6.12.2017

Hipocondríase

Você é hipocondríaco? Veja o que está por trás da mania de doença.       

 Neusa Carmo


                                  Thinkstock/Getty Images
O temor infundado em portar doenças graves e incuráveis pode causar estresse e ansiedade; conheça os tratamentos

Transtorno hipocondríaco atinge 5% da população brasileira. Medo excessivo de estar doente gera estresse e perda de qualidade de vida, mas há tratamento.

O cenário é clássico: alguém espirra, a pessoa ao lado já pensa que contraiu todos os germes que foram para o ar e começa a tomar remédios por conta própria para tentar evitar que a morte, então certa, se concretize. Aquele que está gripado também pode pensar que o espirro fragilizou algum vaso no seu cérebro e que sofrerá um AVC hemorrágico em breve. E o pior, se o espirro for acompanhado de tosse, o autodiagnóstico de tuberculose é claro como o dia. No entanto, a resposta dos médicos para atitudes assim é uma só: hipocondria.

Cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com o temor de que estão com doenças sérias e desconfiam do diagnóstico do médico que pediu exames e comprovou que não era nada sério. A doença, chamada de transtorno hipocondríaco, cresceu com a internet, já que cada hipocondríaco têm muitas vezes mais acesso a informações sobre doenças, o que o leva a acreditar que é portador de todas elas. É como uma dor imaginária: ela não está presente, mas como a pessoa está altamente sugestionável, acaba apresentando até mesmo os sintomas.

Ansiedade descontrolada

Relacionado com o transtorno de ansiedade e até mesmo com o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), a hipocondria gera uma ansiedade desordenada no organismo, causando angústia em quem sofre com a doença. A psiquiatra Giulia Miranda Rosa Santoro, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a doença não tem grau, mas sim associações com outras patologias.

“É preciso ver se junto disso a pessoa é ansiosa, se está passando por problemas familiares, sociais ou econômicos, se está desenvolvendo algum outro tipo de doença”, explica a especialista. Além disso, uma personalidade emocionalmente dependente, como a médica define como ser “mais teatral”, pode ser uma das explicações para a hipocondria. 

“Às vezes ela está deprimida e sente uma série de coisas, que na verdade fazem parte do quadro de depressão”.

A boa notícia é que a doença tem tratamento. Giulia explica que a base é a psicoterapia. “Tem de fazer a terapia, mas é preciso também avaliar se a pessoa não tem outros problemas. Se for depressão ou ansiedade com sintomas obsessivos compulsivos, é preciso entrar com medicação”, explica a médica, que também é responsável pelo serviço de parecerista de psiquiatria do Hospital Badim, no Rio de Janeiro. 
A médica ainda relembra que a depressão não envolve somente tristeza, mas sim outros sintomas corporais, como cansaço, pensamentos negativos, além de outros sinais.

Apoio de medicamentos

O psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil, da Clínica Maia, explica que os remédios ajudam a controlar a ansiedade, deixam a pessoa mais calma e tranquila e com capacidade de absorver informações. Buzian ressalta que a terapia vai dar o mecanismo para a pessoa lidar com essa ansiedade depois, e que é de extrema importância seguir as recomendações. “O tempo de tratamento depende do comprometimento do paciente”, explica.

 Para aqueles pacientes que não são comprometidos ou que não buscaram ajuda ainda, a preocupação médica é a prática da automedicação. De praxe, ninguém deveria tomar remédios sem recomendação médica. Sabe-se que muitos escorregam nesse preceito quando estão resfriados, com dor de cabeça ou alguma outro problema mais simples. Se para essas pessoas que esporadicamente desobedecem o médico a automedicação faz mal, imagine para quem visita a farmácia com a mesma frequência da padaria, pedindo remédios para males que ele mesmo se diagnosticou.

“Isso pode causar outro tipo de problema, como uma intoxicação e problemas gástricos”, alerta Buzian. “Muitos se automedicam por não confiar no médico, sempre estão buscando novas opiniões, afirmando ‘tenho alguma coisa!’”, diz.

“Mesmo os médicos falando que ela não tem doença, a pessoa acredita que tem, e procura outro médico, porque tem certeza de que tem alguma doença”, comenta a médica da ABP.

Não se sabe exatamente como a doença surge

O motivo de a doença surgir, no entanto, ainda é nebuloso para a medicina. Como a maioria das outras doenças psiquiátricas, ela tem fundo genético, que em parte colabora com a doença, mas o próprio ambiente em que a pessoa se encontra acaba por agravar o quadro.

“Se a pessoa vive cercada de indivíduos com saúde comprometida ou se está em um quadro depressivo, pode absorver as informações erradas com característica negativa”, alerta o médico. Como em um espelho, ela vai enxergar em si mesma sintomas e características que não tem. “Se é uma dor de cabeça, vai pensar logo na consequência mais drástica, como um tumor cerebral”, diz o psiquiatra da Clínica Maia.

“Ninguém nasce 100% hipocondríaco. Tudo depende da história da pessoa, da genética, hereditariedade e história de vida dela”, explica Giulia.

Há mais hipocondríacos na vida adulta e entre as mulheres, mas os homens não escapam da doença.

O primeiro passo para quem tem medo de que algo terrível aconteça com relação à saúde, portanto, é procurar o psiquiatra para o tratamento. Depois isso, os anos provavelmente transcorrerão com mais leveza.

Hipocondria: sintomas, tratamentos e causas



O que é Hipocondria?

Sinônimos: hipocondríase
Hipocondria é o quadro em que se tem um medo excessivo e não realista de ter algum sintoma ou condição de saúde que pode ameaçar sua vida e ainda não foi diagnosticado. Nesses quadros, o hipocondríaco tende a ficar ansioso com a doença, mesmo se nenhuma evidência médica justifique a preocupação ou acreditar que qualquer sintoma simples pode evidenciar um problema terrível. Por exemplo: uma dor de cabeça certamente significará um tumor cerebral.

Causas

Não se sabe ao certo porque alguma pessoas desenvolvem a hipocondria e essa preocupação excessiva com sua saúde e o risco de estar com alguma doença muito grave. No entanto, acredita-se que o tipo de personalidade, a experiência de vida e questões hereditárias estejam envolvidas no distúrbio.

Fatores de risco

A hipocondria atinge igualmente homens e mulheres e normalmente aparece no início da vida adulta, apesar de poder se desenvolver em qualquer idade. Algumas situações podem aumentar a chance de uma pessoa desenvolver hipocondria:
  • Histórico de uma doença séria na infância
  • Ter convivido com familiares ou conhecidos portadores de uma doença séria
  • Morte de um ente querido
  • Ter um transtorno de ansiedade
  • Acreditar que boa saúde significa estar livre de quaisquer sintomas
  • Ter familiares próximos hipocondríacos
  • Ter pais negligentes ou abusivos.

Sintomas de Hipocondria

Uma pessoa com hipocondria costuma apresentar os seguintes comportamentos:
  • Ter um medo intenso ou ansiedade prolongados de ter uma doença grave
  • Preocupar-se que os menores sintomas e sensações físicas podem significar uma doença grave
  • Procurar médicos repetidamente ou fazer exames complexos com frequência, como ressonâncias magnéticas e ecocardiogramas
  • Trocar de médico constantemente, sempre buscando uma segunda opinião que indique uma condição grave
  • Falar diversas vezes sobre seus sintomas ou das doenças de que suspeita ter
  • Checar frequentemente o corpo em busca de problemas
  • Checar frequentemente os sinais vitais, como pulsação ou pressão arterial
  • Pensar ter uma doença só de ler ou ouvir sobre ela.
Pessoas com hipocondria também tendem a aumentar sintomas quando realmente estão doentes. Mas a principal característica está no pensamento obsessivo de que isso de fato se tratada de uma doença muitíssimo grave e de que sua vida pode estar em risco.

Psicólogo para tratar hipocondria
A pessoa se imagina doente, percebe sinais que não existem, se identifica com sintomas descritos por outras pessoas e passam a considerar que também tem esta doença.
O hipocondríaco costuma ser extremamente auto-centrado, mantém a observação em si mesmo, com o foco constantemente avaliando suas próprias sensações corporais e diagnosticando doenças inexistente.
Livros e sites que descrevem doenças podem incrementar os sintomas, pois estas informação nutrem seu arsenal de argumentos para convencer, a si ou outras pessoas, de que realmente possui tal doença.
O hipocondríaco sofre com ansiedade e assim tende a aumentar cada sensação corporal normal a ponto de considerar que algo não vai bem. Por exemplo, ao subir uma escada qualquer pessoa pode perder um pouco o fôlego, mas o hipocondríaco poderá fazer deste momento uma “prova” de que tem problemas cardíacos.
O hipocondríaco costuma praticar a atenção seletiva. Por exemplo, ao assistir um programa da TV sobre dengue, passará a perceber cada mosquito que passa ao redor, verá listras brancas – características do mosquito da dengue – em todo mosquito, e qualquer sinal vermelho em sua pele, provocado por sua própria unha sem perceber talvez, será identificado como picada do mosquito da dengue.
Um grande prejuízo que o hipocondríaco pode causar a si mesmo é confundir os médicos e não ser diagnosticado corretamente quando de fato estiver doente, pois pode haver uma grande quantidade de visitas ao médico e realizações de exames desnecessários.

Hipocondriaco Significado

Hipo: Vem do grego hypo, significa “abaixo”.
Condria: Vem de kondrós, significa “cartilagem do tórax”. Se refere à região logo abaixo das costelas, onde fica a vesícula, baço e rins. Órgãos que na antiga Grécia eram relacionados a produção de bile. Acreditava-se que a melancolia se devia à bile negra, e como muitos depressivos se preocupavam exageradamente com sua própria saúde, o termo hipocondria foi usado para identificar aqueles que se consideram excepcionalmente sensíveis à doenças.

Porque uma pessoa se torna hipocondríaca?

Talvez algumas vivencias podem ter passado informações distorcidas, por exemplo mães ocupadas demais com muitos afazeres podem passar uma imagem errada às crianças fazendo-as pensar que só receberão amor e acolhimento quando, e se, estiverem doentes, facilitando a associação de cuidados médicos com amor. O resultado seria a busca de amor e carinho através de cuidados médicos. Não estou, de forma alguma culpando as mães, não há como saber que seu filho fará esta associação, a mãe é a personagem principal da história de vida da criança, mas de forma alguma será a única responsável pelas conclusões que esta criança tira de suas próprias experiências. De toda forma só será hipocondríaco um portador de ansiedade. A hipocondria e ansiedade andam de "mãos dadas". Todo hipocondríaco é ansioso, mas nem todo ansioso será hipocondríaco.
A hipocondria pode ter sido aprendida de forma casual. Por exemplo, uma pessoa ansiosa pode ter percebido alivio de sua ansiedade causada por problemas que estão acontecendo em seu dia a dia - como a cobrança do chefe, o fora da namorada - ao focar sua mente em outros assuntos nos quais ele imagina que terá controle, como o seu próprio corpo. Ou seja, o pensamento do hipocondríaco seria mais ou menos assim: “há uma série de coisas ruins acontecendo em minha vida e não sei como superar, mas pelo menos posso cuidar de minha doença X”. Esta conversa normalmente ocorre de forma inconsciente.
Portanto a hipocondria pode ser uma escolha inconsciente para evitar contato com os verdadeiros problemas da pessoa.

Quais doenças o hipocondríaco pensa ter devido ao seu medo de doença

Não há doenças específicas. Doenças venéreas, problemas cardíacos, câncer, dengue, etc. Qualquer doença que ele possa ter ouvido falar poderá ser alvo de sua angustia.
Exames clínicos podem trazer alivio, pois haverá uma prova de sua saúde perfeita, mas infelizmente a criatividade do hipocondríaco pode ser muito boa. Logo ele poderá encontrar argumentos, falsos, de que talvez sua doença não tenha sido acusada nos exames por estar no inicio, ou devido ao equipamento daquele laboratório que ele pensa que possa estar desatualizado, ou considera que o médico é novo demais e não tem experiência suficiente, ou que o medido é idoso demais e está desatualizado.

Automedicação na hipocondria

Um grande risco na hipocondria é a automedicação. Tomar medicação prescrita para outros momentos e outras doenças. Tomar medicação prescrita para outras pessoas. Usar medicação sem tarja vermelha e com isso considerar que pode usar em qualquer quantidade. Não deixa de ser auto-sabotagem.
É comum já ter lido muito sobre doenças que pode considerar que sabe tudo sobre qualquer doença.

Diagnóstico e Exames

Buscando ajuda médica

Ter preocupação com a própria saúde é normal e importante para evitar futuras doenças. É normal também ficar ansioso quando se tem algum sintoma cuja causa o médico não consegue identificar claramente. Essa preocupação só se torna um problema quando a ideia de estar com uma doença séria consome você, mesmo que você já tenha feito exames apropriados e seu médico tenha assegurado que o problema é simples ou mesmo inexistente.
Nesses casos, considere buscar ajuda de um psiquiatra ou psicólogo. É comum que alguém de sua família ou mesmo um profissional de saúde que o atenda dê esse conselho, caso perceba que sua preocupação com a saúde é desproporcionalmente alta.

Na consulta médica

Especialistas que podem diagnosticar um caso de hipocondria são:
  • Clínico geral
  • Psiquiatra
  • Psicólogo
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
  • Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
  • Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
  • Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
  • Quais sintomas você tem que você acredita serem causados por uma doença física?
  • Que tratamentos você teve para esses sintomas?
  • Quais são os testes e procedimentos pelos quais você passou?
  • O que você fez para se sentir melhor ou controlar seus sintomas?
  • O que faz você se sentir pior?
  • Quanto tempo do seu dia você passa se preocupando com sua saúde?
  • Como essas preocupações afetam o seu dia a dia?
  • Seus amigos e familiares comentam sobre essas suas preocupações ou sobre o seu comportamento?
  • O que você espera ganhar com o tratamento?
  • Que medicamentos sem prescrição médica e suplementos você toma?
Também é importante levar suas dúvidas para a consulta por escrito, começando pela mais importante.

Diagnóstico de Hipocondria

O diagnóstico da hipocondria em geral envolve primeiramente um exame físico, em que o médico irá verificar se o paciente realmente tem alguma condição física. Além disso, o médico fará uma avaliação psicológica, conversando sobre os sentimentos e comportamentos do paciente. Testes de laboratórios podem ser feitos, para verificar a função da tireoide e também se há uso abusivo de álcool e drogas.
Os critérios de diagnóstico da hipocondria, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), são:
  • Preocupação por cerca de seis meses ou mais em ter uma doença série, baseada em sintomas corporais
  • Ansiedade com essa preocupação
  • Dificuldades na vida social, trabalho e na rotina diária, por conta dessa preocupação ou sintomas.

Tratamento de Hipocondria

O tratamento para hipocondria tem diversas abordagens. A primeira é a psicoterapia, e a metodologia mais usada é a psicologia cognitiva-comportamental. Essa abordagem permite o paciente reconhecer as causas de seu comportamento ansioso e ensina formas de parar com ele. Além disso, é importante que o paciente aprenda mais sobre a hipocondria, até para saber melhor como lidar. Essa educação sobre o quadro também é importante para a família do paciente.
Em alguns casos, medicamentos também podem ajudar. Principalmente os antidepressivos da classe dos inibidores seletivo de recaptação de serotonina ou antidepressivos tricíclicos. Muitas vezes, tratar comorbidades, como ansiedade e depressão, também ajudam no quadro.

Convivendo (prognóstico)

Complicações possíveis

As principais complicações da hipocondria são:
  • Riscos a saúde decorrentes de procedimentos médicos desnecessárias
  • Depressão
  • Transtornos de ansiedade
  • Raiva e frustração excessivas
  • Abuso de substâncias
  • Problemas em relacionamentos, no trabalho ou escola e até mesmo altos gastos com procedimentos e consultas médicas.

Prevenção

Não há formas conhecidas de se prevenir a hipocondria. Mas tratar o problema desde cedo faz com que a recuperação seja melhor e os impactos na vida cotidiana sejam menores.



Fontes e referências




  • Mayo Clinic
  • Manual Merck

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