Delatado com minúcias que não deixam dúvidas, e em breve denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça, Temer continua no cargo porque ainda tem o apoio do PSDB. As evidências que pesam contra ele são tão fortes que não lhe asseguram sequer o benefício da dúvida mas, apesar de tudo, ele continua governando porque tem uma base parlamentar que oferece ao país a ilusão de que há governo e de que Temer continua tocando a agenda que se propôs a implementar. Esta base vai se esfarelar se o PSDB dela se retirar. Esta semana o partido volta a debater seu dilema: ficar até o barco afundar ou sair logo, acelerando a queda de Temer.
Depois de tanto batom na cueca, que mais será preciso para convencer os tucanos de que Temer perdeu completamente as condições morais para governar o Brasil, e de que cada dia de sua permanência no cargo tem um custo elevadíssimo para os brasileiros?
Uma das razões para o impasse é a divisão entre os tucanos. Aécio Neves, nos bastidores de seu exílio do mandato, trabalha pela permanência. Afinal, como artífice do impeachment de Dilma Rousseff, ele é um dos grandes responsáveis pela entronização deste governo que tanto vem infelicitando o Brasil, seja com sua incompetência, seja com sua imoralidade incomparável. Os ministros querem ficar até o fim, distraídos do fato de que isso terá um custo para o partido. Já carregando o estigma de partido golpista, pelo papel decisivo que jogou na derrubada de uma presidente legítima, os tucanos serão cobrados também por esta temerária permanência ao lado de Temer. Por isso a secção paulista do partido, a que melhor representa suas raízes ideológicas e seus compromissos de classe, esteja desesperada para saltar do barco. A metade da bancada na Câmara e a maioria dos senadores também quer o rompimento enquanto é tempo mas FHC e Aécio vêm segurando.
No artigo deste final de semana, o ex-presidente justificou a posição até aqui adotada por seu partido, invocou a experiência do governo Itamar, que fez a transição em situação semelhante com sua forte participação (como chanceler e depois como ministro da Fazenda) mas admitiu que pode estar chegando a hora de retirar os paus-de-escora. “E se as bases institucionais e morais da pinguela ruírem? Então caberá dizer: até aqui cheguei. Daqui não passo”, diz ele. Mas o que falta para que FHC e os tucanos concluam que “as bases institucionais e morais” da pinguela já ruíram? Será preciso que antes haja a delação premiada de Rocha Loures, confessando que os R$ 500 mil eram uma propina para o presidente?
FHC coloca para os seus uma pergunta, numa passagem do artigo. E se o TSE vier com manobras protelatórias, pergunta ele, “o PSDB correrá o risco de coonestar o que o povo não quer e a economia não suporta, ajudando o governo a empurrar a situação com a barriga?
Ele sabe que, ainda que o tribunal casse a chapa no julgamento que começa nesta terça-feira, haverá recursos. Temer emperreou no poder e está dizendo “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. FHC e os tucanos também sabem que a outra via da remoção, a do julgamento de Temer pelo STF, vai demorar quase tanto quanto um impeachment. FHC sabe que o afastamento de Temer, pelo qual o Brasil inteiro clama, só acontecerá no curto prazo se ficar evidente sua falta de sustentação parlamentar. Ou seja, se o PSDB fizer uma opção pelo povo, que não suporta mais Temer, e romper oficialmente com o governo, dele retirando os ministros e levando suas bancadas para o campo da oposição. Só assim, a pinguela desabará e o Brasil poderá construir outra forma de travessia. De preferência, através das eleições diretas. Mas ainda que seja por indiretas, o país ganhará se for colocado no Planalto alguém que honre o cargo e, com sua respeitabilidade, detenha a erosão que a incerteza política voltou a cavucar na economia brasileira.
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