas no dia 21 do mês passado.

Volume de drogas sintéticas apreendidas ainda é considerado pequeno no país, mas está crescendo
Foto: Reprodução

O órgão dobrou a quantidade e tipos de substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sujeitas a controle especial no país. Os nomes científicos das substâncias estão no site da Anvisa (www.portal.anvisa.gov.br), nas listas da Portaria nº 344/1998.
A norma passará a ser também atualizada com maior rapidez. A última atualização consta na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 66/2016.
O novo titular da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), Felipe Curi, designou uma equipe para, junto com agentes da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), investigar traficantes que estão usando a internet para vender NSPs disfarçadas de outros produtos, como temperos, sais para banhos, incensos, fertilizantes e pílulas.
“Já detectamos também rastros de traficantes de classe média alta, que têm trocado cocaína por drogas sintéticas, principalmente ecstasy e LSD, além de novos entorpecentes desse tipo, na Europa e Oriente Médio, sobretudo na China. Por lá, a cocaína é bem mais cara e aqui as drogas sintéticas são mais baratas”, ressalta Felipe Curi, sem entrar em detalhes para não atrapalhar as investigações.
Para Felipe Curi, a maior agilidade da Anvisa na classificação de drogas proibidas, ajudará a polícia a ter uma atuação mais rápida. “Milhares de pessoas de todo o mundo virão de todas as partes do mundo, atraídas pelos Jogos. Infelizmente, a probabilidade de as drogas sintéticas circularem com mais frequência nos próximos meses é uma realidade. Qualquer forma de dificultar a entrada dessas substâncias no estado é válida”, diz o delegado.
Substâncias disponíveis na internet
Dezenas de drogas sintéticas são vendidas legalmente pela internet, disfarçadas de incenso, sais de banho, fertilizantes e pílulas. Essas substâncias imitam, por exemplo, a maconha, a cocaína e o LSD. Só que, processadas em laboratórios clandestinos, são aditivadas com substâncias que a podem deixar até cem vezes mais fortes, causando dependência instantânea, debilidades cerebrais irreversíveis, ataques cardíacos fulminantes, surtos psicóticos e alucinações.
Segundo a Polícia Federal, 1,6 milhão de comprimidos de ecstasy, pontos de LSD e vidros de lança-perfume foram apreendidos em todo o Brasil entre 2013 e 2015. Já a Polícia Rodoviária apreendeu, nos últimos 15 meses, pouco mais de 5,4 mil comprimidos de ecstasy e 682 pontos de LSD nas dez principais rodovias federais do estado do Rio.
A Polícia Rodoviária ressalta que as drogas sintéticas que vêm sendo apreendidas no Rio deixaram de entrar no estado exclusivamente por via aérea, como era há algum tempo.
Químicos profissionais do crime
Enquanto novos produtos demoram meses para entrar na lista da Anvisa, traficantes, com ajuda de químicos, alteram os componentes das fórmulas. Assim, são vendidos sem restrição, até serem incluídos na lista da agência. “Geralmente essas drogas de laboratórios viciam e têm efeito muito pior que as drogas tradicionais”, alerta José Luiz da Costa, perito criminal do Núcleo de Toxicologia Forense da Polícia Civil de São Paulo, um dos maiores estudiosos do assunto e um dos primeiros a alertar sobre a invasão das substâncias sintéticas no Brasil.
Atualmente, a quantidade de drogas sintéticas não identificadas, consumidas predominantemente por jovens da classe média, representa cerca de 7% das apreensões da polícia em todo o território nacional. A maconha mimetizada aparece em primeiro, com 80% dos casos. Em seguida, vêm as drogas sintéticas reconhecidas e proibidas pela Anvisa, como ecstasy, LSD, anfetaminas, GHB, anabolizantes, ice, quetamina, inalantes, efedrina e poppers. E há também as semi-sintéticas, entre elas o crack, cocaína, haxixe, heroína, morfina e codeína.

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